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A REESTRUTURAÇÃO REGIONAL: DESINDUSTRIALIZAÇÃO, CONTRA METROPOLIZAÇÃO E AS MACROMETRÓPOLES

OS IMPACTOS DA REESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA SOBRE O TERRITÓRIO

2.3 OS IMPACTOS DA REESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA RECENTE SOBRE O TERRITÓRIO

2.3.2 A REESTRUTURAÇÃO REGIONAL: DESINDUSTRIALIZAÇÃO, CONTRA METROPOLIZAÇÃO E AS MACROMETRÓPOLES

Outra conseqüência do novo paradigma político-econômico tem sido a reestruturação regional que ocorre entre as antigas metrópoles e os "novos espaços industriais" (Soja, 1995). As metrópoles, antigos centros industriais estabelecidos, têm sofrido um processo de perda das atividades industriais em função da facilidade de espraiamento dessas que o novo paradigma tecnológico e as facilidades de transporte ocasionaram.

Gastos elevados com mão-de-obra qualificada e reinvindicadora, impostos, preços de terrenos elevados e tráfego congestionado têm ocasionado a perda das vantagens comparativas da aglomeração produtiva nessas áreas urbanas em detrimento das regiões circundantes que até então se caracterizavam como áreas rurais.

No seu estudo sobre Los Angeles, Soja (1995) resume essas modificações espaciais pelos termos desindustrialização x reindustrialização. Elas são resultado das transformações da nova divisão e organização espacial do trabalho, que o novo paradigma trouxe, como se pode ver a seguir:

“Em termos simples, isto representa uma mudança da urbanização fordista para a pós-fordista, da organização compacta de uma produção e consumo de massas em volta de grandes complexos industriais para sistemas mais flexíveis de produção, verticalmente desintegrados mas geograficamente agrupados nos ‘novos espaços industriais’.” 35 (ibid., pág. 129)

A transferência das indústrias dessas metrópoles para áreas adjacentes a elas causa o surgimento das macrometrópoles ou "campo urbano" (Friedmann & Wolff, 1982, pág 322), que se caracterizam por ocupar uma área muito maior, incorporando muito mais cidades que as metrópoles, constituindo uma constelação de núcleos urbanos espraiados ao seu redor e mantendo uma certa ambigüidade entre campo e cidade, enquanto as metrópoles correspondem a uma aglomeração urbana continua, formada da conurbação de várias cidades.

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Tradução do autor de: "In the simplest terms, this represents a shift from Fordist to postfordist urbanization, from the tight organization of mass production and mass consumption around large industrial complexes to more flexible production systems, vertically disintegrated but geographically clustered in 'new industrial spaces'".

Como conseqüência, as metrópoles, antigos centros de migração, têm sofrido um processo de contra-metropolização, ou seja, reversão da atração populacional, pois o espraiamento das atividades manufatureiras para outros locais tem ocasionado uma reversão na atração de força de trabalho.

As grandes metrópoles mundiais dos países centrais, que possuíam elevadas taxas de crescimento demográfico, passaram por esse processo entre as décadas de 60 e 80 (Savitch, 1988).

A Região Metropolitana de Nova Iorque, maior metrópole do mundo na década de 1950, perdeu sua hegemonia mundial em função da redução drástica de sua taxa de crescimento anual (para aproximadamente 0,3% a.a.) entre as décadas de 1960 e 1980, enquanto a Grande Londres, maior cidade do mundo no final do século passado, perdeu aproximadamente 1 milhão de habitantes entre 1968 e 1981, passando de 7,7 para 6,7 milhões de habitantes (ibid.).

Savitch (op. cit.) argumenta que existe uma relação direta entre a dinâmica de crescimento/declínio das atividades industriais e a relação do crescimento/perda de população. Assim sendo, o crescimento/declínio demográfico tem seguido a transferência das atividades industriais para o novo espaço urbano industrial.

Isso leva a uma nova dinâmica de crescimento regional, com uma onda de crescimento nas cidades que compõem a macrometrópole e o decréscimo ou estabilização da metrópole consolidada.

Nos casos de Londres, Paris e Nova Iorque, houve um crescimento tanto de empregos e população no 2o anel (zona periférica) em detrimento ao centro urbano (zona central) e ao 1o anel (zona intermediária)(tabela 2.1). Isto se deve ao fato de investimentos em vias expressas tornarem essas regiões mais acessíveis tanto para moradores como para as indústrias que saem das regiões mais centrais.

Evolução da distribuição da população e do emprego em % do total

Nova Iorque Centro 1o anel 2o anel

1960 1980 80/60 1960 1980 80/60 1960 1980 80/60

População 10,8 8,6 -2,2 51,4 45,4 -6,0 37,8 46,0 8,2

Empregos 37,0 33,2 -3,8 32,0 26,9 -5,2 31,0 40,0 9,0

Londres Centro 1o anel 2o anel

1971 1981 81/71 1971 1981 81/71 1971 1981 81/71

População 8,9 7,5 -1,4 33,5 29,7 -3,8 57,6 62,8 5,2

Empregos 8,7 7,0 -1,7 37,8 33,8 -4,0 53,5 59,2 5,7

Paris Centro 1o anel 2o anel

1962 1982 82/62 1962 1982 82/62 1962 1982 82/62

População 33,0 21,6 -11,4 40,6 38,8 -1,8 26,4 39,6 13,2

Empregos 46,3 39,0 -7,3 34,0 34,9 0,9 19,7 26,2 6,4

Tabela 2.1: Evolução da distribuição de população e emprego por anel em Nova Iorque, Londres e Paris. Fonte: Savitch, 1988.

De acordo com a divisão feita por Savitch (op. cit.), a zona periférica corresponde à região definida por macrometrópole pois dista entre 60 a 120 km do centro, possui menores densidades e abundância de espaço vazio e, por vezes, áreas rurais36. Já o centro urbano é a parte central mais densa das cidades com preponderância de comércio, serviços e habitação, com raio variando entre 8 e 10 km, conforme cada caso, enquanto o primeiro anel (intermediário) é aquele adjacente ao centro, menos povoado e com habitações unifamiliares, alcançando entre 30 e 60 km do centro (figura 2.2).

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Savitch (op. cit.) seguiu as divisões político-administrativas oficiais das três cidades para definir os anéis. O Centro Urbano consiste em Manhattan em Nova Iorque; os 13 boroughs da Inner London; os 20

arrondisement da Ville de Paris; O 1o Anel consiste nos condados de Bronx, Kings, Queens, Richmond,

Hudson, Union e Essex em Nova Iorque e Nova Jérsei; os 18 boroughs da Outer London; os

departamentos de Haute de Seine, Val de Marne, Seine-St. Denis em Paris. O 2o anel consiste nos condados de Nassau, Sulffolk, Westchester, Putnam, Rockland, Bergen, Passaic, Morris, Monmouth,

Somerset, Middlesex e Fairfield em Nova Iorque, Nova Jérsei e Connecticut; o Outer Metropolitan Area

Figura 2.2: Zonas centrais, intermediárias e periféricas das macrometrópoles de Nova Iorque,

Outro fator que tem ocasionado a reestruturação regional é a transferência das atividades produtivas ocasionada pelo desmantelamento dos grandes complexos industriais e o surgimento dos novos centros de tecnologia de ponta, cujo exemplo mais clássico recente é o caso dos Estados Unidos.

Nesse país, a reestruturação produtiva da indústria automotiva em nível global ocasionou sua decadência e de suas indústrias subsidiárias, como a da borracha, nas regiões consolidadas do Meio Oeste, levando a um forte processo de declínio urbano. Por outro lado, o surgimento das novas unidades industriais de tecnologia de ponta no complexo da informática no Vale do Silício ocasionou um grande crescimento econômico da região, transferindo a produção industrial do "Anel do Gelo" para o "Anel do Sol" (Hill e Feagin, 1987; Castells, 1989; Soja, 1995).

Em sua análise da cidade de Detroit, que chegou a ser o maior centro produtor automotivo americano, Hill e Feagin (1987) afirmam que as conseqüências da reestruturação econômica ocasionaram a perda de 170 mil empregos industriais. A decadência da indústria automotiva, que era a principal base econômica da cidade, ocasionou um processo de decadência econômica, levando a perda de empresas subsidiárias (50%) e população (27%).

As limitações de capital, que acabaram por ocasionar a decadência e a estagnação econômicas de determinadas regiões em detrimento de outras, adicionadas as facilidades de transferência dos investimentos e da produção, fizeram com que várias regiões e cidades do mundo, numa busca de se adaptar à nova realidade, começassem um processo de disputa numa “guerra por empregos e dólares”37 (Soja, op. cit., pág. 209).

37

No caso brasileiro, o melhor exemplo recente desse fato tem sido a guerra fiscal entre Estados visando a atrair um número cada vez maior de indústrias e empresas.

2.3.3 AS MUDANÇAS NA BASE ECONÔMICA E NO MERCADO DE TRABALHO