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A REESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA DA GRANDE SÃO PAULO

3.3 A REESTRUTURAÇÃO ECONÔMICA A PARTIR DA DÉCADA DE 70: DESINDUSTRIALIZAÇÃO, TERCIARIZAÇÃO E CONTRA-METROPOLIZAÇÃO

3.3.3 A REVERSÃO DA ATRAÇÃO DEMOGRÁFICA E A FORMAÇÃO DA MACROMETRÓPOLE

Um dos resultados da "desconcentração concentrada" foi a consolidação do interior paulista como eixo de crescimento da economia do Estado. Esse fator ligado à crise econômica da década de 80 ocasionou um processo de contra-metropolização, ou seja, a reversão da tendência histórica de atração populacional que a Grande São Paulo apresentava tanto em relação ao Estado, como em relação ao resto do país.

Segundo o Seade a partir dessa década "a Região Metropolitana de São Paulo, que há várias décadas vinha se apresentando como o maior pólo de atração populacional do Estado, reverte esta tendência histórica" (Seade, 1993, pág. 39).

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Becker e Egler (op. cit.) afirmam que o desenvolvimento do complexo militar brasileiro foi implementado pelos governos militares pós-64, que perceberam nesse ramo um grande nicho de mercado, já que o governo dos Estados Unidos tinha proibido na época os produtores americanos de vender armas a países não alinhados em função da guerra do Vietnã. Na década de 80 o Brasil se torna o 10o maior produtor bélico, responsável por 1% do mercado mundial. Essa estratégia estaria ligada a um projeto geopolítico de desenvolvimento nacional, baseado na Doutrina de Segurança Nacional, no desenvolvimento tecnológico e na profissionalização das Forças Armadas.

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Um dos principais motivos de instalação do complexo nessa região foi a existência a priori do ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica), fundado em 1951, com o intuito de desenvolver a indústria aeronáutica nacional. Contudo, enquanto o ITA buscava autonomia e desenvolvimento tecnológicos, o novo complexo industrial, além desses objetivos, buscava a exportação de sua produção.

As taxas média de crescimento anual do Município e da Região Metropolitana baixaram respectivamente de 4,79% e 5,44% entre 1960 e 1970, para 3,67% e 4,46% no decênio 70/80. No período 1980/1991, as taxas ficaram em torno de 1,16% e 1,93%, sendo pela primeira vez em muitos anos menores que a do Estado (2,13%). Na década de 90 a tendência de declínio continuou, com taxas caindo para 0,40% e 1,46%, enquanto o Estado ficou em 1,58% (gráfico 3.3).

Gráfico 3.3: Evolução da taxa geral de crescimento anual, no país, Estado, RMSP e MSP entre 1960 e 1996. Fonte:

Emplasa, 1997.

De acordo com o PNUD (1996), esse processo de diminuição de concentração metropolitana acontece em todo país e, além de ser resultado do processo de desconcentração industrial e interiorização da atividade produtiva e do impacto da crise econômica da década de 80 sobre o movimento migratório, reflete a adoção de novos padrões de comportamento. Esses padrões estão associados à desaceleração do crescimento populacional do país como um todo, demonstrado na queda de fecundidade, que passou de 5,8 para 3,6 filhos por mulher de 1970 a 1980.

60/70 70/80 80/91 91/96 Brasil ESP RMSP MSP 0,00% 1,00% 2,00% 3,00% 4,00% 5,00% 6,00%

O fator preponderante para a queda das taxas de crescimento do Município e da Grande São Paulo foi, sem dúvida, a reversão da atração histórica ocasionada pela metrópole. De acordo com os dados do Seade (1993), o Estado de São Paulo recebeu, entre 1970 e 1980, 3 milhões de migrantes, dos quais 2 milhões na Grande São Paulo e metade desses na Capital. Entre 1980 e 1991, a reversão foi detectada com a redução de migrantes interestadual para aproximadamente 590 mil. No mesmo período, a Grande São Paulo perdeu 275 mil habitantes e a Capital quase 1 milhão (756 mil).

Apesar de as taxas líquidas de migração terem caído nas regiões de governo que mais atraíam migrantes, a região metropolitana foi a única a apresentar taxas negativas de migração no período 80/91 (gráfico 3.4).

Gráfico 3.4: Variação da taxa de migração no Estado de São Paulo e regiões de governo selecionadas entre 1970 e 1991.

Fonte: Seade, 1993.

Esse processo ocasionou uma reversão de atração da metrópole em direção ao interior, sendo que a interiorização das indústrias e o desenvolvimento da agricultura foram os principais fatores que levaram a esse crescimento (Seade, 1993). Mas esse crescimento não ocorreu de forma homogênea em todo Estado, e sim acompanhando as regiões nas quais a "desconcentração concentrada" produtiva ocorreu.

Estado RMSP

R. Campinas R. Sorocaba R. Jundiaí R. Santos

R. S. J. Campos 80/91 70/80 -50 0 50 100 150 200 250 300 350 400 450

Analisando a modificação das densidades populacionais do Estado entre 1970 e 1991, pode-se constatar que as principias áreas de adensamento foram justamente as regiões de governo beneficiadas com a desconcentração industrial e a modernização da agricultura (Campinas, Jundiaí, Sorocaba, São José dos Campos e Ribeirão Preto) e seus eixos de influência (mapa 3.1).

Esses fatores, o espraiamento tanto das atividades produtivas como da concentração populacional para essas regiões levou ao surgimento de um novo ente territorial, conhecido como macrometrópole (mapa 3.2). Conforme visto no capítulo anterior, a macrometrópole ocupa uma área e incorpora um número de cidades muito maior que a metrópole, constituindo uma constelação de núcleos urbanos espraiados ao redor dessa, seguindo os principais eixos rodoviários, participando de processos produtivos associados e mantendo uma certa ambigüidade entre campo e cidade.

Entre 1960 e 1991 a concentração populacional da RMSP e regiões de governo que formam a macrometrópole50 cresceu de 49,5% para 66,2% do total do Estado (gráfico 3.5). Entre 1980 e 1991, quando ocorre a reversão da atração populacional da RMSP, sua participação diminui de 33,9% para 30,5%, enquanto a da macrometrópole permaneceu inalterada, demonstrando que está ocorrendo um fluxo interno também da RMSP em direção a essas regiões de governo.

Com relação à região metropolitana, o fato de a capital ter perdido mais habitantes que a metrópole demonstra estar havendo uma reestruturação interna da região, onde a capital perde população para os municípios vizinhos. De 1960 a 1996, a sub-região Centro, constituída pelos municípios de São Paulo e Osasco diminuíram a sua participação relativa de quase 80 para 63% da população residente (Emplasa, 1997).

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O cálculo da evolução da população da macrometrópole foi feito considerando a soma das populações das regiões de governo de Campinas, Jundiaí, Santos, São José dos Campos, Sorocaba e RMSP.

Fonte: SEADE, 1993

Base Cartográfica: CESAD/FAUUSP

0 50 100km

Autor: Eduardo Alberto Cuce Nobre Tese de Doutorado

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MAPA 3.1 - DENSIDADES DEMOGRÁFICAS DAS REGIÕES DE GOVERNO 1970-1991