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A Reforma da Tributação do Património e os Offshores

No documento A reforma da tributação do património (páginas 90-96)

Ao longo deste trabalho mencionámos diversas vezes, “país, território ou região sujeito a regime fiscal claramente mais favorável”. Por esta razão, neste capítulo, iremos tecer algumas considerações acerca da reforma da tributação do património e os offshores, começando o nosso estudo, por fazer uma pequena introdução que nos permite perceber o que é um offshore/ paraíso fiscal.

Os paraísos fiscais/centros offshore são frequentemente alvo de interesse por diversas empresas com actividade internacional, uma vez que com a crescente concorrência e competitividade, exige-se cada vez mais uma eficiente utilização dos recursos e, como tal, as empresas procuram produzir os seus bens/serviços nos locais onde os factores de produção revelem um menor custo.

Assim, a escolha da localização do paraíso fiscal/centro offshore por parte dos investidores, integra um processo de decisão estratégica que tem como objectivo a obtenção de um elevado rendimento do capital investido.

No entanto a variedade e a quantidade de paraísos fiscais/centros offshore disponíveis nas mais diversas partes do mundo dificultam a escolha dos investidores pelas suas características diferenciadas, obrigando-os a um conhecimento aprofundado sobre as mesmas e a uma análise custo/benefício de cada uma delas.

Note-se que nem todos os centros offshore são paraísos fiscais. De facto, existem diferentes tipos de centros offshore, ou que podem funcionar como tal.

Por um lado, um centro offshore define-se como enclaves geográficos ou pequenos países ou de dependências territoriais que praticam uma política fiscal específica, onde não existem regulamentações pesadas em matéria bancária e de câmbios. Por outro lado, também se define como centros financeiros e bancários que simultaneamente, garantem isenções fiscais.

Por exemplo, a Holanda, a Suíça e o Luxemburgo, são países que apesar de terem elevados impostos, garantem um regime fiscal de privilégio às suas holdings.

Já um paraíso fiscal é “um país ou um território que atribua a pessoas físicas ou colectivas vantagens fiscais susceptíveis de evitar a tributação no seu país de origem, ou de beneficiar de um regime fiscal mais favorável que o desse país sobretudo em matéria de impostos sobre o rendimento e sobre as sucessões.”(Beauchamp, 1981, p.39).

Uma outra definição de paraíso fiscal poderá ser a de “ordenamentos fiscais que isentam certos factos que deveriam “normalmente” tributar, de harmonia com os princípios gerais geralmente aceites, ou os tributam a taxas “anormalmente” baixas, via de regra para atrair capitais estrangeiros.” (Xavier, 1993, p.297)

A definição de paraíso fiscal é quase sempre efectuada por comparação ao sistema fiscal doméstico pelo uso de expressões como “regime fiscal privilegiado” e pela elaboração de listas, as chamadas “listas negras”, que enunciam quais os países ou territórios considerados sujeitos a um regime fiscal mais favorável.

É o caso de, por exemplo, das Caraíbas, Gibraltar, Ilhas de Jersey, Guernsey e Man.

O fraco nível de tributação nos paraísos fiscais explica-se, por um lado, pelo seu subdesenvolvimento económico que se procura compensar, atraindo e fixando no seu território as actividades bancárias e financeiras internacionais e, por outro lado, são países que por dificuldades administrativas dificilmente conseguiriam colocar em funcionamento efectivo um sistema fiscal clássico.

Criar uma empresa offshore é, usualmente, fácil e barato. Os custos de financiamento para sociedades offshore sem actividade operacional são normalmente muito reduzidos, sendo um ponto importante para determinadas estratégias, como por exemplo, as de aquisição de terrenos ou imóveis por motivações fiscais.

A gama de empresas susceptíveis de serem criadas em centros offshore é imensa e vai desde bancos offshore, a seguradoras, a empresas de navegação, de serviços, de detenção de direitos, trusts, etc.

Como é óbvio, paraísos fiscais/centros offshore e os agentes envolvidos garantem uma elevada segurança, embora o recurso a operações sem cobertura legal explícita, muitas vezes à revelia das autoridades fiscais, possa levantar reservas.

Madeira, Gibraltar, Ilha de Man, Jersey, Suiça, Holanda, Luxemburgo ou Liechtenstein, dificilmente poderão ser postos em causa na sua estabilidade.

Relativamente à situação tributária das sociedades offshore, nomeadamente no âmbito da tributação do património imobiliário, a reforma da tributação do património, prosseguiu uma política fiscal que já vinha do passado, com regras específicas nos impostos sobre o rendimento e na CA.

Assim, em sede de IMI, os prédios que sejam propriedade de sociedades offshore passam a estar sujeitos a uma taxa de imposto de 1%, sendo elevada para 2% nos casos de prédios urbanos que se encontrem devolutos há mais de um ano.60 (na extinta CA a taxa agravada era de 2%).

Sublinhe-se que o regime de salvaguarda já descrito anteriormente e que tem por finalidade limitar o acréscimo da carga fiscal decorrente da actualização dos valores patrimoniais dos prédios urbanos até 2008, não é aplicável aos prédios urbanos detidos por sociedades offshore, o que significa que estas ficam desde logo sujeitas ao pagamento total do IMI, independentemente do montante do imposto que a actualização do valor patrimonial determinar.

Manteve-se a inaplicabilidade da exclusão da incidência do IMI pelo período de 4 e de 3 anos61, consoante se trate de aquisição de terrenos destinados à construção adquiridos por empresas que têm por objecto a construção de edifícios para venda ou de prédios que passem a figurar nas existências de empresas que tenham por objecto a sua venda, em relação aos SP com domicílio fiscal em país, território ou região sujeitos a um regime fiscal privilegiado (artigo 9º n.º 7 do CIMI).

No caso de prédios urbanos não arrendados ou não afectos a uma actividade económica detidos por sociedades offshore, e em conformidade com o artigo 51º do CIRC considera- se como rendimento predial bruto relativamente ao respectivo período de tributação o montante correspondente a 1/15 do respectivo valor patrimonial.

Em relação às mesmas entidades e de acordo com o artigo 85º n.º 5 do CIRS, as importâncias suportadas a título de renda pelo arrendatário de prédio urbano para fins de habitação permanente são excluídas da isenção, salvo quando o valor anual das rendas for igual ou superior ao montante correspondente a 1/15 do valor patrimonial do prédio arrendado.

Por sua vez, em sede de IMT, na aquisição de imóveis (prédios rústicos, urbanos ou de habitação) é aplicada uma taxa de 8%62, sem direito a quaisquer isenções ou reduções de taxa, sempre que o adquirente tenha a residência ou sede em país, território ou região sujeito a um regime fiscal claramente mais favorável, constante de lista aprovada por Portaria do Ministro das Finanças, sem prejuízo da isenção prevista no artigo 7º do DL n.º 540/76, de 9 de Julho (aquisições feitas por emigrantes).

Ao nível do IRC, os rendimentos prediais auferidos pelas sociedades offshores são tributados à taxa de 25%.

61 Na extinta CA, era pelo período de 5 e de 3 anos.

Segundo a referida Portaria63 o objectivo, é de compensar os efeitos negativos externos resultantes da sua localização, traduzidos muitas vezes, no não pagamento dos impostos sobre o rendimento obtidos com a fruição dos imóveis situados em Portugal e detidos por tais entidades.

De facto,

“não pode deixar de se conferir alguma razão ao argumento de que está em causa uma medida de luta contra a fraude e evasão fiscal, captando, de forma indirecta, impostos que o capital investido não pagou no momento da sua obtenção, por, como alguns reconhecem, muitos desses capitais serem obtidos à margem dos circuitos legais, e impostos referentes ao rendimentos desse mesmo capital, os quais, em violação à lei, não são declarados no Estado da sua fonte e, por razões de diminuta tributação, também quase nada pagam nos países ou territórios onde as sociedades que os administram têm a sua sede.” (Mateus, 2004)

Todavia,

“Atendendo a que em Portugal a utilização de offshores para a detenção de imóveis tem sido uma prática largamente utilizada, nomeadamente por parte de investidores estrangeiros, espera-se que o impacto destas novas medidas e os efeitos negativos daqui decorrentes para o investimento turístico e imobiliário tenham sido devidamente equacionados e ponderados e que os efeitos positivos destas medidas não sejam suplantados pelos efeitos negativos daqui decorrentes (v.g. deslocalização do investimento para outros territórios onde estas medidas anti-abuso não se aplicam).” (Peixoto, 2004)

63 A lista dos países, territórios e regiões com regimes de tributação privilegiada, claramente mais

No documento A reforma da tributação do património (páginas 90-96)