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Alterações ao Código do Imposto do Selo

No documento A reforma da tributação do património (páginas 81-86)

6. As alterações introduzidas com a reforma da tributação do património na legislação tributária conexa

6.3 Alterações ao Código do Imposto do Selo

Com a revogação do CIMSISSID, o imposto do selo para além de ser um imposto sobre actos e contratos, passou a ser também um imposto sobre o património, incidindo sobre as transmissões gratuitas de bens, razão pela qual o Código teve que sofrer uma “profunda remodelação”55, de modo a ser dotado das normas necessárias aquele fim e que sumariamente consistiu:

 Passou a indicar-se expressamente quais os bens ou direitos não sujeitos a imposto, eliminando-se a tributação dos bens pessoais ou domésticos, bem como a presunção da sua existência;

 As transmissões gratuitas a favor dos SP de IRC excluem-se da incidência do imposto. Esta exclusão vem reafirmada nas normas de incidência subjectiva em que só as pessoas singulares passam a ser SP deste imposto;

 No maior controlo do valor tributável dos bens móveis através de regras de quantificação;

 Nos VPT dos bens imóveis determinados conforme as novas regras do CIMI, tal como sucede para o IMT;

 Na competência para a liquidação passar a ser dos serviços centrais, num processo de declaração e liquidação totalmente informatizado;

 A inovação de maior relevância em matéria de determinação da base tributável incidente sobre as transmissões gratuitas por sucessão mortis causa é a que se prende com a eliminação do apuramento da quota hereditária de cada herdeiro, para passar apenas a apurar o acervo hereditário global. Assim, para se efectuar uma liquidação do IS, nestas situações, deixa de se fazer a partilha prévia ainda que ideal da herança, tal como acontecia no ISSD, o que constitui factor importante de simplificação administrativa do processo de liquidação do imposto.

 Passa-se a aplicar apenas uma taxa única de 10%, facto que também constitui um factor de simplicidade.

Com a actual reforma, o IS como passou também a incidir sobre as transmissões gratuitas de bens, foi necessário alterar a respectiva Tabela em conformidade, tendo sido acrescentada à verba 1 – Aquisição de bens, a verba 1.2. – Aquisição gratuita de bens, à taxa de 10% sobre o seu valor.

Passou-se a considerar-se, para efeitos da referida verba, transmissões gratuitas, as que nomeadamente tenham por objecto:

 O direito de propriedade ou figuras parcelares desse direito sobre bens imóveis;  Bens móveis sujeitos a registo matrícula ou inscrição;

 Participações sociais, valores mobiliários e direitos de crédito, títulos e certificados da dívida pública, bem como valores monetários, ainda que objecto de depósito em contas bancárias56;

 Estabelecimentos comercias, industriais ou agrícolas; e

 Direitos de propriedade industrial, direitos de autor e direitos conexos;

 Direitos de crédito dos sócios sobre prestações pecuniárias não comerciais associadas à participação social, designadamente suprimentos, empréstimos, prestações suplementares de capital e prestações acessórias pecuniárias, bem como quaisquer outros adiantamentos ou abonos à sociedade;

Nestas transmissões são SP do imposto, as pessoas singulares para quem se transmitam os bens. Deste modo, nas sucessões por morte o imposto é devido pela herança representada pelo cabeça de casal, e nas demais transmissões gratuitas (doações), incluindo as aquisições por usucapião o imposto é devido pelos respectivos beneficiários.

Apenas, e de acordo com artigo 6º alínea e), são isentos de IS, nas transmissões gratuitas de que forem beneficiários, o cônjuge, descendentes e ascendentes, ou seja, os herdeiros legitimários.

No entanto esta reforma não se limitou a introduzir no Código as normas do antigo CIMSISSID. Aproveitou-se a oportunidade para introduzir outras alterações na tributação das transmissões gratuitas, quer no que respeita à incidência real do imposto, quer na forma do apuramento e liquidação do seu valor tributável, acrescentando ainda novas situações passíveis de incidência a este imposto, como adiante se verá.

No que diz respeito à incidência objectiva o CIS passou expressamente a referir quais os bens ou direitos não sujeitos a imposto (nº 5 do artigo 1º do CIS), eliminando a tributação dos bens de uso pessoal ou domésticos, bem como a presunção da sua existência, até então vigente.

Esta mudança permitiu acabar com o regime de suspensão de liquidação do imposto nos casos da transmissão de propriedade separada do usufruto, pelo que a liquidação do imposto devida pela transmissão da nua propriedade é desde logo efectuada. Quando se extinguir o usufruto é efectuada nova liquidação devida pelo adquirente, em consequência da consolidação da propriedade com o usufruto, que irá incidir sobre a diferença entre o VPT do prédio constante da matriz e o valor da nua propriedade que foi, na altura, considerado na respectiva liquidação.

Outra das alterações profundas da reforma foi a exclusão da incidência do imposto das transmissões gratuitas a favor dos obrigados fiscais de imposto sobre o rendimento das pessoas colectivas, pelo que nesta vertente apenas as pessoas singulares são sujeitas a este imposto.

As transmissões gratuitas a favor das sociedades constituem variações patrimoniais positivas sujeitas a IRC, de acordo com o artigo 21º (para os residentes e estabelecimento estável de não residentes) e 4º (não residentes sem estabelecimento estável) do CIRC.

Para efeitos de IS, são aplicáveis as regras de determinação da matéria tributável previstas no CIMT.

É também acrescentada à Tabela Geral do IS a verba 27 – Transferências onerosas de actividades ou de exploração de serviços, onde se tributa as subconcessões e os trespasses das concessões feitos pelo Estado, pelas Regiões Autónomas ou pelas Autarquias Locais, para exploração de empresas ou de serviços de qualquer natureza, bem como o trespasse dos estabelecimentos comerciais, industriais ou agrícolas que passam a estar sujeitos à taxa de 5%.

Na determinação do valor do trespasse dos estabelecimentos comerciais, industriais ou agrícolas sem contabilidade organizada, estabelece-se um mecanismo indirecto de determinação do seu valor tributável, através da utilização de factores de capitalização do rendimento fixados em função do zonamento dos imóveis onde esses estabelecimentos se encontram instalados.

As participações sociais e os títulos de crédito incluindo as obrigações passaram a ser tributadas nos termos gerais do CIS, ou seja, quando e se ocorrer a sua transmissão gratuita.

Por outro lado, assistiu-se a uma simplificação do processo de liquidação designadamente ao nível das taxas, que no abolido ISSD eram múltiplas e de elevada progressividade, para se aplicar apenas uma taxa única de 10%.

A liquidação do imposto devido pelas transmissões gratuitas compete aos Serviços Centrais da DGCI, sendo promovida pelo Serviço de Finanças da residência do autor da transmissão ou do usucapiente sempre que os mesmos residam em território nacional e é efectuada com base numa participação do modelo oficial, que identifica o autor da sucessão ou da liberalidade bem como os sucessores, donatários, usucapientes ou beneficiários devendo conter a relação dos bens transmitidos.

Esta participação deve ser apresentada no Serviço de Finanças competente até final do terceiro mês seguinte ao do nascimento da obrigação tributária, ou seja, contrariamente ao que acontecia no ISSD que tinha um prazo para participar o óbito e outro para apresentar a relação de bens.

Por razões de simplificação administrativa, é dispensada a junção à participação da transmissão gratuita de bens, de documentos cujo conteúdo seja já do conhecimento da AF através das declarações anuais de informação contabilística e fiscal.

No caso de isenção, estabelece-se que a relação de bens e direitos deve abranger não só os referidos no artigo 10.º do CIRS (ou seja, os sujeitos a tributação ulterior no âmbito das mais-valias) e outros bens sujeitos a registo, matrícula ou inscrição, como também os valores monetários, mesmo que depositados em contas bancárias (artigo 28º n.º 1 do CIS).

As grandes opções da reforma relativamente às transmissões gratuitas foram as seguintes:  Isenção para o cônjuge, descendentes e ascendentes;

 Exclusão da incidência dos SP de IRC;  Definição da incidência real e territorial;  Alargamento da base tributável:

– às aquisições por usucapião;

– aos estabelecimentos comerciais, industriais e agrícolas;

 Diminuição das taxas: passa-se de uma grande variedade de taxas que poderiam atingir os 50%, para a existência de uma única taxa de 10%;  Informatização e simplificação;

 Incidência sobre o património global e não sobre a quota recebida por cada herdeiro:

– a liquidação não exige a partilha prévia – fim da suspensão dos processos por usufruto.

No documento A reforma da tributação do património (páginas 81-86)