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IV A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO E AS CONSEQUENCIAS PARA O ENSINO SECUNDÁRIO BAIANO

3. A Reforma de 1870 e os Exames Preparatórios

Um dos grandes problemas – senão o maior deles – enfrentados pelo Liceu Provincial da Bahia era a não habilitação para seus alunos prestarem os chamados exames preparatórios , o que os impedia de ter acesso ao ensino superior.

É preciso que seja esclarecido que os exames preparatórios eram provas que aferiam conhecimentos considerados necessários para o ingresso aos cursos superiores , que eram poucos e, portanto, concorridos. Assim sendo, o acesso ao ensino superior era efetuado através de um processo de seleção,

exceto àqueles que cursaram o Colégio Pedro II , na Corte , considerado como padrão para todo o Império, que tinham acesso direto aos cursos superiores..

A forma de implantação dos exames preparatórios limitava demasiadamente o ingresso no ensino superior , criando situações de pressão para que o acesso fosse ampliado.

Na primeira metade do século XIX , os exames eram feitos nas próprias faculdades , com validade específica. Do início da segunda metade do século até 1873 , os exames preparatórios passaram a ter validade nacional, sendo realizados na Inspetoria do Ensino Público e no Colégio Pedro II , na Corte. A partir desse ano , os exames passaram a ser feitos também nas províncias, através de delegados da Inspetoria, não sendo , ainda , o caso da província baiana . Assim, essa situação não resultou em melhoria para o Liceu Provincial da Bahia, conforme discutiremos adiante.

No ano de 1879 , os exames preparatórios dos Liceus nas províncias passaram a ser reconhecidos, desde que seguissem o mesmo programa dos estudos efetuados no Colégio Pedro II. Ainda não foi a vez do Liceu Provincial baiano , uma vez que não havia uma organicidade dos estudos daquela instituição que fossem semelhantes ao ensino secundário ministrado na Corte. Os exames preparatórios somente foram realizados na província baiana, no ano de 1886 , de acordo com os registros nas Falas e Relatório do Diretor Geral de 1887 , o que discutiremos no próximo capitulo .

Para a Reforma ocorrida em 1870, na Bahia, novamente repetiu-se um dos principais problemas enfrentados pela instrução pública secundária , ou seja ,

a não aceitação dos exames realizados no Liceu , em nenhuma academia do Império . Nesse sentido, argumentou o Diretor Geral :

Si os estabelecimentos de instrução secundária não forem soccorridos em tempo pela acção combinada dos governos geral e provincial , continuarão a decahir infallivelmente, e acabar-si-há por extinguil-os , pois que nada justificará a continuação da despeza provincial sem vantagens correspondentes. (Relatório Diretor

Geral, 1870).

O desestímulo era tamanho que, dos 225 alunos matriculados no ano de 1870 , 101 perderam o ano por faltas , indicando o abandono no decorrer dos estudos , além daqueles que foram expulsos por mau comportamento.

Mesmo com todas essas questões , a Congregação do Liceu ofereceu exames, segundo o Diretor Geral , mas não houve pretendentes para fazê- los. Além de os exames não serem aceitos em todo o Império , na própria Faculdade de Medicina da Bahia, por exemplo, somente eram válidos os exames efetuados por ela .

Para enfatizar ainda mais a indignação com a situação do Liceu , argumenta o Diretor Geral que os professores da banca na Faculdade de Medicina eram, quase sempre , do Liceu , sendo habilitados , não justificando a rejeição dos exames .

O Relatório do Diretor Geral traz , ainda , um outro dado que demonstra não estarem sequer próximos a sanar os problemas da instrução pública secundária. É em relação à freqüência de alunos nos estabelecimentos particulares , que continuava crescendo . Para o ano em questão -1870/71,

contra 225 do Liceu (mais de seis vezes maior que as matrículas do Liceu). Mesmo assim, reconhece que tal número não traduzia a realidade, que poderia ser muito pior , tendo em vista que as escolas não costumam enviar corretamente os dados para a Diretoria Geral.

Finalizando o Relatório, o Diretor Geral da Instrução Pública , Francisco José da Rocha , destaca o que entendemos como o principal ponto para a decadência da Instrução secundária: a necessidade de que os exames do Liceu Provincial fossem aceitos nas Academias:

Serão infrutiferas todas as reformas n’este importante estabelecimento público , único que a Provincia tem d’ instrução secundaria , e um dos poucos que existem em todo Imperio, sendo talvez o mais antigo , e que mais tem produzido , - si não houver autorização para serem os seus exames acceitos em todas as academias, ou – ao menos – na nossa Faculdade de Medicina.

(Relatório da Instrução – 1871)

Continuando dentro dessa mesma linha de pensamento , referindo-se aos exames em cada faculdade ,conclui:

Não compreendo , pois, a razão de utilidade d’esse exclusivismo d’exames para cada uma das faculdades do Imperio , tanto mais quanto, como já em outro logar disse , os professores do Lyceo são quasi sempre os examinadores dos preparatorios na Faculdade de Medicina

Não vejo o inconveniente que pode resultar de estender-se aos Lyceos provinciaes bem organisados o previlegio de que gosa actualmente só o Imperial Collegiado de D. Pedro II. (Relatório da

Instrução – 1871)

No ano de 1872 , tanto as Falas como o Relatório da Direção Geral da Instrução Pública são unânimes em elogiar a Reforma da Instrução de 1870 que, de acordo com relatos, teria elevado a freqüência nas aulas públicas , bem como melhorado o nível do professorado em maior número habilitado e competente.

Considerando como causas para o melhoramento indicado , o Diretor Geral Francisco José da Rocha enumera: os concursos para provimento das cadeiras , exames para alunos das aulas primárias , relatórios de professores, além das vantagens tanto para alunos como para os mestres com distinção , vantagens essas decorrentes da Reforma de 1870.

Se essas observações valiam para a Reforma de uma maneira geral , para o ensino secundário , especificamente , a situação não era tão lisonjeira. Novamente atribuía-se como causa dos problemas enfrentados no Liceu , a sua não habilitação para as Academias. Questão sempre atacada e destacada , não foi solucionada , apesar de não faltarem elogios ao Liceu:

O ensino secundário , que se limita no Lycêo, nunca , apezar da proficiencia do professorado a quem esta incumbido , deu resultados correspondentes aos sacrificios que faz a Provincia para mantel-o . Não se encontrará o vicio na instituição; nenhum predicado lhe falta para ser proveitosa. Tudo se deve a falta de garantias para quem frequenta o curso do Lycêo, pois que as leis geraes tiraram-lhe todas as regalias (Relatório da Instrução 1872)

aceitação nas Faculdades dos exames preparatórios realizados no Liceu , para que a instituição viesse a ficar no lugar considerado por ele como merecido, caso contrário :

... em taes circunstancias o Lycêo pode se dizer condennado a esperar ingloriamente um futuro , que depende de uma mais liberal organização da instrução pública. (Relatório da Instrução – 1872)

As estatísticas que, sabemos, eram totalmente deficitárias , tendo em vista que não havia um controle total de matrículas na província , indicavam para o ano de 1872 dados que não são de forma alguma animadores quanto ao ensino secundário público na província baiana . Apenas 229 alunos matricularam-se no Liceu , para 520 matriculados somente em quatro colégios que enviaram dados à Diretoria Geral – Collégio Alemão , Collégio Santo Antonio , Collégio Athenêo e Collégio São Pedro.

Mesmo com todas as tentativas de elogios à Reforma de 1870 , apesar dos grandes problemas enfrentados pelo ensino secundário oficial do Liceu Provincial , outra Reforma ia sendo discutida e organizada .