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MAPA DOS ESTABELECIMENTOS SECUNDARIOS PARTICULARES DA PROVINCIA E DOS ALUNNOS QUE OS FREQUENTAM

6. Caráter centralizador da Reforma de

Uma das questões presentes no decorrer de todo o período estudado reside na característica de maior ou menor centralização na administração da educação. Assim, como já noticiamos anteriormente, mais uma vez vem à tona a indicação de uma fase de maior centralização, já apontada nos discursos de críticas pronunciados pelo presidente da província.

Como resultado dessas críticas emitidas por todos - Presidente da Província , Diretor Geral da Instrução e Diretor do Liceu - uma nova Lei foi promulgada, em meados do ano de 1875 , a de número 1561 , para regulamentar a Reforma de 1873. A diferença significativa para a reforma anterior estava no caráter centralizador , mais uma vez presente na regulamentação, ao concentrar ou unificar os cargos de Diretor Geral da Instrução Pública com o da Direção do Liceu Provincial.

Não tardaram as reações e, em pouco tempo, começaram a surgir pressões em sentido contrário. A centralização dos cargos de Diretor do Liceu e Geral da Instrução recebeu críticas do próprio Diretor Geral, assim como do Presidente da Província em 1876 que, na sua Fala, indicou a necessidade de um Diretor próprio para o Liceu, exigindo, para o seu funcionamento, uma permanência constante , além de providências regularmente necessárias, ao seu bom desempenho . Essa dedicação não poderia ser proporcionada com a acumulação dos cargos..

Outra alteração que polarizou opiniões refere-se às autorizações para funcionamento de estabelecimentos particulares primários ou secundários. Segundo a Regulamentação 1561 /75 , qualquer pessoa , brasileiro ou não, poderia abrir uma escola e “exercer o professorado particular sem autorisação da Directoria ,sem dependencia de título ou prova de capacidade profissional “ (art.190)

As ações da política desenvolvida para a educação e o ensino secundário da província nos levam a confirmar nossa convicção de que, na mesma medida em que não havia clareza para o ensino secundário público, havia um favorecimento cada vez maior ao desenvolvimento e afirmação do ensino particular, sob a pretensa forma de liberdade de ensino, chegando a ponto de causar reações no seio do próprio poder.

Em relação ao funcionamento de escolas particulares , tanto o Presidente da província em 1876 , quanto o Diretor Geral - José Eduardo Freire de Carvalho , condenaram as alterações realizadas pela Assembléia Provincial.

inspiradas pelo princípio de liberdade de ensino, porém afirma:

Não sou contrário ao ensino livre , mas entendo que essa liberdade sem limitação alguma e sem a garantia da capacidade profissional , pode ser prejudicial á educação e instrucção popular , a que o Estado não pode ser indifferente , porque tem necessidade de intervir na direcção da educação geral e publica como condição de ordem e grandeza moral do paiz (Relatório Direção Geral -1876)

Para justificar sua posição, contrária à abertura de escolas indiscriminadamente sem qualquer tipo de controle do Estado, o Diretor Geral argumenta, exemplificando com as experiências de outros países:

Em diversos paizes , como por exemplo na Allemanha e na Italia, onde a instrucção tem tido grande desenvolvimento , não se prescinde da intervenção do Estado , e ninguem pode exercer a profissão de mestre publico ou particular sem licença da autoridade que tem a inspecção das escholas , cumprindo ter em vista não só a aptidão dos candidatos , mas tambem a sua moralidade (

Tanto a Fala Presidencial quanto o Relatório do Diretor Geral expressam críticas a tal procedimento da Assembléia Provincial, que modificou o Regulamento:

A illustrada Assembléa Provincial não previu o inconveniente de semelhante disposição , contra a qual cumpre precaver-se , regulando-se essa liberdade de ensino , para que a instrucção particular seja um verdadeiro e proveitoso auxiliar do governo na importante missão de instruir o povo (Relatório Direção Geral –

1876)

Paralelamente, o caráter centralizador ultrapassou as questões puramente administrativas, passando a existir o ensino público somente na capital da província – Salvador e no Liceu Provincial , dificultando o acesso a tal modalidade de ensino.

Além das questões levantadas em conjunto pela presidência e Direção Geral , a Fala do presidente em 1876, dá destaque para a centralização das aulas secundárias no Liceu Provincial , pois , segundo ele , as outras localidades ficaram prejudicadas :

Em Vez de se alargar a esphera da instrucção na Provincia , estreitou-se ella com verdadeiro prejuiso dos povos. Hoje só pode ter alguma instrucção , além da elementar , da Provincia , ainda tão tenue entre nós , o menino cujos pais pódem fazer o sacrificio das grandes despezas que demandão a viagem para esta Capital e a forçada residencia n’ella durante annos.

Instituio-se d’est’arte um verdadeiro privilegio para os ricos e abastados, que aliás infelizmente não abundão no nosso centro.

Permaneciam os lamentos quanto ao pequeno número de matriculados no Liceu Provincial – 210 alunos – cuja causa era sobejamente conhecida: além de não mais existirem aulas no interior da província , os exames não tinham validade para habilitação e ingresso nas Academias . Comentava-se , ainda , na Fala de 1876 , que talvez teria sido preferível substituir a aula de Grego por Alemão “lingua que com rasão está sendo muito cultivada n’esta cidade; que se explica pela extensão e desenvolvimento do respectivo commercio “ (Fala – 1876).

O ano de 1876 traz , também , alguns dados novos , como é o caso do recenseamento escolar, indicando população alfabetizada ou não , assim como o esclarecimento de informações duvidosas sobre o ensino particular, conforme poderemos verificar dos quadros a seguir :

população livre escravos homens mulheres homens mulheres sabem lêr 161,937 87,135 49 15 e escrever:

analfabetos 568,416 494,304 89,045 78,715

Em uma estatística ainda incipiente , com dados bastante precários para a situação da instrução na província , mas que apontam para os graves problemas que a educação enfrentava , podemos comentar, de acordo com os indicies do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) , em relação ao recenseamento da população baiana no censo de 1872 , que, dentre 1.379.616 habitantes, aproximadamente 80% da população livre era analfabeta . Caso levemos em consideração também a população escrava , este índice cresce ainda mais. A dimensão de tal dado é importante , não só pela sua representação em si , de alto índice de analfabetismo , como também em relação ao desdobramento do seu significado quanto ao ensino secundário, que atingiria apenas uma parte de pequena parcela da população.

Em relação ao número de estabelecimentos particulares , os documentos sempre questionam os seus dados , pois os Diretores Gerais de Instrução Pública queixam-se de que as escolas não enviavam os dados àquela diretoria.

Difficil é á Directoria apresentar uma estatistica exacta dos collegios e escholas particulares , pela reluctancia com que alguns directores e professores, com expressa violação do Regulamento da Instrução publica , se negão a remetter á repartição os esclarecimentos e mappas de seos estabelecimentos. (Relatório

Dessa forma , o Relatório de 1876, emitido pela diretoria, indica apenas os dados dos colégios para o sexo masculino e feminino que enviaram suas informações à sua secretaria, não expressando , portanto, a real situação dos colégios particulares , possivelmente com mais alunos do que o registrado.

RELAÇÃO DOS COLLEGIOS DE INSTRUCÇÃO SECUNDARIA DA