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NUMERO NOME DOS COLLEGIOS 1 S José

V. O FINAL DO IMPÉRIO E O ENSINO SECUNDÁRIO BAIANO

1. Características gerais do período

Apesar de todas as transformações ocorridas na sociedade imperial , é fato que a composição da sociedade do século XIX vai tornando-se cada vez mais complexa , não podendo ser mais reduzida simplesmente por senhores e escravos, apesar de sua presença marcante. No entanto , no Nordeste, em especial , as bases da sociedade ainda estavam assentadas na grande propriedade territorial e na escravidão.

A partir dos anos 70, pós-proibição do tráfico negreiro e com a introdução de mão de obra imigrante , sobretudo na região Centro-Sul do país, outras forças passaram a ser observadas na sociedade brasileira.

Os dados obtidos pelo censo de 1872 dão conta de que as características da sociedade brasileira apontavam sinais de diversificação, com indicação de vários segmentos que, por suas profissões atestam essa diferenciação urbana. Os números do censo indicam para a Corte e para Bahia :

Profissionais liberais 14.426 10.417 Indústria e Comércio 24.303 28.494 Proprietários de terra 2.007 8.622 Lavradores 17.021 453.678 Criadores ______ 20.651 Militares 5.474 2.971 Marítimos 8.039 3.019 Operários 18.091 32.730 Pescadores 1.216 4.622 Costureiras 11.592 76.651 Criados e jornaleiros 25.686 40.727 Serviço doméstico 55.011 169.511 Sem profissão 92.106 527.523 TOTAL 274.972 1.379.616 Fonte: IBGE Recenseamento de 1872

Como afirmamos anteriormente , os dados acima nos apontam para as mudanças ocorridas na sociedade brasileira em meados do século XIX. Na Bahia, especificamente, em que pese o dado das profissões ligadas ao campo, expressando a força que as grandes propriedades ainda possuíam , com forte presença da relação escravista, são também importantes as mudanças que ocorreram nas cidades , indicadas pela diversidade de profissões urbanas.

Podemos também argumentar que a concentração em atividades consideradas liberais, ligadas às atividades comerciais e manufatureiras , nos mostra que, nos últimos anos do Império, havia um segmento diferenciado da sociedade que, ao mesmo tempo, era mais letrado e burocrático, com possível influência na formação de opinião de uma sociedade em processo de transformação , como a brasileira nesse período.

Do ponto de vista das mudanças ocorridas na sociedade brasileira no final do século XIX, é importante destacar que o período em estudo para o ensino secundário na Bahia (1860 a 1890) apresenta importantes transformações na base da economia brasileira , principalmente no Centro Sul do país , com a expansão da lavoura do café e desenvolvimento urbano industrial, resultando em processo de crescimento das cidades e migrações internas.

Por outro lado , no Nordeste, a questão principal não se colocava tanto na substituição da mão de obra escrava por livre, mas sim na própria continuidade das atividades na lavoura e, no auxílio que o Império , por esse motivo viesse a fornecer à região, a título de crédito agrícola ou mesmo sob a forma de redução de impostos.

Tais medidas atingiram os setores dominantes da exportação , como no caso da produção de açúcar. Essa situação , se já colocava a região em diferenciação aos centros produtores do Centro- Sul do país , também é demonstrativo de discriminação entre as próprias províncias nordestinas, pois deixava de lado , ou mesmo excluía das reivindicações , economias provinciais não dominantes como a pastoril, levando, até para a distribuição de recursos , a uma diferenciação entre as províncias . Dessa forma , o Nordeste , economicamente, se já estava longe das transformações que ocorriam no Centro-Sul , cada vez mais vai se distanciando de uma modernidade , além de separar, dentro da própria região, diferentes “categorias” de províncias.

Os anos 80 do século XIX continuam tendo como característica principal a desagregação da Monarquia . Conforme já comentamos , os últimos vinte anos desse regime foram de declínio e de seu questionamento. As idéias veiculadas pelo Manifesto Republicano na década de 70 abrem um debate sobre as questões que envolviam o liberalismo , tão discutidas na sua aplicação ao ensino , nos últimos vinte anos do século.

Mas, as mudanças desse final de Monarquia e de século ocorreram em todos os sentidos da vida da sociedade da época. Além das idéias liberais , o pensamento predominantemente católico recebe o impacto do pensamento comtiano com idéias evolucionistas do positivismo , além de outras questões como a religiosa , reformas eleitorais, campanhas abolicionistas e, enfim, a questão militar. As questões que marcaram o período final do Império fizeram com que existissem comentários do tipo: “... os últimos vinte anos da Monarquia são efervescentes de imprevistos , renovação e contrastes “. (BITTENCOUT.1953:50)

Se para a Monarquia os tempos eram difíceis , para a região nordestina ainda mais , pois continua seu distanciamento , em termos de desenvolvimento com as regiões Sul e Sudeste. Como afirma Kátia Mattoso, “pouco a pouco o centro de gravidade econômica se deslocava do Nordeste para o Centro – Sul , mas era imensa a disparidade entre as rendas regionais” (MATTOSO. 1992:236) . A autora ainda indica que as exportações do Centro - Sul e do Sul do país passam a representar 65% , enquanto o Nordeste ficava cada vez mais distanciado das inovações ocorridas no centro econômico do país.

Dessa forma , ficam evidenciados os elementos que irão compor o quadro de distanciamento econômico da região Nordeste em relação às demais regiões do país, em especial , as regiões Sudeste e Sul. Porém , ainda segundo Kátia Mattoso , esta não era a situação das elites baianas , que sempre tiveram um destaque especial na formação do “novo Estado “:

A Bahia teve uma participação decisiva nos setores econômico, religioso e político. Ademais, a análise dos fracassos e dos êxitos baianos torna possível compreender melhor o comportamento de todas elites brasileiras nesse novo universo vigente entre 1822 e 1889. (MATTOSO.1992:237).