• Nenhum resultado encontrado

As divergências na condução das políticas e Nova Reforma

DÉCADA DE 60: O REGULAMENTO ORGÂNICO

4. As divergências na condução das políticas e Nova Reforma

É preciso compreender que, à época, não havia um pensamento monolítico em relação aos destinos da Instrução pública e à falta de cumprimento das Leis que a regulavam. Rebatendo as análises efetuadas pelo Diretor de Estudos João José Barbosa de Oliveira , estão as colocações do presidente da Província, José Bonifacio Nascentes de Azambuja , em sua Fala, em Junho de 1867 :

Abstrahindo da despeza com que elle (Liceu) se faz , que é questão secundaria , quando se trata de instruir o povo , creio que a sua extincção não traria prejuizo á instrucção secundaria, que é muito mais proveitosa nos estabelecimentos particulares ( Fala-1867).

Ao final da década , o Presidente da Província , Barão de São Lourenço , ao assumir o cargo pela segunda vez – posto que já havia sido Presidente da Província Baiana dezessete anos antes - dá indicações no seu Relatório da situação política em que se encontrava a Bahia. Apesar de considerar o estado político como “tranquillisador “, comenta que :

... por toda parte uma opposição forte significava a quasi impossibilidade de progredir o sistema administrativo d’aquella epocha sem graves consequências. (Fala –1869).

A agitação política a que se referia o Barão de São Lourenço dizia respeito às mazelas das repercussões da Guerra do Paraguai que já estava chegando ao seu fim, assim como a dissolução da “antiga Camara” pelo poder Imperial. A situação era tensa e as eleições foram bastante tumultuadas , havendo incidentes como os da freguesia de Nazaré , onde compareceram “300

homens quasi todos armados “ , ou ainda ao fato que denominou de “eleições clandestinas e falsas” em alguns locais. Atribuiu essa situação ao fato de

ainda não se achar “firmada a nova ordem política”.

Indica ,ainda , a Fala do Presidente que, na capital baiana , “ rica e populosa” , sendo a Segunda do Império :

... a política adoptada pelo Governo achava-se isolada da população , da opinião pública , e escassamente sustentada pelos recursos officiaes ainda largamente prodigalisados. ... a Cidade da Bahia , um dos mais consideraveis centros de civilização do Império , tinha condemnado definitivamente aquella política” . (Fala

– 1869).

Admite ainda, o Presidente ter sido recebido com “rancor dos adversários” por sua “moderação “, procurando conciliar os interesses. Mas, admite, também, não simpatizar com uma “repentina transformação”. Tais declarações são indícios de que as ações da “nova ordem política“ não pretendiam alterações significativas na província.

Nesse sentido , argumenta, em sua Fala, o Presidente, que sua intenção era de conciliação, a fim de “prover á conservação da ordem , á sustentação de seus

O Relatório presidencial lamenta, ainda, o estado da Instrução pública em que, segundo o presidente , houve uma queda na qualidade dos professores , pois deixaram de existir os concursos públicos que deram lugar às “nomeações”, afirmando “... a mor parte por proteção , sem prévia consulta

aos interesses imprescindíveis da instrução “(Fala – 1869)

Ainda avaliando a situação da Instrução Pública da província baiana, afirma:

Permitti que seja franco : profundamente me penalisou o atraso em que achei a instrucção pública. ... nenhumas são as vantagens que se tem colhido n’estes 18 annos , intervallo entre a minha primeira e Segunda administração. (Fala-1869)

Diante dos males da Instrução Pública , o Barão de São Lourenço indica a necessidade de nova Reforma , desde que enérgica o suficiente para

“extinguir abusos ...”.É como se fosse esta a fórmula mágica para por fim aos

problemas existentes.

O Liceu Provincial, que foi fundado em 1836 , com o objetivo de reunir as aulas maiores , concentradas em uma única instituição de ensino , sofreu, então, por parte do Presidente da Província , severas críticas.

Argumentou ele que, ao concentrar as cadeiras no Liceu e extinguir as existentes em outras comarcas ,ainda assim várias ficaram sem qualquer direção. Propõe que a próxima Reforma reveja tal situação , ampliando o ensino secundário na Província:

Entendo também que se deve ampliar mais a instrucção secundaria , convindo que sejão restituidas ás cidades e Villas que as tinhão as cadeiras de Latim que forão suppressas com grande desvantagem dos creditos litterarios d’esta Província. (Fala – 1869)

Para o Barão de São Lourenço , as causas da baixa freqüência das aulas secundárias públicas , ministradas no Liceu Provincial , residiam exatamente na sua concentração na capital . Assim , com esse raciocínio , julga que, ao restabelecer as aulas , sobretudo as de Latim , no interior da província , esse mal estaria sanado . No entanto , essa linha de pensamento deixa de esclarecer os motivos por que as aulas particulares tinham o triplo de alunos que as públicas , mesmo ocorrendo na capital . Portanto , apenas tal motivo não justificaria a dispersão das aulas pela província. Em nenhum momento, em sua Fala , ele discorre sobre a necessidade de uma maior sistematização , ou mesmo seriação e integração entre as cadeiras ministradas como aulas secundárias.

Outra grande crítica feita pelo Presidente Provincial em relação à Instrução, é a ausência ou deficiência dos dados numéricos , tendo em vista que não havia um recenseamento completo na Província. Entretanto , os dados a que teve acesso davam conta de que :

No Lyceo , com 17 lentes , apesar désse grande numero para ocupar dez cadeiras, e serem elles dos melhores da Provincia , as matriculas nas diversas aulas apenas forão 380 , perdendo o anno 128 alumnos; e nos Collegios particulares da Capital , pelos mappas recebidos, a frequencia foi de 1137 , o tríplo d’aquelles; sendo o numero total 1517. (Fala – 1869)

No mesmo ano de 1869 , o Diretor Geral interino de Estudos , Cônego Francisco Pereira de Souza , no Relatório apresentado ao Presidente da província , não acrescentou muitas novidades à situação da instrução pública, referindo-se sempre aos Relatórios anteriores. Porém, deu destaque ao avanço do ensino particular, afirmando: “ Estranho ainda, de certo ponto , a

marcha particular do ensino na província... “ (Relatório – 1869)

O período que poderia ter sido considerado como aquele em que o ensino secundário foi sistematizado, foi apenas um período de tentativa. O Regulamento Orgânico deveria ter cumprido o papel estruturador do ensino, porém antes de implantado plenamente já estava prestes a ser substituído. Assim , as atenções voltaram-se para as discussões em torno de uma nova reforma.

Por outro lado , enquanto prosseguiam os debates e o Regulamento não foi implantado, permaneciam as mesmas condições de desorganização do ensino secundário, sem um curso estruturado, com matrículas por aula no Liceu, não credenciando para o ingresso nas Academias do Império. Assim sendo , foi inevitável a fuga para o ensino particular e o esvaziamento do Liceu Provincial , a ponto de pensar-se na sua extinção.

O Liceu Provincial da Bahia e o ensino público secundário sobreviveram a essas discussões para enfrentar , ainda que cambaleante , várias outras reformas.

IV . A DESAGREGAÇÃO DO IMPÉRIO E AS CONSEQUENCIAS PARA O