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A República Federal da Índia e o Reino Hachemita da Jordânia

Poderes dos Chefes de Estado

Maria Vara Branco

Sumário: I. República da Índia, Bharat. 1. Macrocomparação. 1.1.Uma Família

Jurídica Hibrida. 2. História. 3. Constituição da Índia. 4. Microcomparação. 4.1. Presidente da Índia: Poderes do Chefe de Estado. 4.1.1. Critérios de Elegibilidade, Eleição e Destituição. 4.2. Vice-Presidente da Índia. 4.2.1. Critérios de Elegibilidade. II. Reino Hachemita da Jordânia. 1. Macrocomparação. 1.1. Família de Direito Muçulmana. 2. História. 3. Constituição do Reino Hachemita da Jordânia. 4. Microcomparação. 4.1. Rei da Jordânia: Poderes do Chefe de Estado. III. Século XXI: o século das mudanças. Conclusão. Bibliografia.

Resumo: Este trabalho visa estudar os poderes do Chefe de Estado de países

como a Índia e a Jordânia. O estudo dos poderes do Chefe de Estados é sempre um tópico de discussão, mais ainda quando os trazemos para o campo comparatístico. Porém, tal estudo não pode ser prosseguido isoladamente, ainda mais, quando nos propomos estudar ordenamentos jurídicos diferentes daqueles a que estamos habituados no contexto Europeu. De forma a atingir os objetivos propostos tere- mos que primeiramente conseguir integrar cada um dos ordenamentos jurídicos na respetiva família jurídica e proceder à identificação das particularidades que caracterizam cada família. Estudaremos de forma breve a evolução histórica de cada um dos países com o intuito de identificar elementos estruturais que os influenciaram e que persistem em cada um dos países.

Procederemos à análise dos poderes do Chefe de Estado e de como estes vão implicar o seu relacionamento com os demais órgãos de soberania.

Abstract: The present paper intents to study the powers of the Head of

State of the following countries: India and Jordan. Such study is always a topic of discussion, even more when we bring it into the comparative field. However, we cannot tackle it through a narrow approach, even more when we undertake such distinct Legal Orders compared to the European context. To achieve our aims, first of all we have to be able to integrate each one of the legal orders in their legal families, in order to identify the particularities that characterize each legal family. Ended this phase, we proceed with a historical study, which will allow us to identify structural elements that have influenced these countries and persist in this century.

After this first approach, we are able to study the powers of the Head State and recognise how the abovementioned frame this sovereign body.

Keywords: India; Jordan; Head of State; President; King; Powers.

I – República da Índia, Bharat

1. Macrocomparação

1.1. Uma Família Jurídica Hibrida

Antes mesmo de nos adentrarmos no estudo do ordenamento jurídico em si e de procedermos ao respetivo estreitamento devemos, primeiro que tudo, observar um todo. Quando falamos de um todo não nos referimos apenas e só ao Direito, mas da interferência de outras ordens para lá da jurídica. Assim, ao tratarmos da família jurídica que impera na Índia, indubitavelmente, teremos que ter em consideração a ordem religiosa e de como esta influencia a estrutura social e, por sua vez, a legal.

A Índia não é uma realidade una e desprovida de simbolismos. A Índia enquanto realidade milenar foi absorvendo várias influências jurídicas dentro de um mesmo espaço geográfico, o que não é estranho, se observarmos o idioma Hindi, o qual ao longo do tempo foi incorporando vocábulos ou expressões de outros idiomas, entre eles: o Sânscrito, o Persa, o Árabe e o Inglês. Então, não é de estranhar, que ao verificarmos o contexto jurídico nos apercebamos de influências absorvidas. Assim, ao tentarmos enquadrar o Ordenamento Jurídico da Índia numa só família jurídica não só estaríamos

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Estamos diante de uma realidade consubstanciada em várias influên- cias: o hinduísmo1, o direito hindu2, o direito indiano, o direito islâmico,

o costume, common law e a família Romano-Germânica.

2. História

Ao falarmos de Direito Constitucional da República da Índia temos que recuar ao século XVII, dado que se encontra intrinsecamente ligado ao começo e ao desenvolvimento do comércio entre a Coroa Britânica e, em certa medida, ao antigo Império Mongol. Como refere Agarwal [et al], os conceitos e princípios constitucionais foram germinados sob a alçada do Império Britânico, ainda que numa primeira fase por meio da Companhia das Indías e numa segunda e última fase pela Coroa Britânica3.

Foi sob a égide de Jalaluddin Muhammad Akbar (1556-1605), Akbar the Great, que o Império Mongol teve o seu maior impulso e foi sob a sua governação que o Império Mongol conheceu a sua época áurea. Akbar the Great foi o primeiro imperador Mongol a nascer em solo Indiano4. Toda a

estrutura governativa, política, económica, social e cultural desenhou-se à luz

1 O Supremo Tribunal da Índia veio dizer que “Hinduísmo é uma forma de vida” in http://www.hinduismtoday.com/modules/smartsection/item.php?itemid=5047., visto em Abril de 2015.

2 “Classical Hindu law was a variegated grouping of local legal systems that had different rules and procedures of law but that were united by a common jurisprudence or legal theory represented by Dharmaśāstra. In premodern India, the practical legal systems of any two given Hindu communities may have operated quite differently, but they were both likely to respect the “spirit” of Dharmaśāstra and incorporate it into their legal rules, processes, and institutions. The degree of correspondence between Dharmaśāstra and practical law made a system more or less Hindu.” in Donald R Davis Jr. The Spirit of Hindu Law. Cambrigde: Cambrigde Univesity Press, 2010, p. 13.

3 D.K. Agarwal, Udayan Singla e Mayanka Dhawan. India. Vol. 3, in Constitutional

Law, coll. International Encyclopaedia of Laws, ed. by Dr. David Haljan and Prof. Dr. André Alen. The Hague: Wolters Kluwer, 2005, pp. 31 e 43.

4 Frisamos tal facto derivado as questões religiosas, uma vez que a situação na altura era de governantes muçulmanos estrangeiros a governar solo e população hindu. Com Akbar temos

deste imperador. Contudo, com o Imperador Shah Jahan (1627-1658), neto de Akbar, o Império Mongol volta a conhecer outro período de esplendor. Em 1803, a Companhia Inglesa das Índias Orientais está instalada em território do Hindustão. E, foi a partir desta Companhia que a história cons- titucional se começou a desenvolver. Se, no início, tínhamos uma instituição comercial, esta rapidamente se transformou num organismo governamental a partir da Província de Bengala que projetou o período colonial Britânico5.

Esta transição fomentou uma reestruturação da organização geográfica, sendo introduzido o conceito de federação com concentração de poderes. Esta concentração de poderes derivou, mais tarde, no princípio de um Executivo responsável perante a Legislatura.

Em 1858, a Índia entra numa nova era constitucional, pois dá-se a trans- ferência de poderes da Companhia Inglesa das Índias Orientais para a Coroa Britânica, o Government of India Act 1858. Por outro lado, o Government of India Act 1919 veio propor como sistema de governo uma diarquia, incluindo as províncias no governo da Índia, bem como a partir daqui a Legislatura Central tornou-se bicameral. E, por fim o Government of India Act 1935, o qual entrou em vigor passados dois anos, veio estabelecer uma estrutura federal, a qual eliminou o paradigma indiano da forma de governo, e procedeu à demarcação dos poderes entre o Centro de governação e as províncias. Nele, ainda que se atribuísse maior autonomia às províncias, o Executivo Central concentrou em si elevados poderes, destacando-se face à autonomia das províncias.

3. Constituição da Índia

A Constituição da República da Índia levou três anos a ser preparada, entrando em vigor a 26 de Janeiro de 1950, até então vigorou the Government of India Act 1935.

o romper dessa realidade e em pleno século XVI o Império do Hindustão, e senão o Mundo, conhece a tolerância religiosa graças a este imperador, o que já não acontece com o seu sucessor.

5 Barbara D. Metcalf, e Thomas R. Metcalf. A Concise History of Modern India. 2nd. Cambridge: Cambridge University Press, 2006, pp. 1-3; e D.K. Agarwal, Udayan Singla e Mayanka Dhawan. India. Vol. 3, in Constitutional Law, coll. International Encyclopaedia of Laws, ed. by Dr. David Haljan and Prof. Dr. André Alen. The Hague: Wolters Kluwer, 2005, pp. 31 e 43.