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dos Chefes de Estado de Chile e Uruguai: Uma Análise Comparada

IV. Considerações finais

Objetivamos com esse trabalho fazer uma análise comparativa entre os poderes de dois Chefes de Estados em países distintos. Com isso primeiro observamos a relação das datas de promulgação das duas constituições as quais constam tais poderes. Como já dito, a Constituição chilena é datada de 1980, ano em que vigorava uma ditadura militar, enquanto a uruguaia é de 1967, ou seja, anterior a ditadura naquele país. Essa questão nos fez indagar se o momento de promulgação destas constituições acarretou em diferenças grandes entre os poderes nos dois países.

O primeiro ponto a ser destacado são as semelhanças entre os diferentes países, observamos que os dois possuem sistemas de governo presiden- cialistas, onde seus Presidentes são eleitos por maioria absoluta dos votos dos eleitores do país. No Chile o mandato é de 4 anos e no Uruguai é de 5 anos e em ambos não há reeleição, característica própria de vários países da América Latina.

Sobre a temática, Nohlen54 aponta que “La no reelección tiene una

larga tradición histórica, y su más sólida fundamentación es la propia experiencia histórico-política de América Latina. Básicamente son dos los fenómenos que confluyen en el origen de la no reelección como previsión constitucional muy extendida en esta región: el presidencialismo latinoa- mericano y la tentación de los presidentes de perpetuarse en el poder, por un lado, y la coacción y el fraude en los procesos electorales, por el otro. En estas circunstancias de un presidencialismo “fuerte y centralizado”, requisito necesario para la formación del Estado Nación en el siglo XIX, y de prácticas electorales fraudulentas que facilitaron el mantenimiento en la presidencia de los propios detentadores del poder, el principio de la no reelección apareció como símbolo político e instrumento imprescindible del constitucionalismo democrático”.

O ponto que diferencia os dois países, nesta primeira análise, é a figura do Vice-Presidente, que, embora característico dos sistemas presidencialistas, não está presente na Constituição chilena como figura permanente, somente nos casos de vacância. No Uruguai, por outro lado, o Vice-Presidente é eleito conjuntamente com o Presidente da República.

54  Dieter Nohlen, “Reelección”, Extracted from Treatise on Compared Electoral Law of Latin America, IDEA, 2007. p. 287.

As Competências Constitucionais dos Chefes de Estado de Chile e Uruguai  149 Observamos também os poderes legislativos dos Chefes de Estados nesses países e podemos constatar um maior poder dos Presidente Chileno nesse ponto, o que acreditamos ser em razão da Constituição ter sido promulgada pelo regime ditatorial. Os dois presidentes possuem o poder de veto em projetos de lei, o que os diferencia, neste ponto, é que, no Uruguai, são necessários três quintos dos votos de cada uma das casas do legislativo para rechaçar as observações do Chefe de Estado, enquanto no Chile são necessários dois terços dos votos dos presentes na Assembleia.

Seguindo nesse estudo, pudemos observar, na leitura das constituições, uma maior força legislativo do Presidente do Chile. Podemos destacar isso em razão do eleito ter, por exemplo, um poder de insistência na votação de um projeto de lei de sua autoria que já tenha sido rechaçado em uma das Câmaras, capacidade dessa não existente no Uruguai. Além disso, destaca-se também a faculdade do presidente chileno de exigir urgência na votação de todos os projetos que ache necessário, enquanto o Presidente uruguaio somente pode solicitar em projetos de lei de sua autoria.

Ambos os presidentes podem convocar plebiscito e ambos podem convocar Sessão Extraordinária, contudo, o chileno pode citar qualquer das Câmaras e estas deverão se reunir, enquanto o presidente uruguaio somente pode citar a Assembleia por inteiro visando sua reunião. Outro ponto que demonstra um maior poder do Chefe de Estado chileno está nas situações de emergência econômica, no Chile, o Chefe de Estado pode declarar esta situação e, assim, possui autorização para determinar pagamentos não autorizados por lei, essa atribuição, contudo, não aparece na Constituição do Uruguai.

Por ter o Chile, como já dito, uma Constituição promulgada durante da ditadura militar, espera-se um maior poder de seu presidente em relação às forças militares do país. Isso se confirma em partes quando observamos que, diferente do congênere uruguaio – cuja delimitação cabe ao legislativo –, o presidente chileno possui o poder de instituir número de contingente das forças armadas em tempo de paz e guerra; e permitir ou não a entrada de tropas estrangeiras e saída das tropas nacionais do território. Entretanto, de forma até contraditória ao esperado, o presidente chileno não é chefe das forças armadas em tempos de paz. No caso uruguaio, mesmo com uma Constituição anterior ao regime ditatorial, o cargo é ocupado pelo presidente.

Além disso, ainda que ambos possuam poder de declarar Estado de Exceção e Guerra, ao Presidente do Uruguai cabe essa declaração com

prévia anuência da Assembleia Geral. Enquanto ao chileno, cabe anuência, além da Assembleia, também do Conselho de Segurança Nacional, assim, o presidente chileno precisa passar por um trâmite maior que o uruguaio. Entretanto, na nossa leitura, cabe o destaque das relações de poder e independência entre legislativo e executivo nos dois países, ou seja, tendo em vista que o presidente chileno tem maior independência em relação ao legislativo do que o presidente uruguaio – o presidente chileno é um verdadeiro colegislador, enquanto o uruguaio não –, em uma situação espe- cífica, aqui entrando no campo das conjecturas, é possível que a tramitação chilena se dê de forma mais facilitada que a uruguaia.

Cabe destacar aqui que o poder de dissolução do parlamento por parte do Presidente uruguaio não se aplica nesse caso, ou seja, caberia ao execu- tivo negociar e convencer o legislativo da necessidade de acatar a decisão bélica – valendo a lembrança de que os atos de governo e administração dos ministros podem ser fiscalizados e julgados pelo legislativo uruguaio. Por outro lado, o processo de convencimento similar ocorreria no Chile, entretanto, com destaque para a maior independência do executivo chileno em relação ao parlamento, o executivo, que não tem seus atos fiscalizados, pode ter facilitado seu trabalho.

Ainda nesse sentido, explorando a relação entre executivo e legislativo, acreditamos ser importante destacar, nessa análise comparativa, a fiscali- zação entre poderes. O Poder Executivo do Chile, por exemplo, tem poder fiscalizador sobre a conduta dos juízes e demais funcionários do poder judiciário, poder esse que não possui o executivo uruguaio. No Chile, ainda que haja a prerrogativa de fiscalização do legislativo em relação ao Presidente da República – estes especificamente nos atos da administração que comprometam gravemente a honra, a segurança da nação ou nos casos de violação constitucional –, não há possibilidade de fiscalização dos atos de governo não mencionados. No caso uruguaio, há a fiscalização e julgamento dos atos de governo dos ministros, estes que trabalham, conjuntamente com o presidente, como chefes de governo.

Como dito, há, por parte do legislativo do Uruguai, uma fiscalização dos atos de governo dos Ministros, poder não presente na Constituição chilena. No Uruguai, a Assembleia pode desaprovar um Ministro ou mais, estes, por sua vez, podem renunciar ao cargo ou não após esse ato de desa- provação. Ligado a tal ato de desaprovação está mais uma característica da Constituição do Uruguai que difere do Chile e, inclusive, de outros países

As Competências Constitucionais dos Chefes de Estado de Chile e Uruguai  151 com sistema presidencialista. O Presidente da República tem o poder de dissolver a Assembleia em caso de desaprovação de um ou mais Ministros.

Analisamos ainda as alterações sofridas pelas Constituições de ambos países. Constatamos que apenas no Chile houve alguma alteração substan- cial nos poderes do Chefe de Estado, mesmo que de forma tímida, nesse país houve alguma diminuição dos poderes – ainda que também tenha havido aumento. No caso uruguaio, as mudanças não se apresentaram significativas, referindo-se apenas a regras eleitorais que pouco impactam atuação do executivo.

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