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A República, os diplomatas-historiadores e o Pan-americanismo na história

“De um povo corajoso e bom, tudo se pode esperar em grandeza humana, contanto que se mantenha nele a tradição do respeito aos nobres exemplos de seu passado, assim como a do culto do direito e da disciplina cívica.” (RIO BRANCO, RIHGB, LXXI, 1909, p. 591-592)

Ângela de Castro Gomes e Martha Abreu (2009), na abertura do dossiê da Revista Tempo intitulado A nova “velha” República afirmam considerar necessária e urgente uma revisão historiográfica do período, isto é, “sua retomada de forma inteiramente diversa, assinalando-se sua importância e riqueza para o debate de ideias e a experimentação de ações políticas e culturais no Brasil.” (GOMES; ABREU, 2009, p. 2). Nesse sentido, apontam para a existência, no autodenominado “Estado Novo”, de um projeto político que incluía a construção de uma imagem para o presente que se inaugurava e, em decorrência, para o passado que o antecedia, assim como para o futuro que seria sua própria criação. Daí que a Primeira República, a partir de então decididamente “velha”, passa a ser avaliada como grande fracasso e equívoco,

praticamente desde seu começo. Uma das manifestações desta construção é o apagamento de diferentes formas de ação política em curso no período, reforçando uma percepção de inaptidão do “povo” brasileiro para a ação coletiva.

Em um dos artigos do referido dossiê, Maria Tereza Chaves de Mello (2009), contrária à perspectiva de que a população assistiu bestializada à proclamação da República, aponta para a operatividade do conceito de República na década de 1880. Segundo a autora, o regime republicano era, então, visto como uma necessidade histórica. Por isso a população não reage à proclamação, ela consente. Este foi um momento de desejo de futuro, como sinônimo simultâneo de democracia e ciência, sendo república o nome brasileiro da modernidade.

Conforme a autora, nas décadas finais do Império, o vocábulo república expandiu seu campo semântico incorporando as ideias de liberdade, progresso, ciência, democracia, todos termos que apontavam para um futuro desejado. Para essa renovação da linguagem, foi importante a ação da propaganda que estabeleceu uma relação dicotômica entre república e monarquia, montando com os dois um par antônimo assimétrico, recurso, de acordo com Koselleck (2006), de grande força persuasiva. Segundo Maria Tereza, em consonância com marcadas alterações sócio-econômicas, novas ideias penetraram intensamente a sociedade brasileira letrada a partir da década de 1870. A mais profunda mudança por elas produzida foi a de dar um conteúdo histórico à já difundida e assimilada noção de progresso, noção que, agora, extravasava o campo dos avanços materiais: “Estamos diante de uma geração profundamente engajada na vida do país e interessada em decifrá-lo com vista ao seu encaminhamento na senda do progresso e da civilização, no caminho do futuro. Fora dessa estrada, só havia obsolescência e ignorância.” (MELLO, 2009, p. 19)

Tendo em vista tais considerações acerca da atmosfera intelectual do período aqui estudado, é necessário apontar como este novo momento da história política brasileira estava sendo experimentado no Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, objeto deste texto. Nesse sentido, Francisco Gouvêa de Souza (2012), ao estudar a Revista do IHGB e as recepções da Proclamação da República entre os sócios do Instituto, observa dois momentos ali vividos em relação à República: um desconforto e uma crítica e, depois, uma aproximação. A figura de Joaquim Nabuco é tomada como caso emblemático: em 1895, momento de ingresso no Instituto, afirmava seu dever como monarquista em uma crítica ao presente republicano. Em um segundo momento, em 1906, afirmava que a República era incontestável, quando então atuava ao lado do Barão do Rio Branco na diplomacia. O dever se deslocava, então, da monarquia para a nação.

Houve no Instituto duas recepções da República. Uma delas era marcada pela perda e pela dissolução do futuro do Império. Nesta recepção, a República era associada ao ruído das ruas e ao retorno da anarquia. Por outro lado, na segunda recepção, o novo regime era encarado como o resultado de uma história, de um passado, e apontava para um futuro. A República, aqui, não é perda, mas conquista e proclamação. Em textos de sócios como Tristão de Alencar Araripe, por exemplo, a República aparecia como inevitável e já inscrita na história muito antes de 1889 (SOUZA, 2012).

Em termos de existência institucional, Lúcia Guimarães (2007) afirma que o advento da República trouxe sérios questionamentos à legitimidade do Instituto como espaço de saber que reconhecidamente cultivava fortes vínculos com o regime monárquico. Diante deste novo cenário, aos historiadores vinculados à instituição impôs-se a necessidade premente de repensar a escrita da história do Brasil, dando-lhe novos contornos. A ordem do dia, segundo Ângela de Castro Gomes (2009), era tornar palatável uma articulação entre Colônia, Império e República, sem obscurecer as tradições dos primeiros, mas sem ferir o desejo de legitimidade republicano.

Neste processo de repensar a história nacional, coloca-se, de forma cada vez mais expressiva, a questão das relações do Brasil com os países da América – hispânica e do Norte. Daí a relevância que vai adquirindo a temática do pan-americanismo, cujo ápice do interesse se dá no período varguista, quando o Instituto recupera, de forma mais consistente, seu prestígio junto ao Estado (GUIMARÃES, L., 2007). Uma das hipóteses desta pesquisa é de que o êxito desta nova abordagem, possivelmente, se deveu ao fato de que havia um grande número de diplomatas nos quadros da agremiação. Gouvêa, nesse sentido, indica que era intensa a associação entre IHGB e diplomacia na Primeira República:

Rio Branco e Joaquim Nabuco partiam e operavam de forma próxima a esta instituição, o próprio IHGB se gabaria de ter auxiliado oferecendo documentos em diferentes disputas por fronteiras, ao mesmo tempo em que, quando o Instituto foi chamado a prestar contas de seus serviços à pátria, a inserção internacional do IHGB foi um argumento que provava a sua importância, o que se deu sobretudo a partir do governo de Prudente de Morais. (GOUVÊA, 2012, p. 56-57)

Em termos de relações exteriores, a queda do Império marcou o início da sintonia entre a prática política do governo e as reivindicações do Manifesto de 1870, no sentido de que a proclamação da República brasileira implicou em uma reorientação da sua política externa. Houve, neste momento, uma aproximação tanto com as repúblicas vizinhas quanto com os EUA. As conferências Pan-Americanas foram, nesse sentido, fundamentais. Tais encontros

tinham como maior incentivador os Estados Unidos e visavam à consolidação do pan- americanismo América afora.

A recepção do pan-americanismo entre os países latino-americanos é uma questão complexa. Uma forma de apreender as nuances dos posicionamentos em relação à temática é analisarmos o empreendimento da Revista Americana (1909-1919), o que já foi feito na tese de Fernando Vale Castro (2007). Temáticas como o monroísmo e o pan-americanismo eram destaque na revista, cujos autores provinham de diferentes países da América, com ênfase, além dos brasileiros, para argentinos, uruguaios e chilenos. Uma observação interessante é o fato de que não apenas o seu idealizador, mas também diversos dos colaborados da Revista eram sócios do IHGB. Alguns nomes que podem ser destacados são: Oliveira Lima, Joaquim Nabuco, Clóvis Bevilácqua, Rocha Pombo, Rodrigo Octávio, João Pandiá Calógeras, Arhur Orlando, Artur Pinto da Rocha, Hélio Lobo e Sílvio Romero. Mais de uma vez textos foram publicados na Revista do IHGB e depois, idênticos, na Revista Americana. Temos, então, duplas inserções destes autores.

O barão do Rio Branco, figura que detinha grande capital simbólico e prestígio entre os pares, foi, muito provavelmente, aquela que arregimentou a intelectualidade do período para a colaboração no periódico. Assim, tendo em vista sua centralidade na vida política e cultural do período, é importante que nos detenhamos um pouco em sua apresentação.

A figura de Rio Branco teve grande relevância no sentido de pautar a problemática das relações com a América. Formado em Direito pelas Faculdades de São Paulo e Recife, professor de história no colégio Pedro II e, a partir de 1876, diplomata, José Maria da Silva Paranhos Júnior foi, segundo Armelle Enders (2014), o único a ter alcançado em vida a estatura de herói nacional120. Isso se deveu a sua atuação na expansão do território nacional e na delimitação das fronteiras brasileiras.

Como é possível inferir da epígrafe que inicia esta seção, a percepção do barão sobre a história e a sociedade brasileira estava bastante alinhada às tradições cultivadas no Instituto: a

120 Um indício disso pode ser encontrado no livro da escritora Júlia Lopes de Almeida, intitulado

“Histórias da nossa terra” (1909). Escrito em linguagem coloquial e acessível ao público não especializado, o livro, que fazia parte do acervo da biblioteca de Manuel de Oliveira Lima, apresenta o Brasil e sua história aos jovens brasileiros. Em um de seus pequenos textos, em que trata do estado do Acre, a autora exalta os feitos do barão: “Considerando a felicidade, a pujança desta região brasileira que o grande espírito do nosso grande estadista Barão do Rio Branco tornou um dos mais prometedores estados do Brasil, sinto cada dia crescer-me mais a admiração por este homem. A cada escola que se funda, já não aqui na capital, mas nos seringais mais remotos, o nome dele vem-me aos lábios envolto num voto de felicidade perene [...].” (LOPES DE ALMEIDA, 1909, p. 180)

exaltação de uma história exemplar e de um povo disciplinado. Neste mesmo discurso, que é pronunciado no 70º aniversário do IHGB, o presidente não perde a oportunidade de ressaltar as intenções pacíficas do Brasil na América do Sul. O segundo tomo da Revista do IHGB do ano de 1912, que o homenageia no ano de seu falecimento, é revelador da importância do Ministro- historiador na promoção das relações do Brasil com os vizinhos. Ramiz Galvão (1912)121, em discurso proferido frente ao túmulo do barão e transcrito na Revista, afirma que a imprensa argentina comparou a obra do diplomata brasileiro à de Bismark.

O primeiro texto deste volume é uma biografia do barão122. Escrita pelo major Liberato Bittencourt, ela dá uma dimensão do culto que se estabeleceu à sua figura. Além de ressaltar a vida do homem público, o autor tece grandes elogios a Rio Branco em sua vida privada. Ficamos sabendo até que ele “era o que se pode dizer um homem bonito.” (BITTENCOURT, 1912, p. 27)123. Em relação à sua atuação política, o biógrafo afirma:

O Brasil, que conhecia tão bem, que tão eruditamente descreveu na Esquisse de l’Histoire du Brésil, onde o laconismo escondia valores que só os mais

121 Orador do Instituto. Segundo Lúcia Guimarães (2007), compunha, junto de Afonso Celso e Max

Fleiüss, a “trindade do Silogeu”. Eles foram figuras fundamentais, durante mais de duas décadas, para o funcionamento do IHGB.

122 De acordo com Benito Schmidt (2013), o gênero biográfico encontrou um lugar preciso no projeto

de escrita da história do Brasil levado a cabo pelo IHGB ao longo do século XIX. Segundo o autor, apesar de a biografia não dar o tom da história do Brasil que então se constituía, já no ano seguinte à fundação do Instituto foi proposto um projeto de escrita que dava visibilidade a grandes figuras da história nacional. Assim, foi criada uma seção da Revista dedicada à publicação de pequenas biografias visando à constituição de um panteão nacional. Tais publicações vinculavam-se ao regime de historicidade da história magistra vitae, de modo que buscava estimular nos leitores a imitação da ação dos “grandes homens”. Esta seção foi desaparecendo conforme ia terminando o século XIX. O autor, baseando-se no estudo de Lúcia Guimarães (2007), afirma que houve algumas continuidades no uso da biografia ao longo do século XX (como, por exemplo, com a apropriação da representação de Dom Pedro II após o translado de seus restos mortais em 1920). Os elogios fúnebres, então, eram oportunidades de manter a prática da escrita biográfica a fim de exaltar o personagem biografado. Este é o caso da biografia em homenagem ao Barão do Rio Branco. No final do próximo capítulo, porém, veremos que também houve a reavaliação e reescrita da biografia de um dos heróis nacionais eleitos no período do Império. Será argumentado, a partir da análise das fontes, que o gênero biográfico é reativado ainda para fornecer exemplos, mas também para dotar o pan-americanismo de ancestralidade. O uso da biografia acaba, então, por ensejar, através do enfoque no indivíduo, a reescrita da história da nação, tendo em vista a construção de laços identitários mais amplos. Dessa forma, o diplomata Alexandre de Gusmão (1695-1753) passa, através de um esforço coletivo e anacrônico, a representar um ideal de americanidade improvável para o século XVIII.

123 A análise frenológica que o autor faz do ilustre biografado é digna de nota, pelo registro que é da

mentalidade de uma época. Ao argumentar sobre a impossibilidade de o Barão ter se entregue aos excessos da gastronomia, conforme alegavam alguns dos seus contemporâneos, o major empreende análise sobre o tamanho do crânio de Rio Branco, concluindo: “E um homem com cabeça tal, frenologicamente não pode ter sido um comilão” [...]. Longas e chatas orelhas, como as tinha Rio Branco, caracterizam tanto a sobriedade como o amor ao trabalho – a atividade.” (BITTENCOURT, 1912, p. 55)

competentes podiam descobrir; o Brasil que tão patrioticamente historiara e divulgara em enciclopédias francesas, tinha, segundo pensava, uma grande missão de paz, de concórdia, de consolo a realizar. A princípio, para consolidar sua força, foi preciso delimitar suas fronteiras. E essa obra de delimitação, que o Sr. Rio Branco realizou sozinho, e essa obra, que faria a glória de muitas gerações, foi feita aos poucos, em um curto espaço de tempo, distribuindo as soluções conforme as circunstâncias e as tradições. Depois a entente com a América do Norte apareceu como a solução conforme as circunstâncias e as tradições. A criação da embaixada em Washington foi o inicio de uma época nova na diplomacia brasileira. As festas e as sessões do Pan-Americano em 1906, onde as figuras de Rio Branco, Nabuco e Root sobressaíam como símbolos, consagrariam um regime novo. Depois, aos poucos, foram se afastando as tentativas absurdas de teorias contrárias à tradição de honestidade financeira, e o horizonte americano ficou limpo de suspeitas e maquinações. (BITTENCOURT, 1912, p. 53, grifos meus)

Ao analisarmos alguns dos discursos de Rio Branco124, seja no IHGB ou em situações em que representava o Ministério das Relações Exteriores, compreendemos que há uma forte imbricação entre o ofício do diplomata e do historiador. Tem-se mesmo a impressão de que ele se coloca e é reconhecido por seus pares que lhe prestam homenagens póstumas, como sendo o diplomata que vence as questões de fronteira com a erudição empregada na escrita das memórias oferecidas aos árbitros. Por trás do eminente diplomata, estava o erudito historiador. O brilhantismo de um não seria possível sem o outro125.

A questão da importância atribuída às ações de Rio Branco no campo da história (vivida e escrita) nos leva a outra, que é justamente a de considerá-lo, assim como os demais autores abordados neste capítulo, historiador. Parte-se do pressuposto de que os sócios do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro aqui estudados se reconheciam e queriam ser reconhecidos como historiadores. Em um contexto descrito por Gomes (2009) como sendo marcado por uma clara consciência da importância do diálogo com as novas ciênciais sociais (sociologia, a

124 Obras do Barão do Rio Branco IX: discursos. Brasília, Fundação Alexandre de Gusmão, 2012. 125 Quando da morte do barão, a Revista Americana também publicou um volume em sua homenagem.

Ali, diversos autores publicaram seus textos reconhecendo a importância de sua figura para a aproximação entre o Brasil e os demais países da América. Um exemplo destes depoimentos é o texto de José Enrique Rodó, o escritor uruguaio, autor de Ariel: “Rio Branco ha muerto; pero señalando al histórico palacio que fué como el capullo de su actividad extraordinaria, puede decirse, con la frase famosa, que ‘todavía está allí’. ‘Todavia está allí’, por la segura permanencia de una política internacional de equidad, de concordia, de solidaridad americana, qui ya no vacilará en las relaciones del Continente, como no vacilan las cosas que giran sobre su ejo o descansan sobre sus quicios. ‘Todavía está allí’, por el desenvolvimiento incontrastable de los destinos de un gran pueblo, que él completó eu sus delimitaciones geográficas, con el impulso definitivo de su mano titánica.” (RODÓ, 2002, p. 212). In: O barão do Rio Branco visto pelos seus contemporâneos. Série de artigos publicados pela Revista Americana, em abril de 1913. Org. Fundação Alexandre de Gusmão. Centro de documentação e história diplomática. Brasília, Funag, 2002.

geografia e a etnogeografia), os historiadores que buscavam afirmar uma identidade para seu saber eram “intelectuais com perfil em nada distinto daquele que marcou, predominantemente, esse longo período.” (GOMES, 2009, p. 10). Nesse sentido:

Podiam ter formações bastante diferentes, embora as arcadas das faculdades de Direito fossem seu melhor celeiro; eram grandes praticantes do jornalismo e do magistério, sendo profressores de muitas disciplinas, entre as quais a filosofia, a língua pátria, a corografia e também a história universal e do Brasil. A delimitação de um saber – de uma história “moderna” – e de um perfil para o seu profissional envolvia assim um amplo esforço, quer no sentido da aplicação e diversificação dos conhecimentos do historiador, quer no traçado, nesse espaço cada vez mais complexo e disputado, de uma especificidade e de um valor para o conhecimento histórico. Isto é, para a afirmação das potencialidades e singularidades da disciplina, mas também para o que se podia entender como suas “limitações”, dado o universo científico da época. (GOMES, 2009, p.10)

A figura de Rio Branco é, de certa forma, alegórica das relações entre erudição e pragmatismo na história, mencionadas por Gomes como sendo marcantes da história “moderna” praticada nas décadas iniciais da República. Nele, o valor da história estava dado e era de imenso peso para a nação: instrumentalizar a resolução das questões de fronteira, ampliando o território nacional.

É necessário, no entanto, ponderar que, apesar de compreendermos a centralidade de Rio Branco no impulso dado às questões americanas, observa-se que a temática foi objeto de atenção de alguns importantes sócios da agremiação em período anterior. Não por acaso eles eram vinculados à diplomacia. Tendo isso em conta, a fim de desenvolver a questão central desta tese, isto é, da constituição do pan-americanismo em problema historiográfico no IHGB da Primeira República, serão explorados alguns textos fundamentais de dois sócios bastante conhecidos do Instituto: Joaquim Nabuco (1849-1919) e Oliveira Lima (1867-1928). Através destas figuras é possível apresentar os termos do debate que ganha forma nos anos iniciais da República.

A figura de Joaquim Nabuco é bastante emblemática e para citar sua trajetória é preciso ter em conta que foi uma importante personagem pública que experimentou um período de transição. Sendo assim, é necessário contemplar na análise suas mudanças de posicionamento. Não são poucos os estudos que enfatizam seu combate à República e sua defesa da

Monarquia126. Isso é correto, mas não explica sua atuação no período republicano127. Nabuco Faleceu em 1910, tendo vivido sob o regime republicano durante cerca de vinte anos128. De

126 Este é o caso quando da sua posse no IHGB, no dia 25 de outubro de 1896. O discurso de posse de

Nabuco é célebre por criticar a forma como, segundo ele, estava sendo pensada a história nacional no período republicano, quando se dava pouca importância ao passado imperial. Segundo o autor, ele quis ingressar no Instituto por três motivos centrais, sendo o primeiro o desejo de escrever sobre a figura de seu pai, Nabuco de Araújo, o político do Império. Em segundo lugar, por “piedade nacional”. É neste ponto que ele aborda a questão da escrita da história “Nossa história está