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4.2 O Brasil na América e a busca por uma consciência americana

4.2.2 A América no Compêndio

Já na introdução, ao falar da conquista, Rocha Pombo utiliza a expressão invasões europeias. Remete-se, em todo o texto, ao antagonismo existente entre Novo e Velho Mundo, destacando a situação econômica e internacional da Europa no momento em que escreve, aludindo à “temerosa política de força e de expansão exterior das grandes potências”, que colocava a Europa em conflito de interesses com os povos do Novo Mundo, bem como em divergência com a soberania das “nacionalidades americanas”. A crítica ao colonialismo e às ameaças impostas pelo imperialismo do século XIX é, portanto, bastante clara. Conforme o autor:

Esse conflito não é mais possível disfarçar, nem mesmo seria explicável esquecer um instante, desde que nos é imposto pela lógica fatal dos acontecimentos humanos. Naturalmente sem entregar-nos aos extremos de uma política de guerra, nem mesmo de prevenção sistemática (tanto menos própria da América quanto contradiria o espírito de fraternidade e de cosmopolitismo dos americanos) o que a História nos aconselha é que, ao mesmo tempo que abrimos os braços fraternalmente para receber todos os povos do mundo, cultivemos e desenvolvamos, com o espírito de pátria, a grande ideia americana – isto é – o estímulo que dirige todo um conjunto de povos, irmãos pela solidariedade do destino, para a ampla vida nova, que recebe da história o que o passado fez de grande, e funda no amor e na justiça, no dever e no direito, que constituem a plenitude da existência moral, o desenvolvimento deste augusto patrimônio. (ROCHA POMBO, 1925, p. XIII- XIV, grifo do autor)

Tal ideal só seria atingido através da união de todas as nacionalidades americanas, de modo que fosse afirmada diante do mundo “a nossa aliança geral”, baseada na consciência da missão conciliadora da América. Para tanto, seria necessário:

Ensinar nas escolas, nos clubes, nas associações, nas festas cívicas, pela imprensa, pela tribuna, pelo livro, a história da nossa grande América, mais

bela, mais edificante do que parece aos que lhe desconhecem os nobres lances, e aos que não refletem na grandiosa figura que ela tem de representar no vasto cenário do mundo. (ROCHA POMBO, 1925, p. XIII-XIV).

Nota-se, na escrita do historiador, uma forte defesa da união entre os países da América, que passaria, como vimos no trecho acima, necessariamente pelo ensino da história da América associado aos valores que entende ser necessário propagar: sentimento de união, de modo a dar novo sentido ao civismo e ao espírito de pátria. Era preciso “acender na alma da mocidade” “esta nova centelha de paixão”, “que virá a ser um como novo espírito a exaltar-nos no avanço incessante para o futuro – eis aí o que estão reclamando os nossos destinos.” (ROCHA POMBO, 1925, p. XIII-XIV). O autor segue o texto apontando o quão incompleto era o ensino de história americana em todos os estabelecimentos de instrução brasileiros, fossem eles públicos ou privados.

Finalmente, nos últimos parágrafos da introdução, apresenta sua concepção de história, marcada pelo culto aos grandes homens. Rocha Pombo apresenta esta interpretação como sendo uma fusão das teorias de Taine e H. Hannequin:

Conciliando, portanto, as duas teorias, reconhecemos que as grandes individualidades são sempre a síntese de sua época, na esfera em que se manifestam: em torno delas gira toda a vida coletiva; e muitas vezes destacando um desses grandes tipos temos caracterizado toda a vida de uma geração, ou todo um momento da história de um povo. Isto quer dizer que ensinar à mocidade os nomes, os feitos, as obras, as ideias, os sentimentos, as virtudes, a vida em suma, dos nossos grandes homens – é fazer passar ante seus olhos, animada, eloquente, vívida, a mesma história da pátria, ou, si se trata de mais, a vida de todo um Continente. (ROCHA POMBO, 1925, p. XV)

O livro é bastante extenso e a narrativa cumpre com a promessa de focar na ação dos grandes homens, tais como Montezuma, Tupac Amaru, Cortez, Zumbi dos Palmares, Simon Bolívar e José Bonifácio. No que se refere às fontes para a escrita da obra, há após cada uma das partes do livro a indicação da bibliografia utilizada. Em relação aos referenciais teóricos, Alessandra Pedro (2016) entende ser possível afirmar que Rocha Pombo faz escolhas semelhantes às de autores como João Ribeiro, José Veríssimo e Capistrano de Abreu. Além disso, adota os mesmos eixos temáticos bastante comuns ao período, muitos deles já indicados por Von Martius em seu texto intitulado “Como se deve escrever a história do Brasil”, de 1845:

a importância de se observar as três raças e suas particularidades físicas e morais; a adoção da ideia de superioridade e inferioridade de uma raça em relação às outras; a influência e participação das três raças no desenvolvimento e construção da nação (aqui das nações americanas); os projetos de nação – o que Rocha Pombo estende para um projeto de América forte e unida (PEDRO, A., 2016, p. 87). Além disso, a autora chama atenção para o contexto geral da escrita:

Lembremos que o compêndio foi escrito em um período em que a história da América não se apresentava como um tema para a grande produção nacional e ao mesmo tempo, com o advento da república e a busca por enquadrar o Brasil no seio dos países americanos e republicanos, fazia-se uma exigência na produção escrita e histórica nacional. Tratava-se de um período em que a própria escrita da história do Brasil estava em discussão e em processo de solidificação dentro dos espaços intelectuais como o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro. Inserido nesse universo, Rocha Pombo buscou entre autores estrangeiros e poucos nacionais as informações necessárias para a composição de seu compêndio, construindo sua obra por meio da leitura, principalmente de franceses e hispânicos e de alguns ingleses e alemães (PEDRO, 2016, p. 85)

Em linhas gerais, o livro apresenta os grandes períodos da história da América, tendo como pano de fundo a fusão de brancos, negros e índios. Embora apresente índios e negros como sendo vítimas da violência e ganância dos europeus, o ideal civilizador está sempre presente na argumentação e muitas são as concessões feitas pelo historiador em nome do alegado progresso e desenvolvimento dos povos americanos.

No caso dos trabalhadores escravizados, migrantes forçados da África, a questão atinge contornos extremos. Argumentos justificadores do tráfico abundam nas páginas, sendo a existência de trabalho escravo no interior das sociedades africanas apontada como um dos atenuantes da escravidão transatlântica. Rocha Pombo chega ao extremo de praticamente afirmar que a instituição da escravidão contribuiu para a civilização dos sujeitos oriundos da África, migrantes compulsórios que eram. Assim, embora se esforce por dizer que a escravidão foi um crime hediondo, o autor acaba por reproduzir a narrativa racista em voga no período em que escreve148.

148 Cito, como exemplo do que foi acima argumentado, a seguinte passagem do Compêndio no qual o

autor se refere aos trabalhadores escravizados e à condição à qual foram submetidos: “Este elemento étnico, já de si inferior, entrava, portanto, na sociedade americana pela porta da escravidão [...]. Em pouco mais de três séculos, o tráfico cessou, e logo, com o concurso de muitos daqueles próprios a quem aproveitara imediatamente, fora a instituição abolida. E o que se viu de pronto é que os

Dessa forma, apesar de ser fruto de um processo doloroso, o estabelecimento das três raças na América deveria ser motivo de orgulho, visto que dava ao mundo o exemplo de possibilidade de harmonia e capacidade de convivência de elementos tão diferentes e desiguais. As diferenças econômicas, culturais e étnicas são apagadas para ceder espaço ao argumento que o autor defende: os povos da América vivem em paz interna e, por isso, são um exemplo para o mundo. Dessa forma:

A América de Rocha Pombo é composta pelo esquecimento, pelo apagamento dos elementos indígena e negro, se não enquanto partes integrantes da formação das nações americanas, como agentes históricos. Sua presença e sua história aqui constituída é feita a partir do branco, o elemento civilizador – mesmo que em sua grande maioria fosse composto pela escória europeia. Sua obra cria uma leitura da América como um local em que os elementos podem esquecer os males que lhes foram infligidos e formar sociedades em que o preconceito poderia ser apagado – exceto os Estados Unidos onde o racismo e o apartamento entre as raças eram bastante evidentes – criando uma relação harmônica entre as raças. (ALESSANDRA PEDRO, 2016, p. 107)

Neste ponto, o autor do compêndio e Manuel Bomfim divergem profundamente. A contrariedade de Bomfim foi expressa em seu parecer, no qual recomendou a supressão do trecho em que o autor parece justificar a escravidão149. Estranhamente, apesar da recomendação

sofrimentos foram esquecidos: entre pretos e brancos (se fizermos alguma restrição quanto aos Estados Unidos do Norte) não ficaram preconceitos, nem contra os antigos senhores guardaram os libertos o mínimo ressentimento [...]. O processo foi doloroso, mas foi eficaz. O que hoje todos sentimos, nós os americanos, é quase uma espécie de desvanecimento: o nosso espírito como que se acha extasiado ante esse grande espetáculo que o hemisfério novo deu ao antigo mundo, de verdadeira pacificação histórica, de congraçamento de raças tão diversas, apercebidas de que o fundo de sua alma revive uma fraternidade primitiva que as idades, os climas, as vicissitudes seculares não puderam matar. Tem-se mesmo um desejo sacrílego de bem dizer as escravidão, se é verdade que a escravidão foi aqui o único meio de resgatar, num instante, a irmandade perdida nos seus transviamentos por um vasto continente inóspito, desolada num mundo, onde não poderia evoluir entregue aos esforços seus exclusivos. É então que refletimos de mais alto sobre o estranho fenômeno, e compreendemos como enquanto na África ainda o negro é selvagem, ou errante nos areais, degradado, mil vezes miserável na liberdade, a descendência do antigo escravo na América sente igual e quantas vezes superior às raças escravizadoras.” (ROCHA POMBO, 1925, p. 108-109, grifos meus)

149 Nas palavras do autor:“[...] Proponho que deste último capítulo, se eliminem ou se modifiquem os

parágrafos em que, tratando do tráfico africano e da escravidão dos negros, o autor pretende justificar o monstruoso crime dos colonos europeus. A escravidão, como a criaram na América, não se justifica de forma alguma, ela mal se explica como um produto do mais abjeto e grosseiro dos egoísmos. Nada tem em comum com a servidão a que eram forçados os antigos vencidos. Esta representa um passo na escala do progresso social, preparando a organização do trabalho, iniciando a indústria, criando a riqueza, aquela, a escravidão dos negros, foi uma retrogradação, foi mais do que isso: foi uma perversão dos sentimentos, um ataque à ordem social, produzindo o abastardamento das classes produtoras, envilecendo o trabalho, pervertendo os instintos morais, gerando dificuldades sociais e econômicas, que muito nos custarão a resolver. Pouco importa, na África, não fossem livres os

do parecerista, o livro foi distribuído para as professoras em formação com a manutenção das ideias originalmente expressas a respeito da temática da escravidão. A segunda edição, de 1925, é, inclusive, publicada sem o parecer, o que significa que não traz o contraponto em seu prefácio. Sendo assim, ao mesmo tempo em que condena a ação do colonizador na América e seus efeitos no presente, o autor corrobora posições racialistas a respeito da composição das sociedades americanas.

Em linhas gerais, o texto do Compêndio caracteriza-se por trazer um forte apelo por uma América cujo povo deveria ser unido fraternamente e em que o amor e orgulho pan- americano devessem prevalecer e ultrapassar as fronteiras políticas das nações individuais (PEDRO, A., 2016). Este sentimento de pertencimento ao continente americano inclinava-se a atribuir liderança a uma nação específica da América sobre as demais. Desse modo, os Estados Unidos, apesar dos conflitos raciais, aparecem como a grande República do Norte, sempre citada como exemplo de vanguardismo, por seu espírito de modernidade e sua disposição para a luta contra o imperialismo europeu. Segundo Rocha Pombo:

A República dos Estados Unidos do Norte está colocada hoje no mundo entre as potências de primeira ordem, e na política do continente, representa o papel preponderante; e isso com o consenso, para não dizer com o orgulho das outras nacionalidades da América, pois que até hoje o glorioso povo do Norte tem sabido ser, no concerto internacional, a encarnação do princípio americano. (ROCHA POMBO, 1925, p. 333)

Sendo assim, seguir o exemplo estadunidense seria, para o autor, traçar o caminho da evolução. É o desejo de superar a situação do diagnosticado atraso, evidenciado pela cronologia moderna e pela história universal, que parece manifestar-se aqui. Neste ponto, a atenção a outro livro de Rocha Pombo pode auxiliar na compreensão de sua posição.

Ao analisar o texto “A concepção Moderna da História”, que serviu de prefácio à coleção de História do Brasil, Ilustrada (publicada entre 1905 e 1917), Piero Detoni (2015) indica que o rastreamento das linhas mestras da experiência brasileira caracterizou a noção moderna de história para Rocha Pombo. Segundo o autor, a escrita de Rocha Pombo é marcada pela preocupação com a da cientificidade da história, de modo que buscava “ordenar a

negros; pouco importa que, lá, a situação deles não fosse melhor que aqui: se eles passando a ser nossos escravos não pioravam de condição social, nós, passando a senhores de escravos, piorávamos de sorte, porque retrogradávamos, porque pervertíamo-nos moral e socialmente.” (BOMFIM, M., 1900, p. XXV)

experiência brasileira tomando uma noção de cientificidade que engendraria, narrativamente, os fatos históricos no transcurso temporal” (DETONI, 2015, p. 173). Dessa forma:

Uma ciência da história ater-se-ia, para se apregoar como tal, ao grande problema de ordem existencial, e epistemológico, que afligia aqueles homens: o progresso humano. A harmonia entre a evolução das nações e o progresso do concerto geral dos povos estabeleceria uma humanidade ideal num futuro em aberto, no “qual todas as pátrias se [fundiriam], todas as raças se [incorporariam] e até todos os homens [viveriam] por tudo que tiveram de mais excelente, de mais espiritual, de mais inamissível. (ROCHA POMBO, 1905: VIII). (DETONI, 2015, p. 175)

No entender de Detoni, havia uma sensação de que o futuro estava em aberto e caberia aos historiadores a sofisticação dos seus métodos de análise para apreensão das leis que dirigiam esse movimento. A história, cientificamente embasada e contornando o acaso e a desordem dos eventos, destacaria “as grandes synteses, a direção dos acontecimentos, sem dar aos incidentes mais que o valor que elles [tinham] como partes do mesmo todo” (ROCHA POMBO, 1905: XVI).

Assim, Rocha Pombo, bem como outros autores do período, legitimava as suas práticas por meio dos parâmetros de ciência esperados e aceitos. O progresso científico – que, no caso da história, dependeria da coadunação entre erudição prévia, análise e generalização especulativa –, aliado ao desejo de intervenção nos domínios das leis do devir, trazia consigo o sentimento de que a síntese somente se efetivaria mais adiante, interessaria ao historiador do futuro, e, na pior das hipóteses, era considerada inatingível (DETONI, 2015, p. 178). Dessa forma, Detoni entende que, na coleção publicada entre 1905 e 1917, Rocha Pombo falhou em atingir tal síntese, especialmente por não ter sido capaz de extrapolar o significado dos acontecimentos narrados, atribuindo-lhes valor no presente, a fim de articular um projeto de futuro.

Não interessa a esta tese o inteiro teor do livro em questão, mas sim a reflexão introduzida pelo analista. Diferentemente da postura assumida no livro examinado por Detoni, há, em diversos trechos da escrita do Compêndio, a tentativa de extrapolar os acontecimentos e apontar o significado deles, tanto que nem sempre as liberdades interpretativas do autor agradaram seus pares. O desejo de, a partir de sua escrita, contribuir para a união dos países da América Latina e do Norte sob a bandeira do pan-americanismo está latente em toda a obra. E esta não parece ser a tônica apenas em Rocha Pombo. Em Oliveira Lima, Joaquim Nabuco, Arthur Orlando e Rodrigo Octávio, para citarmos alguns dos sócios do IHGB, a despeito de

suas divergências em relação aos rumos do pan-americanismo, há uma constante busca de sentido para o passado brasileiro. Este sentido, neste momento, parece ser o de pertencimento ao continente americano. Assim, uma vez comprovado tal pertencimento pela via da investigação histórica, a adesão aos princípios pan-americanos se apresentava como coerente com a longa duração da história nacional. O reconhecimento da inserção da pátria em uma relação continental, por sua vez, não significava renunciar à centralidade da nação, fundamental na cultura histórica republicana.

Defender o pan-americanismo, seja sob a liderança dos EUA, seja disputando o seu sentido, buscando torná-lo um instrumento de defesa continental multilateral, era uma forma de ser moderno em fins do século dezenove e nas primeiras décadas do século XX. Defender a união e a solidariedade continental era percorrer o caminho do progresso. Para uns, o progresso deveria ser liderado pelos EUA, já que viam o país como mais adiantado na trajetória evolutiva, como um farol para guiar as “repúblicas irmãs” mais atrasadas. Outros, ao desconfiar dos propósitos exclusivistas desta liderança, pensavam que os países da América deveriam ter participação mais simétrica na união.

Nesse sentido, a parte final do livro é de grande interesse para esta seção. Intitulada “Prognóstico dos destinos do Novo Mundo”, é um espaço no qual o autor reafirma suas convicções de solidariedade entre os povos da América a partir da síntese que faz de seus argumentos no livro. Basicamente, retoma a denúncia dos abusos de toda ordem que foram cometidos no Novo Mundo pelos conquistadores europeus, visto que “Nunca, em país algum, se oprimiu mais a criatura humana, nunca se matou mais desenvoltamente do que na América, dos princípios do século XVI aos princípios do século XIX.” (ROCHA POMBO, 1925, p.403). Toda a história do continente estaria marcada pela luta titânica entre a tirania que se tentava implementar e a firmeza “heroica e insubmissa” com que o espírito novo protestou sempre contra a violência e tirania. A partir destas constatações, o historiador ensaia seu prognóstico:

O que tem retardado, portanto, na civilização da América Latina, o advento da fase industrial, é esse conjunto de males do regime antigo do ocidente europeu, males pra aqui canalizados durante os trezentos anos de domínio das metrópoles, e que podemos reduzir a duas ordens: I – as preocupações quase exclusivas da politica interna esterilizando a até pervertendo as melhores aptidões dos indivíduos e dos povos; e II – as contingências da política internacional, obrigando as nações americanas a prevenir-se contra as grandes potências do Velho Mundo. Essas duas mesmas ordens de males, entretanto, é que hão de determinar afinal a orientação histórica da sociedade americana: de uma, lograrão os povos a mais completa liberdade política na democracia, e como conquista definitiva de consciência; de outra, há de sair o espírito de união e de solidariedade dos povos do continente para a atitude que eles têm

de manter na nova fase da política internacional, que se anuncia tão cheia de complicações e de problemas cada qual mais grave. Quanto é dado inferir, desses dois fatores que se preparam – o sentimento da liberdade política que fará nações prósperas e grandes, e – o ideal americano que fará nações amigas e unidas; e concorrendo com esses dois fatores o espírito de proselitismo, o sentimento de justiça e de amor para fraternizar com os povos da terra; a América vai ser a sede definitiva da civilização que vem, na qual o vasto patrimônio espiritual da família humana se refundirá sob a dupla influência do gênio do Ocidente, irrequieto e fervido, e do antigo gênio oriental, contemplativo, misterioso e amplo como a própria história. TERRA DA MEDIAÇÃO há de ser, pois, esta América formosa e ingente, para conciliar os dois mundos que há 50 séculos vêm empenhados na luta tremenda. (ROCHA POMBO, 1925, p.407-408, grifos meus)

Para concluir a análise do Compêndio, é importante dedicarmos algumas linhas ao prefácio da edição de 1925, único acréscimo feito ao livro, o qual dialoga diretamente com a seção do prognóstico acima citado. Nele, Rocha Pombo avalia as mudanças operadas no convívio continental desde o ano da primeira edição, isto é, de 1900. O espírito de fraternidade