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A resolução como causa de extinção do contrato aleatório

ALEATÓRIO

III.6. A resolução como causa de extinção do contrato aleatório

O contrato se extingue, naturalmente, pelo cumprimento das obrigações nele pactuadas ou, de outro modo, por um defeito que o impede de ser cumprido.

Conforme a lição de Araken de Assis, “a resolução do contrato consiste na sua dissolução em virtude de fato superveniente”.214

Com a resolução,o contrato é desfeito, dissolvido por conta de um evento ocorrido após a sua celebração. Assim, liberam-se as partes do vínculo contratual.

Desde já, importa saber se, com o desfazimento do vínculo, os efeitos do ato retroagem ao da celebração do negócio, com a restituição das prestações recebidas, retornando as partes contratantes à situação em que se encontravam antes da celebração do

213 BAREA, Margarita Castilla. La imposibilidad de cumplir los contratos, p. 246.

contrato ou não. De acordo com a orientação de Araken de Assis, a resolução do contrato, além de desfazer o negócio, opera a retroatividade dos efeitos, com o retorno das partes à situação em que se encontravam, o que implicaria, desse modo, na restituição das parcelas pagas. Daí, pois, o reconhecimento dos efeitos de desvinculação e restituitórios atribuídos à resolução.215 De outro modo, o desfazimento do contrato por conta de evento superveniente, porém sem a retroatividade dos efeitos, melhor seria denominado resilição.216

No entanto, na prática, os efeitos da resolução podem ou não retroagir ao período de realização do negócio, pois, “quando se tratar de contratos duradouros, de execução continuada (locação) ou periódica (pagamento de aluguéis), a extinção atinge o contrato apenas na sua duração para o futuro (ex nunc)”,217 sem que haja motivo algum para cogitar a devolução das parcelas já pagas em função da normal fruição do contrato já executado.

A resolução pode ser legal (quando estiver prevista em lei, como ocorre na Lei de Locações, art. 9, II e III) ou convencional, quando decorrer de cláusula resolutória tácita ou expressa. Pode ocorrer, como já mencionado, no caso de impossibilidade superveniente da prestação, conforme previsto na regra do art. 238 do Código Civil. Também, pode ocorrer a resolução do contrato na hipótese de inadimplemento do devedor, conforme previsto na regra do art. 475 do Código Civil, com indenização por perdas e danos. Ou ainda, a resolução do contrato pode derivar da onerosidade excessiva superveniente, tal como previsto nas regras dos artigos 478 a 480 do Código Civil.

Ademais, a resolução do contrato pode ser judicial ou extrajudicial. Nesse caso, pode ser que as partes, em razão de um evento superveniente à formação do contrato, decidam pela extinção do mesmo. De outro modo, deve ser pronunciada em juízo, como

215

DÍEZ-PICAZO, Luis; e outros. Los princípios del derecho Europeo de contratos, p. 365.

216 Vale notar que as expressões resolução, rescisão e resilição são utilizadas muitas vezes, na prática, de modo indistinto. Conforme a lição de Araken de Assis, acima referida, a resolução corresponde à extinção do contrato com efeitos retroativos à sua formação, ou seja, a parte que recebeu prestação é obrigada a restituí-la. Já a resilição é a extinção do contrato sem a retroatividade dos efeitos. Entretanto, de acordo com a regra do art. 473 do Código Civil, a resilição é a extinção unilateral do contrato. Ademais, vale notar que a rescisão é, na prática, usualmente empregada para denominar pura e simplesmente a hipótese de extinção contratual. Segundo a orientação de Orlando Gomes, na obra Contratos, p. 210, a rescisão corresponde à extinção do contrato, com efeitos retroativos à data em que foi celebrado, no caso de ocorrência de lesão ou celebração do contrato em estado de perigo.

exige a parte final da regra do art. 478 do Código Civil, para o caso de resolução por onerosidade excessiva. Nada impede, ademais, que a resolução do contrato recaia sobre parte dele se, por exemplo, uma parcela for cumprida, a extinção contratual corresponder à parcela restante e o credor tiver interesse receber as parcelas já cumpridas.

De acordo com a regra da primeira parte do art. 474 do Código Civil,218 quando da celebração dos contratos, as partes podem prever, expressamente, o mecanismo de encerramento contratual, sem que haja o envolvimento do Poder Judiciário para que se possa considerar extinto o contrato.219 Desse modo, em razão da ocorrência de determinado evento superveniente à celebração do contrato, as partes estipulam o modo como deve ocorrer a extinção, seja com relação aos prazos, pagamentos ou ao cumprimento das obrigações ainda restantes.

No caso de previsão expressa da cláusula resolutiva, o que, por certo, pode ocorrer nos contratos de duração, tal como no contrato aleatório, em razão das prestações serem efetuadas em momento posterior à conclusão do negócio, a parte prejudicada pelo inadimplemento contratual pode, nos moldes da regra do art. 475 do Código Civil, pretender a resolução sem a necessidade de pretender em juízo o reconhecimento da extinção contratual, poupando-se à parte inocente, desse modo, os dissabores, custos e despesas inerentes ao ajuizamento de uma ação judicial. É necessário, no entanto, o socorro ao Poder Judiciário para se pretender a resolução no caso de não constar do contrato cláusula resolutiva expressa, bem como para pretender as perdas e os danos incorridos, no caso da parte prejudicada, ou, também, por outro lado, para pretender a continuidade da validade do contrato.

218 Art. 474 do Código Civil: “A cláusula resolutiva expressa opera de pleno direito; a tácita depende de interpelação judicial”.

219

Se o contrato não conta com cláusula resolutiva expressa, é necessária, para a resolução do contrato, a interpelação ou notificação judicial do interessado. A confirmar esse entendimento, vale transcrever a ementa de julgado (disponível no site www.tjsp.jus.br) ocorrido em 19 de março de 2013, perante o Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, na 27a Câmara de Direito Privado, a propósito do julgamento da apelação n. 0025263-67.2010.8.26.0007, sob relatoria do Desembargador Gilberto Leme, no qual figurou como apelante o Banto Itaú BBA S/A, e apelado José Sobreira de Andrade, em ação de reintegração de posse em arrendamento mercantil: “Resolução do contrato não operada ante a falta de cláusula resolutória expressa. Cláusula resolutória tácita, no entanto, que se subentende em todos os contratos sinalagmáticos, mas que, para produzir efeitos, depende de interpelação judicial (CC, art. 474, 2a parte). Não efetivada a interpelação judicial, o contrato de arrendamento mercantil não foi resolvido e, por conseguinte, inexistente a obrigação de restituir o bem arrendado. Recurso desprovido”.

Há, ainda, de acordo com a regra do referido art. 475 do Código Civil, a possibilidade de, não se tratando de inadimplemento absoluto do devedor (ou seja, quando a obrigação não mais pode ser cumprida), o credor pretender o cumprimento da obrigação inadimplida, como alternativa à resolução do contrato.

CAPÍTULO IV:

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