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É mister que se verifique, também, no presente capítulo como vem sendo a responsabilização de quem degrada o meio ambiente natural, haja vista que neste é que vem inserido o meio ambiente artificial como se verá adiante.

O Direito está em evolução constante, mas nas últimas décadas acelera-se

esse processo de atualização, como exigência decorrente da própria celeridade das mudanças de ordem social. Tem-se detectado teorias originais na sua concepção, buscando, no âmbito dos direitos constitucionais, principalmente, uma nova dimensão além daquelas que visam à proteção de direitos individuais ou coletivos.

Na concepção de Bonavides (1993, p. 481), há um novo pólo de alforria do homem, além dos tradicionais que eram a liberdade e a igualdade. Se o lema da Revolução Francesa compreendia esses dois valores, o terceiro era o da fraternidade. Mas esta, a fraternidade, cingiu-se mais às regras éticas e morais, sendo alijada da normatividade jurídica. Não é assim, agora. Se o valor fraternidade tem uma dimensão imensa, não poderia a ele ficar alheio o Direito. E, por fim, absorvido que foi, surgiu um novo pólo jurídico, denominado de "direitos de terceira geração", na medida em que não se destinam especificamente à proteção de interesses de um grupo ou de um determinado Estado, tendo, como objeto próprio, nada mais nada menos do que o próprio gênero humano. Este seria o "valor supremo em termos de existencialidade concreta”. Esses direitos de terceira geração materializam-se como a coroação de um movimento evolutivo do direito ao longo de três séculos para a concretização dos direitos fundamentais, surgindo dentre eles o “direito ao meio ambiente” ao lado de outros como o direito ao desenvolvimento, o direito à paz, o direito de propriedade sobre o patrimônio comum da humanidade e o direito de comunicação. Nessa conformidade, a estes cinco tipos de novos direitos firmou-se um entendimento entre os juristas de que se trata de uma nova concepção dos "direitos da fraternidade", não apenas por despertar a curiosidade jurídica, mas um imenso respeito, por dizer, intrinsecamente, com um dos mais elevados valores éticos da humanidade, o da solidariedade.

Em seguida, passaremos a demonstrar que, dentro do meio ambiente artificial, encontra-se incluído o meio ambiente do trabalho.

CAPÍTULO 3

MEIO AMBIENTE DO TRABALHO 3.1 Aspectos gerais

Com o surgimento há algumas décadas dos estudos ambientais criou-se o conceito de meio ambiente, o qual se limitava a se relacionar apenas às condições naturais, mas após a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92, o fator humano passou a integrá-lo, incluindo os problemas do homem como relacionados diretamente à problemática ambiental como a pobreza, o urbanismo etc. Assim, o conceito apenas clássico perdeu sentido ante as novas proposições da referida conferência.

Registre-se em enfoque histórico e, como preceito básico da legislação trabalhista, que a Constituição de 1946 (art. 157, inciso VIII) elegeu a higiene e a segurança do trabalho como fator de melhoria da classe trabalhadora, no que foi seguida pela Constituição de 1967 (art. 158, inciso IX) e pela Emenda Constitucional n. 1 de 1969 (art. 165, inciso IX).

Recentemente, no ordenamento jurídico brasileiro, antes mesmo da realização da ECO-92, a Constituição Federal de 1988 já trouxe no seu Capítulo II, art. 7°, caput, inciso XXII, a “redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança”. Determinou, dessa maneira, o legislador constituinte, em item próprio, aos empregadores que adotassem, em seus estabelecimentos e nos ambientes de trabalho, normas e procedimentos cautelares de modo a reduzir os riscos inerentes ao trabalho, através de medidas adequadas, de modo a preservar a sanidade ambiental, garantindo condições propícias de higiene e segurança.

Em outros dispositivos, também se pode vislumbrar a preocupação do constituinte de 1988, relativos ao meio ambiente do trabalho. Com efeito, o art. 39, § 3°, da CF 1988, estende esse direito aos servidores públicos civis. O art. 225, caput, já várias vezes enunciado, dá os parâmetros da proteção jurídica dispondo que “todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e

essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. O art. 200, inciso VIII, quando fixa a competência do Sistema Único de Saúde (SUS), ao relacionar as suas atribuições utiliza a expressão “meio ambiente do trabalho” e dispõe que é seu dever “colaborar na proteção do meio ambiente do trabalho”. Em reforço à sadia qualidade de vida e à dignidade da pessoa humana, no capítulo dedicado à ordem econômica e financeira, e como já visto, o inciso VI do art. 170 observa dentre outros, o princípio “da defesa do meio ambiente”.

Essa preocupação legislativa do nosso constituinte originário cedo nos leva a concluir que a proteção sobre o meio ambiente do trabalho vem estabelecida nesse primeiro momento, sem precisarmos fazer maiores incursões. O Texto Fundamental em seu conjunto converge para a concluirmos que a intenção do legislador foi de dar proteção ao meio ambiente de trabalho, afastando o trabalhador, realmente, das vicissitudes que contra ele ocorriam no desempenho de suas atribuições.

Contrapondo-se ao que agora se afirma Krell (2002) entende que a norma insculpida no art.200, inciso VIII, CF/88 não comprova por si que o meio ambiente do trabalho estaria necessariamente incluído no conceito do meio ambiente geral protegido pelo art. 225 e que, só a partir de uma visão holística38 do meio ambiente e o abandono da dicotomia entre o meio ambiente natural e artificial, é que há uma tendência para a proteção, quer no interior ou exterior das fábricas onde o trabalho humano é desenvolvido.39

Passaremos, a seguir, a analisar qual o conceito40 mais consentâneo sobre o meio ambiente do trabalho.

38 Holismo é a ciência que vê e analisa todos os problemas ou situações ou relações como fazendo parte

de um todo, como parte de um processo que se desenvolveu desde o início dos tempos, que sempre existiu e sempre existirá, seja relativamente ao mundo material ou imaterial, físico ou energético, real ou metafísico. (COSTA, apud KRELL, 2002).

39 Cf. MACHADO (1999, p. 87-94), corrobora com nosso entendimento.

40 Por conceito entendemos no sentido de idéia, opinião, juízo; (que se faz de alguém ou de alguma