• Nenhum resultado encontrado

3.3 O meio ambiente do trabalho e as constituições estaduais

3.3.1 As constituições estaduais

O bem jurídico tutelado pelas normas ambientais, no meio em que a pessoa humana desenvolve suas atividades produtivas, é a saúde e não o trabalho subordinado. A competência para legislar sobre trabalho, regido por contrato próprio, é da União, consoante dispõe o art. 22, I, da Carta Magna. Referida competência engloba apenas os aspectos contratuais, pecuniários e processuais relativos ao exercício do trabalho subordinado.

Entretanto, quando se trata de proteger a vida, a saúde e a dignidade da pessoa que trabalha, em relação direta com a influência proveniente do meio ambiente em que esta se ativa, a competência tanto material como legislativa diz respeito ao

meio ambiente e à saúde, competindo aos demais entes federados, além da União,

como prevêem os artigos 23. 24 e 3043, da Lei Maior, zelar pela proteção do meio em que o trabalhador exerce suas atividades, bem como buscar a preservação da saúde humana.

43 Art. 23 - competência material comum entre União, Estados, Distrito Federal e Municípios - o inciso II

determina que todos estes entes federados cuidem da saúde da população e o inciso VI, preconiza que devem proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas.

b) Art. 24 - competência legislativa concorrente entre União, Estados e Distrito Federal - o inciso VI

permite que legislem sobre a proteção do meio ambiente e controle da poluição, o inciso VIII que disciplinem adequadamente a responsabilidade por dano ao meio ambiente e o inciso XII que estabeleçam normas acerca da proteção e defesa da saúde.

c) Art. 30, I e II, resta estabelecida a competência dos Municípios para legislar sobre assuntos de interesse local e suplementar as legislações federal e estadual.

Conforme dito acima com base na afirmação de Derani (1997) sobre o movimento transversal do Direito Ambiental, presente nos mais diversos diplomas legais, perpassando todo o ordenamento jurídico, verifica-se que a Consolidação das Leis do Trabalho, no Capítulo V, do Título II, que cuida da segurança e medicina do trabalho, não contém apenas normas endereçadas àquele que está sob contrato de trabalho, em sentido estrito, mas normas ambientais relacionadas à prática de qualquer trabalho, em defesa da saúde, ao buscar a manutenção de um meio ambiente propício à incolumidade física do obreiro.

Assim, o art. 154, da CLT, prevê não bastar obediência ao disposto no Capítulo V, mas determina que o empregador ou todo aquele que se utiliza, a qualquer título, da força de trabalho humana cumpra as disposições relativas à matéria concernente à saúde do trabalhador, no meio ambiente laboral, incluídas em códigos de obras ou regulamentos sanitários dos Estados ou Municípios, em que se situem seus estabelecimentos.

Fiorillo (2000, p. 211) assevera que "[...] jamais se deve restringir a proteção

ambiental trabalhista a relações de natureza unicamente empregatícia" [...] "O que interessa é a proteção ao meio ambiente onde o trabalho humano é prestado, seja em que condição for [...]".

Os Estados vêm legislando sobre matéria de saúde no trabalho, inserindo normas de observação obrigatória, em seus territórios, nas respectivas Constituições.

3.3.1.1 Constituição do Estado do Maranhão

Buscando implementação de sua Política Estadual do Meio Ambiente o Estado do Maranhão delineou na sua Carta Constitucional diversas competências. Mas diferentemente do que se verifica com a Constituição Federal que separou os Títulos da “Ordem Econômica e Financeira” da “Ordem Social” e nesta última cuida da matéria ambiental, o Estado do Maranhão na sua Carta de Princípios aglutinou esses dois Títulos denominando-o “Da Ordem Econômica e Social” e no Capítulo IX, os artigos 239 a 250 tratam “Do Meio Ambiente”.

A Carta do Estado do Maranhão, no seu art. 239, define o meio ambiente

ecologicamente saudável e equilibrado como direito de todos e lhe dá a natureza de bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se à coletividade e em especial ao Estado e aos Municípios o dever de zelar por sua preservação e conservação em benefício das gerações atuais e futuras. No § 1° desse

artigo pode-se ver instituído o princípio da “reparação”, pois aquele que devastar a flora

nas nascentes e margens dos rios, riachos e lagos de todo o Estado será responsabilizado patrimonial e penalmente, na forma lei. A responsabilidade, no caso, é

a objetiva.

O art. 240, ao dispor que a atividade econômica conciliar-se-á com a

proteção ao meio ambiente e que a utilização dos recursos naturais será feita de forma racional para preservar as espécies e para evitar danos à saúde, à segurança e ao bem estar das populações, esta em consonância com o princípio da garantia do

desenvolvimento econômico e social sustentado o qual enuncia que deve haver um equilíbrio entre as vantagens econômicas e o impacto no meio ambiente, ou seja, todas as implicações de uma intervenção no meio ambiente devem ser avaliadas, buscando adotar o caminho mais razoável para não importar em gravames excessivos para o meio ambiente (MIRRA, 1996).

O art. 241 ao dispor que na defesa do meio ambiente, o Estado e os

Municípios levarão em conta as condições dos aspectos locais e regionais e assegurarão: que é seguido por XI incisos e diversas alíneas, arrola as medidas e

providências que incumbem a esses entes Públicos tomar, deveres específicos para lhes dar efetividade além de condutas preservacionistas a quantos possam direta ou indiretamente gerar danos ao meio ambiente. Dentre os princípios ambientais podemos encontrar estabelecidos o do princípio da supremacia do interesse público na proteção do meio ambiente em relação aos interesses privados (art. 241, incisos I a IV, alíneas “a” a “i”); princípio da intervenção estatal obrigatória na defesa do meio ambiente (inciso V, alíneas “a” a “e” e incisos VI e VII); princípio da avaliação prévia dos impactos ambientais das atividades de qualquer natureza (inciso VIII); princípio da informação (inciso IX); princípio da reparação (inciso X); princípio da participação popular na proteção do meio ambiente (inciso XI) (MIRRA, 1996, p. 58).

De se observar que nenhum dos artigos, aqui referenciados da Constituição do Estado do Maranhão, trata de Direito do Trabalho. Referem-se todos eles ao Direito Ambiental.

Entretanto, se a Constituição Federal de 1988 estabelece em seu art. 24, competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal para legislar sobre vários temas, entre eles proteção do meio ambiente e controle da poluição (inciso

VI, in fine), responsabilidade por dano ao meio ambiente (inciso VIII, 1ª parte), proteção e defesa da saúde (inciso XII), de outro no art. 22, inciso I quando trata de competência

privativa da União di-la que é só dela a competência para legislar sobre Direito do Trabalho. Por essas circunstâncias não pode o Estado legislar sobre o meio ambiente do trabalho, mas tão somente sobre o meio ambiente natural e cultural.44

O artigo 246 trata da legitimidade do Ministério Público Estadual para atuar na proteção e defesa do meio ambiente e do patrimônio paisagístico, cultural, artístico e arqueológico.

A legitimidade de atuação do Ministério Público Estadual para atuar na proteção e defesa do meio ambiente entendemos, ser, também, só no que diz respeito ao meio ambiente natural e cultural, conferindo-se ao Ministério Publico do Trabalho a legitimidade para atuar na defesa e proteção do meio ambiente artificial onde se encontra incluído o meio ambiente do trabalho.

3.3.1.2 Constituição do Estado do Amazonas

O § 2°, do artigo 229, da Constituição do Amazonas, consagra taxativamente, a proteção ao meio ambiente do trabalho, pois, se no caput do artigo dispõe que: "Todos têm direito ao meio ambiente equilibrado, essencial à sadia qualidade devida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo", no §2° já aludido especifica: "Esse direito estende-se ao ambiente de

trabalho, ficando o Poder Público obrigado a garantir essa condição contra qualquer

ação nociva à saúde física e mental do trabalhador".

44 Cf. FIGUEIREDO (2000, p. 217-234), que tem posição contrária a minha, entendendo ser possível os

3.3.1.3 Constituição do Estado da Bahia

O art. 218 desta Constituição Estadual dispõe expressamente: "O direito ao ambiente saudável inclui o ambiente de trabalho, ficando o Estado obrigado a garantir e proteger o trabalhador contra toda e qualquer condição nociva à sua saúde física e mental."

O art. 239 determina às empresas que submetam, periodicamente, seus empregados expostos a substâncias químicas, tóxicas ou radioativas a exames médicos individuais.

3.3.1.4 Constituição do Estado de São Paulo.

O artigo 220, § 1°, presente na Seção II, do Capítulo II, do Título VII, ao cuidar da Saúde, estabelece: "As ações e os serviços de preservação da saúde abrangem o meio ambiente natural, os locais públicos e de trabalho."

Significativas são as disposições presentes no art. 223 ao determinar ao sistema único de saúde: a) no inciso II, a identificação e controle dos fatores determinantes e condicionantes da saúde individual e coletiva, mediante ações referentes à saúde do trabalhador, de acordo com previsão contida na alínea "c"; b) no inciso VI, a colaboração na proteção do meio ambiente, incluindo o do trabalho, a partir de atuação no processo produtivo para garantir o acesso dos trabalhadores às informações respeitantes a atividades que comportem riscos à saúde e a métodos de controle e adoção de medidas preventivas de acidentes e doenças do trabalho.

Em decorrência desse espectro de proteção conferido ao meio ambiente do trabalho, a Constituição Paulista estipula, no art. 229 § 3°, que o Estado atuará para garantir a saúde e a segurança dos empregados no ambiente de trabalho.

O § 4°, deste mesmo artigo, assegura a cooperação dos sindicatos de trabalhadores nas ações de vigilância sanitária desenvolvidas no local de trabalho e o § 2° garante a interrupção de atividades que coloquem em risco a integridade do

trabalhador, o que equivale à garantia de paralisação do trabalho, para a manutenção

cumprimento das exigências procedimentais, especialmente de prazos, estabelecidas pela Lei 7.783/89, que disciplina a greve, tendo em vista a expressa autorização constitucional de paralisação do trabalho na defesa de bem indispensável à manutenção da vida e de sua sadia qualidade: a saúde.

3.3.1.5 Constituição do Estado do Rio de Janeiro

O art. 290, inciso X, estabelece na alínea "c" o "controle e fiscalização dos ambientes e processos de trabalho nos órgãos e empresas públicas e privadas, incluindo os departamentos médicos", na alínea "d" assegura "direito de recusa ao trabalho em ambientes sem controle adequado de riscos, assegurada a permanência no emprego" e na alínea "h" determina a "intervenção, interrompendo as atividades em local de trabalho em que haja risco iminente ou naqueles em que tenham ocorrido graves danos à saúde do trabalhador."

Oferece, por conseguinte, ao trabalhador dois importantes meios de defesa da higidez do meio ambiente do trabalho: a paralisação das atividades em casos de riscos não controlados, sem maiores óbices ou exigências legais, e a intervenção estatal no sentido de interromper atividades em locais de trabalho com acentuado risco à saúde humana.