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Tradicionalmente, a teoria geral dos Direitos Humanos recorre à trifásica classificação dos direitos humanos originada do dístico da revolução francesa: direitos de liberdade, de igualdade e de solidariedade. Assim, seriam de primeira geração os direitos individuais, civis e políticos, também chamados "direitos negativos", na medida em que impõem ao Estado uma obrigação de não fazer, de não interferência nas esferas de liberdade dos indivíduos. De segunda geração, seriam os direitos sociais, vistos como direitos positivos em razão de gerarem ao Estado obrigações de fazer, ou de propiciar a realização desses mesmos direitos. Por fim, os direitos de terceira geração, associados ao princípio da solidariedade, seriam aqueles cujo titular é o ser

20 Antes da edição de Lei nº 6.938/81, já possuíamos o Código Florestal, o Código de Águas, a Lei de

Proteção à Fauna, o Código de Mineração e muitas outras normas que, de uma forma ou de outra, asseguravam algum padrão de proteção ao meio ambiente. A Política Nacional do Meio Ambiente – PNMA, no entanto, inaugura a integração entre as diferentes normas e a moderna concepção de que meio ambiente é uma totalidade que não pode ser tratada de forma parcial.

21 Art. 7º São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua

condição social: [...] XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; [...] XXIII - adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; [...] "XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos".

22 Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: [...] II -

executar as ações de vigilância sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador [...] VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho.

humano indistinto, difuso, visto como parte da comunidade internacional. Nesse contexto implementam-se os direitos à paz, ao desenvolvimento, ao meio ambiente saudável, entre outros.

Os direitos do homem para Bobbio (1992, p. 5-7) são direitos históricos, nascidos de modo gradual, partindo de um caminho contínuo da concepção individualista da sociedade, pelo qual se vai do reconhecimento dos direitos de cada cidadão frente ao Estado até o reconhecimento dos direitos do cidadão do mundo, cujo primeiro anúncio foi a Declaração Universal dos Direitos do Homem, no entanto, não podiam ser sequer imaginados quando foram promulgadas as primeiras Declarações de direitos. O direito de viver num ambiente não poluído, a exemplo, é exigência nascida em razão de mudanças nas condições sociais, e num contexto em que o desenvolvimento tecnológico permite sua implementação e proteção. Os direitos humanos "nascem quando devem, ou podem nascer."

Não há discrepâncias sensíveis entre os doutrinadores quando atribuem ao período pós 2ª Guerra Mundial o início do processo efetivo de proclamação e de internacionalização dos direitos humanos. Comparato (2001, p. 54, 55) nos diz que

[...] após três lustros de massacres e atrocidades de toda sorte, iniciados com o totalitarismo estatal nos anos 30, a humanidade compreendeu, mais do que em qualquer outra época da história, o valor supremo da dignidade humana. O sofrimento como matriz da compreensão do mundo e dos homens, segundo a lição luminosa da sabedoria grega, veio aprofundar a afirmação histórica dos direitos humanos. [...] Chegou-se, enfim, ao reconhecimento de que à própria humanidade, como um todo solidário, devem ser reconhecidos vários direitos: à preservação dos sítios e monumentos considerados parte integrante do patrimônio mundial, à comunhão das riquezas minerais do subsolo marinho, à preservação do equilíbrio ecológico do planeta.

Igualmente marcante, no período que se seguiu à Declaração Universal, foi a renovação de determinados conceitos, especialmente ligados ao direito internacional, na medida em que diversos tratados e convenções passam a apontar um novo sujeito ativo, um novo titular de direitos no plano internacional: a humanidade. Não mais os Estados como sujeitos típicos do direito internacional, ou mesmo os cidadãos, vis-a-vis os Estados, mas a comunidade, o coletivo heterogêneo ou difuso, a espécie humana. Diz Bonavides (1998, p. 523)

[...] os direitos de terceira geração tendem a cristalizar-se nesse fim de século enquanto direitos que não se destinam especificamente à proteção de interesses de um indivíduo, de um grupo ou de um determinado Estado. Têm

primeiro por destinatário o gênero humano mesmo, num momento expressivo de sua afirmação como valor supremo em termos de existencialidade concreta.

Assim, firmou-se no direito internacional, a partir da segunda grande guerra, o conceito de "humanidade", com a idéia da existência de direitos inerentes a essa nova "pessoa" de direito internacional.

Na concepção de Canotilho (1993, p. 500) os “Direitos Fundamentais” podem ser visualizados em duas fases:

[...] uma anterior ao Virgínia Bill of Rights (12.06.1776) e à Declaração des

Droits de l’Homme et du Citoyen (26.08.1789), caracterizada por uma relativa

cegueira em relação à idéia dos direitos do homem; outra posterior a esses documentos, fundamentalmente marcada pela chamada Constitucionalização ou positivação dos direitos do homem nos documentos constitucionais.

Com efeito, o debate sobre os direitos fundamentais se instaurou após as Declarações de Direitos, no final do Século XVII, (Revolução Francesa e Independência Americana) e foi pautado pela negação a esses direitos.

Foi imposta pela nova ordem burguesa, após esses processos revolucionários, uma limitação às autoridades estatais que deveria vir expressa na Constituição pela técnica da separação dos poderes (funções legislativa, executiva e judiciária) distinta da declaração de direitos. Assim é que as Constituições liberais clássicas limitavam-se a esses dois aspectos.

Após a Segunda Grande Guerra, quando já se tornara obsoleta a discussão em torno da negação dos direitos do homem o conflito ideológico, no campo dos direitos humanos, desloca-se para o eixo do confronto entre os valores liberdade e igualdade.

Para o liberalismo, que se apega ao paradigma do indivíduo como ator autônomo, separado e autodeterminado, num contexto minimalista do Estado, direitos fundamentais seriam apenas os direitos civis e políticos, para cuja concretização requerem prestação negativa e sem custos, para o Estado.

Para os socialistas, que se inspiram no ideal de igualdade, seriam também direitos fundamentais os chamados direitos econômicos, sociais e culturais, porquanto somente com sua implementação, mediante prestação positiva do Estado, com efetivos investimentos sociais e com redistribuição solidária das riquezas e seus benefícios, é que se realizaria a democracia material.

O conflito ideológico, projetado na geopolítica, dava-se mais numa direção leste/oeste do que norte/sul. Era um confronto entre os Estados Unidos e a Europa Ocidental, de um lado; e o bloco liderado pela União Soviética, de outro.

A “Declaração Universal dos Direitos Humanos” só foi possível com a unanimidade que houve, porque foi vitoriosa a pressão dos países socialistas, liderados pela então URSS, no sentido de que fossem também contemplados naquele documento os direitos econômicos, sociais e culturais.

Assim é de se verificar que os “os direitos fundamentais” são os direitos do ser humano reconhecidos e positivados na esfera do direito Constitucional positivo de determinado Estado; “direitos humanos”, por sua vez, guardam relação com os documentos de direito internacional, por referir-se àquelas posições jurídicas que se reconhecem ao ser humano como tal, independentemente de sua vinculação com determinada ordem Constitucional e que, portanto, aspiram à validade universal, para todos os povos e tempos, de tal sorte que revelam um inequívoco caráter supranacional (internacional).

É nessa perspectiva que Canotilho (1999) e Bonavides (2000) se apegam ao conceituarem que: o primeiro ao entender que o local exacto desta positivação jurídica é a constituição [...] os direitos fundamentais são-no, enquanto tais, na medida em que se encontram reconhecimento nas constituições e deste reconhecimento se derivem conseqüências jurídicas, [sic] enquanto o segundo entende que direitos fundamentais são aqueles direitos que o direito vigente qualifica como tais.

Nos dias atuais, a idéia de direitos fundamentais - assim entendidos os direitos humanos reconhecidos pelas normas dos Estados - está diretamente associada à idéia de um núcleo de valores ou interesses de todos e de cada um que gera, ao Estado, a terceiros ou à comunidade, a obrigação de respeito e proteção, quer pela abstenção de condutas que possam pôr em risco o uso e gozo de determinados direitos, quer por atos concretos de implementação e desenvolvimento desses mesmos direitos. Assim, os direitos fundamentais são encontrados positivados nos textos constitucionais dos Estados; os direitos humanos antecedem à positivação enquanto perspectiva filosófica em um primeiro momento e reconhecimento internacional não delimitados espacial e territorialmente.