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O artigo 19 da Lei n. 8.213/91 nos dá o conceito legal de acidente do trabalho:

Acidente do trabalho é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício do trabalho dos segurados referidos no inciso VII do artigo 11 desta Lei, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.

O conceito jurídico geral de acidente de trabalho utilizado na legislação brasileira permite operacionalizar a gestão dos benefícios da Previdência Social e o reconhecimento oficial do acidente, através da emissão da CAT (Comunicação de Acidente de Trabalho). Entretanto, caracterizar os efeitos dos acidentes numa perspectiva exclusivamente securitária impede entendê-los na sua historicidade e no contexto de relações de trabalho, enquanto eventos heterogêneos e complexos em que componentes sociais, tecnológicos e de saúde interagem e operam como mediadores da relação processo de trabalho e saúde (MACHADO; PORTO; FREITAS, 2000). A ênfase nesse tratamento securitário é um fator de confusão, na medida em que engloba como semelhantes situações e efeitos muito diferenciados. Essa imprecisão, ao encobrir a especificidade dos riscos, reflete-se numa certa assepsia da morte e das doenças relacionadas ao trabalho.

Para o INSS (Instituto Nacional de Seguridade Social), segurados são todos os indivíduos que se inscreveram e contribuem para a Previdência. Mas, apesar de se considerar beneficiários o conjunto dos trabalhadores que contribuem, só uma parcela tem direito ao seguro acidente. Para receber esse benefício e, portanto, para registro de casos, o trabalhador deve ser vinculado aos setores da economia regidos pela CLT. Depreende-se, pois que para a Lei Previdenciária, o acidente do trabalho somente ocorre com trabalhadores, os quais, no exercício de suas atividades, prestam serviço à empresa: o segurado empregado ou empregado avulso, bem como o segurado especial, cujos efeitos provocam lesão corporal ou perturbação funcional suficientes para causar a morte, a perda ou a redução, temporária ou permanente, da capacidade

para o trabalho63. Ficam excluídos os empregados domésticos e os contribuintes individuais e facultativos, os quais não receberão o benefício de auxílio-acidente.

Também, não estão contemplados, entre outros: os trabalhadores autônomos e os funcionários públicos – municipais, estaduais, federais, militares e civis64. Ao definir quem é segurado, a legislação é a mais includente possível. Contrariamente, quando se trata de determinar os que fazem jus ao seguro acidente, torna-se excludente.

A lei também considera acidente do trabalho a doença profissional e a doença do trabalho. As chamadas doenças ocupacionais.

Silva (1999) diz que:

DOENÇA PROFISSIONAL é a produzida ou desencadeada pelo exercício do

trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

DOENÇA DO TRABALHO é a adquirida ou desencadeada em função de

condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relaciona diretamente, e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Segundo este mesmo autor a doutrina classifica os acidentes do trabalho em três espécies:

DOENÇAS DO TRABALHO, também chamadas mesopatias, são aquelas que

não têm no trabalho sua causa única ou exclusiva. A doença resulta de condições especiais em que o trabalho é executado (pneumopatias, tuberculose, bronquites, sinusite, etc.). As condições excepcionais ou especiais do trabalho determinam a quebra da resistência orgânica fazendo eclodir ou agravar a doença.

DOENÇAS PROFISSIONAIS ou tecnopatias - Têm no trabalho a sua causa

única, eficiente por sua própria natureza, ou seja, a insalubridade. São doenças típicas de algumas atividades (silicose, leucopenia, tenossinovite, etc)

ACIDENTES DO TRABALHO TIPO - Em seu conceito devem estar presentes a

subtaneidade da causa e o resultado imediato, ao contrário das doenças que possuem progressividade e mediatidade do resultado.

63 Art. 11. São segurados obrigatórios da Previdência Social as seguintes pessoas físicas

VII - como segurado especial: o produtor, o parceiro, o meeiro e o arrendatário rurais, o garimpeiro, o pescador artesanal e o assemelhado, que exerçam suas atividades, individualmente ou em regime de economia familiar, ainda que com o auxílio eventual de terceiros, bem como seus respectivos cônjuges ou companheiros e filhos maiores de 14 (quatorze) anos ou a eles equiparados, desde que trabalhem, comprovadamente, com o grupo familiar respectivo.

(O garimpeiro está excluído por força da Lei nº 8.398, de 7.1.92, que alterou a redação do inciso VII do art. 12 da Lei nº 8.212 de 24.7.91).

A lei considera acidente do trabalho tanto o ocorrido pelo exercício do trabalho a serviço da empresa, como o prestado em benefício próprio nos casos daqueles que exercem suas atividades individualmente ou em regime de economia familiar.

64Destacamos o seguinte julgado o qual vai de encontro à legislação: RESPONSABILIDADE DA

ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA – funcionário de município – acidente do trabalho – aplicação das normas e princípios que regem o contrato administrativo e o acidente do trabalho – não incidência do art. 37, §6º da cf/88 –. amputação do quinto dedo da mão direita – diminuição da potencialidade produtiva –

dano presumido – prejuízo material e sofrimento psicológico também reconhecidos – indenização

Há que se observar a distinção que é feita entre as doenças do trabalho e as doenças profissionais65. Com efeito, enquanto nas primeiras a relevância está nas

65 Além do acidente laboral propriamente dito, também as doenças ocupacionais são consideradas como

acidente do trabalho, nos termos do artigo 20 da lei previdenciária de nº 8.213/91:

Consideram-se acidente do trabalho, nos termos do artigo anterior, as seguintes entidades mórbidas: I-doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e da Previdência Social;

II-doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado e com ele se relacione diretamente, constante da relação mencionada no inciso I.

O parágrafo 1º desse artigo, de plano, exclui das referidas listagens as seguintes doenças: a) doença degenerativa; b) doença inerente a grupo etário; c) doença que não produza incapacidade laborativa; d) a doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva.

O parágrafo 2º do mesmo artigo determina que mesmo eventuais doenças não relacionadas nas listas elaboradas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, mas que resultem das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente, deverão ser consideradas como acidente do trabalho pela Previdência Social. A exceção abrange também as doenças endêmicas que, comprovadamente, resultem da exposição ou contato direto determinado pela natureza do trabalho (§ 1º, "d", parte final). Com fito de ampliar o rol dos acidentes de trabalho e amparar o trabalhador desvalido, o legislador enumera outras situações diversas das condições específicas determinadas pela natureza do trabalho. Equiparam, pois, ao acidente do trabalho, para efeitos da citada lei previdenciária em seu artigo 21 e seus incisos:

I - o acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação;

II - o acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em conseqüência de: a) ato de agressão, sabotagem ou terrorismo praticado por terceiro ou companheiro de trabalho; b) ofensa física intencional, inclusive de terceiro, por motivo de disputa relacionada ao trabalho; c) ato de imprudência, de negligência ou de imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho; d) ato de pessoa privada do uso da razão;

e) desabamento, inundação, incêndio e outros casos fortuitos ou decorrentes de força maior; III - a doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade; IV - o acidente sofrido pelo segurado, ainda que fora do local e horário de trabalho:

a) na execução de ordem ou na realização de serviço sob a autoridade da empresa;

b) na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito; c) em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão-de-obra, independentemente do meio de locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado;

d) no percurso da residência para o local de trabalho ou deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.

Esta lei previdenciária esclareceu, ainda, nos parágrafos 1º e 2º desse artigo que:

§ 1º. Nos períodos destinados à refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades fisiológicas, no local do trabalho ou durante este, o empregado é considerado no exercício do trabalho.

§ 2º. Não é considerada agravação ou complicação de acidente do trabalho a lesão que, resultante de acidente de outra origem, se associe ou se superponha às conseqüências do anterior.

Em síntese, a legislação brasileira considera acidente do trabalho os eventos ocorridos pelo exercício do trabalho, que causem lesão corporal ou perturbação funcional, morte e perda ou redução da capacidade para o trabalho, bem como as doenças profissionais e outras formas de acidentes vinculados ao trabalho: 1) aqueles ocorridos no local do trabalho decorrentes de atos intencionais ou não de terceiros ou de companheiros do trabalho; 2) os acidentes oriundos de casos fortuitos ou de força maior; 3) as doenças provenientes de contaminação acidental no exercício da atividade; 4) os acidentes ocorridos no percurso residência/local de trabalho/residência e nos horários das refeições.

condições em que a atividade é exercida, nas segundas o fator determinante é a atividade.

Ora, dever-se-á também intuir que existe diferença entre aquelas e o acidente de trabalho tipo. Este pode ocorrer quando o empregado está a serviço da empresa (dentro ou fora da sede), ou mesmo em acidente de trajeto, quando a ocorrência se dá durante o deslocamento do trabalhador para o local de trabalho ou vice-versa ou nos horários das refeições. Já aquelas são doenças que ocorrem ou pela exposição cotidiana do trabalhador a agentes nocivos de qualquer natureza, presentes no ambiente de trabalho, ou cuja atividade, por sua natureza, atua na incapacitação para o trabalho, doença ou morte. O acidente ocorre de maneira imediata as doenças mediatamente.

A importância dessa classificação é de interesse do Instituto Nacional de Seguridade Social (INSS), que reconhece automaticamente a existência da relação de causa e efeito quando o cidadão que busca sua assistência é portador de doença profissional. Contudo, para os casos de doenças do trabalho o nexo causal deverá ser comprovado por meio de laudo técnico competente emitido pelo engenheiro de segurança ou médico do trabalho.

4.6 O Estado e as teorias sobre acidentes

Duas teorias explicativas – a do risco social e a do risco profissional - estão implícitas na legislação e ação de órgãos oficiais responsáveis pela prevenção e vigilância dos acidentes. A teoria do risco social baseia-se no princípio de que os bens são produzidos para consumo da sociedade e, portanto é a própria sociedade quem deve arcar com alguns dos ônus da produção. Essa teoria se desenvolve no momento de crise das seguradoras privadas, diante do crescimento dos prêmios, quando o Estado acaba assumindo o gerenciamento do seguro acidente como parte de sua política social.

Segundo a teoria do risco profissional, desenvolvida na Alemanha na segunda metade do século XIX, cabe ao empregador indenizar o trabalhador acidentado. Baseia-se no fato de que o acidente é visto como conseqüência do trabalho