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A atual Constituição brasileira elegeu o trabalho como fundamento da ordem social, constituindo-se como fonte de dignidade e meio que possibilita o alcance do bem-estar e da justiça sociais. Em vista disso, o direito ao trabalho se sobressai do conjunto de normas previstas no nosso texto fundamental.

De início, pode-se constatar que no inciso IV do seu art. 1º, entre outros, o valor social do trabalho se apresenta como um dos fundamentos da República Federativa do Brasil; no art. 6° está consignado que o trabalho é um direito social; no art. 7°, I além de determinar o “direito à relação de emprego protegida contra despedida arbitrária e prevendo uma indenização compensatória, nos termos da lei”, haja vista que o trabalho é a principal fonte de sustento do trabalhador, constituindo-se o emprego, o lugar, o posto de trabalho fatores essenciais da ordem social; no inciso II há a previsão do “seguro desemprego, em caso de desemprego involuntário”, pois o desemprego pode levar o homem à pobreza e esta é um fator de desagregação do todo social. A extensa lista, relativa ao trabalho, prevista no artigo 7º deu força normativa constitucional há vários dispositivos que já estavam previstos em legislação infraconstitucional. Vilhena (1999, p. 101) entende que essas regras constitucionais, enquanto avançaram substancialmente, nesse tema, chegando a assumir postura de legislação originária, em dispositivos não programáticos ou principiológicos, admite que a técnica de imposição desses preceitos, quando há colisão é simplesmente substitutiva “através da qual a norma constitucional se coloca no lugar da lei ordinária que com ela atrite”.

No Título VII, capítulo I “Dos Princípios Gerais da Atividade Econômica” vamos encontrar no “caput” do art. 170 que a ordem econômica se assenta em dois pilares, quais sejam “a valorização do trabalho humano” e a “livre iniciativa”, havendo, pois o constituinte assegurado a todos uma existência digna, dentro do espírito da Justiça Social.E ao assegurar existência digna, entre outros, elege como princípio no seu inciso VI “a defesa do meio ambiente”. Assim é que o trabalho é reconhecido em dupla dimensão como um direito e um dever e não encarado como castigo.

No Título VIII, Capítulo I “Disposição Geral” “a ordem social tem como prioridade o trabalho”. Como as necessidades da vida humana têm que ser atendidas

para a preservação de sua própria existência e esse atendimento supõe a transformação da natureza pelo trabalho, o direito ao trabalho torna-se direito fundamental do cidadão.

O ser humano, desde os primórdios de sua existência, utiliza a natureza como instrumento de recursos inesgotáveis com o intuito de sobreviver, buscando subsídios nas diversas fontes naturais existentes no planeta, como: animais e vegetais servindo a carne dos primeiros como fonte de alimento e a pele para se aquecer; os vegetais, em princípio, também o alimentava e com a descoberta do fogo utilizou a madeira para se aquecer. Os minerais ajudaram-no na criação de certos utensílios domésticos e armas para a sua defesa. Mas, o homem primitivo fazia uso dos recursos naturais, somente com objetivo de atender suas necessidades de subsistência.

Mas, enquanto o homem utilizou os recursos naturais de modo parcimonioso, não houve preocupação com a sustentabilidade do meio ambiente, o que não se verificou “a posteriori”, pois, a partir do advento da Revolução Industrial, quando este fenômeno pelo modelo econômico e tecnológico que inaugurou, desencadeou a degradação ambiental o que tem se verificado até nossos dias.

Podemos observar que o ser humano, ao longo do tempo, obteve conquistas significativas como, por exemplo, o domínio de pragas e doenças, aumento da expectativa de vida, redução da mortalidade infantil, crescimento industrial, urbano e agrícola desenvolvimento de tecnologias nucleares e químicas, mas que levaram a impactos ambientais negativos locais, regionais e globais.

O homem, em cem anos, evoluiu de uma maneira espantosa, mas de forma desordenada, apropriando-se de recursos naturais, o que pode inviabilizar a vida no futuro.

Com isso, a humanidade encontra-se em um momento de definição histórica para estabelecer o modelo de desenvolvimento, já que da preservação dos diversos ecossistemas depende o nosso bem-estar.

Esse processo desagregador que vem comprometendo a própria sobrevivência da espécie humana propiciou uma reação, a princípio, sem qualquer preocupação normativa, entretanto, mais tarde, foi visto que algo de mais eficaz deveria ser feito e assim começou a tomar vulto uma nova modalidade de ramo jurídico inicialmente baseada no que vinha estabelecido na legislação civil, “muito embora o

legislador civil disciplinasse as relações potencialmente conflituais de vizinhança”23 com a denominação de “Direito Ambiental” ou de “Proteção ao Meio Ambiente”.

A Declaração de Estocolmo (Suécia, 1972) consagrou o reconhecimento internacional do meio ambiente ecologicamente equilibrado, posto que

[...] abriu caminhos para que as Constituições supervenientes reconhecessem o meio ambiente ecologicamente equilibrado como um direito fundamental entre os direitos sociais do homem, com suas características de direitos a serem realizados e direitos a não serem perturbados (SILVA, 1994, p. 43).

Nessa dimensão na década de 70 os sistemas constitucionais começaram, efetivamente, a reconhecer o ambiente como valor próprio da tutela maior. Note-se que o clamor por um direito fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado emerge, na sua origem, em fórmula estritamente antropocêntrica, como componente mais amplo da dignidade humana; só mais tarde, toma corpo uma concepção biocêntrica (integral ou mitigada), que gradativamente afasta-se de uma vinculação exclusiva aos interesses estritamente antropogênicos24. Foi assim com as novas constituições dos países que se libertavam de regimes ditatoriais, como, numa primeira leva, Grécia (1975)25,

23 Argumenta em seguida o Professor português a evolução e a mudança do Direito Ambiental: A partir

dos anos 60, a rápida industrialização, o aumento desordenado dos aglomerados urbanos, a alteração radical dos processos de exploração agrícola a ramificação das infra-estruturas de transporte, o gigantismo que atingiu o parque automóvel, tudo prosseguido numa perspectiva puramente economicista, puseram os homens, os Estados e a comunidade internacional perante a evidência de que os recursos naturais não são inesgotáveis, e que o desenvolvimento e o progresso dependem tanto de uma forte e moderna indústria como, por exemplo, da pureza da água e das margens dos rios para que, a fim de poupar nos custos de produção aquela lança de afluentes resíduos e detritos da sua laboração. É a conscientização do “ambiente” como valor a preservar, e, por isso, a defender que se foi derramando aos poucos, por toda a malha do tecido jurídico social, ao lado, por exemplo, dos interesses do consumidor e do patrimônio cultural (CANOTILHO, 1999, p. 10).

24 Cf. Karl-Heinz Ladeur. Environmental constitutional law. In Gerd Winter (editor), European

Environmental Law: A Comparative Perspective, Aldershot, Dartmouth, 1994, p. 18.

25 Trata-se do art. 24:

“1) A proteção do meio ambiente natural e cultural constitui uma obrigação do Estado. O Estado tomará medidas especiais, preventivas ou repressivas, com o fim de sua conservação. A lei regula as formas de proteção das florestas e espaços com arborizados em geral. Está proibida a modificação da afetação das florestas e espaços arborizados patrimoniais, salvo se sua exploração agrícola tiver prioridade do ponto de vista da economia nacional ou de qualquer outro uso de interesse público. 2) A gestão do território, a formação, o desenvolvimento, o urbanismo e a extensão das cidades e

regiões urbanizáveis são regulamentadas e controladas pelo Estado, com o fim de assegurar a funcionalidade e desenvolvimento das aglomerações humanas e as melhores condições de vida possível.

3) Os monumentos assim como os lugares históricos e seus componentes estão sob a proteção do Estado. A lei fixa as medidas restritivas da propriedade para assegurar esta proteção, assim como as modalidades e natureza da indenização dos proprietários prejudicados.”

Portugal (1976)26 , e Espanha (1978)27. Finalmente, após a ECO-92, outras Constituições foram promulgadas ou reformadas, incorporando, expressamente, o conceito de desenvolvimento sustentável28.

Em todas essas constituições, o meio ambiente perde o seu estado periférico, ingressando na órbita dos valores fundamentais dos pactos políticos nacionais, privilégio esse que outros bens sociais igualmente relevantes levaram décadas, quando não séculos, para atingir.

26 Estabelece o atual artigo 66 (“Ambiente e Qualidade de Vida”) da Constituição portuguesa:

“1 – Todos têm direito a um ambiente de vida humano, sadio e ecologicamente equilibrado e o dever de o defender.

2 – Incumbe ao Estado, por meio de organismos próprios e por apelo e apoio a iniciativas populares: a) Prevenir e controlar a poluição e os seus efeitos e as formas prejudiciais de erosão;

b) Ordenar e promover o ordenameto do território, tendo em vista uma correcta localização das actividades, um equilibrado desenvolvimento sócio-econômico e paisagens biologicamente equilibradas;

c) Criar e desenvolver reservas e parques naturais e de recreio, bem como classificar e proteger paisagens e sítios, de modo a garantir a conservação da natureza e a preservação de valores culturais de interesse histórico ou artístico;

d) Promover o aproveitamento racional dos recursos naturais, salvaguardando a sua capacidade de remoção e a estabilidade ecológica.”

27A Constituição espanhola inspirou-se, genericamente, na Declaração de Estocolmo e, de modo mais

imediato, na Constituição portuguesa de 1976. Cf., nesse ponto, Ramón Martín Mateo, Tratado de

Derecho Ambiental, vol. I, Madrid, Editorial Trivium, 1991, p. 107.

É o art. 45:

“1) Todos tienen el derecho a disfrutar de un medio ambiente adecuado para el desarrollo de la persona, así como el deber de conservalo.

2) Los poderes públicos velarán por la utilización racional de todos los recursos naturales, con el fin de proteger y mejorar la calidad de vida y defender y restaurar el medio ambiente, apoyándose en la inexcusable solidariedad colectiva.

3) Para quienes violen lo dispuesto en el apartado anterior, en los términos que la ley fije se establecerán sanciones penales o, en su caso, administrativas, así como la obligación de reparar el daño causado.”

28 Cf., p. ex., a Constituição argentina de 1994, na qual observa-se, claramente, a influência da definição

de desenvolvimento sustentável de “Nosso Futuro Comum” (“as actividades productivas satisfagan las necesidades presentes sin comprometer las de las generaciones futuras”):

"Artículo 41 - Todos los habitantes gozan del derecho a un ambiente sano, equilibrado, apto para el desarrollo humano y para que las actividades productivas satisfagan las necesidades presentes sin comprometer las de las generaciones futuras; y tienen el deber de preservarlo. El daño ambiental generará prioritariamente la obligación de recomponer, según lo establezca la ley.

Las autoridades proveerán a la protección de este derecho, a la utilización racional de los recursos naturales, a la preservación del patrimonio natural y cultural y de la diversidad biológica, y a la información y educación ambientales.

Corresponde a la Nación dictar las normas que contengan los pressupuestos mínimos de protección, y a las provincias las necesarias para complementarlas, sin que aquéllas alteren las jurisdicciones locales.

Se prohibe el ingreso al territorio nacional de residuos actual o potencialmente peligrosos y de los radiactivos."

Após 20 anos da Declaração de Estocolmo, seguiu-se a Declaração do Rio de Janeiro (Eco 1992) que ratificou e acrescentou princípios àqueles já estabelecidos destacando-se o homem como parte integrante do meio ambiente.

A disciplina jurídica das questões ambientais no Brasil, em termos de evolução, foi inaugurada ainda no Império com a Lei de outubro de 1828. Mas é de se acrescentar que, antes mesmo do movimento de constitucionalização da proteção do ambiente, a inexistência de previsão constitucional inequívoca não inibiu o nosso legislador de promulgar leis e regulamentos que, de uma forma ou de outra, resguardavam os processos ecológicos e combatiam a poluição.

No período republicano, contudo, é mais intensa a regulamentação dos problemas ambientais, sempre no domínio normativo da legislação ordinária29, até pelos menos 1988, quando a nova Constituição confere “status” de matéria fundamental ao meio ambiente. Antes da Constituição de 1988, já se nos deparavam três instrumentos normativos que visavam à tutela protetiva do meio ambiente. A primeira manifestação legislativa de proteção autônoma do meio ambiente veio com a edição do Decreto-Lei n. 1.413, de 14/08/75, que dispunha sobre o controle da poluição do meio ambiente provocada por atividades industriais; a segunda foi a edição da Lei n. 6.938/81, sobre Política Nacional do Meio Ambiente a qual consagrou a regra da responsabilidade objetiva para qualquer dano ambiental; a terceira norma incorporada ao nosso ordenamento jurídico foi a Lei n. 7.347/85 instituindo a “Ação Civil Pública” como instrumento processual legítimo na defesa dos interesses difusos e coletivos.

Horta (1995, p. 305) observa que esses primeiros modelos disciplinadores ambientais caracterizavam-se como incidentais, posto que o meio ambiente não se constituía objeto principal das normas reguladoras, as quais tratavam, por exemplo, de promover a segurança nacional das águas ou do solo, referindo de passagem aspectos da realidade ambiental.

A Constituição de 1988, ainda em período marcado pela influência direta da Declaração de Estocolmo de 1972, pela primeira vez no Brasil, insere o tema "meio ambiente" em sua concepção unitária. Ela garante o direito de todos ao meio ambiente

29 O Código Florestal (1965), a Lei de Proteção à Fauna (1967) e a Lei da Política Nacional do Meio

Ambiental, todas extremamente avançadas, foram editadas em período anterior à Constituição Federal de 1988.

ecologicamente equilibrado e essencial à qualidade de vida. Além disso, conceitua o meio ambiente como "bem de uso comum do povo" o que significa lhe ter sido atribuído o regime jurídico de um bem que pertence à coletividade, como agrupamento natural não dotado de personalidade jurídica. O meio ambiente pertence, indivisivelmente, a todos os indivíduos da coletividade e não integra, assim, o patrimônio disponível do Estado. E, dessa forma, não pode ser apropriado: é bem jurídico sempre indisponível e insuscetível de apropriação individual e exclusiva.

Assim, o texto constitucional brasileiro dispõe, em seu art. 225, que:

Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Representam uma nova lógica que vai além das fronteiras territoriais ou temporais, pois alcançam não só toda a humanidade hoje vivente, bem como as futuras gerações. Neste rol de direitos, estão os direitos ao patrimônio, ao desenvolvimento, à paz, à livre comunicação e ao meio ambiente ecologicamente equilibrado (BONAVIDES, 2000, p. 522-523).

Fica claro, pois que, embora o meio ambiente ecologicamente equilibrado se constitua como direito fundamental e, apesar de possuirmos no Brasil uma legislação extensa e adequada, compondo-se por reação a uma onda ou movimento de interesses sociais relevantes, ou influentes, premida não raro por pressões de opinião pública e por valorização político-eleitoral das questões ambientais, isso por si só não foi capaz de estabelecer uma proteção efetiva no equacionamento da prevenção dos riscos e conflitos do nosso tempo. Aliás, o que agora se afirma foi observado por Wolf (1997) que acentua o caráter simbólico do direito ambiental servindo apenas como uma retórica falsa e sofisticada e não foi capaz de frear a degradação ambiental. Acrescentamos, também, não existir no Brasil uma consciência ecológica bem amadurecida seja por motivo de incipiente política educacional no campo ambiental, seja porque de um modo geral o sistema social brasileiro tem-se mostrado defasado, não obstante o ufanismo tão freqüente em proclamar o regime nativo de proteção ambiental como um dos mais lúcidos do mundo.

Os mais recentes modelos constitucionais elevam a tutela ambiental ao nível não de um direito qualquer, mas de um direito fundamental, em pé de igualdade com outros também previstos no quadro da Constituição, entre os quais se destaca o direito de propriedade privada.

Assim configurada, a proteção ambiental deixa, definitivamente, de ser um interesse menor ou acidental no ordenamento, afastando-se dos tempos em que, quando muito, era objeto de intermináveis discussões científicas ou poéticas. Aqui, o meio ambiente é alçado ao patamar máximo do ordenamento, privilégio que outros valores sociais relevantes só depois de décadas ou mesmo séculos lograram conquistar. E tratando-se de direito fundamental, a norma que dele cuida tem aplicabilidade imediata30.

Diz Silva (1994) que de relevante efeito prático, a caracterização do meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito fundamental traz consigo três qualidades consideradas inerentes a tal tipologia: a irrenunciabilidade, a inalienabilidade e a imprescritibilidade. Irrenunciabilidade conquanto, embora tal direito conviva com a omissão de exercício (a passividade corriqueira da vítima ambiental), não aceita renúncia apriorística; inalienabilidade na medida em que, por ser de exercício próprio, é intransferível, inegociável, pois possui titularidade pulverizada e personalíssima, incapaz de apropriação individual; finalmente, imprescritível, já que têm perfil intertemporal, consagrando entre seus beneficiários inclusive os incapazes de exercitarem seus direitos diretamente e até as gerações futuras.