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A Sensibilização à Diversidade Linguística e Cultural

CAPÍTULO I A Importância da Línguas Estrangeiras nos Sistemas Educativos

6. A Competência Plurilingue e Pluricultural – objectivo educativo indispensável

7.1. A Sensibilização à Diversidade Linguística e Cultural

Sabemos que a escola desempenha um importante papel no primeiro contacto com as LEs. No entanto, não existe obrigatoriedade de efectuar esse contacto através da aprendizagem sistemática de um ou outra LE. Tal como afirma Michel Candelier:

Les langues sont diverses, et il existe une autre option, encore largement méconnue, dont on a pu montrer récemment les effets positifs. Selon cette autre voie, que exige des investissements limités, il s’agit de se saisir de la diversité des langues pour en tirer divers bénéfices éducatifs, au sens le plus riche du terme. Les langues deviennent une porte sur la diversité de l’humain, mais aussi la porte de compétences essentielles, que l’on place aujourd’hui, à juste titre, au cœur des missions de l’école primaire (2001: 1).

Existe então uma outra forma de efectuar um primeiro contacto com as línguas estrangeiras nos primeiros anos de escolaridade que poderá trazer consigo alguns benefícios educativos, através de uma abordagem ao plurilinguismo e à diversidade de línguas e culturas. Nas palavras de Michel Candelier esta abordagem não só é possível como é também bastante vantajosa,

en tant que tels, dans leur globalité, en présentant aux enfants plusieurs langues, qu’il s’agisse des langues étrangères, de langues de migrants, de langues régionales, de langues anciennes ou de variétés dialectales de la langue nationale (1995: 21).

Segundo o autor, um simples confronto com a diversidade linguística pode, sem dúvida, favorecer nos jovens aprendentes a abertura de espírito à diferença e ao respeito que ela merece. Este contacto com outras línguas e culturas é denominado de sensibilização à diversidade linguística e cultural.

Tal como a própria expressão anuncia, a sensibilização à diversidade linguística e cultural numa primeira análise, será uma abordagem à diversidade linguística, não através do ensino centrado numa só língua mas, através de uma trajecto linguístico e cultural diversificado que desperte no aluno uma consciência linguística e cultural positiva em relação a todas as manifestações linguísticas e culturais.

Este tipo de abordagem é também referenciada por alguns autores enquanto l’éveil aux langues, awake to languages e ainda languages awareness.

Candelier descreve este tipo de abordagem da seguinte forma: L’éveil aux langues donne lieu à des activités variées, adaptées à l’âge des enfants: écoute et répétition de comptines, de chansons, de contes, de formules de la vie courante, moments ludiques, moments réflexifs. C’est un travail interdisciplinaire (2001: 3).

Segundo o mesmo autor l’éveil aux langues tem as suas bases nas propostas do movimento de language awareness desenvolvido na Grã-Bretanha nos anos 80 por Eric Hawkins e outros investigadores e professores (cf. Candelier, 2005: 418).

Valorizando todos os modos de dizer, um dos principais objectivos de uma sensibilização à diversidade linguística e cultural consiste em abrir caminho para a aceitação da alteridade através de um contacto com várias línguas e culturas.

Este contacto vai além do simples ensino de uma língua em particular, the awakening to languages takes us away from the area of teaching/learning a particular language and leads us firmly into the area of general language education (Candelier, 2004: 19).

uma disponibilização para as línguas, por uma sensibilização e uma consciencialização de aspectos linguísticos tanto da LM como de outras línguas, num processo de uma descoberta da pluralidade das línguas e culturas e de aprendizagem do respeito pela diversidade das línguas dos outros (cf. Beacco & Byram, 2003: 44; Conselho da Europa, 2001: 235).

Esta abordagem enfatiza ainda a consciência linguística como uma capacidade indispensável à aprendizagem de LEs. Esta consciência linguística pode assumir diferentes formas enquanto a melhor maneira de preparar os alunos para uma sociedade multilingue (cf. Strecht-Ribeiro, 1998: 113).

Este contacto com as línguas nos primeiros anos de escolaridade deverá ser entendido como um processo introdutório, relativamente ao mundo das línguas e culturas e ser avaliado não quantitativamente mas sim pelo interesse e desempenho que a criança demonstra ao longo das actividades desenvolvidas.

Todas as finalidades de sensibilização à diversidade linguística e cultural vão ao encontro da uma das funções principais da escola e de todo o Sistema Educativo, a função de preparar os alunos no sentido de os tornar cidadãos lúcidos e activos, capazes de dominar o progresso técnico, de dar sentido à vida individual e colectiva, de respeitar o equilíbrio ecológico do planeta, de reduzir a violência, de desenvolver a tolerância, em suma, de forjar um verdadeiro projecto de sociedade (Michel, 1999: 90).

Deste modo, quando falamos da sensibilização à diversidade linguística e cultural nos primeiros anos de escolaridade, não nos referimos, portanto, ao ensino de uma língua estrangeira propriamente dito. O que se pretende com esta sensibilização é que as crianças tenham contacto com diferentes línguas, que conheçam outras culturas, que as respeitem e não as desvalorizem em relação à sua ou em relação a uma outra em particular.

Os objectivos de uma sensibilização às linguas e culturas estrangeiras, segundo um exemplo Kuperberb: evokes the idea of simple contact through activities which are primarily based on games and serve little or no purpose in the sense that only general objectives are assigned to them, such as generating interest, familiarising children with pictures of a foreign country, only hearing language in the form of songs, nursery rhymes and so on (in Tost Planet, 1997: 18).

Perante o que expusemos, a sensibilização à diversidade deve ser feita nos primeiros anos de escolaridade através do desenvolvimento de estratégias/actividades que despertem nos aprendentes atitudes positivas face ao plurilinguismo e ao multiculturalismo. Não podemos no entanto deixar de referir que esta sensibilização poderá iniciar-se em qualquer altura noutros anos de escolaridade ou mesmo continuar a ser abordada ao longo do percurso escolar.

Evidentemente, esta educação linguística passa por prestar uma grande atenção ao corpo, aos gestos, aos ritmos, em ligação com música, com o canto, com a expressão plástica, recorrendo-se à visualização de extractos de televisão ou à audição de discos de diferentes países. A criança, desde muito nova, vai, assim, desenvolvendo uma competência plurilingue e pluricultural (cf. Conselho da Europa, 2001; Ferrão Tavares, 1999; Strecht-Ribeiro, 1998).

A sensibilização à diversidade linguística e cultural constitui, nos nossos dias, um poderoso instrumento para a integração dos indivíduos numa sociedade que se apresenta cada vez mais diversificada. Tal facto faz da escola um importantíssimo agente de socialização dos aprendentes, no sentido de os preparar para um contacto permanente entre culturas diversas.

Desta forma, e na nossa opinião, a iniciação aos modos de vida, às sensibilidades e às crenças de um povo e da sua língua, deverá ser feita antes da aprendizagem de qualquer língua estrangeira e desta forma fixar objectivos culturais logo desde o início da vida da criança e não somente na idade adulta (Hagège 1996:72; cf. também Conselho da Europa, 2001; Ferrão Tavares, 1999; Strecht-Ribeiro, 1998).

Por tudo que acabámos de expor, concluímos que o trabalho de sensibilização à diversidade linguística e cultural nos primeiros anos de escolaridade, tem como objectivos principais:

- consciencializar o aprendente da diversidade linguística e cultural das nossas sociedades;

- desenvolver uma “cultura linguística” sobre as línguas do mundo, a partir do contacto com enunciados em diferentes línguas;

- despertar a curiosidade, o gosto, o espírito de abertura e o interesse relativamente às outras línguas e culturas;

- desenvolver competências variadas que proporcionem uma reflexão sobre a linguagem, a língua e a cultura do Outro (Candelier, 2004).

Podemos então afirmar que, partindo do princípio que muitas crianças não têm consciência da diversidade linguística e cultural do mundo que as rodeia, acreditamos que, antes de se iniciar um processo de ensino-aprendizagem de línguas propriamente dito, será indispensável passar por uma fase de “ensino indirecto das línguas”, ou seja, uma fase de sensibilização à diversidade linguística e cultural.