• Nenhum resultado encontrado

O Plurilinguismo e as Políticas Linguísticas Educativas Europeias

CAPÍTULO I A Importância da Línguas Estrangeiras nos Sistemas Educativos

5. O Plurilinguismo e as Políticas Linguísticas Educativas Europeias

O plurilinguismo está no centro das novas ideologias linguísticas, estando directamente articulado com a necessidade de protecção legal dos grupos minoritários, a preservação da herança linguística europeia, o desenvolvimento das competências linguísticas dos indivíduos e o desenvolvimento de um sentimento de identidade europeia num contexto de cidadania democrática. Este sentimento de cidadania democrática está intimamente relacionado com o conhecimento do mundo actual e com o saber aceitar positivamente as diferenças e a diversidade (cf. Beacco & Byram, 2003: 30). Esta nova identidade europeia passa sem dúvida por uma evolução do conceito de bilinguismo para o conceito de plurilinguismo. Como verificamos pelas palavras do Conselho da Europa,

plurilingualism provides the necessary conditions for mobility within Europe for leisure and work purposes, but is above all crucial for social and political inclusion of all Europeans whatever their linguistic competences, and for the creation of a sense of European identity. Language education policies in Europe should therefore enable individuals to be plurilingual either by maintaining and developing their existing

plurilingualism or by helping them to develop from monolingualism (or bilingualism) into plurilingualism (Conselho da Europa, 2003: 9).

Uma das primeiras vezes que o plurilinguismo aparece referenciado enquanto forma de educação linguística é num projecto iniciado em 1995, quando os estados pertencentes ao Conselho da Europa, através do Framework Convention for the Protection of National Minorities 1995 (European Treaties Séries no.157), concordaram em: começar a promover as condições necessárias para que as pessoas pertencentes a minorias nacionais mantenham e desenvolvam a sua cultura, assim como preservar os elementos essenciais da sua identidade, nomeadamente, religião, língua, tradições e herança cultural (section II, article 5).

No decorrer do projecto foram elaboradas Resoluções e Recomendações mais específicas para o ensino de línguas das quais salientamos a Recomendação No R (98) 6 do Comissão de Ministros dos estados membros, proveniente do projecto implementado pela Comissão da Educação entre 1989 e 1996 Language Learning for European Citizenship. Neste projecto as medidas a serem implementadas relativamente ao ensino e aprendizagem de línguas modernas incluíam particularmente: Promote widespread plurilingualism (…) by diversifying the languages on offer and setting objectives appropriate to each language (cf. Beacco & Byram, 2003: 30).

Há muito pensado, o plurilinguismo surge como ponto central no mais recente documento proveniente do Conselho da Europa em matéria de línguas Guide for the Development of Language Education, Policies in Europe: From Linguistic Diversity to Plurilingual Education. Este Guia permite explicar as políticas educativas que o Conselho da Europa se propõe promover, surgindo o plurilinguismo como o princípio fundador dessa política. Propõe-se ainda ser an instrument for developing a common approach to language education policy (cf. Beacco & Byram, 2003), onde o objectivo é oferecer uma ferramenta analítica que poderá servir como referência na formulação e reorganização do ensino de línguas dos Estados-Membros e das políticas linguísticas europeias.

Um dos princípios centrais deste documento apoia-se no facto de que as políticas linguísticas se deverão basear no plurilinguismo enquanto valor e competência. Valor

plurilinguismo poderá conduzir a um igual valor de todas as línguas, da sua e das dos outros. E uma competência plurilingue, enquanto capacidade de utilizar várias línguas, mesmo em diferentes graus de competência e em diferentes situações (cf. ibid., 2003: 7).

Neste documento, o plurilinguismo, enquanto princípio central, é justificado por razões que abrangem os direitos linguísticos da humanidade, o exercício da cidadania, a inclusão social e ainda a evolução de uma identidade europeia: a) language rights are part of human right. Segundo o mesmo documento, as políticas educativas deveriam facilitar a diversidade linguística europeia e reconhecer os direitos das línguas a todos; b) the exercise of democracy and social inclusion depends on language education policy. A capacidade e a oportunidade de utilizar o reportório linguístico são cruciais para a participação nos processos democráticos e sociais e, consequentemente, para políticas de inclusão social; c) individual plurilingualism is a significant influence on the evolution of European identity. O sentimento de pertencer a esta Europa e a aceitação de uma identidade europeia está dependente da capacidade de interagir e comunicar com outros europeus recorrendo a um reportório linguístico total.

Subscrevemos a expressão de Beacco & Byram quando utilizam a expressão “All languages for all” como sendo a expressão perfeita para um projecto educacional e a identificação de um valor consensual viável, educando para o plurilinguismo como forma de desenvolver e valorizar os reportórios linguísticos dos outros, educando para a consciência plurilingue como educação para a tolerância linguística (cf. Beacco & Byram, 2003: 28)

Na nossa perspectiva, o plurilinguismo é o despertar para a diversidade linguística, através do respeito por outras línguas, passando pela sua aceitação e posterior utilização. O plurilinguismo é a aceitação e o reconhecimento da necessidade de um falante fundamentalmente plural, um valor que se baseia na tolerância linguística, elemento essencial para uma educação intercultural numa Europa renovada.

Este conceito ultrapassa o conceito de bilinguismo, meta desejada na primeira etapa do ensino de LEs, na medida em que se reconhece o valor de todas as línguas e não somente um ou outra em especial. E também porque não existe a preocupação de se atingir uma proficiência linguística, semelhante à de um locutor nativo.

O Conselho da Europa, perante este novo cenário linguístico, ultrapassando o conceito de bilinguismo como meta a alcançar numa primeira etapa, onde o objectivo relativamente ao ensino de LEs ultrapassa o ensino de uma só língua estrangeira, tem conferido nos últimos anos uma grande importância ao conceito de plurilinguismo na abordagem da aprendizagem de línguas. Desta forma, o Conselho salienta o facto de que à medida que a experiência pessoal de um indivíduo no seu contexto cultural se desenvolve, da língua falada em casa para a sociedade em geral e, depois, para as línguas de outros povos (aprendidas na escola, na universidade ou por experiência directa), essas línguas e culturas não ficam armazenadas em compartimentos mentais rigorosamente separados; pelo contrário, constrói-se uma competência comunicativa, para qual contribuem todo o conhecimento e toda a experiência das línguas e na qual as línguas se inter-relacionam e interagem (Conselho da Europa, 2001: 23).

Desta forma, pressupõe-se que os interlocutores plurilingues podem saltar de uma língua para a outra não sendo necessário serem profundos conhecedores de todas elas. Desta forma, os indivíduos plurilingues terão a competência de estabelecer um certo grau de comunicação se recorrerem aos seus instrumentos linguísticos, experimentando e explorando as formas para-linguísticas (a mímica, os gestos, as expressões faciais, etc.) e todo o seu reportório anterior.

Na nossa óptica, o plurilinguismo é a forma de educação linguística que mais se adequa às novas realidades europeias, ou seja, que se identifica com a nova etapa do ensino de LEs ao abranger o reconhecimento e a importância de todas as línguas e culturas, através da preservação e aceitação da diversidade linguística e cultural. Desta forma, o plurilinguismo tem uma grande influência na construção de uma nova identidade europeia.

O objectivo desta educação linguística é o desenvolvimento de uma competência plurilingue, enquanto capacidade de utilizar várias línguas, mesmo em diferentes graus de competência, e em diferentes situações (cf. Beacco & Byram, 2003: 7).

No entanto, num contexto onde a língua não é apenas um aspecto fundamental da cultura, antes sim um meio de acesso a manifestações culturais, o plurilinguismo tem de ser visto também no contexto do pluriculturalismo (cf. Conselho da Europa, 2001: 25).

respeito perante o que é diferente, assumindo a competência plurilingue também uma significação pluricultural.

O conhecimento, a consciência e a compreensão da relação (semelhanças e diferenças distintivas) entre o mundo de onde se vem e o mundo da comunidade-alvo, através da sua língua e cultura, produzem uma tomada de consciência intercultural. O desenvolvimento de uma competência cultural no indivíduo, ou seja, as várias culturas (nacional, regional, social) às quais esse indivíduo teve acesso não co-existem simplesmente lado a lado, são comparadas, contrastam e interagem activamente para produzir uma competência pluricultural enriquecida e integrada (cf. Conselho da Europa, 2001: 150). Assim, a competência plurilingue surge intimamente ligada à competência pluricultural, caminhando lado a lado, como una. Desta forma consideramos a competência plurilingue e pluricultural como uma só. Vejamos um pouco melhor o que significa.

6. A Competência Plurilingue e Pluricultural - objectivo educativo indispensável