• Nenhum resultado encontrado

As Línguas Estrangeiras nos Primeiros Anos de Escolaridade

CAPÍTULO I A Importância da Línguas Estrangeiras nos Sistemas Educativos

3. As Línguas Estrangeiras nos Primeiros Anos de Escolaridade

Ao invés de se acreditar que a aprendizagem de LEs nos primeiros anos de escolaridade interfere na aprendizagem da Língua Materna (LM), reconhece-se actualmente que esta aprendizagem quanto mais cedo se realizar, mais vantajosa se poderá tornar.

No entanto, quando nos questionamos sobre a idade ideal para iniciar o contacto com as LEs, deparamo-nos com um factor comum a vários autores: a idade em que a criança desenvolve a linguagem e que é a mais propícia para contactar com as LEs, é a idade compreendida entre os três e os dez anos (cf. Bijeljac-Babic & Gaonac’h, 1993; Fróis, 1993; Dalgalian, 2000; Doyé & Hurrell, 1997; Garabédian, 1996; Strecht-Ribeiro, 1998).

Estudos realizados demonstram que existem vantagens na aprendizagem de línguas pelas crianças e que essa aquisição é mais favorável por volta dos sete anos de idade (cf. Bijeljac-Babic & Gaonac’h, 1993) e que depois dessa idade a eficácia da aprendizagem diminui com o começo da puberdade.

Relativamente à idade da aquisição da linguagem, Dalgalian escreve:

La clé, c’est l’acquisition d’une deuxième langue vivante avant sept ans, âge approximatif, parce qu’apprendre une langue avant ou après cet âge ne relève pas du même processus. Acquisition naturelle avant sept ans. Apprentissage volontaire et organisé après cet âge : et ce, de plus en plus, au fur et à mesure que l’on avance vers l’âge adulte (2000: 25).

Esta primeira aprendizagem difere das ulteriores uma vez que, depois da idade da linguagem, torna-se mais difícil a aprendizagem de línguas e é precisamente nesta idade que se aprende uma ou mais línguas.

que referimos de seguida, que convém aproveitar e explorar (cf. Bijeljac-Babic & Gaonac’h, 1993: 53).

Seguindo esta ideia, analisámos algumas justificações que confirmassem as razões referidas para o contacto da criança com as LEs durante o tempo que compreende a faixa etária apontada e reconhecemos algumas que contribuem para o desenvolvimento global da criança por diferentes razões que distinguimos em razões de ordem biológica e psicológica, linguísticas e socioculturais.

Relativamente às razões de ordem biológica e psicológica, defende-se que, quanto mais cedo a criança tiver contacto com LEs, melhor se torna o ritmo de assimilação da(s) língua(s) alvo pois, tal como já referimos, a linguagem desenvolve-se com mais eficácia durante a infância (cf. Garabédian, 1996; Schütz, 2003).

Arnold Gesell foi um dos primeiros psicólogos a justificar a introdução de LEs nos currículos escolares:

The young child below the age of 10 enjoys language experience. He is ready to learn, to listen, to communicate by word of mouth, in playful and dramatic situations. With favourable motivations he is emotionally amenable to a second and even a third language (1956, in Doyé & Hurrell, 1997: 9).

Outro forte argumento reside no facto do cérebro da criança, antes dos nove anos de idade, recuperar completamente em caso de acidente. Isto para justificar que a flexibilidade cerebral da criança, nessa idade, é fundamental devendo ser explorada na aprendizagem de segundas línguas, for the purpose of language learning the human brain becomes progressively stiff and rigid after the age of nine… Before the age of nine (…) a child is a specialist in learning to speak (Penfield & Roberts, 1959, in Doyé & Hurrell, 1997: 10).

Cohen (1991) aponta para a flexibilidade do aparelho fonador e para a flexibilidade de espírito que as crianças apresentam com estas idades e que se vai perdendo ao longo da vida, defendendo que quanto mais cedo se desenvolverem tais aprendizagens, melhor e maior é a sua captação.

Relativamente ao desenvolvimento biológico e psicológico da criança, resumem-se as seguintes vantagens que justificam o contacto das LEs o mais cedo possível: (1) apresentam uma maior flexibilidade cerebral e fonética; (2) as crianças são mais receptivas

crianças, tanto na realização de tarefas, como perante o erro; (4) envolvem-se facilmente nas tarefas e procuram superar obstáculos na língua-alvo (cf. Dias & Mourão, 2005; Garabédian, 1996).

Quanto às razões linguísticas que justificam o contacto da criança com LEs, nos primeiros anos de escolaridade, verificamos que é, nesta fase da vida, que as crianças têm enormes potencialidades linguísticas. Cohen (1991), depois de algumas experiências realizadas no âmbito do ensino de LEs, concluiu que as crianças são capazes de captar as outras línguas como a sua língua materna, vendo-as como um jogo, tendo facilidade em captar sonoridades diferentes e pronunciar correctamente palavras que lhes são desconhecidas pois possuem, como já dissemos, um aparelho fonador bastante maleável. Possuem ainda capacidades de imitação e de manipulação de estruturas linguísticas que facilitam o contacto com as outras línguas, as quais deverão ser exploradas ao máximo tirando, assim, partido destas vantagens naturais (cf. Bijeljac-Babic & Gaonac’h, 1993; Cohen, 1991).

Ao explorar estas vantagens naturais a criança irá de alguma forma educar o ouvido e a capacidade articulatória em relação a novos sons, entoações e ritmos. Podemos então verificar que, relativamente às razões linguísticas, o contacto com uma ou mais LEs ajuda não só a consolidar conceitos básicos da língua materna como também a consciencializar estruturas em outras línguas e ainda a inferir regras de funcionamento verbal (cf. Dias & Mourão, 2005).

Relativamente às razões socioculturais nelas englobamos as capacidades que a criança dispõe de aceitar facilmente o que é diferente sem estereótipos nem preconceitos culturais e/ou sociais. Como afirma McLaughlin:

It's argued that children's ability to see the world from someone else's point of view is greater when they are younger - before prejudices have become deep-rooted. It is a good time to broaden their horizons and develop awareness of their own and other cultures and languages - to dispel myths and stereotypes, and bring children into direct contact with speakers of other languages (1992: 1).

e de comunicação, assim como aumentar a sua auto-estima (cf. Dias & Mourão, 2005; Garabédian, 1996).

A aprendizagem ou o contacto com outras línguas nos primeiros anos de escolaridade facilita a aprendizagem posterior de outras línguas, tal como afirma Trim, the introduction of a first foreign language at an early stage may facilitate the introduction of a second foreign language at later stage in the course (Trim, 1995: 39, in Doyé & Hurrell 1997: 12,13), contribuindo também para o desenvolvimento de atitudes positivas face aos outros e suas culturas, ou seja face à alteridade (cf. Doyé & Hurrell, 1997; Fróis, 1993; Kervran 2005; McLaughlin, 1992). Desta forma o confronto com a diferença terá lugar numa fase em que ainda não existe lugar para os estereótipos culturais e sociais.

Perante as vantagens descritas, verificamos que o contacto com as LEs auxilia o desenvolvimento global da criança, ao incidir sobre atitudes pessoais e sociais, motivando- a para aceitar naturalmente o que a rodeia de uma forma divertida e espontânea,

foreign language learning enhances the child’s ability to communicate, to listen and react. He becomes more self-confident through development of personal and social skills. Through learning a foreign language he gains an awareness of his mother tongue. Furthermore he is able to distinguish different sounds, rhythms and cadences. The child becomes highly motivated to discover the wider world around him. Foreign language learning and teaching can also be understood as fun and laughter therapy (Hurrell, 1995: 72, in Komorowska, 1997: 51).

Por tudo o que dissemos, defendemos que o contacto com as LEs se deverá iniciar na escola, nos primeiros anos de escolaridade. Encontrámos nas palavras de um dos protagonistas da educação em línguas, H. H. Stern, uma perspectiva global que vai ao encontro deste argumento,

the acquisition of a foreign language must become part of the basic literacy of the child on a par with reading and writing. It is argued that the traditional point of view of primary education as vernacular education is unrealistic, because even by a narrow definition of bilingualism at least half of the world’s population is bilingual: and in case everyone lives in a world in which many different languages are spoken and therefore it is

to reflect the realities with which we have to live, other languages and other cultures should impinge on children from the earliest stage of formal education (1969: 26).