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5 A SEXUALIDADE NA ADOLESCÊNCIA

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 44-46)

Com a chegada da puberdade, como já vimos anteriormente, todo o organismo é invadido pela força das transformações biológicas e tomado por impulsos sexuais determinando o início do processo da adolescência.

A sexualidade faz parte do conjunto de transformações que caracterizam este período de vida, transformações essas que resultam do desenvolvimento sexual e que visam o desenvolvimento da sexualidade.

O adolescente, ao ser tomado por este turbilhão de transformações passa a sentir-se estranho, não consegue compreender o que se está a passar consigo. Por outro lado os impulsos sexuais até então desconhecidos chegam à sua percepção, crescem os desejos e as fantasias, sem que os jovens sejam capazes de os concretizar.

Freud, referiu-se à adolescência como um período da genitalidade, no qual a libido, que há alguns anos se mantinha latente, é revivida. Ao nível tanto da realidade concreta, como do imaginário e simbólico, destaca-se a problemática do corpo. O adolescente confrontado com as transformações biológicas tem dificuldade em as integrar .

Na fase da adolescência desenvolvem-se distintos períodos, mediatizados pelas transformações corporais e psíquicas. Observa-se um crescimento desarmonioso entre as diversas partes do corpo, de que resulta uma discrepância entre a realidade externa física e especialmente no que se relaciona com as transformações ao nível dos caracteres sexuais, e a realidade interna psíquica. A rapidez do crescimento biológico não é acompanhada pela lentidão do crescimento psicológico.

A primeira fase, marcada pelas bruscas mudanças pubertárias, é uma fase de adaptação a um corpo que muda todos os dias e em que, sob o ponto de vista erótico, o corpo assume uma dimensão narcísica (é olhado, inspeccionado), é um modo de expressão simbólica dos conflitos e modos de relação ( identidade sexual, de grupo), e é um marco para a construção da identidade.

Assim, os jovens vivem o início da adolescência num estado de certa confusão e incoerência, entre o que lhe era conhecido e familiar, por ocasião da adolescência, e as transformações pelas quais está a passar.

Neste período brota uma sexualidade genital caracterizada pelo auto-erotismo Segundo Levisky (1995), neste período, os impulsos e emoções sexuais ocorrem principalmente ao nível das fantasias e devaneios. O jovem, nesta fase, está muito voltado para si e para o seu próprio corpo. A masturbação é, na opinião de Ajuriguerra (1977), Clães (1985), Moradela (1992), e López e Fuertes (1998), um comportamento sexual frequente neste período. Nesta fase da vida o erotismo continua ainda auto - concentrado e, a maior parte das vezes, incapaz de integrar as relações afectivas que os adolescentes estabelecem. Os grupos de amigos continuam a ser unissexuais. Com o sexo oposto

cultivam uma relação ambivalente de provocação e de distanciamento^ Felix e Marques

1995:40).

Frade e col.(1992), assinalam que neste período existem "brincadeiras" entre jovens do mesmo sexo, nomeadamente os jogos masculinos e femininos de comparação do corpo. Além destes jogos entre os grupos unissexuais, os autores referem que os rapazes vivem solitariamente, ou em grupo, jogos sexuais que estão voltados mais para a descoberta do próprio corpo, das sensações e prazeres que este lhe proporciona. São comuns as competições em relação ao tamanho do pénis, a distância de alcance do fluxo urinário como expressão de força e poder.

Para Frade e Col.(1992) alguns pré adolescentes podem envolver-se em relações sexuais com penetração, embora nesta fase de desenvolvimento seja pouco frequente.

Num segundo período, o distanciamento em relação ao sexo oposto é gradualmente substituído pela aproximação, os grupos tendem a ser partilhados pelos dois sexos e não apenas por um, embora, paralelamente a estes grupos de coexistência sexual, sejam mantidos os grupos unissexuais anteriores

Na opinião de Felix e Marques (1995), é frequente, também, nesta fase da adolescência, ocorrerem as primeiras experiências de relações sexuais com penetração. Contudo, na maior parte das vezes, estas têm ainda um caracter esporádico e sem compromisso.

No término da adolescência, com o processo de maturação fisiológica concluído, os jovens, já portadores de um corpo e de uma identidade praticamente adulta, a vivência sexual dos adolescentes passa a assumir muitos traços da adulta. Estabelecem-se relações amorosas duradouras, alguns casam ou coabitam, completando, assim, o seu processo de autonomia face à família de origem.

Neste período da adolescência, a maioria dos rapazes e mais de metade das raparigas afirmam, em estudos efectuados por Miguel e Vilar (1987), já terem tido experiências sexuais, as quais ocorrem integradas nas suas relações amorosas.

Todos os seres humanos têm impulsos sexuais, e, porque vivem em sociedade, o seu comportamento sexual é condicionado e controlado em grande medida pelo contexto sócio - cultural. Diferentes idades e diferentes sociedades envolvem diferentes formas de comportamento sexual.

Até há bem pouco tempo, na sociedade ocidental, a sexualidade e os comportamentos que dela derivam eram fortemente regulados pelas leis, pela moral e pela opinião pública.

Actualmente a sociedade tornou-se mais tolerante; neste aumento das margens de tolerância foi incluída a vivência da sexualidade dos adolescentes, ainda que alguns adultos não a olhem de uma forma plenamente positiva e não a incentivem (especialmente a sexualidade nas raparigas).

Se, por um lado, uma parte dos adultos reconhece que a vivência sexual dos jovens é algo de inevitável e positivo para o seu desenvolvimento posterior, outra parte continua a olhar os comportamentos sexuais dos adolescentes, sobretudo o das raparigas, como um perigo, uma nova desordem amorosa que deve ser controlada.

Talvez a maioria dos adultos se encontre num misto de confusão e de impotência face às transformações que se operaram nos comportamentos sexuais dos jovens nas últimas décadas.

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 44-46)