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5.1 Características dos comportamentos sexuais dos adolescentes

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 46-52)

Vimos que o adolescente ao atingir a maturação sexual, adquire a capacidade para se reproduzir, sente de forma poderosa a necessidade de buscar satisfação sexual e consolida a sua orientação sexual.

Durante a adolescência uma variedade de práticas sexuais vai concretizar o comportamento sexual dos adolescentes. De acordo com Miguel (1994), neste período de vida, a sexualidade manifesta-se através de diversas actividades sexuais que passamos a apresentar.

Sonhos sexuais

Sonhos sexuais- no início da adolescência é frequente que os adolescentes, de ambos os sexos, tenham sonhos eróticos (Meneses, 1990). Estes são involuntários, considerados normais durante este período e podem ser acompanhados de excitação sexual. A ocorrência de orgasmo durante o sono (com ejaculação nos rapazes) é frequente. Embora ter sonhos sexuais e orgasmos seja normal , há muitos rapazes que têm medo que isso signifique alguma anomalia e faça mal à saúde. As raparigas receiam que isso signifique uma tendência demasiada para o sexo. Miguel (1994).

Fantasias sexuais

Fantasias sexuais- são o resultado de experiências culturais e pessoais, podendo conter material muito variado. Representam um papel importante na sexualidade, pela capacidade que têm de nos excitar e dar prazer e pela sua participação na masturbação e mesmo nas relações sexuais.

Meneses(1990) apresenta resultados obtidos por Miller e Simon (1980), num estudo com estudantes universitários; neste estudo constatou-se que, o conteúdo mais frequente das fantasias(em 87 % dos rapazes e 79% das raparigas) são os jogos sexuais ou as relações sexuais com alguém de quem se gosta. Esta investigação revelou também a existência de critérios diferentes na avaliação do significado erótico: para o sexo masculino aquilo que é expressamente sexual está embuído de significado erótico, independentemente do contexto emocional. Para o sexo feminino é o contexto emocional, e não os símbolos sexuais explícitos, que estão imbuídos de significado erótico.

Jogos sexuais

Jogos sexuais- definem todo um conjunto de carícias que despertam excitação sexual, permitindo a exploração do corpo do companheiro e o conhecimento das suas respostas sexuais. Em adultos e adolescentes que mantêm relações sexuais frequentes, estes jogos sexuais podem ser apenas uma actividade preliminar ao coito. Para muitos adolescentes, afirma Meneses ( 1990:153), é a actividade sexual principal, uma vez que

exclui a penetração vaginal e permite a conservação da virgindade. Sendo denominado por kardine de compromisso com a moral.

Num estudo efectuado com adolescentes americanos, verificou-se que 50% dos adolescentes de ambos os sexos já havia tido experiências de jogos sexuais aos 15 anos.

Masturbação

A masturbação- é um fenómeno psicofísiológico que acompanha o indivíduo durante o seu desenvolvimento. Na adolescência a masturbação tem uma função maturativa e de desenvolvimento das zonas exógenas encaminhando os jovens para o prazer genital.

Wilde (1975 :225).refere que a masturbação é uma manifestação normal, um

comportamento sexual como qualquer outro, que não acarreta nenhum estrago fisiológico,

que segundo Almeida (1987:84) (...) é um novo estádio da libido, uma passagem saudável

para a actividade heterossexual do adulto e acrescenta que durante a adolescência é

considerada um fenómeno normal.

A masturbação na adolescência adquire um carácter diferente daquele que tem na infância. Com efeito, nesta etapa, a masturbação pode ser acompanhada de fantasias sexuais e estas geralmente fazem referência a algum objecto ou pessoa externa. López e Furtes (1998) afirmam que, em parte, a masturbação adquire um certo carácter relacional.

A masturbação durante a adolescência não tem apenas a função de satisfazer o desejo ou aliviar a tensão sexual, mas também a de ajudar a conhecer o próprio corpo, favorecer a auto-estima e, em algumas situações a de ajudar a superar estados de tensão e ansiedade.

Até há bem pouco tempo, a masturbação era uma prática sexual considerada

anormal, prejudicial à saúde. Nas últimas décadas verifica-se uma atitude mais permissiva

e liberal. Apesar de atitudes socialmente mais tolerantes, subsistem ainda hoje, sentimentos negativos (ansiedade, culpabilidade, vergonha) por parte dos adolescentes face à masturbação.

Face a esta realidade torna-se necessário que pais e educadores não influenciem, de modo negativo, as mentes dos jovens face a este comportamento. Na opinião de Wells citado por Almeida (1987), se os pais desejam que o seu filho seja sexualmente saudável, terão de compreender que não existe nada de pernicioso no prazer sexual

Entendemos, tal como Levisky (1995), que a forma como os jovens encaram a masturbação depende do sistema educacional recebido, dos vínculos estabelecidos com os pais e dos conhecimentos que possuem a respeito do desenvolvimento psicossexual.

Segundo Meneses (1990), o padrão típico dos adolescentes do sexo masculino é iniciar a expressão da sexualidade através da masturbação, muitas vezes no contexto do

grupo de pares. Nas rapariga, a masturbação tende a ser descoberta solitariamente e a suceder à experiência do coito. Sorensen, em 1973, estudou as atitudes e o comportamento sexual dos adolescentes dos 13 aos 19 anos, verificou que aos 13 anos esta prática é mais frequente nos rapazes. Resultados que viriam a ser confirmados em 1979 por HAAS. (Meneses, 1990).

Homossexualidade

A homossexualidade - enquanto orientação sexual exclusiva, é relativamente rara nos adolescentes. São poucos os estudos realizados sobre a homossexualidade nos adolescentes. No entanto, alguns dados significativos parecem ter uma certa consistência. López e Fuertes (1998) ,afirmam que os contactos homossexuais são mais frequentes antes dos 15 anos e têm maior incidência nos rapazes que nas raparigas.

Apesar de maior aceitação e permissividade actual dos comportamentos homossexuais, segundo López e Fuertes (1998) o número de pessoas homossexuais não tem aumentado nos últimos anos.

No plano teórico, vários autores consideram que a passagem para a heterossexualidade passa por uma fase de investimento homossexual (Clães,1990). Para Blos(1985) O desinvestimento dos objectos de amor parentais, que traz consigo a procura

de novos objectos, passa, muitas vezes, por uma fase de homossexualidade que permite a resolução dos conflitos bissexuais e a entrada na adolescência propriamente dita.

A nível das atitudes, López e Fuertes (1998), mostram-nos que os rapazes aceitam melhor as relações homossexuais entre indivíduos do sexo oposto do que no próprio, enquanto que as raparigas aceitam de forma similar em ambos os sexos. Os mesmos autores referem que, apesar da aceitação pelos adolescentes destes comportamentos, apenas 15,0% dos rapazes e 10,0% das raparigas tiveram algum contacto homossexual na adolescência Somente 3,0% dos rapazes e 2,0 %das raparigas mantiveram relações homossexuais continuadas.

Nesta perspectiva, a frequência de contactos homossexuais na adolescência é reduzida, e muitos deles não se repetirão posteriormente.

Os contactos homossexuais experimentados nesta fase estão, na opinião de Clães (1990:91), mais relacionados com (...) um fenómeno transitório de experimentações

sexuais, marcado pela exploração física e pela aprendizagem recíproca, desenvolvendo-se num contexto mais homossocial que homossexual.

Na opinião de Miguel (1994 ), os contactos homossexuais entre os adolescentes são devido:

* à intensidade do desejo sexual e à vontade de o viver com outra pessoa;

* à maior frequência de amizades entre os adolescentes do mesmo sexo, no início da adolescência;

* maior inibição que os adolescentes têm em relação aos adolescentes do sexo oposto;

* ao desenvolvimento afectivo nesta fase estar incompleto.

De acordo com Origlia e Ouillon (1977), esta fase deve ser interpretada como um simples atraso na escolha definitiva do próprio sexo, na aceitação das naturais tendências para o outro sexo.

Heterossexualidade

Sendo esta fase do desenvolvimento caracterizada por uma necessidade de autonomia e desafio à autoridade dos pais, como já verificamos anteriormente, torna-se evidente que a aproximação entre os dois sexos e o desejo de intimidade heterossexual se efectue. E na opinião de Fonseca (1987) esta intimidade não desperta no adolescente um sentimento de culpa tão forte como na masturbação.

À medida que a adolescência progride e a identidade sexual se afirma, os namoros firmes e as relações de amor entre os adolescentes de sexos opostos baseadas em sentimentos mais profundos e maior compromisso, começam a tornar-se mais frequentes. As relações com o sexo oposto adquirem, nesta fase, nova importância .

Wahley e Wong (1999) afirmam que, os jovens, na maior parte dos casos, iniciam a sua vida sexual não pelas relações sexuais propriamente ditas, mas pelas carícias íntimas entre ambos (jogos sexuais). Todo este conjunto de carícias que despertam excitação

sexual, permite a exploração do corpo do companheiro e o conhecimento das suas respostas sexuais.

A motivação dos adolescentes para inciarem as relações heterossexuais é diversa. Para os rapazes, a perda da virgindade é o reconhecimento da sua maturidade sócio-sexual; a maioria não está afectivamente envolvida com a companheira, sendo, geralmente, relações casuais. Quanto às raparigas, no momento em que a experiência ocorreu, declaram estar envolvidas afectivamente pelo companheiro, com o qual manteve relações várias vezes após a primeira vez (Meneses, 1990).

As atitudes dos adolescentes em relação à heterossexualidade, segundo López e Fuertes (1998), são cada vez mais permissivas e liberais, no entanto essa aceitação é maior (sobretudo no caso das raparigas) apenas quando as relações ocorrem num contexto de amor e afecto.

Em suma, as raparigas atribuem maior importância à mediação afectiva ou sentimental nas relações sexuais, que os rapazes

Numa investigação efectuada pela (APF) Associação de Planeamento Familiar em 1981, com um grupo de adolescentes dos 14 aos 18 anos do distrito de Lisboa, revelou que 54,0% dos rapazes e 14,0 % das raparigas já ter tido relações sexuais. Em outros estudos mais recentes, verifica-se, também, esta mesma clivagem entre a prática de relações sexuais dos rapazes e das raparigas.

López e Fuertes (1998) referem que, em termos gerais os rapazes têm experiências sexuais mais cedo que as raparigas. No entanto as experiências sexuais nas raparigas aumentam consideravelmente com a idade(Moradela, 1992).

Miguel e Vilar (1987) sustentam ser possível haver tendência para os rapazes afirmarem que tiveram relações sexuais (mesmo não as tendo tido); pelo contrário as raparigas negam terem tido relações sexuais apesar de terem tido.

Estes resultados parecem ser reveladores da maior culpabilidade das adolescentes do sexo feminino e o maior prestígio social atribuído à actividade sexual do sexo masculino.

Mckinney (1986) refere que o tipo de vivência familiar, a forma como os pais se relacionam entre si, o seu comportamento face ao sexo oposto, e as relações afectivas que estabelecem com os filhos vão ser determinantes na forma como o adolescente vai encarar o sexo oposto, assim como todo o ambiente social onde estão inseridos.

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 46-52)