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Opinião / atitudinal dos adolescentes face à sexualidade

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 155-160)

Analisando os dados considerados para avaliar as opiniões atitudinais dos adolescentes face à sexualidade, constatamos que estes assumiram maioritariamente posições liberais. As raparigas são as que apresentam percentagens mais representativas.

As pessoas que têm atitudes liberais aceitam a sexualidade como um acto humano positivo, e estão preparadas mental, afectiva e socialmente a viver a sua sexualidade, e a aceitar que os outros vivam também a sua, ainda que diferente.

A vertente afectiva da sexualidade é também mais valorizada pelas raparigas, o que está de acordo com a fundamentação teórica. 54,4% das raparigas e 35,0% dos rapazes , referiram que concordam totalmente e concordam muito que "a sexualidade deve ser

No item "a masturbação é um comportamento sexual reprovàvef 33,3% dos jovens assumiram atitudes de tolerância e 31,4% revelaram atitudes liberais do mesmo modo que 38,9% dos jovens manifestaram atitudes de tolerância e 41,9% expressaram atitudes liberais relativamente ao item "a masturbação é um comportamento sexual que

prejudica a saúde"

Salientamos que 79,0% dos jovens concordam muito que "fidelidade é importante

numa relação a dois "(51,2% são raparigas e 27,8% são rapazes)

Hipótese.16 - As opiniões dos adolescentes face à sexualidade em geral são diferentes segundo o género"

Através da análise descritiva dos resultados obtidos relativos às opniões atitudinais dos adolescentes acerca da sexualidade revelaram que as raparigas em relação aos rapazes apresentam ligeiras diferenças de opinião relativamente a todos os itens utilizados para avaliar as atitudes face à sexualidade.

Os resultados estatisticos, através do Qui-quadrado reforçam essa ideia, sugerem que as opiniões atitudinais dos rapazes e das raparigas acerca da sexualidade são diferentes, excepto nos itens " a masturbação é um comportamento que prejudica a saúde"

e "as relações sexuais devem ser compreendidas apenas como forma de reprodução ",

em que os resultados do Qui-quadrado reveelaram que não há diferença entre as atitudes dos rapazes e das raparigas.

Hipótese.17 - As opiniões dos adolescentes face à sexualidade em geral são diferentes segundo a sua religião.

A análise dos dados do Qui-quadrado relativos à hipótese revelaram que as atitudes dos adolescentes católicos face à sexualidade não são diferentes dos adolescentes não católicos na maioria dos itens. È de realçar, que se verificaram atitudes diferentes entre os dois grupos, nos itens " a afectividade nada tem a ver com a sexualidade (X2 =6,392; p=0,04); A sexualidade deve ser acompanhada de ternura e amor (X2 =56,596; p=0,001) e

no item "a fidelidade mutua é importante na relação a dois"(X2 =12,63; p=0,002j.

Pela Correlação do Coeficiente de Spearman verificou-se uma associação positiva moderada altamente significativa (rs =0,706; p=0,001) observada entre o item " a mulher

deve manter-se virgem até ao casamento o item "as relações sexuais só devem ter inicio após o casamento "

Hipótese.18 e 19- A frequência das consultas de planeamento familiar é diferente segundoio género e o comportamento sexual dos adolescentes.

Os adolescentes pouco procuram os serviços de saúde. No nosso estudo, os dados revelaram que a frequência das consultas de planeamento familiar pelos jovens é apenas 36,6%. O valor do Qui-quadrado 0,009; p=0,924 demonstrou que não existe diferença quanto à frequência das consultas de planeamento familiar entre os rapazes e as raparigas. Verificando-se o mesmo (X2 =2,495; p=0,114), relativamente aos jovens sexualmente activos e aos que nunca tiveram relações sexuais isto é, as hipóteses formuladas não se confirmaram

Em relação ao local onde as jovens frequentam as consultas de planeamento familiar, o centro de saúde é preferido pela maioria(31,0%).Entre os técnicos saúde a quem os jovens mais pedem ajuda, vem em primeiro lugar o médico, seguida da enfermeira, há ainda jovens que pedem ajuda simultaneamente ao médico e á enfermeira.

Os motivos referidos pelos jovens que os leva a não frequentar estas consultas foram expressos através de uma questão aberta, da sua análise emergiram 6 categorias:

desconhecimento; transferência de responsabilidade; constrangimento; sentimento de culpa / medo, indiferença e desculpabilização.

A falta de conhecimentos é expressa por alguns jovens ao referirem que não

sabem onde funcionam estas consultas; desconhecem as finalidades dessas consultas e 6

referem que não têm namorado e que essas consultas são para pessoas casadas, e para

jovens que estão para casar. 6 jovens transferem a sua responsabilidade para a mãe, como

se pode verificar pelo indicador a minha mãe nunca me levou lá. Salientamos o sentimento de constrangimento e medo/culpa expresso pelos indicadores não me sinto à vontade para

ir a essas consultas; tenho vergonha porque ainda sou nova e porque o meu médico de família é amigo dos meus pais. 5 jovens manifestam "indiferença" e outros justificam que

"não têm tempo " ou que "ainda não tiveram oportunidade ".

Hipótese.2(K4 opinião dos adolescentes em relação ao funcionamento das consultas de planeamento familiar é diferente segundo o género.

Pelos resultados estatísticos observados constatou-se que a opinião dos rapazes e as raparigas sobre o funcionamento das consultas de planeamento familiar não é

diferente, uma vez que, a hipótese formulada não se confirmou ( X2 =5,006; p=0,082). Uma percentagem 22,7% dos jovens inquiridos discorda da forma como estas consultas funcionam, das justificações referidas pelos jovens que não concordavam com o funcionamento dessas consultas, foram criadas 4 categorias: divulgação, acessibilidade,

atendimento e confidencialidade. Pela análise dos seus indicadores, constatamos que os

princípios a que devem obedecer as consultas de planeamento familiar, ao que parece, não estão a ser aplicados nestas consultas no atendimento aos jovens.

Constatou-se, que 18 jovens consideraram que liestas consultas são pouco divulgadas junto dos jovens; 10 manifestaram que "são pouco acessíveis" e 6 dizem que "estão muito tempo à espera". Num estudo efectuado por Santos (2000), as opiniões dos

jovens com idades compreendidas entre os 15-19 sobre o funcionamento dos centros de saúde, 60,2% revelaram opiniões desfavoráveis, tal como no nosso estudo, um aspecto referido é de que estão muito tempo à espera para ser atendidos, e são de opinião que os funcionários são antipáticos e apressados.

Os resultados obtidos nos dois estudos, parecem revelar que alguns centros de saúde não são um referencial de motivação e de procura de informação, estando, deste modo a afastar-se das suas funções, que é educar para a saúde.

A análise dos dados em relação ao atendimento parecem demonstrar que os técnicos de saúde, não conseguiram estabelecer com estes jovens uma relação de ajuda, alguns dos jovens referiram que "o pessoal não os compreende" que "as pessoas não

são simpática". A privacidade e o sigilo é um direito da pessoa, e um dever dos

profissionais da saúde, são importantes para qualquer pessoa e em particular para os adolescentes, na opinião de 3 jovens "há pouca privacidade" e outros consideram que

"há falta de sigilo" nessas consultas. Num estudo efectuado com adolescentes do sexo

feminino em 1955, incidindo sobre consultórios de clínicos gerais, em Sheffiel, revelou que quase 75% das jovens com menos de 16 anos e 50,0% com idades compreendidas entre 16-19 anos manifestaram receio sobre essa falta de sigilo em relação à contracepção.(Tilsley, 1998)

Quanto ao significado do planeamento familiar, para a maioria (61,3%) dos jovens deste estudo, planeamento familiar significa " ajuda para uma vida sexual saudável; para 58,3" significa informação sobre métodos contraceptivos e para 55,1% significa prevenção das doenças sexualmente transmitida. Apenas 12,3% atribuiu ao planeamento familiar o tratamento de infertilidade.

Em síntese, a sexualidade será sempre um processo de construção individual com dúvidas, hesitações e tomadas de decisão, feito de experiências e aprendizagens de vida positiva e negativa. Agindo de forma adequada (pais, professores e técnicos de saúde) pode-se, entretanto, contribuir para que este caminho seja feito de forma mais positiva e gratificante.

A discussão dos resultados reportam-nos ao pensamento de Postic (1984) querer

formar alguém é procurar formamo-nos a nós próprios. Há que ser tolerante, respeitador

de opiniões e atitudes, ser capaz de formular juízos de valor quando se é solicitado, com verdade e sem subterfúgios. Nunca humilhar, nunca agredir, uma longa e interminável aprendizagem é exigida ao educador.

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 155-160)