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4 DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 39-42)

O desenvolvimento psicossexual é um termo utilizado quando nos referimos ao desenvolvimento sexual no seu sentido mais amplo: a construção da nossa identidade, da nossa personalidade estão intrinsecamente ligados à nossa sexualidade, ao nosso género e à aquisição de papeis associados à nossa masculinidade e feminilidade.

A evolução da sexualidade é um processo complexo e subtil, sujeito a diversos acasos, à medida que o ser humano passa pela infância, adolescência e idade adulta.

A socialização sexual é o processo pelo qual o Homem se torna um ser sexuado, assume uma identidade do género, aprende papeis sexuais e adquire o conhecimento, as competências e as disposições que permitem ao indivíduo funcionar sexualmente numa cultura. Essa socialização sexual é explicitada nos diferentes contextos da existência: na família, na escola e no grupo de pares.

A sexualidade é uma realidade global e multifacetada que envolve toda a personalidade humana ao longo da vida. De acordo com Origlia e Ouillon (1964), desde os primeiros anos de vida temos manifestações comportamentais, não eróticas, no sentido da sexualidade adulta.

Independente de todas as criticas a que tem sido sujeita, a teoria psicanalítica do desenvolvimento psicossexual de Freud, tem o mérito de estabelecer uma continuidade do desenvolvimento sexual, desde a infância até à idade adulta.

Até há alguns anos atrás a sexualidade infantil era negada, condenando-se todas as suas manifestações. Investigações mais recentes vêm confirmar que as crianças assumem comportamentos que os adultos definiriam como sexuais, residindo a diferença no significado que lhes é atribuído. Na infância existem manifestações de sexualidade, contudo pouco definidas. Durante esta fase é normal observar as crianças a mexerem nos seus órgãos sexuais, inventarem brincadeiras (aos pais e ás mães). Brincadeiras infantis, normais nesta fase da vida; muitas das vezes os adultos consideram - nas perigosas e repreendem as crianças tornando-as culpabilizadas e traumatizadas. Nestes momentos os adultos devem ter atitudes positivas face a esses comportamentos da criança.

Segundo Meneses (1990:143), Um determinado comportamento só é sexual se for

definições pessoais e sociais da situação. Desta forma, as actividades sexuais das crianças

não correspondem ao que adolescentes e adultos designam por comportamentos sexuais. È

importante ter em conta que as actividades sexuais infantis se baseiam em motivações muito diferentes das dos adultos(Memses, 1990:143). O que na maioria das vezes as

crianças querem é imitar os modelos dos adultos, descobrir o seu próprio corpo e o dos outros.

Ainda que a aprendizagem do corpo como fonte de prazer seja iniciada precocemente, as crianças não detêm suficiente conhecimento e exposição à sexualidade para entenderem as implicações dos seus comportamentos, e os significados que lhe são atribuídos pessoal e socialmente.

Todos sabemos, que somos seres sexuados e temos manifestações e interesses sexuais quer sejamos crianças, jovens e velhos. Sabemos, também, que essa sexualidade muda ao longo da vida; cada idade tem as suas manifestações próprias, e admite várias formas de expressão consoante os indivíduos. A sexualidade está em cada um de nós, dependente de anteriores situações da nossa vida, da maneira particular como a vivemos, das oportunidades que se nos deparam, dos eventuais acidentes que nos afectam, sendo a sua história psicológica única e pessoal.

A OMS ( Organização Mundial de Saúde), define a sexualidade como uma energia que nos motiva para encontrar amor, contacto, ternura e intimidade. Ela integra-se no modo como nos sentimos, movemos, tocamos e somos tocados. A sexualidade é uma fonte de comunicação, bem estar e prazer inerente a todos os seres humanos e que mediatiza todo o nosso ser, influencia pensamentos, sentimentos, acções e interacções e, por isso, influência também a nossa saúde física e mental.

Na opinião de Miguel (1994), é difícil definir o que é a sexualidade, dada a complexidade dos aspectos em que está implicada. No entanto o mesmo autor mostra-nos qual o seu papel fundamental:

* na identificação, é a sexualidade que nos faz sentir bio-psico-socialmente mulheres ou homens;

* na reprodução, hoje, já se podem ter filhos por inseminação artificial. Mas, é através das relações sexuais que habitualmente um homem e uma mulher têm filhos;

* na relação amorosa, a sexualidade é uma forma de expressão física do nosso amor e reforça a relação amorosa ,

* no desejo e prazer, a sexualidade é responsável por desejos extremamente intensos e um prazer muito grande acompanha habitualmente os pensamentos e actividades sexuais.

Ainda segundo o mesmo autor, a sexualidade deve contribuir para o bem estar físico, desenvolvimento psicológico e afectivo. Ser vivida numa relação afectiva de uma forma responsável e partilhada em igualdade.

4.1. -Afectividade

A sexualidade está mediatizada por numerosos factores biológico, psicológicos e sociais. De entre todos eles tem especial importância o afecto. É necessário ter em conta que, para muitas pessoas, o bem estar não é possível sem amar e ser amado. As relações com as figuras de ligação afectiva (normalmente os pais os irmãos e o companheiro(a) satisfazem necessidades profundas de segurança emocional e intimidade que não podem ser encontradas fora deste tipo de relações).

Segundo López e Fuertes, (1998) o ser humano não tem apenas apetência sexual instintivamente preprogramada, mas tem, também, necessidades e capacidades afectivas que frequentemente se associam à actividade sexual.

A afectividade, que até ao período da adolescência era circunscrita à família, passa a orientar-se mais intensamente noutro sentido; as relações alargam-se a outros amigos, amigas e a outros adultos.

A primeira novidade na vida afectiva dos adolescentes é precisamente a emergência do instinto sexual, que vai entrar na sua fase activa, por ocasião do estabelecimento da função reprodutora. Na adolescência, na opinião de Miguel (1994), a sexualidade manifesta-se de uma forma mais intensa e clara, e o adolescente começa a estabelecer a ligação entre a sexualidade e a afectividade.

E no período da adolescência que os jovens de ambos os sexos passam a sentir o desejo intenso de estabelecer com outra pessoa uma relação afectiva especial. Quando este desejo é correspondido, leva à formação de um par. A esta relação chama-se tradicionalmente namoro.

O namoro é muitas vezes vivido pelos adolescentes com grande intensidade e crença na sua duração, embora na opinião de Miguel (1994), sejam extremamente raros os

que terminam no estabelecimento de uma futura relação de casamento. O mesmo autor refere:

O namoro constitui um aspecto muito importante no desenvolvimento

afectivo dos adolescentes: pelo reforço da identificação feminina ou masculina; pela maior segurança que obtém pelo facto de se sentirem amados; pela

experiência de um diálogo mais profundo e sincero e pela vivência do prazer em tornar mais feliz o outro. Em contrapartida a ruptura do namoro, especialmente se esta não é de comum acordo, pode trazer problemas aos adolescentes tais como: sofrimento pela perda afectiva; sentimentos de inferioridade pela parte do que se sente abandonado; sentimentos de culpa por parte do que abandona e dificuldade de estabelecimento de futuras relações de namoro, pelo medo da desilusão e do sofrimento (Miguel, 1994 :18).

A sexualidade humana é, fundamentalmente, este apelo à relação em termos de personalidade, o que engloba evidentemente as diferenças sexuais. Para Leitão (1990:6) (...) a sexualidade é genitalidade, mas é também afectividade, é conhecimento de si e do

outro, é relacionamento consigo e com o outro, é respeito e compreensão de si e do outro, é projecto, é realização plena de si.

Aceitar que a sexualidade constitui uma dimensão importante no desenvolvimento global da personalidade, implica, na opinião de Leitão (1990) um processo de educação sexual e educação da afectividade que predisponha à capacidade de observar, de analisar e valorizar o outro, ser capaz de auto-analisar, auto-valorizar, e, expressar adequadamente os próprios sentimentos como ponto fulcral para uma sexualidade bem conseguida.

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 39-42)