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5.2 Consequências do comportamento sexual dos adolescentes

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 52-55)

A adolescência não é apenas uma simples fase de transição como por vezes se afirma, mas antes um mecanismo dinâmico em que funções e comportamento se tornam mais complexos. É um período com dificuldades e conflitos relacionados com as grandes transformações que se operam nesta fase do ciclo vital. O comportamento de rebeldia que caracteriza neste período os adolescentes, é parte integrante do processo dinâmico e individual de conquista de identidade em que, assolados pelas mudanças, tacteiam em direcção à maturidade. Cometem inimagináveis travessuras e, com grande entusiasmo, abraçam altos ideais.

Na adolescência as implicações de maior vulto quanto à saúde decorrem das amplas transformações biopsicossociais vivenciadas e do "timing" em que estas ocorrem. Os mesmos acontecimentos têm impactos diferentes conforme a idade.

Como é do conhecimento geral a saúde não é uma preocupação prioritária nesta fase do desenvolvimento, embora se saiba que a responsabilidade por um comportamento favorável à saúde cabe, em grande parte, aos próprios jovens.

Os jovens adoptam padrões de risco cada vez mais precocemente e, na escolha de estilos de vida, o fracasso de negociação dos obstáculos desenvolvimentais, pode trazer consequências sérias para a saúde: alcoolismo, ou outras drogas e doenças sexualmente transmissíveis, etc.

O comportamento sexual é uma área de potencial risco para os adolescentes, o que deriva essencialmente duma actividade sexual precoce, muitas vezes não desejada, ou sem efectiva ponderação dos riscos possíveis (como por exemplo, contrair doenças sexualmente transmissíveis ou uma gravidez não desejada ).

Todos sabemos que, a sexualidade tem percalços (uns evitáveis e outros inevitáveis). Os inevitáveis resultam da complexidade dos afectos com ela relacionados, das expectativas e das frustrações, da forma como a vivenciamos desde crianças. A gravidez não desejada é, ainda hoje, um problema evitável, que atinge um significativo número de jovens em todo o mundo.

Em 1998, os dados do Instituto Nacional de Estatística apontavam para um total de 7403 partos: 95 em jovens com idade inferior a 15 anos, 7308 jovens dos 15 aos 19anos. Isto significa que, o número de adolescentes a ter filhos poderá ainda ser maior se

adolescentes. No nosso País, em termos de taxa, a gravidez na adolescência tem baixado. Não é seguro, no entanto, que essa tendência se mantenha, já que noutros países com evoluções semelhantes as taxas mostram recentemente uma tendência para subir(Cordeiro,

1998).

Em Portugal o número de abortos clandestinos (fruto de gravidezes não desejadas) é desconhecido, mas estudos recentes apresentados pela Associação de Planeamento Familiar (1999), referem ser este um grande problema da nossa sociedade. O trauma psicológico duma gravidez não desejada é uma questão que tem congregado preocupações de vários investigadores.

Segundo Meneses (1990) as adolescentes, confrontadas com uma gravidez não desejada, têm quatro alternativas: o casamento, o aborto, serem mães solteiras ou entregarem o filho para adopção.

Breken, citado pelo autor acima referido, define quatro fases neste processo de tomada de decisão: a tomada de consciência da gravidez com sentimentos de felicidade, tristeza ou ambivalentes; a formulação de soluções possíveis; estudo das vantagens de cada alternativa e a decisão definitiva acompanhada de reacções emocionais . O período que medeia entre a certeza da gravidez e a tomada de decisão caracteriza-se grandemente por sentimentos contraditórios e alternados de ansiedade, depressão e euforia. Factores psicossociais (atitude face ao aborto, opinião dos outros ), religiosos e económicos entre outros, vão interferir nesta decisão.

Sabendo que, os riscos orgânicos e os riscos psicológicos e sociais são mais elevados nas gravidezes não desejadas do que nas gravidezes desejadas e planeadas, consideramos, tal como Cordeiro (1998), que estas deverão ser objecto de prevenção.

As (DST) Doenças Sexualmente Transmissíveis são outro problema evitável, gerador de angústia nos jovens. A OMS afirma que, para além da violência, do uso de drogas e de acidentes, a propagação do Vírus de Imunodeficiência Humana(VIH) e outras doenças de transmissão sexual são a maior ameaça à vida dos jovens nos próximos anos.

A mesma organização alerta que, existe enorme ignorância entre os jovens sobre o sexo e os riscos a ele associados. Não nos referimos apenas ao Síndrome de Imunodeficiência Adquirida (SIDA), mas a outras doenças que, não sendo mortais ou incuráveis, podem ser potencialmente graves.

O desconhecimento de aspectos fundamentais da sexualidade, da contracepção e da procriação bem como a existência de crenças inadequadas, continuam a ser características

da maioria dos adolescentes. A falta de informação, sobre medidas preventivas e locais de apoio à sexualidade por parte dos jovens, dificulta uma prevenção eficaz.

No entanto, e de acordo com Pompidou citado por Gir et ai (1998), estar informado não significa necessariamente conhecer o problema, nem, tão pouco, que tenha provocado mudanças de comportamento. Segundo os autores supra citados (1998:294), quando os

jovens se iniciam sexualmente, subestimam a SIDA probabilidade em infectar-se, acreditando que esse perigo está distante de si e que isso não vai acontecer consigo.

As questões referentes ao comportamento sexual são complexas porque muitas vezes o indivíduo compreende a situação, porém, não consegue introjectar ou colocar em prática o que a ciência comprova, com vista à promoção da saúde.

Baseando-nos no conceito de saúde sexual definido pela OMS, como a capacidade para gozar e controlar o comportamento sexual e reprodutor de acordo com a ética pessoal e social, cada jovem deve: manusear os riscos do seu percurso com prejuízo mínimo para a saúde; estar livre de doenças que interfiram com as funções sexuais e reprodutoras; estar livre de medos e culpas, falsas crenças que inibam a resposta sexual.

Este conceito implica uma abordagem positiva da sexualidade humana, preparando os jovens para as responsabilidades familiares e para uma vida estável no futuro.

Em suma, a uma sociedade custa menos oferecer aos jovens uma informação/ formação adequada em planeamento familiar (incluindo a sexualidade) que tentar resolver as consequências que resultam da sua ausência.

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 52-55)