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7.2 Educação sexual na escola

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 68-70)

Paralelamente ao núcleo de relações familiares, outras fontes de referência mais institucionalizadas (como a escola) e fornecedoras de outro tipo de informação devem contribuir, também, para a formação da sexualidade do adolescente.

A escola é um dos locais onde a educação sexual deve complementar a preparação familiar. Contudo, vários estudos mostram-nos, que a escola está longe de desempenhar esta importante função.

Salientamos, alguns resultados de um estudo efectuado por Pereira (1993), com adolescentes: 56,0% dos inquiridos, revelaram que gostariam de ser esclarecidos pelos professores sobre o tema da sexualidade; quase a totalidade dos jovens expressaram ser da máxima importância e urgência o facto da escola introduzir aulas de educação sexual. Manifestaram também, vontade de serem esclarecidos por alguém qualificado.

Os pais por sua vez, estão também conscientes da ausência dessa informação nas escolas, e da lacuna que isso representa na formação sexual dos filhos.

Segundo o Decreto- Lei n°-3 / 84, artigo 2o-, de 24 de Março, a escola não demitindo a família das suas funções, tem um papel preponderante a desempenhar, assumindo uma actividade complementar na educação sexual das crianças e jovens , atendendo ás suas diferenças de género, à maturação cognitiva e afectiva, empenhando-se em corrigir atitudes e colmatar a ausência de informação bem como acompanhando toda a sua acção educativa com a sensibilização para valores profundamente humanos.

Em Portugal, a actual Lei de Bases do Sistema Educativo prevê a inclusão da educação sexual na área de formação pessoal e social que visa proporcionar ocasiões de aprendizagem de conhecimentos , de desenvolvimento de processos e atitudes e de capacidades de acção em diversas áreas. Contudo, nas escolas , os programas escolares fazem pouca referência a assuntos como a sexualidade, excepto em Ciências da Natureza e Biologia.

Tem-se vindo a discutir, com algum entusiasmo, a introdução de programas de Educação sexual nos curricula escolares - (o espaço da "área -Escola" e a disciplina de "Desenvolvimento Pessoal e Social" em alternativa à disciplina de Educação Moral e Religião Católica), o que veio permitir, embora ainda a titulo experimental, a implementação de programas de educação sexual em algumas escolas.

A Associação do Planeamento Familiar tem defendido a urgência da integração da educação sexual nas escolas, fornecendo aos jovens um espaço de informação, sobre a sexualidade e outras questões inerentes à adolescência.

No âmbito dos conteúdos programáticos, a vertente da sexualidade humana deverá fazer parte integrante do processo educativo, quer abordada de modo mais formal, com integração em curricula (em várias disciplinas - transdisciplinaridade - e não apenas nas tradicionais como a Biologia, porque cada uma tem as suas especificidades), quer integrando as relações normais interpares e entre os diversos elementos que constituem a Escola, criando espaços facilitadores e de expressão de problemas e de acesso à informação, embora com respeito integral pela intimidade e pela privacidade, para além da adequação à idade e às características da personalidade, familiares, e sociais do adolescente.

Na opinião de Menezes (1990), a escola pode reproduzir de forma velada, modelos tradicionais de divisão dos papeis sociais, através das expectativas e atitudes dos professores, da organização da sala de aulas, das actividades escolares, dos materiais pedagógicos e dos programas de ensino. O papel da escola na educação sexual implícita da criança e dos adolescentes é inegável, transmitindo valores e atitudes, reforçando crenças e comportamentos, ou seja, a contribuição da escola para a educação sexual não depende apenas da criação de espaços curriculares específicos, mas decorre, de forma não explícita, do decurso das actividades escolares.

O papel do professor reveste-se, neste âmbito, de extrema importância, não tanto pela sua opinião, mas pela forma como proporciona aos alunos um ambiente de confiança que favoreça o diálogo, tomando atitudes de disponibilidade, aceitação e respeito pela curiosidade natural dos jovens de modo a ajudá-los a ultrapassar dificuldades e angústias, não os deixando entregues a si próprios.

A educação sexual no meio escolar é pertinente, quando integrada no desenvolvimento das competências humanas, sociais e académicas dos adolescentes. Deve enquadrar-se no conjunto de relações pessoais e interpessoais, no respeito por si próprio e pelos outros, numa vivência satisfatória e gratificante do corpo e do espírito; deve também contribuir para a aquisição de informação e de conhecimentos que permitam a opção por atitudes, decisões e comportamentos mais adequados, no sentido de menores riscos e de uma vivência responsável, segura e gratificante da sexualidade.

gratificação e reprodução. Aquela não deve cair na tentação demasiado simplista de reduzir as relações afectivas e humanas ao acto sexual. Se se continuar a desligar as coisas umas das outras corre-se o risco de nenhuma delas se tornar verdadeiramente eficaz.

Embora neste momento já se verifique algum progresso, no que respeita ao discurso sexual, este ainda enfatiza determinadas componentes da sexualidade negligenciando outras. Prazer, afectividade e reprodução são elementos inerentes ao processo da sexualidade, que, devem formar um todo coerente para que esta seja vivida em pleno. A componente prazer parece bastante ausente das discussões sobre o tema da educação sexual, acentuando-se preferencialmente a componente reprodutiva e o tom preventivo (sem dúvida o mais preocupante, mas não o mais edificante no sentido de uma pedagogia sexual).

Embora aceitando parcialmente o valor da sexualidade, (outrora tema proibido de se falar) ainda hoje, prevalece uma perspectiva que olha com desconfiança as manifestações sexuais dos jovens e se situa contraditoriamente entre o não querer desqualificar a sexualidade humana e o querer continuar a desejar regulá-la e limitá-la nas normas e padrões de comportamentos tradicionais.

Nos dias de hoje, já não faz sentido incutirmos nos jovens sentimentos de culpa e de vergonha e muito menos criando a ideia de que o sexo é sujo e pecaminoso; a educação sexual deve apoiar os adolescentes de modo a despertá-los para a vida . A educação sexual nas escolas não pode continuar a ser "tabu", mesmo para os professores mais conservadores. A educação sexual é necessária e indispensável; não só para informar / educar os jovens mas também para os orientar para uma vida sexual responsável.

No documento Sexualidade na Adolescência (páginas 68-70)