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CAPÍTULO II – Enquadramento teórico Enquadramento teórico

2.1 A Sociedade da Informação e do Conhecimento

Num mundo globalizado, marcado pela mudança rápida e permanente, os novos problemas que surgem não encontram resolução nas teorias e soluções formuladas para problemas anteriores, obrigando a repensar estes processos e teorias. Num novo contexto, as teorias renovadas que emergem como produto de um determinado tempo e espaço influenciados por forças catalisadoras da mudança, conduzem a uma forma nova de ver o mundo. Estas forças, ambientais, sociais, políticas e económicas, ou científicas e tecnológicas, exercem influência, direta ou indireta, sobre as diferentes regiões do planeta, evidenciando a globalização que pauta o mundo em que vivemos.

O desenvolvimento das Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC), a par do surgimento e evolução da World Wide Web, marca profundamente a atualidade pelas mudanças que potencia no contexto, influenciando as atividades do quotidiano e definindo a qualidade de vida da sociedade (Area & Pessoa, 2012). Atividades tradicionais de comunicação, acesso a informação, acesso a produtos ou ensino e aprendizagem passam a ser possíveis num ambiente virtual, através da tecnologia. Esta conceção de sociedade em mudança por conta da ciência, da “revolução das TIC” e da “explosão da informação” deu origem ao conceito de Sociedade da Informação (Webster, 2006; Coutinho & Lisbôa, 2011).

De acordo com Coutinho e Lisbôa (2011, p.6), “Um dos primeiros autores a referir o conceito de Sociedade da Informação (SI) foi o economista Fritz Machlup, no seu livro publicado em 1962, The Production and Distribution of Knowledge in the United States. No entanto, o desenvolvimento do conceito deve-se a Peter Drucker que, em 1966, no bestseller The Age of Discontinuity, fala pela primeira vez numa sociedade pós-industrial em que o poder da economia - que, segundo o autor, teria evoluído da agricultura para a indústria e desta para os serviços - estava agora assente num novo bem precioso: a informação (Crawford, 1983)”. O despoletar das TIC conduziu a uma mudança paradigmática civilizacional, onde as tecnologias passam a constituir o meio para novas formas de acesso e de distribuição da informação. Contudo, este novo paradigma é tema de discórdia no que respeita à sua origem, definição e características, havendo diferentes interpretações e explicações do mesmo. Neste contexto, Webster (2006) elenca seis dimensões analíticas, que pela sua génese definem os vários posicionamentos subordinados ao tema da Sociedade da Informação:

▪ Tecnológica: a evolução das TIC está na origem do novo paradigma técnico- económico;

▪ Económica: a informação e o conhecimento estão na base da economia moderna, com influência direta no Produto Nacional Bruto;

▪ Ocupacional: relação entre o declínio das classes laborais diretamente produtivas e o aumento do número de ativos nas “profissões da informação” são determinantes para a nova sociedade emergente;

▪ Espacial: os conceitos de espaço e tempo são reorganizados e reestruturados com base nas redes estabelecidas pela tecnologia, que permitem ligar, em tempo real, lugares distantes geograficamente;

▪ Cultural: partindo do conceito de globalização, assume que nunca antes circulou tanta informação, disponível para todos em qualquer parte;

▪ Conhecimento teórico / informação: as mudanças da sociedade não se prendem com a quantidade de informação, mas sim com o carácter da mesma, e o que a informação comporta para a nossa realidade transforma por completo a forma de agir e de viver da sociedade.

Independentemente da linha de pensamento considerada para a definição da Sociedade da Informação, sabemos hoje que a sociedade, sustentada nos processos de acesso e manipulação da informação e de construção do conhecimento, tornou-se uma sociedade em rede, com profundas alterações organizacionais e económicas, onde “a geração, processamento e transmissão de informação torna-se a principal fonte de produtividade e poder.” (Castells, 1999, p.21). O autor avança mesmo que “As redes

constituem a nova morfologia das sociedades e a difusão da sua lógica modifica substancialmente as operações e os resultados dos processos de produção, experiência, poder e cultura. Embora a organização social, sob a forma de rede, tenha existido noutros tempos e lugares, o novo paradigma da tecnologia da informação fornece as bases materiais para a expansão da sua penetrabilidade em toda a estrutura social.” (Castells, 2002, p. 607). As mudanças impostas pela nova realidade conduzem a alterações ao nível das competências exigidas em cada área de atuação profissional, as quais assistem à divergência de métodos e técnicas para a resolução de problemas, o que exige um alargamento do domínio de saberes. Tal acontecimento trouxe implicações para os currículos académicos, os quais foram alvo de reformulações de forma a darem resposta às novas exigências laborais e sociais.

Castells (2002), ressalva as cinco principais características definidoras do novo paradigma de Sociedade da Informação, também identificado como “Sociedade Pós- Industrial”:

1) A informação é a sua matéria-prima: a tecnologia e a informação encontram-se mescladas, complementando-se mutuamente. Em tempos anteriores estas duas dimensões não eram colocadas em pé de igualdade, dando-se especial enfoque a uma em detrimento da outra;

2) Capacidade de penetração dos efeitos das novas tecnologias: a difusão da tecnologia exerce grande poder e influência sobre os processos sociais, políticos e económicos da sociedade, com cada vez menor custo e melhores desempenhos; 3) Lógica de redes: a tecnologia veio promover as relações interpessoais;

4) Flexibilidade: o poder de manipular a informação, conferido pelas tecnologias aos indivíduos e a possibilidade de adaptação e reconfiguração do próprio paradigma de forma a se ajustar a uma sociedade em constante mudança;

5) Convergência de tecnologias específicas para um sistema altamente integrado: o conhecimento constrói-se com base na contribuição de todos os sujeitos, numa lógica de produção comum e de convergência do conhecimento.

São estas características que fazem emergir novos espaços e novos meios de busca e partilha da informação, contribuindo para a construção do conhecimento. Contudo, quando a tónica é colocada na produção de conhecimento, é importante ter presente que a acumulação de informação não é sinónimo de conhecimento (Junqueiro, 2002).

A transformação da informação em conhecimento é um processo cognitivo, que se situa muito além da vertente tecnológica. Como afirmam Coutinho e Lisbôa (2011, p.8), “é

necessário que, frente às informações apresentadas, as pessoas possam reelaborar o seu conhecimento ou até mesmo desconstruí-lo, visando uma nova construção. Esta construção deverá estar alicerçada em parâmetros cognitivos que envolvam a autorregulação, aspetos motivacionais, reflexão e criticidade frente a um fluxo de informações que se atualizam permanentemente”. Constata-se assim, a existência de uma relação entre informação e conhecimento, em que a primeira constitui a unidade básica do segundo.

Este processo de transformação da informação em conhecimento é essencial para que passemos de uma sociedade da informação para uma sociedade da informação e conhecimento. Para que tal aconteça, deixa de ser necessário estar confinado às paredes físicas da sala de aula, podendo o conhecimento ser construído em contextos informais, com o auxílio da rede social potenciada pela tecnologia (Figueiredo, 2016). Desta forma, também o papel do professor se altera, passando de transmissor do conhecimento a mediador da aprendizagem (Figueiredo, 2016; Siemens, 2003).

Desta nova realidade advêm novas necessidades. O desenvolvimento de novas competências passa a ser contínuo, acompanhando a evolução das TIC, permitindo ao sujeito manter-se atualizado. Para tal, a formação ao longo da vida reveste-se de uma importância fulcral. Concomitantemente, a necessidade de desenvolvimento da autonomia do sujeito é fundamental para o seu desenvolvimento e proliferação na rede da Sociedade da Informação e do Conhecimento.

É por tudo isto que concordamos com Coutinho e Lisboa (2011), na defesa de que a Sociedade da Informação e do Conhecimento deve estar ancorada nos quatro pilares da educação, que segundo Delors (1996) são: Aprender a conhecer, Aprender a fazer, Aprender a viver juntos e Aprender a ser.

▪ Aprender a conhecer é o pilar que se centra no domínio dos instrumentos do conhecimento, de forma a compreender melhor o mundo envolvente. Favorece o desenvolvimento da curiosidade intelectual e estimula o sentido crítico, que permite a compreensão da realidade mediante a capacidade de discernimento do mesmo. Esta aprendizagem pressupõe antes de mais, o Aprender a aprender, “exercitando a atenção, a memória e o pensamento” (Delors, 1996, p.79) crítico, de modo a combater a submersão do sujeito na informação veiculada pelos media. Esta aprendizagem é permanentemente inacabada e enriquecida com toda a experiência do indivíduo.

▪ Aprender a fazer é uma aprendizagem que tem por base o desenvolvimento de competências e habilidades para a execução de tarefas. Deverá dotar o indivíduo para o desempenho de tarefas, mas sobretudo torná-lo apto para as diferentes situações que

possam surgir, quer na sua vida social, quer pessoal ou laboral. Este pilar encontra-se intimamente ligado ao anterior, Aprender a conhecer, pois dependem um do outro para acontecerem. O conhecimento emerge da experiência, e envolve-se com o restante conhecimento.

▪ Aprender a viver juntos, ou Aprender a viver com os outros, baseia-se no desenvolvimento da capacidade de estabelecer vínculos sociais, através da descoberta, compreensão e respeito pelo outro, e de gestão de conflitos, através do desenvolvimento do sentido de comunidade, e do trabalho comum, em colaboração e cooperação. Este pilar constitui um dos maiores desafios para a educação atual.

▪ Aprender a ser sustenta o princípio fundamental de que “a educação deve contribuir para o desenvolvimento total da pessoa – espírito, corpo, inteligência, sensibilidade, sentido estético, responsabilidade pessoal, espiritualidade.” E defende que a educação tem “como papel essencial, conferir a todos os seres humanos a liberdade de pensamento, discernimento, sentimento e imaginação de que necessitam para desenvolver os seus talentos e permanecerem tanto quanto possível, donos do seu próprio destino.” (Delors, 1996, p.85-86).