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Primeiro contacto aos participantes:

3.4.2 Contexto do estudo

O contexto geral do estudo é o ensino superior português. No entanto, no que toca à prática efetiva do e-learning, sabemos que as diferenças são claras de instituição para instituição, realidade que confirmámos na Etapa 0, através das entrevistas realizadas aos participantes.

É possível afirmar que em Portugal, a única instituição de ensino a distância em Portugal é a Universidade Aberta, recorrendo ao massivo uso das tecnologias para colmatar as distâncias impostas por esse modelo de ensino. Esta necessidade conduziu ao desenvolvimento de um modelo pedagógico para o ensino em e-learning, pela própria instituição (Pereira, Quintas-Mendes, Morgado, Amante & Bidarra, 2007), o qual está em vigor e rege as práticas didáticas dos docentes, propondo metodologias e instrumentos de ensino e de aprendizagem e de avaliação adequados às pedagogias do e-learning.

Tal como o modelo pedagógico, a estrutura de apoio e suporte montada em torno das práticas didáticas nesta instituição são referência para as restantes instituições que pretendam implementar o e-learning e o ensino a distância em Portugal.

O participante P1 falou-nos em entrevista do dia-a-dia na Universidade Aberta, confirmando a existência do referido modelo pedagógico, o qual serve de guia ao desenvolvimento das tarefas docentes:

“Há um modelo pedagógico… que pressupõe um ritmo, um fluxo de atividades próprio.” e de instrumentos institucionais de apoio ao planeamento da unidade curricular, o Contrato de Aprendizagem e o Plano de Unidade Curricular:

“…é pressuposto que o docente crie uma matriz do seu curso (…) um contrato de aprendizagem no caso dos mestrados… vem com os modelos ligados aos compromissos de aprendizagem dos alunos (…). Há um documento semelhante no caso das licenciaturas… é o plano de unidade curricular.” Estes documentos, ainda que adotados institucionalmente, não são estanques, conferindo alguma liberdade ao docente para lhes introduzir algumas variações:

“…eu posso simplesmente mudar totalmente esta, esta organização e esta sequência, embora seja um incentivo claro a que se tente deixar claro quais são as expectativas e atividades semana a semana para que o aluno não se perca nisso.” No que se relaciona com a operacionalização da unidade curricular no Moodle, este é um trabalho que ainda implica muito investimento por parte do docente, apesar de existir um serviço de informática de apoio na instituição:

“Começa a editar a cadeira no moodle, a criar os vários tópicos e a criar, e a criar os seus espaços. Quando está pronto, a única diferença é que faz isso não na cadeira final mas numa cadeira chamada matriz. (…) Quando a matriz está pronta, depois pede-se aos serviços de informática para validar a matriz… não vão dar opiniões, não vão dar opiniões pedagógicas, não vão fazer tratamento multimédia, vão apenas verificar se essa parte informática, administrativa e a ligação mais de, rígida digamos assim, ao modelo pedagógico estão a bater certo.” De forma sucinta, o processo de criação da disciplina no LMS dá-se da seguinte forma: “(…) o docente produz a matriz, pede a validação da matriz, depois da matriz estar validada é também o docente que decide e pede ah...pede a duplicação dela, ou seja diz, ok a matriz está como eu quero, agora eu quero abrir uma cadeira. Portanto mal a gente diz, eu quero duplicar esta matriz para o ano letivo para este curso ela fica duplicada com os alunos automaticamente inscritos, tudo pronto, ah a ligação às pautas fica feita, ah e agora o docente é que é responsável por decidir quando é que eles são, quando é que aquilo está pronto ou não está pronto e abre. E é o docente que dá a ordem de abertura da, da cadeira aos alunos.” Relativamente à produção de recursos de apoio, externos ao Moodle:

“…o modelo pedagógico incentiva ambas as coisas, portanto podemos produzi-los ou procurá-los e usá-los livremente. Se quisermos algum apoio para produzir conteúdo isso tem que ser pedido individualmente.”

As restantes universidades caracterizadas na Etapa 0 do estudo - Universidade de Coimbra, Universidade Aberta e Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro - adotam o e- learning de forma ainda bastante incipiente. Praticando um ensino dito tradicional, as tecnologias são maioritariamente incorporadas como apoio às pedagogias de sala de aula, como afirmaram os entrevistados:

“Sim, de uma forma geral todos nós, uns mais ativos, outros menos ativos usamos a plataforma Moodle. E nessa plataforma do Moodle, os menos ativos pelo menos os sumários (…) E depois os PDFs das aulas, colocamos de forma geral, e eu também coloco sempre nessas plataformas (…) Avisos, toda essa coisa de avisos…isso funciona em termos de Moodle também.” (Participante P02) “(…) portanto nós temos a plataforma de administração, administrativa não é dos conteúdos, o Nonio, e pronto, procuro utilizar, procuro utilizar além dos sumários e daquelas coisas que são incontornáveis. Procuro dinamizar fóruns, se bem que não me parece que seja uma plataforma para gestão do conhecimento. (…) Há uns anos atrás com um colega da Universidade Aberta, experimentei o Moodle, e pronto é uma ferramenta que vou utilizando um bocadinho pontualmente.”

(Participante P01) Contudo, são diversas as iniciativas de ministração de cursos creditados e não creditados a distância, sendo que duas das instituições (Universidade de Coimbra e Universidade de Lisboa) contam mesmo com gabinetes de e-learning organizados e instituídos para o efeito. Na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro:

“Temos apoio técnico, temos apoio informático, mas em termos de conteúdos e de estruturação, não.” (Participante P3) Quando existem, estes gabinetes contam com a colaboração dos docentes para os cursos que realizam, providenciando-lhes também apoio na incorporação das TIC nas praticas didáticas a nível institucional, e complementam os seus conhecimentos e experiência com as indicações que a equipa de e-learning (quando existe e quando é solicitada) oferecem:

“Com base nos meus conhecimentos, com base no que a equipa me vai dizendo…, ainda que se mantenha um processo… fechado na pessoa. A única coisa que é aberta a muitos é quando uma disciplina tem vários professores.” (Participante P02) Apesar deste apoio, nas instituições referidas não existe um modelo pedagógico dedicado ao e-learning, que oriente as práticas docentes. Nem instrumentos de planeamento adotados institucionalmente. Houve quem respondesse categoricamente:

“Não.” (inexistência de um modelo pedagógico institucional) (Participante P02) “De um modo geral aquilo que eu faço é: tenho um texto com a sequência das aulas e entre cada uma, cada aula escrevo um pequeno texto a dizer o que é que espero que eles tenham aprendido na primeira aula e o que é que espero que eles façam na segunda com os conhecimentos da primeira e que curiosidade, dúvidas, o que é que eles, qual é a expectativa que vão criar para a terceira aula. Portanto eu tenho um documento de texto comentado por mim próprio…” (Participante P3) E acrescenta, relativamente à inexistência de instrumentos orientadores e auxiliadores das práticas didáticas:

“Não. Não. Parto do principio que a minha boa vontade e a minha ideia chegam para dar as matérias. (…) Portanto, é como digo, eu tenho, tenho ideia do que é que quero fazer, mas não tenho, não tenho nenhum apoio institucional, não existe um gabinete, não existem aulas, não… instrumentos.”

(Participante P3) “Não.” (inexistência de instrumentos de planeamento, institucionais) (Participante P02) Face às respostas dos entrevistados, podemos concluir que a Universidade Aberta constitui um ambiente privilegiado no panorama português, para o ensino em e-learning. Os problemas da adoção efetiva das TIC no ensino residem em vários fatores, alguns deles de cariz institucional, como a falta de um modelo pedagógico adequado adotado institucionalmente e a inexistência de estratégias e instrumentos de apoio à conceção e desenvolvimento de práticas didáticas com as TIC.