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1.1 A SUSTENTABILIDADE – ASPETOS GERAIS

O gerenciamento dos resíduos de construção civil insere-se em temáticas mais gerais, que são nomeadamente as da sustentabilidade e da gestão ambiental.

Embora a degradação e a modificação ambiental sejam produto da ação do Homem sobre o planeta desde sempre, foi com a Revolução Industrial, a partir do século XIX, que esses problemas passaram a assumir proporções maiores. O trabalho produtivo, executado pelo trabalhador, passa a ser executado por máquinas, passando as tarefas artesanais a ter papel menos prestigiante. A concentração desordenada de pessoas em núcleos urbanos tem como consequências o individualismo, aumento da criminalidade, a decadência dos valores. O manejo de grandes volumes de materiais e produção de energias dá origem à geração de detritos e poluentes, e à degradação do meio ambiente.

Os tempos em que o ambiente natural podia ser visto fonte inesgotável de recursos disponíveis para servir às necessidades humanas caminhavam para o final, a passos largos, sem que o Homem sequer se apercebesse disso. O ciclo produtivo da sociedade de consumo retirava da natureza os insumos necessários para a produção de alimentos e bens de consumo, atividades fabris e outras, fazendo retornar à natureza resíduos sólidos e efluentes líquidos em grandes quantidades, causando poluição e esgotamento dos recursos. As preocupações ambientais assumiram particular destaque a partir da segunda metade do século XX, sendo o Clube de Roma, fundado em 1966 pelo industrial italiano Aurelio Peccei e pelo cientista escocês Alexander King um marco de referência a esse propósito. Acabou reunindo um grupo de pessoas ilustres para debater um grande conjunto de assuntos ligados à política, economia internacional, mas também com foco no meio ambiente e no desenvolvimento sustentável.

De acordo com Fossati (2008), esse desafio estava lançado, e a partir dos anos 70 observa-se a evolução da preocupação internacional em relação às conseqüências da então atual forma de desenvolvimento, em virtude da constatação da velocidade de deterioração, e até mesmo da eliminação, de alguns recursos ambientais.

Em 1972 publica-se o livro “Os Limites do Crescimento”, da autoria de Donella H. Meadows, Dennis L. Meadows, e Jorgen Randers. O livro foi comissionado pelo já referido Clube de Roma, e modelou as consequências do crescimento rápido da população mundial,

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considerando os recursos naturais limitados. Utilizou o sistema computacional World3 para simular as consequências da interação entre os sistemas do planeta Terra com os sistemas humanos. Cinco variáveis foram estudadas, no modelo original, assumindo-se que o crescimento exponencial descreve com acurácia seus padrões de crescimento: população mundial, industrialização, poluição, produção de alimentos e esgotamento de recursos. No livro é prevista uma diminuição significativa da população mundial durante o século XXI em função de um colapso econômico e social.

Segundo Fossati (2008), convenções internacionais passam a ser realizadas e metas definidas para a desaceleração do consumo de recursos naturais, sendo a primeira delas a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano (Estocolmo, 1972).

Depois dela outras se seguiram, como a Convenção de Viena para Proteção da Camada de Ozônio (Viena, 1985), o Protocolo de Montreal (Montreal, 1987), a Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento - ECO-92 (Rio de Janeiro, 1992), a Conferência das Nações Unidas de Istambul (Istambul, 1996), o Protocolo de Kyoto (Kyoto, 1997).

Em todo o processo outras referências importantes surgiram, sendo a principal delas o Relatório Brundtland (1987), que resulta da criação pela Assembleia das Nações Unidas, em 1983, de uma comissão especial, a chamada Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento. Essa comissão foi chefiada pela primeira-ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, e elaborou um documento intitulado “Our Common Future” (Nosso Futuro Comum), que incluia o referido relatório.

O Relatório Brundtland cunhou então o termo “Desenvolvimento Sustentável”, que é tido como aquele que atende às necessidades do presente sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas próprias necessidades.

Dentro das temáticas desenvolvidas e resultados mais importantes obtidos nas conferências e comissões anteriormente referidos, temos os seguintes:

Na Conferência de Estocolmo (1972), foram abordados temas relacionados principalmente com a poluição atmosférica e de recursos naturais. As discussões contaram com a presença de chefes de 113 países, e de mais de 400 instituições governamentais e não governamentais. Verificou-se um confronto bastante claro entre as posições dos chamados “países desenvolvidos” e dos “países em desenvolvimento”. Os primeiros pretendiam a redução imediata do ritmo de industrialização (principal causa de degradação do meio ambiente), e os segundos recusaram-se a assumir quaisquer compromissos que limitassem a sua capacidade de crescimento. Tornou-se desse modo impossível chegar a um acordo. No entanto, foi concebido um importante documento designado “Declaração da

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Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano”, adotado em 6 de junho de 1972, o qual constituiu o primeiro documento do direito internacional a reconhecer o direito humano a um meio ambiente de qualidade, que é aquele que permite ao homem viver com dignidade. Ademais, a conferência teve um papel irrefutável em introduzir a problemática ambiental entre as prioridades dos governos dos países, e na conscientização da população, pois pela primeira vez o mundo dirigiu sua atenção para os problemas do crescimento da população absoluta global, da poluição atmosférica e da intensa exploração dos recursos naturais.

A Convenção de Viena (1985) trouxe uma nova ótica sobre a questão ambiental, agora preventiva. Seus principais objetivos foram os de proteger a saúde humana e o meio ambiente contra os efeitos adversos resultantes das atividades que modificam a camada de ozônio, tais como o aquecimento global, o derretimento das calotas polares e a proliferação de doenças como o câncer de pele. O mecanismo de Avaliação de Impacto Ambiental (AIA), instrumento típico de prevenção, tornou-se uma condição a ser cumprida para obtenção de concessões para implantação de projetos possivelmente nocivos ao meio ambiente.

No Protocolo de Montreal (1987), sobre substâncias que empobrecedoras da camada de ozônio, os países signatários comprometeram-se a substituir as substâncias que demonstrassem, a partir de 16 de Setembro de 1987, prejudicar a referida camada. O protocolo passou a regular a produção e o consumo de 15 tipos de CFC que eram as principais fontes de destruição do ozônio. Foi encomendado estudo para achar uma nova forma de substituir os produtos destruidores por outros sem malefícios. Estipulou-se um prazo de dez anos para que os países se comprometessem a eliminar o uso desses 15 tipos de CFC. Em sua substituição foi então proposto o uso do que hoje se usa, butano e o propano, os quais apresentam uma boa aceitação das indústrias. Entrou em vigor em 1 de Janeiro de 1989. Teve a adesão de 150 países, sendo depois sido sucessivamente revisado em 1990, 1992, 1995, 1997 e 1999.

Na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento, ECO-92 (Rio de Janeiro, 1992), representantes de cento e oito países decidiram que medidas tomar para conseguir diminuir a degradação ambiental e garantir a existência de outras gerações. A conferência teve como resultado mais geral a aprovação da “Declaração do Rio”. Além da sensibilização das sociedades e das elites políticas, a conferência teve como resultado a produção de alguns documentos oficiais fundamentais, que foram: a “Carta da Terra”, a “Convenção sobre Diversidade Biológica” (tratando da proteção da biodiversidade), a “Convenção das Nações Unidas de Combate à Desertificação” (tratando da redução da desertificação), e a “Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima” (tratando das mudanças climáticas globais), a “Declaração de Princípios sobre Florestas”,

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a “Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento” e a “Agenda 21”, sendo esta última considerada o mais significativo resultado da conferência. A “Agenda 21”, apresenta um plano de ação para o desenvolvimento sustentável a ser adotado pelos países signatários, a partir de uma nova perspectiva para a cooperação internacional. Constitui um amplo plano de ação visando o desenvolvimento sustentável a médio e longo prazo. A estratégia de atuação estrutura-se a partir de quatro grandes temas: os desafios ambientais, que tratam da conservação e do gerenciamento de recursos para o desenvolvimento; a questão do desenvolvimento sustentável, com as suas dimensões econômicas e sociais; o papel dos grupos sociais na organização e fortalecimento da sociedade humana, e os meios de implementação das iniciativas e projetos, para a sua efetivação, o que compreende as bases para o encaminhamento de iniciativas voltadas à obtenção de melhores condições ambientais e de vida. A sua elaboração foi feita de forma que possa ser desdobrada em diferentes níveis: global, nacional, e níveis locais, dentro dos próprios países. Tavares (2007), refere que o governo brasileiro, embasado na Agenda 21, deu início ao processo de elaboração da própria Agenda 21 brasileira, apresentada em 2002. Estados e municípios têm discutido agendas 21 regionais e locais, onde se destaca a necessidade de uma ampla participação social no processo, em conjunto com a contribuição da educação ambiental.

Na Conferência das Nações Unidas de Istambul (1996) foi produzida a “Agenda Habitat II”, onde os profissionais do setor da construção civil definiram a aplicação do desenvolvimento sustentável para o mesmo, pondo em evidência riscos para a saúde por parte de certos materiais como o amianto. A repercussão foi imediata, despertando interesse da opinião pública na preservação do meio ambiente e na criação de um entorno saudável.

No Protocolo de Kyoto (1997), tratado internacional discutido e negociado no Japão na cidade com o mesmo nome, definiram-se compromissos mais rígidos para a redução da emissão dos gases que provocam o efeito de estufa, considerados pela maioria das pesquisas científicas como a principal causa do aquecimento global. O protocolo foi aberto para assinaturas por parte dos países signatários a partir de 11 de dezembro de 1997, e foi ratificado em 15 de março de 1999. Para que o mesmo entrasse em vigor foi necessário que cinquenta e cinco países, os quais no seu total representavam também 55% das emissões globais de gases de efeito de estufa, o ratificassem. Acabou entrando em vigor em 2005 com a assinatura da Rússia. O referido protocolo propôs um calendário, pelo qual os países- membros (principalmente os desenvolvidos) tinham a obrigação de reduzir a emissão de gases do efeito estufa em pelo menos 5,2% em relação aos níveis de 1990 no período entre 2008 e 2012. Esse período foi chamado de “primeiro período de compromisso” . As metas de redução não foram iguais para todos os países, colocando níveis diferenciados

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para os trinta e oito países que emitem mais gases. Países que na época estavam em franco desenvolvimento, como Brasil, México, Argentina e Índia, não receberam metas de redução naquele instante. A redução dessas emissões deverá acontecer em várias atividades econômicas. O protocolo estimula os países signatários a cooperarem entre si, através de algumas ações básicas como sejam: reformar os setores de energia e transporte, promover o uso de fontes energéticas renováveis, eliminar mecanismos financeiros e de mercado inapropriados aos fins da convenção, limitar as emissões de metano no gerenciamento de resíduos e dos sistemas energéticos e proteger florestas e outros sumidouros de carbono. Se o protocolo for implementado com sucesso, estima-se que a temperatura global reduza entre 1,4°C e 5,8 °C até 2100, no entanto há comunidades científicas que afirmam que a meta de redução de 5,2% em relação aos níveis de 1990 é insuficiente para a mitigação do aquecimento global.

Mais recentemente, foi estabelecido o chamado “Acordo de Paris”, em 2015, que é um tratado UNFCCC (sigla em inglês para Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima), e que rege medidas de redução de emissão dióxido de carbono a partir de 2020. O acordo foi negociado durante a COP-21, em Paris e foi aprovado em 12 de dezembro 2015.

O objetivo da convenção está descrito no artigo 2º, "o reforço da implementação" da UNFCCC através de:"(a) Assegurar que o aumento da temperatura média global fique 2°C abaixo dos níveis pré-industriais e prosseguir os esforços para limitar o aumento da temperatura a até 1,5°C acima dos níveis pré-industriais, reconhecendo que isto vai reduzir significativamente os riscos e impactos das alterações climáticas; (b) Aumentar a capacidade de adaptação aos impactos adversos das alterações climáticas e promover a resiliência do clima e o baixo desenvolvimento de emissões de gases do efeito estufa, de maneira que não ameace a produção de alimentos; (c) Criar fluxos financeiros consistentes na direção de promover baixas emissões de gases de efeito estufa e o desenvolvimento resistente ao clima."

A temática da sustentabilidade abrange outras preocupações que não apenas as de cariz ambiental. Assim, haverá que se lhes juntar também os assuntos inerentes à responsabilidade social e à própria rentabilidade econômica das atividades produtivas. É o que se convencionou chamar de “triple bottom line”. As três vertentes têm obrigatoriamente que ser consideradas de forma conjunta.

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