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outros) 754 5.4.3.1.5 Classe D (perigosos)

1.5 PROPOSTA DE ESTUDO

1.6.1 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

- Realizar diagnóstico dos principais itens/etapas que compõem o gerenciamento de RCC em 3 canteiros de obra (estudos de caso);

- Verificar e analisar o atual estágio de implantação da legislação vigente nos canteiros estudados;

- Estudar a lógica e o “modus operandi” do gerenciamento de RCC nas obras objeto de estudo de caso;

- Estudar a gestão de RCC em canteiros de obra noutros países, como subsídio para o objectivo principal, fazendo as adaptações necessárias;

- Propor um modelo de gestão de RCC para construtoras brasileiras;

- Desenvolver ferramenta informática de apoio à gestão privada dos RCC, no qual usuários possam gerenciar: produção, manejo e destinação final desses resíduos.

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2. JUSTIFICATIVA

O fenômeno da urbanização e o consequente adensamento das cidades obrigaram a uma mudança no conceito de progresso, quando se passou a perceber que o mesmo só atinge a sua plenitude quando também consideradas as questões ambientais. O aparecimento do conceito de desenvolvimento sustentável, que visa não apenas o momento atual mas o momento futuro, fez com que a sociedade se tornasse cada vez mais exigente em relação ao meio ambiente.

A geração de resíduos sólidos tornou-se um problema cada vez mais complicado de resolver nos meios urbanos, demandando uma atenção cada vez maior por parte das autoridades públicas, isto porque o volume gerado é cada vez maior, devido ao constante crescimento populacional, acrescido de uma cultura de consumo de produtos descartáveis cada vez maior. Um sério agravante relativo aos resíduos sólidos urbanos é a escassez de espaços físicos apropriados para a destinação desses resíduos. Entre as várias frações de Resíduos Sólidos Urbanos, o chamado entulho da construção civil, ainda que não esteja entre os mais tóxicos, se destaca devido ao seu considerável volume, e pela grande quantidade gerada, chegando a atingir mais de 50% de todo o resíduo sólido urbano.

No que diz respeito às porcentagens ou quantitativos (representatividade) dos resíduos da construção civil em relação ao total dos resíduos sólidos urbanos os dados variam segundo os autores. Assim, enquanto Bidone, F.R.A. (2001) refere uma relação de 1 tonelada de lixo urbano recolhido para cada 2 toneladas de Resíduos da Construção e Demolição (RCD), Pinto, T. de P. (1999), indica que a massa de RCC varia entre 41% a 70% da massa total de resíduos sólidos urbanos. Já John, V.M. (2001) refere valores de RCC/RCD que podem variar entre os 300 a 500Kg/hab.dia, podendo em alguns casos chegar mesmo aos 1.300Kg/hab.dia. Pinto, T. de P. e Gonzáles, J.L.R. (2005), num estudo realizado em dez municípios do Estado de São Paulo, chegam a valores de RCC/RCD que variam entre um mínimo de 50% dos respetivos RSU até um máximo de 70% dos mesmos. O mesmo John, V.M. (2009) e numa outra publicação, afirma que os RCC/RCD variam entre 40% a 70% dos resíduos sólidos urbanos produzidos no país. Todos estes números apresentados são elucidativos de quanto importante é uma boa gestão dos RCC/RCD.

Acresce que o rápido crescimento das cidades de médio e grande porte no Brasil, com os seus contínuos serviços de construção, reforma e demolição de edificações e de infra-estrutura urbanas, vem aumentando a geração de RCC (Resíduos Sólidos da

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Construção Civil). O incremento da geração, somado com alguma falta ainda de políticas municipais específicas para os RCC, agravam os problemas dos municípios com a coleta, transporte e disposição dos resíduos sólidos urbanos, sendo frequentemente observada a prática de disposição ilegal dos RCC em locais não adequados, tais como ruas, calçadas, terrenos baldios, encostas e leitos de córregos e rios.

Optimizar portanto o gerenciamento desse enorme volume de RCC/RCD diariamente é um dos principais desafios não só das administrações municipais como das empresas construtoras, pois os RCC/RCD quando descartados em áreas inadequadas acarretam problemas gravíssimos ao meio urbano, não só sob o ponto de vista ambiental como socialmente, por se tornarem focos de proliferação de doenças.

Por outro lado deveria haver uma correta separação, uma triagem/segregação logo à partida, dos RCC no canteiro de obra, o que na esmagadora maioria dos casos não é realizado. Não adianta tentar reciclar apenas os resíduos quando eles já foram todos misturados uns com os outros ou até mesmo levados para locais de depósito. Qualquer ação de beneficiamento e reciclagem dos mesmos que possa ser feita só depois que os RCC/RCD atravessem os limites externos da obra, já não poderá garantir a 100% uma boa qualidade dos materiais daí provenientes, a serem reincorporados no ciclo produtivo, para além de que a contaminação/mistura de resíduos de vários tipos entre si diminui o potencial de reciclagem e diminui o próprio valor comercial do resíduo.

Ademais, quantificar os RCC no Brasil não é a mesma coisa do que quantificar os resíduos na maioria dos países europeus, por exemplo. Isto porque os processos construtivos dominantes num e noutro lado são diferentes, os materiais são diferentes, as naturezas das obras são diferentes, e portanto os resíduos gerados (quantidades e composição por classes) acabam sendo diferentes também.

Assim, veja-se que enquanto no Brasil existe neste momento uma significativa fatia de construção de casas populares ao abrigo do programa “minha casa minha vida”, casas para populações de baixa renda, e onde os materiais de acabamento naturalmente não terão a mesma natureza do que construções de padrão mais elevado, na maioria dos países europeus, onde as grandes e médias cidades apresentam construções muito antigas, uma significativa porção das obras são obras de reforma e reabilitação, com consequentes demolições de prédios antigos, com materiais que muitas vezes já nem se usam mais hoje em dia.

Além disso, muitos desses países europeus já são confrontados nos dias de hoje com uma carência de locais de extração de recursos naturais, sobretudo os da Europa do Norte, que o Brasil ainda não tem. Daí a preocupação e o rigor desses países numa triagem

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dos resíduos feita logo na fonte, e até o quantitativo total de resíduos reaproveitados é muito maior do que no nosso país.

Pinto, T. de P. (1999), produziu um estudo académico tendo por tema a proposição de uma metodologia para a gestão diferenciada dos resíduos sólidos na construção urbana. Faz uma caracterização bastante aprofundada da geração dos resíduos sólidos urbanos no país, entre os quais os RCC, e compara até com as realidades sobre esses materiais em outros países. No entanto, a abordagem de Pinto é uma abordagem mais macro, e que vem de fora do canteiro para dentro, e não de dentro para fora. Ela é feita na perspetiva do município, e não sob a perspetiva da construtora. A pesquisa de Pinto, T. de P. (1999) teve entretanto bastante impacto, sendo seguida por outros autores.

Baasch, S.S.N. (1995), desenvolveu um software a partir de um método multicritério de apoio à decisão, mas esse software, construído segundo a linguagem de programação C++, tinha por foco auxiliar a gestão dos resíduos sólidos nos municípios catarinenses. Ou seja, uma vez mais o foco é a gestão municipal dos RCC, segundo a perspectiva pública portanto, e não a gestão dos mesmos dentro do canteiro, segundo a perspectiva das construtoras.

Fraga, M.F. (2006), desenvolve dissertação onde não só faz uma caracterização da geração de RCC em Belo Horizonte, como propõe uma série de medidas para minimização da geração desses resíduos, mas medidas essas cujo foco são as etapas de projeto e planelamento de obras, e não a de execução das mesmas.

Pucci, R.B. (2006), estuda a logística dos RCC atendendo à Resolução n° 3007/2002, analisa tanto os ambientes interno como externo ás empresas, propõe um plano de gestão de RCC, mas não um software de apoio à decisão sobre gerenciamento de RCC.

Araújo, V.M. (2009), elabora estudo acadêmico onde define um conjunto de práticas recomendadas para uma gestão mais sustentável de canteiros de obras. Essas práticas têm por base diretrizes tecnológicas e gerenciais, e a elaboração de um guia que propõe uma estratégia para implantação de canteiros mais sustentáveis.

Marques Neto, J.C. (2009), na sua tese de Doutorado, desenvolve um software informático de apoio à decisão, na gestão municipal na bacia hidrográfica do Turvo Grande, que envolve vários municípios. Dos trabalhos consultados, em território nacional, é um dos três únicos que o faz. No entanto trata-se de um sistema para apoio à gestão municipal, ou seja, na perspetiva pública, e sob uma visão de fora para dentro do canteiro.

Hamada, P. (2011), desenvolve uma interessante dissertação, onde chega a um índice de qualidade de gestão de resíduos sólidos urbanos, com embasamento num método

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multicriterial, o método AHP, aplicando-o em três municípios do interior paulista com características diferentes, um deles de pequeno porte (Lençóis Paulista), outro de médio porte (Bauru) e outro de grande porte (Sorocaba), mas de novo, o foco da dissertação são os RSU, ou seja, é a perspectiva do município, da parte externa ao canteiro, e não a perspectiva das construtoras, dentro do canteiro. De todo modo também não se trata de nenhum software.

Martins, F.G.M. (2012), desenvolve pesquisa cujo objetivo principal foi analisar o gerenciamento de RCC em duas obras de grande porte, respetivamente: a construção da Arena Pernambuco-PE, e da Arena Fonte Nova-BA, após a regulamentação das resoluções CONAMA n° 307/2002, 431/2011 e 448/2012, e da Política Nacional de Resíduos Sólidos, Decreto n° 7404/2010, que regulamenta a Lei n° 12305. No entanto o tipo de obra escolhido não é muito representativo do setor, trata-se de obras esportivas de grande porte. E não desenvolve modelo de optimização.

D´Oliveira, M.C.P., Picanço, A.P. e Andrade, A.M. (2014), desenvolvem e aplicam na região de Palmas –TO, um software de apoio à gestão municipal dos RCC, a que chamaram de GIRASSOL, que trabalha com imagens por satélite, e que permite relacionar os pontos de demanda no município, que são as obras em construção, e os locais regulares existentes para destinação dos RCC. O que o software faz é o seguinte: 1 - Identifica os pontos onde estão alocadas as caçambas de coleta; 2 - Define em quais lotes está acontecendo uma obra; 3 - Estima a capacidade de trabalho (produtividade) das empresas de caçamba; 4 - Define em quais e quantas obras não existem caçambas locadas. Basicamente, o sistema auxiliará a gestão operacional da coleta de RCD por meio da geração, análise e avaliação de possíveis cenários de operação deste tipo de coleta. Mas como se vê e uma vez mais, trata-se de um sistema de apoio à municipalidade, em que o problema é analisado da parte de fora do canteiro, e não na perspectiva dos interesses dos construtores, com uma visão de dentro para fora do canteiro.

Por outro lado noutros países, nomeadamente na Europa, tem sido possível avançar um pouco mais na problemática da gestão dos RCD (RCC), ao que não será estranho o fato de alguns desses países terem problemas mais graves do que o Brasil no que diz respeito a locais para destinação final dos resíduos.

Assim, vários países e várias Universidades, entre as quais a Universidade do Minho, no seu polo de Guimarães (Azurem), bem como a Universidade de Dresden e outras, juntaram-se no sentido de colaborarem num projeto, a que chamaram de projeto WAMBUCO, a partir de 2002, e como resultado conseguiram elaborar o primeiro Manual Europeu de Resíduos da Construção de Edifícios, o qual visa visa proporcionar, a todos os

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agentes envolvidos, um instrumento de aplicação imediata para a avaliação das atividades de construção planejadas em termos da sua relevância na geração de resíduos e noutros aspectos relacionados com a gestão de resíduos. O Manual Europeu de Resíduos da Construção de Edifícios dirige-se principalmente a: donos de obra, gestores de projetos, empresas de construção, arquitetos, empresas de recolha e tratamento de resíduos, produtores e retalhistas de materiais de construção. Um dos importantes impulsionadores e coordenadores deste projecto foi o Professor Doutor Said Jalali, da Universidade do Minho.

São vários os desafios que se colocam à elaboração de uma ferramenta informática de apoio à gestão privada de RCC, em canteiro de obra. Desde logo contribuir para o menor impacto ambiental possível da obra. Depois também, a contribuição para uma melhor integração entre as várias etapas do gerenciamento de RCC no canteiro. Estabelecer relações de causa e efeito entre várias variáveis independentes (entradas) para determinar o melhor valor para uma ou duas variáveis dependentes (saídas). Poder analisar e fornecer relatórios de gestão de resíduos com informações sobre vários cenários diferentes. Fazer uma quantificação o mais detalhada possível dos tipos de RCC gerados em obra.

Para conseguir vencer os desafios que se lhe colocam e chegar ao objetivo a que se propõe, a pesquisa terá que se valer entre outros dos seguintes meios e métodos:

- Verificar qual a forma como as empresas em causa organizam os seus processos de elaboração de orçamento para concurso, se neles já estão previstas as gerações de resíduos, e qual o resultado que passam daí para a obra a esse respeito;

- Verificar se existem planilhas de controladoria de resíduos de obra nas empresas; - Enviar questionários a um conjunto significativo de empresas acerca de como elaboram os seus procedimentos de gestão de RCC, e pedir-lhes o favor de repassarem os dados sobre percentuais de resíduos que daí conseguiram apurar;

- Estabelecer rotinas rígidas de controle dos materiais em colaboração com o Eng. De Obra e o seu setor de almoxarifado, administrativo, contabilidade, e betoneirista;

- Conseguir pesar pelo menos uma parte da obra;

- Fazer uma análise estatística dos quantitativos de resíduos apurados nas obras que constem de banco de dados elaborado, de forma a conseguir “afinar a malha” e descartar resultados não representativos;

Pelo atrás exposto se demonstra que, apesar de existirem várias pesquisas que se desenvolvem sobre a temática do gerenciamento dos RCC, não há antes de tudo o mais um banco de dados suficientemente representativo relativo a número vasto de obras, onde tenham sido determinados quantitativos de resíduos gerados, ou sequer que relação entre

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fatores ou quais relações influenciam a variação desses quantitativos. Ou seja, a primeira dificuldade já é a de criar esse banco de dados, o que constitui mais um desafio para a presente pesquisa. Mais ainda, não existe até agora no Brasil uma ferramenta informática de apoio ao gerenciamento dos RCC na perspetiva do executor, o empreiteiro, ou seja, focado no canteiro.

Donde, fica demonstrada a relevância da pesquisa, e com o desenvolvimento da ferramenta informática, demonstrada a originalidade da pesquisa.

Ademais, o gerenciamento dos RCC em canteiros de obra, enquadra-se na questão do reaproveitamento dos recursos naturais, e numa perspetiva mais ampla ainda, no âmbito da sustentabilidade. Qualquer ferramenta que permita a diminuição da quantidade de resíduos da construção civil nos canteiros de obra, multiplicando a sua aplicação pela quantidade de canteiros existentes no país, significará uma diminuição de deposições finais de resíduos, nomeadamente em áreas irregulares/não licenciadas, brutal, e um benefício muito grande também a nível de impacto ambiental sobre as localidades onde as obras se situam. Isso demonstra o interesse ambiental e social da pesquisa.

A legislação vigente sobre gestão de RCC, a nível federal, já fala de uma forma meio que tímida, pois não especifica as formas (prêmios/benefícios), em benefícios para o não poluidor, ou aquele que diminui o impacto ambiental das suas atividades. Se a implantação da ferramenta informática de apoio à decisão conseguir demonstrar de forma clara esses benefícios a nível de impactos ambientais, fica criado o caminho para que as empresas que implantem o sistema possam reclamar junto da administração central tais benefícios sugeridos mas não explicados pela lei. Daí o interesse do desenvolvimento de tal software para o setor da construção.

Sob o ponto de vista pessoal do pesquisador, a pesquisa também se justifica, na medida que lhe permite ser enquadrado numa área de estudo do seu agrado (gestão, economia na construção), e continuar o seu desenvolvimento acadêmico e pessoal.

Para concluir podem ainda fazer-se algumas reflexões como sejam as seguintes: será que o processo construtivo não se ressente na sua própria qualidade se não existir uma organização, traduzida por exemplo em um projeto de canteiro, no qual já estejam previstos aspetos de gerenciamento de RCC como sejam os principais fluxos de resíduos dentro do mesmo? Existem algumas empresas que já se preocupam em estabelecer e estudar os fluxos dos principais materiais consumidos nas suas obras, mas sem se preocuparem muito com a questão dos respetivos resíduos.

Por outro lado eventualmente as próprias variáveis que são estudadas quanto aos resíduos podem não ser aquelas que trarão as respostas no futuro. Assim, talvez a

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separação dos resíduos por classes estabelecidas na resolução CONAMA n° 307/2002 e dentro dos canteiros acabe sendo algo um pouco “paliativo”, seja algo que até atenda a um gerenciamento público dos mesmos mas não aos problemas essenciais de um gerenciamento privado, em canteiro. Eventualmente devia-se fazer uma separação dos resíduos por tipos e não por classes. O que mudaria a forma de acondicionamento, de transporte, e provavelmente acabaria reduzindo o número de cargas de resíduos a serem conduzidas para fora do canteiro. É que numa separação desse gênero (por tipos de materiais e não por classes), o resíduo praticamente não chegaria a ser resíduo, ele acabaria sendo o próprio material em si. Hoje isso é feito no Brasil mas apenas em relação a poucos materiais, e por uma quantidade ainda relativamente baixa de construtoras.

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