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Tecnologia e técnica são categorias que vêm sempre associadas e frequentemente confundidas o que dificulta a compreensão de cada uma delas quanto às suas abordagens e aos sentidos utilizados pelas diferentes esferas da sociedade. A distinção entre elas é tão sutil que em certos reflexos da linguagem comum muitas vezes são empregadas como sinônimos. Dessa forma, faz-se mister aclarar as diferenças existentes levando-se em consideração a pluralidade de conceitos dos termos e as características que as distinguem

como forma de entender o agir do ser humano em relação aos conhecimentos técnicos e tecnológicos e de que maneira elas interferem na concepção do perfil dos profissionais que deverão trabalhar na área tecnológica.

Como forma de auxiliar o entendimento dos aspectos que as diferenciam, conceituar os termos e reconhecer as suas peculiaridades adotar-se-á três modos de abordagem: o primeiro com relação à questão semântica dos termos, que dificulta a compreensão e causa confusão em suas formas de utilização, pois ambas as palavras têm origem comum e são derivadas do termo arte, como originário do latim ars e correspondente ao termo tékhne proveniente do grego; o segundo aspecto é que sem a história da técnica não há como compreender a tecnologia, o desenvolvimento tecnológico e até mesmo o processo criador da humanidade; e, por fim, a concepção de tecnologia no âmbito da reflexão filosófica. Acredita-se que muitas abordagens e concepções divergentes e às vezes equivocadas sobre os termos são o resultado, principalmente, do desconhecimento da evolução sociocultural da espécie humana no ambiente onde foram criadas e executadas. Contudo, não se pretende esgotar todo o conteúdo, já que a distinção entre ambas as categorias não é simples nem neutra e por isso bastante complexa, por possuir inúmeras ramificações e concepções.

No que se refere à palavra tecnologia, de acordo Neves (2010), ela "aparece no século XVIII (1765) e deriva do grego tékhne – arte, indústria, habilidade – e de tekhnikós – relativo a uma arte; e de logos – argumento, discussão, razão – e logikós – relativo a raciocínio - derivado de légo - eu digo". Já para Cerezo Lopéz e Luján (1998), Ernst Kapp pode ser considerado o primeiro autor a realizar um tratado sistematizado sobre a tecnologia com sua obra Grundlinien einer philosophie der tecnik, em 1877, e o termo pode ter surgido em seu trabalho. Curiosamente, a expressão inglesa “philosophy of technology” surge, de modo significativo, muito mais tarde, segundo Craia (2003, p. 38):

Durante um simpósio celebrado em 1966, a partir dos trabalhos do filósofo argentino Mario Bunge, que também estabeleceu a expressão “technophylosophy” (MITCHAM, p. 40-41). Do mesmo modo, é preciso indicar o uso que faz desta expressão. P. J. Lucia na sua conferência ministrada no Instituto Psicotécnico, no dia 24 de março de 1933, cujo título foi o seguinte: “Busca de uma filosofia da técnica” (LUCIA, P. J.: “Bosquejo de una filosofia de la técnica”. Revista de Occidente; Madrid n1 118; 1933; pp. 38-57). Por outro lado, esta expressão se vincula de modo tangencial com a noção de “filosofia mecânica”. Esta última faz referência à concepção mecanicista do universo tão cara a pensadores como Newton, Berkeley, e Boyle. Do mesmo modo podemos pensar em uma relação com a expressão “filosofia dos manufatureiros”, que foi postulada pelo engenheiro químico Andrew Ure, em 1835 (Ver Mitcham, 21-23).

Entretanto, Gama (1996) e Pacey (1990) afirmam que o rastreamento da palavra tecnologia é difícil, pois a ela se associam ao longo da história distintos contextos sociais que vem se transformando numa coleção de diferentes significados. Neste sentido, de acordo com Lupion e Silva, o termo tecnologia em cada língua tem um determinado sentido:

Em inglês ela apresenta o significado de técnica, resultado provável de herança nominalista e empirista incorporada à língua. Em português, num primeiro momento assumiu com o sentido de técnica, e ao longo do tempo foram cunhados diferentes conceitos ancorados em correntes científicas, que a definem como: ciência relacionada ao trabalho, ciência aplicada, e aplicação da ciência. Na língua francesa, por diferentes períodos históricos, seu significado ora era entendido como técnica, ora como ciência e por vezes apresentava subordinação da técnica à ciência. Já na língua alemã, a palavra tecnologia aparece no seu sentido moderno como ciência (LUPION; SILVA, 2004, p. 4).

Quanto ao entendimento da tecnologia a partir da vinculação com a técnica e sua história, em sentido correlato, essa pertence, também, ao comportamento natural do ser que se humaniza. Deve-se deixar claro, entretanto, que a técnica não é a mera pré-história da tecnologia, nem o momento histórico particular de um processo cronológico recortado sob uma temporalidade. Pelo contrário, “como noção de ‘técnica’ indica-se o ponto singular que engloba, de modo mais original e decisivo, aquilo que se reserva ao pensar na intimidade dos entes” (CRAIA, 2003, p. 30). A técnica se constitui, portanto, numa manifestação da historicidade essencial do ser humano.

Assim sendo, a história da técnica é a história das grandes transformações dos artefatos caracterizada, de acordo com Bazzo, em dois tipos de mudanças: “em primeiro nível, as mudanças que provocam alterações nos artefatos e nos processos; e, em segundo nível, as mudanças na estrutura e na organização social” (BAZZO, 1998, p. 151).

“O homem existe em virtude dos atos produtivos que exerce, em escala crescente de complexidade, resistindo às forças ambientais, que do contrário o esmagariam”, reforça Vieira Pinto (2005, p. 205). Nesse sentido, a técnica remete à questão da natureza das coisas que rodeiam o ser humano e formam seu próprio mundo. A história da técnica é, evidentemente, a história das produções humanas, e tanto a tecnologia como a técnica são decorrentes também de fatores relacionados às atividades humanas, como valores, aspectos sociais, econômicos, políticos, culturais e organizacionais. Para Veraszto et al. (2008), é através de um estudo da evolução histórica das técnicas desenvolvidas pelo homem, colocadas dentro dos contextos socioculturais de cada época, que se pode compreender melhor a participação ativa do ser humano e da tecnologia no desenvolvimento e no

progresso da sociedade, enriquecendo assim a definição dos conceitos de técnica e tecnologia.

Dessa maneira, discussões são conduzidas no sentido de determinar quais fatores contribuíram para que um grupo de primatas abandonasse sua vida nas árvores e saísse andando pelas savanas, transpondo o processo de desenvolvimento do cérebro, obrigados a transcender os limites impostos pela vida, superar e violar os interditos e projetar-se sempre num mais além. Para Bazzo et al. (2003, p. 36), “ainda que os antropólogos não tenham chegado a acordos definitivos sobre a importância e a ordem desses fatores determinantes parece estar claro que a sociabilidade, a capacidade linguística e as habilidades técnicas foram fundamentais no processo da hominização”.

Um breve exame da história permite notar que durante milênios algum tipo de técnica foi utilizado para auxiliar o ser humano no seu processo evolutivo. Para Lupion e Silva (2010, p. 5), “a arte e a técnica estão presentes no agir humano desde a proto-história, quando a humanidade já desenvolvia processos técnicos”. Portanto, são tão antigas quanto a humanidade. Mas, quando se diz que a humanidade e a técnica nasceram juntas não significa tão somente que o homem seja capaz de dispor de utensílios e como consequência dominar a natureza, isto é, a essência da humanidade não é somente a manipulação - o fazer, mas, principalmente, o pensamento - o inventar e interpretar. Visão compartilhada por Mumford (1982) de que o homem é um ser cuja “humanidade” não procede do caráter técnico de sua existência. Por natureza, o ser humano é “homo sapiens”, e somente secundariamente “homo faber”. Muito embora se encontre entre os antropólogos a regra de se reconhecer os fósseis humanos pela presença de utensílios ou instrumentos fabricados por eles. Entretanto, segundo Afonso-Goldfard, tal presença significa algo maior: a consciência da utilização. “O homem não só molda a madeira e a pedra para usá-la como instrumento - ou prepara a carne e os vegetais para alimentar-se - mas também os fabrica e prepara de forma cada vez mais elaborada, adaptando-os à sua conveniência” (AFONSO- GOLDFARD, 2001, p. 16).

Ao longo da linha evolutiva, o desenvolvimento do sistema nervoso do ser humano permitiu que o poder da ação deste sobre a natureza fosse distinto daquele possuído pelos demais seres vivos; de acordo com Vieira Pinto, isso se deu, principalmente, pela faculdade

de projetar.25Segundo o mesmo autor, “a possibilidade de tal ação depende da capacidade

abstrativa que conduz a criar a imagem reflexa das propriedades dos corpos e fenômenos objetivos, e do poder de ligar uma imagem a outra, dando lugar a uma terceira” (VIEIRA PINTO, 2005, p. 55).

Em suma, o homem graças ao dom técnico26e à sua capacidade de projetar passa a

fabricar instrumentos e desenvolver uma série de atos não como forma de se adaptar ao seu meio natural, mas ao contrário, impondo uma mudança à natureza.

Outro aspecto relacionado à essência da técnica, além da relação do homem com as necessidades orgânicas ou biológicas, reside, conforme Ortega y Gasset (1963, p. 23), na necessidade do bem-estar e do supérfluo, isto é, “o homem é homem porque para ele existir significa desde logo e sempre bem-estar: por isso é a natividade técnico criador do supérfluo. Homem, técnica e bem-estar são, em última instância, sinônimos”. Assim, se por um lado ela se origina da necessidade de permitir a vida orgânica – adaptação do sujeito ao meio, por outro, permite o bem-estar do homem, que significa a adaptação do meio à vontade do sujeito.

Ortega y Gasset (1963), tomando como princípio fundamental a própria relação entre o homem e sua técnica, distingue três estágios para periodizar a sua evolução: (i) a técnica do acaso; (ii) a técnica do artesão; e, (iii) a técnica do técnico.

O primeiro estágio, a técnica do acaso, é o da técnica primitiva do homem pré e proto-histórico. Os atos técnicos são produtos do puro acaso, sem intencionalidade explícita ou sistematizada, e submergem no conjunto das ações naturais do homem. Por exemplo, o homem acha que pode fazer fogo da mesma forma que pode andar, comer, nadar, correr,

25O homem projeta de fato o seu ser, mas não pelo cultivo dessas especulações metafísicas e sim mediante o trabalho efetivo de transformação da realidade material, tornando-se o outro que projeta em virtude de haver criado para si diferentes condições de vida e estabelecendo novos vínculos produtivos com as forças e substâncias da natureza. Daí resulta um outro mundo, de tal forma que viver nele significa para o homem ser distante do que era no contexto anterior. O projeto é na verdade a característica peculiar, porque engendra no plano do pensamento, da solução humana do problema da relação do homem com o mundo físico (VIEIRA PINTO, 2005, p. 54-55).

26[…] o animal, por ser atécnico, tem que se ajustar ao que encontra dado aí e fastidiar-se ou morrer quando não encontra o que necessita. O homem, graças a seu dom técnico, faz que se encontre sempre em seu derredor o que é preciso — cria, pois, uma circunstância nova mais favorável, segrega, por assim dizer, uma sobrenatureza adaptando a natureza a suas necessidades (ORTEGA Y GASSET, 1963, p. 14, grifo nosso).

etc. Os acontecimentos eram interpretados de forma simples e natural. Portanto, ignora a própria técnica e desconhece por completo o seu caráter essencial reformador da natureza e de produção de mudanças e progresso.

As técnicas primitivas “não têm realidade em si mesmas: são apenas o intermediário entre o homem e o meio” (ELLUL, 1968, p. 65). De tal modo, sempre estiveram fortemente envolvidas na crença de um mundo sobrenatural e por um caráter mágico. Entretanto, esses seres em estágio ainda primitivo mudaram o curso da história, porque foram capazes de dar às pedras formas instrumentais, e esses instrumentos e utensílios puderam ajudá-los a manipular o seu meio ambiente. Para Nicolelis (2011), a habilidade mental para confecções de instrumentos se destaca como um dos enredos evolucionários de maior impacto na história humana. “Esta capacidade dos primeiros fazedores de machados iria quebrar o ciclo que nos ligava à natureza e, nos dois milhões de anos seguintes, colocar em risco a vida do planeta” (BURKE; ORNSTEIN, 1999, p. 28).

Entre a simples pedra lascada feita de fraturas destinadas a cortar e raspar e a fabricação de machados ou determinados utensílios já começa a se instalar, mesmo que muito lentamente, um processo de desenvolvimento técnico, pois correspondia a um saber fazer à medida que o tempo ia passando.

Setecentos mil anos atrás, nossos predecessores possuíam também um certo tipo de machado encontrado na África, Oriente Médio, grande parte da Europa e da Índia e em regiões do Sudeste Asiático. Um grande achado em Kilombe, no Quênia, sugere que nessa época os fazedores de machados já haviam desenvolvido técnicas para fabricar machados de mão de igual comprimento, mas de larguras diversas. Este tipo de trabalho exigia mais e mais atenção e memória da parte de quem estivesse aprendendo a técnica [...] (BURKE; ORNSTEIN, 1999, p. 28).

Pode-se dizer que a fabricação de determinados instrumentos ou ferramentas ia se tornando cada vez mais sofisticada, a exemplo da fabricação de machados e, por isso, de acordo com Veraszto et al. (2008, p. 64), “a sobrevivência poderia ser garantida através da interferência do hominídeo no meio, caçando e defendendo seu território contra as investidas das feras” e por conseguinte poderia se considerar um instrumento tecnológico, pois representariam a organização da comunidade para cumprir um propósito particular mesmo que de forma inconsciente.

Na próxima etapa, a técnica do artesão corresponde a da velha Grécia, Roma pré- imperial e Idade Média. É a época dos mestres e aprendizes, homens com repertórios de atividades às quais dedicam as suas vidas e se encarregam de passar os ensinamentos de

geração a geração. Nesse estágio ocorre um enorme crescimento dos atos técnicos e tornando-se cada vez mais presente no cotidiano das pessoas. Entretanto, o modo de aquisição das técnicas não favorece ainda a clara consciência desta como função genérica e ilimitada, mas o homem já considera a técnica como algo especial e à parte. Nesse período ocorrem também algumas invenções e aperfeiçoamento de instrumentos. Estabelece-se, a partir daí, a prática do homem como artífice, controlador e acelerador dos processos e das forças da Natureza.

Na Idade Média surgem importantes invenções, tais como a fiação da seda, a fundição do ferro, a pólvora, o papel, diversas modalidades de impressão e as chamadas armações latinas para navios. Frugoni (2007) exemplifica alguns artefatos e invenções tais como os óculos, o papel, os bancos, a filigrana, a prensa com caracteres móveis, a universidade, os algarismos arábicos e etc. Outro grande feito desse período foi o aproveitamento das fontes de energia, particularmente a eólica (com os moinhos de vento) e a hidráulica (com as rodas d’água), mecanismos que familiarizaram o homem com técnicas que iriam contribuir para a transformação da Europa nos séculos XVIII e XIX. O aproveitamento dessas fontes energéticas deu início ao processo de libertação do homem do trabalho físico. Desse modo, a partir do século XVI, a técnica vai se tornando mais frequente na vida das cidades e da sociedade.

No último estágio, a técnica do técnico corresponde ao período que vai da Revolução Industrial até os dias atuais. O homem já adquire a consciência de que possui determinadas capacidades distintas das rígidas, imutáveis, que integram sua porção natural. De tal modo se dá o trânsito do artesão para a máquina. A dissociação do artesão em seus dois ingredientes, a separação básica entre o operário e o técnico.

O homem passa a ser um auxiliar da máquina, como operário, mas surge aquele que sabe projetar, construir e conservar as máquinas, o engenheiro, cujos métodos de ação são muito próximos dos métodos dos atuais cientistas: analisa o problema a ser resolvido, dividindo-o em partes, e o resolve a partir da mais simples, experimentando os resultados parciais e conectando-os em série de causas e efeitos (VARGAS, 1999, p. 179).

É também nesta terceira etapa, com o advento da ciência moderna, no século XVII que começa a surgir uma nova etapa do desenvolvimento técnico, a tecnologia, já que para Vargas (2001) não se tratava mais de aplicar conhecimentos científicos para construir uma obra ou fabricar determinado produto, mas, sim, de resolver problemas técnicos de forma generalizada, como faz a ciência, com suas teorias. A característica mais marcante desta fase

em relação às outras é a total incorporação da ciência moderna às técnicas, as quais “até este momento foram também definidas como ‘destrezas’. Por esta via surge a chamada ‘técnica científica’ ou, propriamente falando, ‘tecnologia’” (CRAIA, 2003, p. 58).

Para Vargas (1995-1996, p. 223), pela primeira vez aparece na História a aplicação de uma teoria científica para a solução de um problema técnico: “foi quando Galilleu Galilei, já cego e condenado à reclusão perpétua pela Inquisição, escreveu Discorsi e dimostrazioni matematiche intorno a due nuove scienze, publicado em 1638, na Holanda”. Nessa obra, ele aplica uma teoria científica da mecânica racional à solução de um problema técnico de resistência dos materiais. Mais precisamente: o problema do cálculo de uma viga em balanço.

Antes disso, os arquitetos escolhiam os tamanhos das vigas em balanço baseados em conhecimentos empíricos, pessoais ou tradicionais. De então em diante, mediante conhecimentos matemáticos, mesmo sem experiência própria poderiam calcular as dimensões da viga necessária [...]. É o desapontar da tecnologia como aplicação de teorias, métodos e processo científicos para a solução de problemas da técnica (VARGAS, 1995-1996, p. 224).

Durante os séculos XVII e XVIII, as duas tendências, a empírica e a científica, como forma de incorporar conhecimentos alternativos ao saber estabelecido, desenvolveram-se paralelamente e várias foram as tentativas de se associar as teorias físicas e cálculos matemáticos aos problemas de projetos, construções de obras, máquinas, entre outros, nascendo assim, um novo tipo de atividade técnica que deu origem à técnica moderna. Dentre dos inúmeros exemplos da evolução da técnica moderna, um deles, iniciado em 1690, foi o lento desenvolvimento da máquina a vapor, cujo primeiro modelo bem sucedido ocorreu depois de muitas investidas. Em seguida foi aperfeiçoada por James Watt, Sadi Carnot e Thomas Newcomen, e no início do século XIX, após sucessivas melhorias, chegou a ser de tal forma potente que foi usada para suprir as fábricas que vinham se desenvolvendo no período da chamada Revolução Industrial.

Pode-se ainda exemplificar nas áreas de materiais e eletrônica algumas descobertas que deram origem às atividades tecnológicas: as pesquisas de Thomas Edison (1847-1931) para obtenção de um filamento incandescente de metal para as lâmpadas elétricas que pudesse emitir luz sem fundir-se; o químico alemão George Kahlbaum (1853 - 1905) começa a fabricar garrafas de metacrilato, na primeira utilização do plástico; a descoberta das válvulas termoiônicas ou tubo a vácuo – o diodo para uso em transmissão e recepção radiofônica por John Ambrose Fleming (1849-1945) e Lee de Forest (1873-1961); o alemão

Heinrich Hertz (1857-1894) usa descargas elétricas para produzir as primeiras ondas de rádio, tornando possível a invenção de novos meios de comunicação, como o telégrafo sem fio, o rádio e a televisão confirmando a previsão teórica de James C. Maxwell sobre a existência de ondas eletromagnéticas; usando a tecnologia do telégrafo, o escocês Alexander Graham Bell (1847-1922) inventa um jeito de transmitir a voz à distância transformando-a em sinais elétricos.

Dessa forma as pesquisas de propriedades da matéria e o desenvolvimento da eletrônica ilustram apenas alguns exemplos de descobertas e inovações que estão na origem da tecnologia, sendo um dos seus principais aspectos o desenvolvimento de pesquisas. “Não há tecnologia se não houver pesquisa tecnológica. E essa é muito semelhante à pesquisa científica” (VARGAS, 1999, p. 180).

A evolução da técnica e o desenvolvimento científico tecnológico foram diferentes nos países da Europa. Na Grã-Bretanha este último atingiu o seu apogeu na segunda metade do século XVII, durante o período conhecido como a "revolução científica", delimitada pelo estímulo científico de Francis Bacon, no início, e Isaac Newton, no final. Aparentemente, houve um grande salto a partir da passagem da dialética aristotélica do passado para uma reconstrução do conhecimento com base em métodos indutivos, investigação empírica e pesquisa. Em 1661, a fundação da Royal Society impõe, de certa forma, a aceitação da ciência experimental e da prática, o que iria interferir de modo marcante na educação. Vários métodos científicos, visões filosóficas de mundo e diferentes formas de investigação científica, impelidos pela supremacia e grandes saltos à frente no conhecimento científico são implementados. Esse período é visto como o início de uma revolução científica, que afetou profundamente o mundo. Na ótica de Burke (2000, p. 42), “foi um processo ainda mais autoconsciente de inovação intelectual do que o Renascimento, pois envolvia a rejeição tanto da tradição clássica quanto da medieval, inclusive de uma visão de mundo baseada nas ideias de Aristóteles e Ptolomeu”.

Na França desenvolveram-se duas formas de sistemas técnico-científicos: um