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2.5 Cursos superiores de tecnologia no Brasil e na Região Metropolitana de Salvador

2.5.2 Da década de 1990 até o ano 2000

Para Borges (2007), a desestruturação do mercado de trabalho nacional ocorreu em dois grandes momentos. O primeiro em 1980 e o segundo considerado como o mais importante desse processo iniciou-se em 1990 e adentrou no século XXI.

As transformações dos anos 1990 seguiram o caminho certamente não previsto pela maioria dos brasileiros: mudou o padrão de desenvolvimento, mudaram as formas e mecanismos de inserção e de permanência no mercado de trabalho e, assim, mudaram as expectativas sobre o futuro do país e sobre os projetos de vida da maioria dos que vivem do trabalho (BORGES, 2007, p. 82).

Continua a autora dizendo que em menos de dez anos passou-se de uma economia fechada e protegida por todo arcabouço legal e institucional a uma economia aberta e desprotegida, exposta à instabilidade de uma economia mundializada, sob a hegemonia do capital financeiro.

A competitividade e a especificidade do mundo de trabalho num ambiente em crescente estado de globalização da economia apontam para uma radical complexidade da inserção do profissional nas suas atividades laborais. A rapidez com que o mundo moderno vem evoluindo tem como fator e causa fundamental a velocidade com que as informações são transmitidas, a então chamada “era da comunicação instantânea”. As novas formas de

organização, o emprego de tecnologias complexas, a produção de serviços agregada à produção e a crescente internacionalização das relações econômicas passa a exigir um profissional capaz de acompanhar estas mudanças, e a educação profissional tem um papel muito importante nesse contexto.

A educação profissional passou, então, a ser concebida não mais como simples instrumento de política assistencialista ou linear ajustamento às demandas do mercado de trabalho, mas, sim, como importante estratégia para que os cidadãos tenham efetivo acesso às conquistas científicas e tecnológicas da sociedade. Impõe-se a superação do enfoque tradicional da formação profissional baseado apenas na preparação para a execução de um determinado conjunto de tarefas. A educação profissional requer, além do domínio operacional de um determinado fazer, a compreensão global do processo produtivo, com a apreensão do saber tecnológico, a valorização da cultura do trabalho e a mobilização dos valores necessários à tomada de decisões (BRASIL, 2001).

Logo, dentro dessa realidade, a partir da década de 1990, mudanças significativas no campo da concepção da oferta da educação profissional são implementadas e oficializadas. Ressaltam-se as reformas implícitas na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira (LDB), Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que trata da educação profissional nos artigos de 39 a 42. Destaca-se o artigo 39, modificado recentemente pela Lei nº 11.741, de 16 de julho de 2008.

Art. 39. A educação profissional e tecnológica, no cumprimento dos objetivos da educação nacional, integra-se aos diferentes níveis e modalidades de educação e às dimensões do trabalho, da ciência e da tecnologia.

§ 1º Os cursos de educação profissional e tecnológica poderão ser organizados por eixos tecnológicos, possibilitando a construção de diferentes itinerários formativos, observadas as normas do respectivo sistema e nível de ensino.

§ 2º A educação profissional e tecnológica abrangerá os seguintes cursos: I – de formação inicial e continuada ou qualificação profissional;

II – de educação profissional técnica de nível médio;

III – de educação profissional tecnológica de graduação e pós-graduação (BRASIL, 1996, 2008a).

Dessa maneira, a educação profissional enfatiza a ciência e a tecnologia como objeto de destaque para os processos formativos dentro da sociedade e assinala ações que favorecem a democratização do ensino. Tal posicionamento vem introduzir uma nova forma de ver esse tipo de formação, isto é, como uma importante estratégia política para responder às demandas crescentes das novas tecnologias, em um novo cenário econômico e produtivo, com o desenvolvimento e emprego de tecnologias complexas agregadas às novas formas de prestação de serviços e internacionalização das relações.

Outro marco na trajetória do ensino tecnológico foi o Decreto Federal nº 2.208, de 17 de abril de 1997, que regulamentou o § 2º do art. 36 e os arts. 39 a 42 da LDB, e trouxe no seu teor a distinção entres os níveis do ensino profissional básico, técnico e tecnológico:

Art. 3º - A educação profissional compreende os seguintes níveis:

I - básico: destinado à qualificação e reprofissionalização de trabalhadores, independente de escolaridade prévia;

II - técnico: destinado a proporcionar habilitação profissional a alunos matriculados ou egressos do ensino médio, devendo ser ministrado na forma estabelecida por este Decreto;

III - tecnológico: correspondente a cursos de nível superior na área tecnológica, destinados a egressos do ensino médio e técnico (BRASIL, 1997a).

Referenda dessa forma, no art. 10, que os CST são efetivamente cursos de nível superior que têm como finalidade atender as diversas áreas do setor econômico e seus egressos receberão o diploma de tecnólogos:

Art. 10 - Os cursos de nível superior, correspondentes à educação profissional de nível tecnológico, deverão ser estruturados para atender aos diversos setores da economia, abrangendo áreas especializadas, e conferirão diploma de Tecnólogo (BRASIL, 1997a, grifo nosso).

Dentre as ações para o fortalecimento dessa nova forma de conceber a educação profissional, o Parecer CNE nº 776/1997 orienta as diretrizes curriculares dos cursos de graduação e substitui os currículos mínimos pelas diretrizes curriculares nacionais para todos os cursos de graduação. Visando assegurar a flexibilidade e a qualidade da formação oferecida aos estudantes, as diretrizes curriculares seguiram os seguintes princípios: ampla liberdade da instituição na composição dos tópicos de estudo da carga horária; sólida formação geral; práticas de estudo independentes; reconhecimento de conhecimentos, habilidades e competências adquiridas fora do ambiente escolar; articulação da teoria com a prática (BRASIL, 1997c).

Outra estratégia do Governo foi a instituição do Decreto nº 2.406/1997, que dispõe sobre a organização dos Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET), destacados como território próprio para oferta do ensino superior especializado, no universo das instituições de ensino superior do Brasil.

Art. 2º - Os Centros de Educação Tecnológica, públicos ou privados, têm por finalidade formar e qualificar profissionais, nos vários níveis e modalidades de ensino, para os diversos setores da economia e realizar pesquisa e desenvolvimento tecnológico de novos processos, produtos e serviços, em estreita articulação com os setores produtivos e a sociedade, oferecendo mecanismos para a educação continuada (BRASIL, 1997b).

Ainda nos idos dos anos 1990, no âmbito da formalização profissional, a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) admite o cargo de tecnólogo com a seguinte descrição de atividades: estudar, planejar, projetar, especificar e executar projetos específicos da área de atuação. Essas atividades foram revistas no ano de 2002, e o perfil de atuação do profissional tecnólogo foi ampliado para atribuições tais como: planejar serviços e implementar atividades, administrar e gerenciar recursos, promover mudanças tecnológicas, aprimorar condições de segurança, qualidade, saúde e meio ambiente (CBO, 2002).