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Orientado pelas diretrizes gerais concebidas pelo projeto de criação dos CST e empenhado em concretizar os objetivos ali estabelecidos segundo com Bastos et al. (1974), o Departamento de Assuntos Universitários (DAU) promoveu, durante o segundo semestre de 1972, estudos e consultas para implementação dos CST. Assim, tendo em conta a pesquisa realizada naquela época, julgou-se que a área de tecnologia seria a mais conveniente para dar início à formação de profissionais de nível superior em carreiras de curta duração.

Para isso, a seleção de cursos teve o propósito de adequar-se às necessidades do mercado de trabalho das regiões em que seriam implantados, tendo-se como parâmetro a

consulta realizada com autoridades, especialistas e instituições ligadas às áreas dos setores definidos. Dessa forma, em 1973, fazendo uso da estrutura das universidades, foram criados seis cursos superiores de tecnologia. Para a elaboração dos currículos dos cursos, selecionou-se um grupo de especialistas na matéria e o resultado do trabalho foi submetido à apreciação das universidades, sendo posteriormente enviado ao Conselho Federal de Educação para a devida aprovação.

Após estudos preliminares, chegou-se à definição dos planos de cursos, que foram encaminhados ao CFE, no segundo semestre de 1973. Os seguintes cursos foram aprovados:

a) Formação de Tecnólogos de Nível Superior em Processamento de Dados – Parecer nº 1.281/1973;

b) Formação de Tecnólogos Mecânicos de Nível Superior. Modalidade: Oficinas e Manutenção – Parecer nº 1.060/1973;

c) Formação de Tecnólogos em Análise Química Industrial, em Nível Superior – Parecer nº 1.298/1973 (BASTOS et al., 1974).

A escolha das universidades que deveriam ministrar os cursos foi feita de acordo com estudos realizados sobre a demanda do mercado de trabalho nas diversas áreas e regiões. Assim, no caso de Processamento de Dados, foram selecionadas as seguintes universidades para implantar este novo curso:

a) Universidade Federal da Paraíba; b) Universidade Federal de Minas Gerais; c) Universidade Federal do Rio Grande do Sul; d) Pontifícia Universidade Católica do Rio - PUC/RIO.

Para oferta do curso de Mecânica – modalidade: oficinas e manutenção, que correspondesse às exigências do mercado da região, a Universidade Federal do Espírito Santo realizou estudos e pesquisa junto às Companhias do Vale do Rio Doce e Ferro e Aço de Vitória. No que se refere à implantação do Curso de Análise Química, na Universidade Federal da Bahia, as pesquisas foram realizadas nas empresas do Polo Industrial de Camaçari e na Petrobrás.

De acordo com Bastos et al. (1974), aconteceram os seguintes eventos, que merecem destaque:

a) Reunião dos Coordenadores dos Cursos de Processamento de Dados, com a participação de representantes de Empresas, de 9 a 13 de abril de 1973, no Rio, Datacentro - PUC/RIO.

b) Reunião dos reitores das universidades interessadas nos cursos de Processamento de Dados, Coordenadores e Assessores do DAU, no Rio, em 16 de maio de 1973. c) Reunião dos coordenadores dos cursos de Processamento de Dados, realizada em

Belo Horizonte, para a primeira avaliação, nos dias 20 e 21 de novembro de 1973. Ressalta-se também a assessoria do Dr. Spathelf, professor do Ferris State College – Michigan/USA, que, a convite do DAU, permaneceu cerca de um mês no Brasil, contribuindo com a confecção de um relatório sobre o Projeto nº 19. Para assessorar a concepção dos cursos de Processamento de Dados estavam os professores franceses Castan e Sheid os quais trouxeram a rica experiência dos Institut Universitaire de Technologie (IUT) da França (BASTOS et al., 1974).

No Quadro 14 encontram-se sintetizadas as informações sobre os cursos e suas respectivas áreas de atuação, as instituições responsáveis, o número de vagas e de candidatos inscritos no vestibular, como também o total de novos docentes que foram contratados especialmente para atuar nesses cursos. Pode-se constatar que em Processamento de Dados inscreveram-se 1.025 candidatos para os quatro cursos. No curso de Mecânica e Análise Química inscreveram-se 499 candidatos. Assim, para as 225 vagas oferecidas nos cursos de curta duração candidataram-se 1.524 alunos.

Quadro 14 - Cursos implantados nas universidades brasileiras, Brasil - 1973

(continua)

Instituição Curso Área Nº inscrito vestibular Nº vagas docente

TOTAL 1.515 225 48

UFPB Processamento de Dados Tecnológica 175 40 8

UFMG Processamento de Dados Tecnológica 378 40 8

UFRS Processamento de Dados Tecnológica 374 40 8

PUC-RIO Processamento de Dados Tecnológica 98 40 8

Instituição Curso Área Nº inscrito vestibular Nº vagas docente

UFBA Análise Química Tecnológica 129 25 8

Fonte: Elaborado pela autora com base em Bastos et al. (1974).

A partir de agosto de 1973, o DAU iniciou a fase de preparação de novos cursos para o período de 1974, os quais começariam no ano seguinte. Os critérios adotados, segundo Bastos et al. (1974), foram os seguintes:

a) Ampliar a área de Tecnologia;

b) Criar novos cursos nas áreas de Saúde e Agricultura;

c) Consultar as Comissões de Engenharia, Ciências Agrárias e Medicina para selecionar os tipos de cursos e determinar as regiões;

d) Determinar as regiões e necessidades, manter contatos com as universidades interessadas para comprovar, de maneira mais exata, as exigências de mercado de trabalho;

e) Proceder, em seguida, a seleção de equipes de técnicos para elaborar os planos de novos cursos, com uma apresentação razoável de seus objetivos práticos; f) O Departamento de Assuntos Universitários vem adotando uma política

integrada de coordenação, avaliação e supervisão de todas essas medidas preparatórias.

No Quadro 15 destacam-se as instituições de ensino e os cursos programados para implantação em 1974, que passam a ser também ofertados em outras instituições de ensino que não eram universidades, a saber: Centro Estadual de Educação Tecnológica de São Paulo, Faculdade de Engenharia de Limeira, Escola Sérgio Sukow ou Escola Técnica de Minas Gerais, Instituto de Laticínios Cândido Toster e Escola Paulista de Medicina.

No que se refere às áreas de atuação desses novos cursos, além da de tecnologia, que teve seus cursos ampliados para dez, a área de saúde passou a oferecer cinco cursos e a de agricultura dois cursos, passando-se de seis cursos em 1973 para onze cursos em 1974.

Quadro 15 - Cursos implantados nas instituições de ensino, Brasil - 1974

Fonte: Elaborado pela autora com base em Bastos et al. (1974).

Ainda no tocante à implantação gradativa dos CST, o já citado Projeto nº 15, do Plano Setorial de Educação e Cultura 1975-1979, dando continuidade aos esforços anteriores para atender às solicitações do mercado de trabalho, diante do desenvolvimento tecnológico e da crescente demanda do ensino superior, estabelece como meta instalar novos cursos, conforme Tabela 6.

Tabela 6 - Previsão de cursos superiores de tecnologia, Brasil - 1975 - 1979

Área Período Total Clientela

1975 1976 1977 1978 1979 Total 10 10 10 10 10 2000 Tecnologia 4 4 4 4 4 800 Saúde 2 2 2 2 2 400 Educação 2 2 2 2 2 400 Agricultura 2 2 2 2 2 400

Fonte: Elaborado pela autora com base em Bastos et al. (1974).

Instituição Curso Área Nº vagas Nº docente

TOTAL 294 88

UFSCAR Processamento de Dados Tecnológica 20 8

UnB Processamento de Dados Tecnológica 40 8

CEET Processamento de Dados Tecnológica 20 8

UNICAMP Saneamento Básico Tecnológica 30 8

URGS Curtumes e Tanantes Tecnológica 12 8

UFAL Mecânica Tecnológica 20 8

EPM Ortóptica Saúde 12 8

UFMT Saneamento Ambiental Saúde 40 8

UFPA Saneamento Ambiental Saúde 40 8

UFMT Cooperativismo Agricultura 40 8

Como consequência da Reforma Universitária de 196852 e do impulso

desenvolvimentista da época, em 1976, através da Lei nº 6.344/1976, foi criado o Centro de Educação Tecnológica da Bahia (CENTEC) exclusivamente para ministrar CST. Em 1978, as escolas técnicas federais do Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro e, posteriormente, do Maranhão são transformadas em Centros Federais de Educação Tecnológica (CEFET). Em meados de 1990 essas cinco instituições ofertam um total de 15 CST regulares. Em seguida, são implantados novos CEFET no total de 34 unidades (BRASIL, 2001).

Segundo consta no Parecer nº 436/2001, em 1980, o número de CST era de 138, dos quais 46% estavam no setor secundário, 33% no terciário e 21% no primário, sendo o MEC responsável pela criação da maioria dos cursos. Entretanto, em 1979, o Governo muda sua política de estímulo à criação desses cursos e a partir da década de 1980 muitos CST são extintos no setor público e sua oferta passa a ser feita predominantemente em instituições privadas. Assim, em 1988, das 53 instituições que formavam o tecnólogo, aproximadamente 60% dos cursos se concentravam nas instituições privadas, e dos 108 cursos ofertados, 65% se concentravam no setor secundário, 24% no setor primário e 11% no terciário. Em 1995, o Brasil tinha 250 cursos superiores de tecnologia, sendo mais da metade na área de computação e no ano de 2000 este número cresceu para 364 cursos (BRASIL, 2001).

Já no ano de 2006 existiam 3.037 cursos e em 2011 foram computados 5.478 CST em todo o Brasil, sendo a maioria ministrada em instituições privadas. O que pode ser comprovado pelos dados do último censo da educação superior publicado em 26/10/2011, que revela a existência de 4.510 cursos ministrados nas instituições privadas, isto é 82,3% de oferta em relação às públicas (BRASIL, 2012b). Este fato vem confirmar que as ações do Governo e a decisão das IES em apostar na oferta desta modalidade de ensino, frente ao desenvolvimento tecnológico, comprovam de certo modo a credibilidade neste por parte das instituições.

52A Reforma de 1968 visou fundamentalmente a modernização e expansão das instituições publicas, destacadamente das universidades federais. O surgimento do “novo” ensino superior privado constitui um desdobramento da Reforma de 1968, uma vez que as modificações introduzidas nas universidades federais não conseguiram ampliar satisfatoriamente suas matriculas para atender à crescente demanda de acesso. A

Reforma de 1968 produziu efeitos paradoxais no ensino superior brasileiro. Por um lado, modernizou uma parte

significativa das universidades federais e determinadas instituições estaduais e confessionais, que incorporaram gradualmente as modificações acadêmicas propostas pela Reforma. Criaram-se condições propícias para que determinadas instituições passassem a articular as atividades de ensino e de pesquisa, que ate então – salvo raras exceções – estavam relativamente desconectadas (MARTINS, 2009, p. 16).

O Gráfico 1 revela como ocorreu a evolução dos cursos superiores de tecnologia no País para o período de 2000 a 2011, no que se refere aos quantitativos de matrículas e de concluintes considerando o somatório as modalidades de ensino presencial e a distância.

Os dados demonstram que o aumento do número de alunos matriculados vem crescendo de maneira exponencial passando de 54.379 em 2000, para 870.534 em 2011, enquanto o quantitativo de concluintes, apesar do aumento significativo, pois cresceu de 10.835 para 170.635, não acompanhou a mesma evolução do incremento das matrículas. Se por um lado está existindo um aumento expressivo no total de matrículas, por outro o número de concluintes não está acompanhado esta evolução, demonstrado que a evasão é bastante acentuada nos CST.

Gráfico 1 - Evolução do número de matrículas e de concluintes dos cursos superiores de tecnologia (educação presencial e a distância), Brasil - 2000 - 2011

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Matrículas 54.379 69.797 81.348 114.770 158.916 237.066 325.901 414.822 539.651 680.679 781.609 870.534 Concluintes 10.835 11.629 12.673 16.601 26.240 41.219 60.825 84.341 108.950 138.226 162.642 170.635 10.000 110.000 210.000 310.000 410.000 510.000 610.000 710.000 810.000 Matrículas Concluintes

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Censo da Educação Superior MEC/INEP/DEED (BRASIL, 2012a, 2012b).

Com relação ao número de matrículas por grau acadêmico – bacharelado, licenciatura ou tecnológico, o Gráfico 2 mostra em detalhe a evolução do número de matrículas nas modalidades de ensino presencial e a distância nas categorias administrativas pública e privada para o período de 2000 a 2010.

Observa-se que os CST entre 2000 e 2003 apresentaram crescimento quase constante, em média 2,4% ao ano. Entretanto, a partir de 2004 até 2011, as matrículas sofreram um incremento excepcional que chegou a superar cinco vezes mais comparando-se com o total de alunos matriculados no período de 2000 a 2011.

Gráfico 2 - Evolução do número de matrícula por grau acadêmico nas modalidades de ensino presencial e a distância, Brasil - 2000 - 2011

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 Nº d e m at ríc ul as Ano CST Bacharelado/Licenciatura

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Censo da Educação Superior MEC/INEP/DEED (BRASIL, 2012a, 2012b). Quando se confronta os CST com os demais cursos superiores evidencia-se que os CST tiveram, de 2008 a 2009, um aumento mais acentuado que os demais graus acadêmicos; este aumento foi de 26,1%, enquanto para os outros cursos (bacharelado e licenciatura) atingiram apenas 0,1%. No ano de 2010, os CST representavam 12,3% do total de matrículas na graduação presencial e a distância e em 2011 este índice aumenta para 14,9%.

Ainda no que se refere ao número de matrículas, porém agora considerando por categoria administrativa da instituição (pública ou privada), conforme corroborado no Gráfico 3, o crescimento de matrículas nos CST é mais acentuado nas IES privadas, sendo que o percentual médio de matrículas nessas encontra-se na faixa de 75% em relação às instituições públicas. Segundo o Inep, “o crescimento dos CST aponta no sentido dos

investimentos na educação profissional e tecnológica de nível superior, principalmente pela iniciativa privada, mas também pela expansão dos IFs” (BRASIL, 2012a, p.44).

Gráfico 3 - Evolução do número de matrícula dos cursos superiores de tecnologia por categoria administrativa, Brasil - 2001 - 2011 0 100.000 200.000 300.000 400.000 500.000 600.000 700.000 800.000 900.000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 N º m at rí cu la s Ano Pública Privada

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Censo da Educação Superior MEC/INEP/DEED (BRASIL, 2012a, 2012b). A partir de 2004, os CST foram também ofertados na modalidade de ensino a distância (EaD), como pode-se observar no Gráfico 4, houve uma evolução bastante acentuada no quantitativo de matrículas de seus cursos, equivale dizer que em seis anos aumentou em mais de quarenta vezes o número de alunos matriculados para esta modalidade de ensino, o que muito tem contribuído para a expansão dos CST.

Gráfico 4 - Evolução do número de matrículas em cursos superiores de tecnologia por modalidade de ensino, Brasil - 2000 - 2010 5.000 115.000 225.000 335.000 445.000 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 N º de m at rí cu la s Ano Presencial EaD

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Censo da Educação Superior MEC/INEP/DEED (BRASIL, 2012a). A Tabela 7 apresenta o quantitativo de matrícula e de concluinte, bem como o percentual da relação concluintes/matrículas nas modalidades presencial e a distância dos CST no Brasil para o período de 2000 a 2011.

Tabela 7 - Percentual de concluintes dos cursos superiores de tecnologia nas modalidades de ensino presencial e a distância, Brasil - 2000 - 2011

Ano Matrículas Concluintes Concluintes/Matriculados (%)

2000 54.379 10.835 19,9 2001 69.797 11.629 16,7 2002 81.348 12.673 15,6 2003 114.770 16.601 14,5 2004 158.916 26.240 16,5 2005 234.066 41.219 17,6 2006 325.901 60.825 18,7 2007 414.822 84.341 20,3 2008 539.651 108.950 20,2 2009 680.679 138.226 20,3 2010 781.609 162.642 20,8 2011 870.534 170.635 19,6

Fonte: Elaborado pela autora com base nos dados do Censo da Educação Superior MEC/Inep/DEED (BRASIL, 2012a, 2012b).

Constata-se que, apesar do crescimento acentuado do número de matrículas nos diversos CST, o total de concluintes por ano ultrapassa em pouco 20%, o que implica afirmar que a evasão é muito elevada, chegando a um valor médio superior a 80%. Nos Anexos D, E e F encontram-se as tabelas com mais informações e maior nível de detalhamento sobre o número de cursos, matrícula e concluintes dos censos da educação superior dos anos de 2010 e 2011.