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BASES TEÓRICAS DA PESQUISA

1.5 A Teoria da Argumentação na Língua

segundo Abreu, (2006, p.68), “(...) são, pois, procedimentos que têm por objetivo ilustrar a

tese que queremos defender.” São utilizados pelo enunciador para dar visibilidade aos

argumentos, para despertar o sentimento da presença do objeto do discurso na mente tanto do enunciador como do enunciatário.

Perelman, ao se fixar apenas no aspecto técnico da noção de presença, vai nos mostrar inevitavelmente que toda argumentação é seletiva. A argumentação escolhe os elementos e a forma de torná-los presentes. “Toda argumentação supõe, portanto, uma

escolha, que consiste não só na seleção dos elementos que são utilizados, mas também na técnica da apresentação destes. As questões de forma se mesclam com questões de fundo

para realizar a presença.”. (PERELMAN & OLBRECHTS-TYTECA, 2005, p. 136).

Em uma venda, no caso específico do camelô, um argumento ilustrado por um recurso de presença tem efeito redobrado sobre o consumidor em potencial, pois, quando o camelô expõe a mercadoria, quando faz demonstração do produto anunciado, conforme veremos no capítulo analítico, ele está se valendo desse recurso para persuadir seu auditório.

1.5 A Teoria da Argumentação na Língua

A Teoria da Argumentação na Língua (TAL), tal como propôs Oswald Ducrot (1980), apresenta uma proposição sobre o sentido, cujo guia é a argumentação. Trata-se de uma teoria da argumentação que não se refere aos enunciados em sua totalidade, mas aos elementos semânticos constituintes de seu sentido. Ele descarta qualquer possibilidade de distinção entre a Semântica e a Pragmática, entre o sentido do enunciado e a intenção da enunciação. Nos termos de Ducrot (1980, p.9) "Le dire est inscrit dans le dit".44 Ele postula que a argumentação está inscrita na própria língua e o extralinguístico, em um primeiro momento, não vai lhe interessar. Para Ducrot somente o discurso é doador de sentido e é a ele que a língua se reporta. As direções argumentativas são dadas pelo discurso, embora estejam inscritas nas palavras. Para ele, a subjetividade do eu na interpretação é posta pela linguagem. Em outras palavras é por meio do discurso que o locutor pode expressar seu ponto de vista.

Nessa perspectiva, Ducrot busca em Benveniste (1995) a noção semântica de enunciação, e em Austin (1962), a noção pragmática de “atos de fala”, conduzindo assim para

79 uma concepção de pragmática integrada, uma vez que a semântica e a pragmática se articulam mutuamente no momento do discurso.

Para Ducrot, algumas proposições tornam-se fundamentais: a distinção entre frase e enunciado, o que acarretará a distinção entre significação da frase e sentido do enunciado; o entendimento de língua como "instrução"; a noção de pragmática argumentativa, fundada na existência de topoi ou lugares do processo argumentativo; e a noção de polifonia enunciativa. Em sua obra intitulada “Provar e dizer: linguagem e lógica”, Ducrot (1981), apresenta pela primeira vez a sua teoria da argumentação. Em “Provar e dizer” a argumentação é vista como parte das regras internas ao discurso, que, por sua vez, vão orientar os enunciados na constituição desse discurso, obedecendo assim a uma lógica da linguagem que privilegia o raciocínio e tem por meta o confronto entre a linguagem natural e a artificial, a fim de analisar seus pontos convergentes e divergentes.

Tanto para Perelman como para Ducrot, a argumentação pertence à ordem do discurso e o raciocínio, à ordem da lógica. Os enunciados de um raciocínio funcionam independentes uns dos outros, e cada um deles expressa uma proposição. Eles não se fundam em si mesmos, mas nas proposições pensadas e ditas sobre o mundo. Já no discurso, o enunciado tem fundação própria, ou seja, ele se funda sobre a sua natureza ou sobre o seu sentido, não tendo relação com estados de coisas.

Em uma perspectiva discursiva, trata-se de um enunciado argumentativo por si mesmo, pelo que ele é, não pelo que possa dizer sobre o mundo. Isso significa dizer que, embora não se possa saber o que vem exatamente a seguir, sabe-se que ao enunciado se seguirá uma (re) ação, ou seja, um seguimento “pretendido”, que poderá ser: um outro enunciado ou mesmo o silêncio.

Para Ducrot, a teoria argumentativa se relaciona à Retórica aristotélica dos Tópicos, na qual Aristóteles analisa um conjunto de estratégias conclusivas que não constituem o raciocínio lógico. Essas estratégias se baseiam em relações entre enunciados considerados prováveis pelo “bom senso” de uma determinada época. Essas relações permitem que certos enunciados se orientem em direção a outros.

Segundo os trabalhos Ducrot

Selon nous, tous les énoncés d'une langue se donnent, et tirent leurs sens du fait qu'ils se donnent, comme imposant à l'interlocuteur un type déterminé de conclusions. Toute parole, aufond d'elle-même, est publicitaire.(...) Elle est publicitaire par le fait que sa valeur interne se confond avec la suite qu'elle réclame. Ce qu'elle veut dire, c'est ce qu'elle veut faire dire à l'autre. Ainsi nos énoncés se présentent, indépendamment même de leur aptitude à fonder

80 un raisonnement, comme l'origine ou le relais d'un discours argumentative."(DUCROT, 1980, p.11-12).45

Esta assertiva sinaliza o ponto de convergência entre os posicionamentos de Ducrot e Perelman, uma vez que para Perelman a conclusão da argumentação se encontra na adesão do auditório a uma tese, a partir dos valores desse mesmo auditório. Para Ducrot o argumento é, desde o início, linguisticamente portador de uma conclusão proposta pelas variáveis argumentativas contidas na frase quer o auditório concorde ou não com essa conclusão. Assim, pode-se inferir que na teoria ducrotiana a linguagem natural recomenda, alude, provoca, pressupõe uma conclusão, ao invés de apenas assinalá-la.

O estudo sobre a argumentatividade, em suas variadas roupagens, de acordo com os alvos mirados e os campos de atuação, compõe hoje, o quadro de estudos sobre a Retórica moderna, que, por sua vez, conduz a uma teoria da significação. Dentre as teorias que tratam da significação encontra-se a reflexão de tipo pragmática, que a princípio, não estabelece nenhuma ligação com os estudos linguísticos. Depois da revolução sintática de Noam Chomsky, a teoria pragmática surge para resgatar tanto o caráter social da linguagem, como os aspectos semânticos que se achavam limitados na filosofia da linguagem desde as abordagens comportamentalistas de Leonard Bloomfied. Sobre a Pragmática trataremos no item seguinte.