• Nenhum resultado encontrado

2.1 O CONTEXTO DO PREGOEIRO TRADICIONAL

SENSO COMUM Ei Princesa? É você mesmo!

Você! Olha que cordão lindo! Bonito né? Vai ficar lindo... Vai ficar mais bonito ainda no teu pescoço... Você vai ficar parecendo uma princesa. Aproveita. Tá baratinho... Compra, princesa.

Olha o amendoim do Seu Ribamar para o seu marido

esquentar.

Olha o amendoim do Seu Ribamar para o seu marido

esquentar.

Ei você de amarelo venha comprar seu novo chinelo!

Oh Dona Maria! Não esqueça de comprar sua

bacia.

Para o seu marido dar no couro, só tomando nossa

porção de ouro. Olha a camisinha! Olha a

camisinha do celular, para o seu bichinho preservar (não arranhar).

Você moça solteira que passou dos 30, não fique a ver navios, temos a solução para o seu coração. Leve agora a simpatia que desencalha titia.

Você moça solteira que passou dos 30, não fique a ver navios, temos a solução para o seu coração. Leve agora a simpatia que desencalha titia.

Olha a salada de frutas... É uma delícia. Tá fresquinha! Quantos copos? Quantos copos? Vamos aproveitar, tá terminando. Essa é a salada mais gostosa da ilha. Olha a salada... mamão, banana, laranja... tudo fruta docinha que é uma uva... Tá baratinho... um copo é um real. Organiza a fila. Calma. Calma. Dá pra todo mundo... não empurra... não empurra... Olha a salada.

Olha a salada... mamão, banana, laranja... Calma. Calma. pra todo mundo... não empurra... não empurra.

Enquanto São Pedro está zangado, vá tomando um suco gelado

161 é o dia de aproveitar... Venha

e aproveite a promoção de bolsas... Se você dona Maria anda bem da cabeça, não pode perder essa promoção. Aproveite... Venha... venha.

aqui tem produtos originais.

Você que fez chapinha, compre logo sua sombrinha para não ficar enroladinha.

“Olha a salada de frutas... É uma delícia. Tá fresquinha! Quantos copos?

Quantos copos? Vamos aproveitar, tá terminando. Essa é a salada mais gostosa da ilha. Olha a salada... mamão, banana, laranja... tudo fruta docinha que é uma uva... Tá baratinho... um copo é um real. Organiza a fila. Calma. Calma. Dá pra todo mundo... não

empurra... não empurra... Olha a salada”. Nessa elocução, o vendedor refere-se à sua mercadoria argumentando ser uma delícia e fazendo uso da metonímia, “Quantos copos?” “E um copo é um real”. Nesse caso, o vendedor troca o continente pelo conteúdo. Esta figura de linguagem – metonímia - possui a função de economia, haja vista que o substituto é menos extenso que o substituído (copos por copos de salada de frutas).

Trata-se de um processo de integração, pois, metonímia é integração. O locutor integra o todo em uma parte só. Ele tem a salada que é servida no copo, portanto, copo é parte do todo que é a salada. No momento em que o pregoeiro está dizendo “mamão, banana,

laranja... docinha que é uma uva....”, ele usa inconscientemente um processo cognitivo

gestáltico. A banana se transforma em figura, a uva se transforma em figura como metáfora

“... como uma uva”. O locutor descreve cognitivamente redes pequenas de teorias de

referenciação e de aquisição a fim de criar um processo argumentativo que também é um recurso de presença. Ele expõe a mercadoria em vários displays mentais (tem banana, tem mamão, tem laranja). Se o consumidor gosta de uma dessas frutas ou de todas ele compra a salada persuadido pelo recurso de presença, pois, todo enunciado que tem a finalidade persuasiva tem recurso de presença, que pode, pela definição linguística, até ter outro nome.

Observou-se, também, nesse caso, a presença de outra metonímia – “É a salada mais gostosa da ilha!” – o discurso ganha um acréscimo de significação, que não seria possível se fosse usado o enunciado não metonímico. O locutor/vendedor ao utilizar a palavra “ilha” em

162

substituição ao nome da capital do Maranhão – São Luís, no ato enunciativo, além de afirmar

um fato, também designa um juízo de valor sobre o fato. É, também, característico da metonímia o potencial modificador da mensagem, relativo ao próprio enunciado. Neste caso, o termo substituído é o próprio referente, ou seja, a cidade de São Luís.

Percebe-se também o uso da figura de linguagem metáfora: “docinha que é uma uva.” funcionando como um meio para melhor informar o consumidor. Ela sugere um domínio conhecido, nesse caso a uva, para dele se extrair um frame (doce, docinha) que possa tornar mais fácil o acesso ao que se quer comunicar. Além disso, de modo simplista, pode-se dizer que esse “que” em “docinha que é uma uva”, pode ser dito assim “docinha como é uma uva”, portanto uma comparação metafórica, se assim se pode dizer.

“Olha o amendoim do Seu Ribamar para o seu marido esquentar”. Nesta elocução há uma alusão à crença popular de que o amendoim é afrodisíaco, aumenta o apetite sexual masculino. A esposa, levando esse produto ao marido aumentaria, pois, suas possibilidades de manter relações com ele. Novamente aparece a rima (Ribamar / esquentar) para reforçar o sentido. Aqui, o recurso do senso comum cultural é reforçado pela metáfora

esquentar, uma metáfora primária: AFFECTION IS WARMTH (AFETO É QUENTE), a

partir da experiência infantil de a criança sentir o afeto do adulto ao ser abraçada e integrar esse afeto ao calor corporal sentido (cf.

Lakoff and Johnson

, 1980, p.50). Como no relacionamento sexual há aumento de temperatura, o calor é intensificado.

“Não leve gato por lebre, só aqui tem produtos originais”. Nesse pregão é necessário conhecer o adágio popular. Há tanto o pressuposto de que outros vendedores enganam os clientes, impingindo produtos falsificados como o de que somente o autor do pregão é confiável. Trata-se de um apelo ao valor segurança dos compradores. Há a

integração conceptual da lebre aos produtos vendidos pelo autor do pregão, ficando

163

3.2.4 Marcas cognitivo-argumentativas dos pregões pós-

modernos

Neste momento cumpre-nos chamar atenção para o seguinte: Os recursos argumentativos que estão negritados, nas diferentes colunas do gráfico anterior, restringem-se ainda às questões linguístico-estilísticas dos pregões tradicionais. Já se disse que a sofisticação desses recursos vai se refinando, cada vez mais, porque não basta vender o produto, mas, criar sua necessidade.

No processo de criação é perceptível a integração que ocorre de vozes e ideologias, muitas próprias do senso comum, as quais são convocadas na construção retórica. Abaixo se propõe uma análise dos pregões pós-modernos com base nos pressupostos teóricos da Linguística Cognitiva. Tentou-se buscar nesses enunciados as principais categorias trabalhadas na Linguística Cognitiva: os espaços mentais e os space builders, os esquemas imagéticos, o processo de integração e como parte desse processo, no quadro após o que segue a metáfora e a metonímia.

Quadro 6: Quadro demonstrativo dos space builders, dos esquemas imagéticos e do processo de integração presentes nos pregões pós- modernos

SPACE BUILDERS ESQUEMA DE