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BASES TEÓRICAS DA PESQUISA

1.7 Sobre a Linguística Cognitiva

1.7.1 Breves consideraçõe sobre a Linguística Cognitiva

Na década de 80, sob a égide da tradição funcionalista, nasce a Linguística Cognitiva (LC) como uma crítica ao gerativismo de Noam Chomsky, não propriamente contra

91 a hipótese do inatismo, mas contra a ideia de que as estruturas e habilidades inatas ao ser humano que o capacitam a aprender e utilizar uma ou várias línguas são específicas da linguagem. A utilização de um conhecimento prévio do mundo (backstage, cognition), de que fazem parte fatores biológicos, psicológicos, históricos e socioculturais torna-se pré-requisito para a descrição linguística, como afirma Langacker (1999, p.14) "Most basically, cognitive

and functional linguistics believe that language is shaped and constrained by the functions it serves and by a variety of related factors environmental, biological, phychological,

developmental, historical, sociocultural.” 51

Essa perspectiva linguística traz uma visão da linguagem como forma de conhecimento através da experiência humana do mundo. A linguagem não integra um componente autônomo da mente, ela depende de outras faculdades mentais. A Linguística Cognitiva se funda na hipótese de que conhecimento linguístico e conhecimento não linguístico, extra linguístico, enciclopédico ou de mundo não se distinguem.

Nessa direção, a linguagem é considerada como elemento que categoriza o mundo. Assim, o significado linguístico não pode estar dissociado do conhecimento de mundo, e este por sua vez, não pode ser objetivamente, refletido na linguagem. Por meio da linguagem também se organizam conhecimentos que retratam os interesses, as necessidades e as experiências das culturas e de seus falantes. O conhecimento de mundo não é espelhado pela linguagem e sim construido e interpretado por ela, pois de acordo com Fauconnier (1997, p.96)

Language is only the tip of a spectacular cognitive iceberg, and when we engage in any language activity, be it mundane or artistically creative, we draw unconsciously on vast congnitive resources, call up innumerable models and frames, set up multiple connections, coordinate large arrays of informations, and engage in creative mappings, transfers, and elaborations. 52

Desse modo, o contexto assume importância fundamental e a linguagem é vista como uma forma de ação no mundo, que se integra a outras capacidades cognitivas que desempenhamos em nossas atividades diárias.

Em termos gerais, segundo os linguistas cognitivistas, linguagem, pensamento e

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A maioria dos linguistas basicamente funcionalistas e cognitivistas acredita que a linguagem é moldada e delimitada pelas funções para as quais serve e por uma variedade de fatores interrelacionados: ambientais, biológicos, psicológicos evolutivos, históricos socioculturais. (Tradução nossa).

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A linguagem é apenas a ponta de um iceberg cognitivo espetacular e, quando nos envolvemos em qualquer atividade de linguagem, seja ela comum ou artisticamente criativa, fazemos uso, inconscientemente, de imensos recursos cognitivos, recobramos a memória inúmeros modelos e frames, estabelecemos múltiplas conexões, agregamos uma grande quantidade de informação, e nos envolvemos em mapeamentos criativos, transferências e elaborações. (Tradução nossa).

92 experiência coexistem em uma relação sistemática, ou seja, é impossível estudar a mente de forma separada do corpo53 . Ao contrário, o pensamento é corporificado (embodied mind), e impossível também é separá-lo do meio no qual os processos linguísticos se realizam. Na análise cognitivista, a percepção que tem-se do mundo é medida por nossas características físicas. Não é por acaso que se localizam na parte frontal da cabeça alguns dos principais órgãos do sentido como olhos, nariz e boca, e assim como, também, não é por acaso que andamos para frente. Esse processo de corporificação pode explicar o modo como organizamos nosso pensamento, e daí o uso de elementos, a princípio, espaciais, sendo usados como expressões temporais: “Cem anos atrás não conhecíamos o computador. O que está por vir daqui pra frente?”

As bases de organização de sistemas conceptuais, os principios de categorização da realidade, os mecanismos de processamento, a experiência individual, social e cultural constituem manifestações de capacidades cognitivas e devem ser tratadas como unidades e estruturas da língua.

Os principais domínios de investigação e os conceitos fundamentais que integram a Linguística Cognitiva são: categorização e teoria dos protótipos, frames e scripts, metáforas metonímias conceptuais, esquemas imagéticos, modelos cognitivos, modelos culturais e processos cognitivos da gramática. Nessas bases enquadram-se a posição filosófica e epistemológica do movimento cognitivo, que Lakoff & Johnson (1980), Lakoff (1987), Lakoff & Johnson (1999), Johnson (1987) e Johnson & Lakoff (2002) caracterizam como sendo o experiencialismo ou, o realismo corporizado ou encarnado (embodied realism), em uma visão mais atualizada.

Dentre as abordagens contemporâneas da linguagem, a Linguística Cognitiva reconhece que a capacidade para a linguagem se fundamenta em capacidades cognitivas e que estas capacidades são culturalmente situadas e definidas. Como já assinalado anteriormente, dentro do escopo da linguística Cognitiva não existe linguagem humana independentemente do contexto sociocultural. E essa linguagem se aloja primariamente nas mentes individuais, sem as quais a interação linguística não poderia ocorrer. É uma concepção contextualizada, ou seja, enciclopédica que explora a dimensão sociocultural e as relações entre os aspectos cognitivos e culturais da linguagem exposta em Langacker (1997). A teoria da Metáfora Conceptual de George Lakoff também assume essa mesma perspectiva.

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Contrariando a concepção cartesiana na qual mente e corpo são consideradas duas naturezas absolutamente distintas, e, portanto impossível de se relacionarem

93 No próximo item discorreremos sobre as principais linhas de investigação de estruturas conceptuais que combinam categorias individuais em modelos mentais coerentes e que também servirão de ferramentas de análise do corpus desta pesquisa: Esquemas imagéticos de Lakoff & Johnson (1999); a Teoria dos Espaços Mentais e da Integração Conceptual (blending theory) de Fauconnier (1985, 1997); Fauconnier & Turner (1996, 1998) e Turner & Fauconnier (2002), e a Teoria da Metáfora Conceptual, e da Metonímia protagonizada, sobretudo por Lakoff (1987, 1993); Lakoff & Johnson (1980, 1999);