• Nenhum resultado encontrado

ÂMBITOS CÓDIGO PROTAGONISTAS LOCAL DE BUSCA DISCURSO TIPO DE DATA

4. DESENHO METODOLÓGICO

5.4. A tramitação do processo de impeachment de Dilma Rousseff

Paralelamente e de forma conectada com as disputas que se davam no entorno do governo, o processo de impeachment começou a tramitar na Câmara dos Deputados ainda em 2015. A eleição da Comissão Especial do impeachment, que faria o primeiro parecer sobre o processo, foi marcada pela disputa entre chapas. Cada bloco parlamentar já havia indicado para a Comissão um número de deputados de acordo com a sua representação da Câmara. No entanto, o presidente da Casa, Eduardo Cunha, determinou que poderiam ser formadas chapas alternativas. Como resultado, a chapa vencedora ficou formada apenas por deputados de oposição ao governo. Uma disputa judicial foi iniciada em torno da formação da Comissão. O Partido Comunista do Brasil (PCdoB) ingressou com uma ação no Supremo Tribunal Federal (STF) e, nove dias depois de realizada, a eleição da chapa para a Comissão Especial foi anulada. Cunha ainda recorreu da decisão da Corte Superior, mas teve seu recurso negado, com a proibição pelo STF de chapas avulsas, sem indicação dos partidos ou blocos parlamentares, e com determinação de que a votação na eleição da chapa fosse aberta.

Após a definição das regras pelo STF, no dia 17 de março de 2016, uma nova Comissão foi eleita para analisar o pedido de impeachment. Os cargos de presidente e relator da Comissão foram ocupados pelos deputados Rogério Rosso (PSD/DF) e Jovair Arantes (PTB/GO), respectivamente. Com a eleição da Comissão, a presidenta Dilma Rousseff foi notificada do processo e teve o prazo de 10 sessões da Câmara dos Deputados para apresentar a sua defesa. Antes que as votações se iniciassem na Casa, o PMDB anunciou seu rompimento com o governo Dilma. No dia 30 de março, a Comissão ouviu os autores do pedido e, no dia seguinte, o governo apresentou a sua defesa. O argumento da defesa era o de que as ações da presidenta constituíam ações de governo e não configuravam crime de responsabilidade. No dia 6 de abril, o relator entregou seu parecer favorável ao processo de impedimento de Dilma Rousseff e, cinco dias mais tarde, o relatório foi aprovado na Comissão com 38 votos favoráveis e 27 contra.

Às vésperas da votação que decidiria pela abertura ou não do processo de impeachment foi o Partido Social Democrático (PSD) que anunciou o rompimento com o Planalto, decidindo apoiar o prosseguimento do impeachment. No dia 17 de abril foi votada a admissibilidade do processo e aprovada por 367 favoráveis contra 137 contrários. A votação

foi transmitida pelos principais canais de televisão aberta do país, com exceção do SBT. A maioria dos parlamentares favoráveis ao afastamento de Dilma Rousseff não formulou seu voto tendo os crimes de responsabilidade como argumento 40. Em vez disso, utilizaram como justificativa seus próprios familiares, “deus”, “cristianismo”, “o fim da corrupção”. Depois de aprovado na Câmara, o processo de impeachment seguiu para o Senado Federal.

No dia 26 de abril, foi eleita a Comissão Especial do Impeachment no Senado Federal. Raimundo Lira (PMDB/PB) foi eleito o presidente da Comissão Especial e Antonio Anastasia (PSDB/MG), relator. A Comissão também chamou os processantes e a defesa da presidenta a fazerem suas alegações. Após esse período de oitivas, o relator apresentou parecer favorável ao prosseguimento do processo. O relatório foi aprovado no dia 6 de maio com o voto da maioria dos 21 senadores que compunham a Comissão. No dia anterior, o STF havia determinado o afastamento de Eduardo Cunha da Câmara dos Deputados. Com isso, Waldir Maranhão (PP/MA) assumiu a presidência da Casa. Como presidente em exercício da Câmara, aceitou um pedido da Advocacia-Geral da União para anular as sessões dos dias 15, 16 e 17 de abril, datas dos debates e da votação do processo de impeachment. Com isso o processo deveria retornar à Câmara. Entretanto, o então presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB) não aceitou a decisão de Maranhão, dando prosseguimento ao processo. Horas depois de anular as sessões, o próprio presidente em exercício da Câmara dos Deputados revogou a sua decisão.

A sessão do Senado que decidiu pela abertura do processo de impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff teve início ainda no dia 11 de maio e durou mais de 20 horas de intensos debates. Quando o tema entrou efetivamente em votação, já passava das seis horas da manhã do dia 12. Por 55 votos a 22, o Senado decidiu pela abertura do processo e afastou a então presidenta Dilma Rousseff do exercício de seu mandato. Ainda na manhã do dia 12, Dilma Rousseff deixou o Palácio do Planalto, rodeada por ministros do seu governo e acompanhada de Lula, após fazer uma declaração a jornalistas em que afirmava estar sendo vítima de um golpe. No mesmo dia, Michel Temer (PMDB) assumiu interinamente a presidência, até que o Senado Federal tomasse a sua decisão final.

Entre maio e julho diversas testemunhas de acusação e defesa foram ouvidas pelos

40 O ESTADO DE S. PAULO. 'É de chorar de vergonha! Simplesmente patético' , diz Joaquim Barbosa sobre

votação do impeachment. 2016. Disponível em:

senadores e foi realizada perícia pelos servidores do Senado. No início de agosto, o relator do processo na Comissão Especial do impeachment, senador Antonio Anastasia (PSDB), recomendou o prosseguimento do processo. O relatório foi aprovado por ampla maioria tanto na Comissão quando pelo Plenário. Após a decisão do plenário de levar o processo à sua fase final, no dia 25 de agosto de 2016 teve início a sessão de julgamento do impeachment, coordenada pelo então presidente do STF, Ricardo Lewandowski. Na sessão, que se estendeu até o dia 31 daquele mês, foram novamente ouvidas testemunhas, a acusação e a defesa. O momento mais emblemático do julgamento no Senado foi o discurso de Dilma Rousseff aos senadores no dia 29 de agosto de 2016. Em sua fala, Dilma reafirmou que estava sendo vítima de um golpe: “o que está em jogo no processo de impeachment não é apenas o meu mandato. O que está em jogo é o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição”, afirmou a então presidenta afastada 41. Após seu discurso histórico, Dilma Rousseff ainda respondeu aos questionamentos de 48 senadores, em quase 13 horas de depoimento.

No entanto, os esforços da defesa em demonstrar que não havia a configuração de crime de responsabilidade não foram efetivos. No dia 31 de agosto, por 61 votos a 20, o Senado Federal cassou o mandato da presidenta reeleita há menos de dois anos. Com o afastamento definitivo de Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (PMDB) assumiu a Presidência, dando início a uma série de medidas que não estavam no projeto de governo da petista, como a extinção do Conselho Curador da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), já no dia 2 de setembro de 2016, a Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 55/2016, que limitou o aumento real dos investimentos públicos por 20 anos, e a reforma trabalhista, que permitiu que convenções prevaleçam sobre as normas legais.