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ÂMBITOS CÓDIGO PROTAGONISTAS LOCAL DE BUSCA DISCURSO TIPO DE DATA

4. DESENHO METODOLÓGICO

4.4. Análise de Redes Sociais

A Análise de Redes Sociais (ARS), aplicada a produtos de relações sociais - como a comunicação - permite desvelar essas relações e compreender propriedades estruturais das redes (RECUERO, 2014). Nesse sentido, com o auxílios dos softwares UCINet e NetDraw, podemos compreender as conexões entre os diferentes protagonistas a partir do acionamento de argumentos em comum. Na análise, além da identificação geral da rede, também utilizamos as métricas de centralidade e coesão. A primeira é a métrica Degree , enquanto quantidade de conexões que um determinado nó faz ( outdegree ) ou recebe ( indegree ), e que nos permite compreender quais são os argumentos centrais favorável ou contrariamente ao impeachment; a segunda é a métrica Density que indica a quantidade de conexões entre os nós existentes, comparando com o número de ligações possíveis. Assim, quanto maior a densidade da rede, maior a coesão argumentativa entre os atores.

4.5. Procedimentos

A primeira etapa de aproximação com nosso objeto de pesquisa consiste na reconstituição do acontecimento impeachment, onde se insere o episódio do afastamento provisório de Dilma Rousseff pelo Senado Federal. O momento seguinte trata-se da descrição, classificação e análise dos textos que compõem o corpus desta pesquisa.

Os discursos dos atores foram classificados e analisados nas seguintes etapas: identificação dos atores do debate, descrição dos discursos e classificação dos argumentos, análise dos argumentos e Análise de Redes Sociais (ARS).

A primeira etapa abrange a identificação dos protagonistas considerando: ➔ vinculações (âmbito de origem);

➔ tipo de discursos; e

➔ contextos específicos dos discursos (no episódio do afastamento provisório).

A segunda etapa corresponde à descrição e classificação dos discursos que integram o debate em categorias temáticas. As categorias utilizadas na classificação foram desenvolvidas a partir das discussões teóricas e metodológicas realizadas, considerando as características e especificidades do objeto e os objetivos da pesquisa:

➔ Tipologia da argumentação ◆ Argumentos políticos ◆ Argumentos econômicos ◆ Argumentos sociais ◆ Argumentos morais ◆ Argumentos pessoais ◆ Argumentos jurídicos

A classificação em categorias empreendida até esta etapa já permite algumas inferências a partir, por exemplo, da frequência de abordagem dos temas dos argumentos. Inferências, essas, que importam quando um debate público movido por um processo sobre crimes de responsabilidade é atravessado por diversas outras temáticas. No entanto, essa primeira etapa, mais do que permitir a formulação das primeiras inferências, tem o objetivo de organizar os discursos de forma a que possamos identificar quais são os argumentos dos atores sobre o afastamento e compreender as relações discursivas estabelecidas entre eles. Dessa forma, após a descrição e classificação dos discursos por temas, foram identificados os argumentos presentes em cada temática e por quais atores esses argumentos foram mobilizados. O software NVivo foi utilizado nas etapas de classificação dos discursos por temas e de indentificação e classificação dos argumentos.

A etapa final consistiu na identificação e análise dos argumentos acionados em cada grupo de atores e também dos principais argumentos dentro de cada categoria temática. Nessa etapa também foram aplicadas técnicas de Análise de Redes Sociais (ARS) que permitiram, com o auxílio dos softwares UCINet e NetDraw, compreender as relações estabelecidas entre

os diferentes atores. O método da ARS possibilita, entre outras métricas, a identificação de aproximações e afastamentos entre os atores e/ou argumentos, a centralidade deles e a coesão de uma rede. Dessa forma, utilizamos a métrica Degree , que indica quantas relações um determinado nó faz ou recebe, para identificar os argumentos centrais nas redes; e a métrica8 Density , que indica a relação entre o número de conexões possíveis e o número de conexões existentes em uma rede (D = relações existentes / relações possíveis x 100), para verificar a coesão das redes.

5. O ACONTECIMENTO

Como primeira aproximação do nosso objeto de pesquisa, realizamos a reconstituição do acontecimento, sendo iniciada ainda na eleição de 2014, onde procuramos abordar diferentes fatores políticos, econômicos e sociais presentes no contexto que leva ao impeachment de Dilma Rousseff. Recontar e relembrar alguns momentos-chave dos anos que antecederam o impeachment de Dilma Rousseff nos ajuda a compreender a confluência de elementos que estavam colocados naquele momento e que foram se somando uns aos outros em um complexo emaranhado histórico. Na reconstituição do acontecimento que empreendemos aqui, buscamos ao máximo dar conta dos principais episódios e seus desdobramentos. No entanto, compreendemos que a narrativa histórica é sempre condicionada por diferentes fatores, como a acessibilidade de documentos e informações, as diferentes narrativas que já foram produzidas, o momento histórico em que se produz a narrativa e o próprio olhar daquele que narra.

Nossa narrativa tem como ponto de partida as eleições de 2014. Sem dúvidas, há episódios que ocorrem antes disso até onde esta narrativa poderia retroceder e que influenciaram nas próprias eleições de 2014. Como discutido no item 1.4., mesmo as manifestações de junho de 2013 foram um ponto de inflexão na política nacional (SINGER, 2015; AVRITZER, 2016; TIBLE, 2016). No entanto, optamos por iniciar a reconstituição do acontecimento impeachment de Dilma Rousseff pelo episódio da eleição por ter sido marcado por reviravoltas, protestos e pelo resultado mais apertado dos últimos 20 anos, e por ser o marco inicial do governo interrompido pelo impeachment. Entendemos esse momento como importante a partir do que argumenta Pérez-Liñan (2000, 2016): o autor defende a necessidade de os presidentes contarem com um “escudo legislativo”, ou seja, membros do Congresso que lhe deem respaldo quando ocorrem manifestações pela sua saída; e com um “escudo popular”, com um setor da população que esteja disposto a apoiar o presidente mesmo em meio a escândalos de corrupção ou quando o Congresso decide iniciar um juízo político contra o governante. No entanto, como observa Liñán, quando há uma eleição com vantagem muito pequena, o escudo popular pode estar debilitado e o presidente não encontrar grande lealdade entre o eleitorado. Além disso, a pequena vantagem na eleição majoritária pode levar à composição de um Congresso também não muito alinhado aos projetos do governante eleito. Compreendendo isso, iniciamos a narrativa do acontecimento

impeachment de Dilma Rousseff na eleição de 2014.

5.1. Eleição de 2014

O impeachment de Dilma Rousseff (PT) entra em discussão muito antes da protocolização do processo que, de fato, levou a sua derrubada. Antes, inclusive, da sua reeleição em 2014. Naquele ano, o Movimento Vem pra Rua (VPR) convocou três manifestações durante o segundo turno das eleições contra o governo e em apoio a Aécio9 Neves (PSDB), adversário de Dilma no pleito. Além disso, o cenário da eleição presidencial também foi bastante conturbado, permeado por temas como as investigações de desvio de recursos da Petrobras e a discussão de uma crise econômica, e sofreu diversas alterações no decorrer da disputa, especialmente em virtude do falecimento trágico de um dos candidatos, Eduardo Campos (PSB), o que levou a candidata a sua vice-presidenta, Marina Silva (PSB), a assumir a cabeça de chapa.

Em fevereiro de 2014, a candidata petista liderava as pesquisas de intenção de voto 10, chegando a vencer no primeiro turno em simulações que incluíam, entre outros candidatos, Aécio Neves e Eduardo Campos. Após a morte Campos, Marina Silva assume a disputa pelo seu partido em agosto de 2014. Nas pesquisas realizadas entre o final de agosto e início de setembro, Marina estava empatada com Dilma no primeiro turno e venceria no segundo turno. Já o candidato tucano, que, até então, estava em segundo lugar nas sondagens, cai para a terceira posição, passando de 20% para 10% das intenções de voto (Gráfico 01).

9 GALINARI, Fabiana Flores de Carvalho. Ativismo na internet e o impeachment de Dilma Rousseff : as

estratégias de convocação dos movimentos pró e contra a presidenta do Brasil, 2014-2016. 2017. 173 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-graduação em Comunicação e Informação, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre, 2017.

10 DATAFOLHA. Intenção de voto para presidente da República. 2014. Disponível em:

Gráfico 01 - Intenção de voto 1º Turno (Dilma Rousseff, Aécio Neves, Marina Silva)

Fonte: DataFolha. Elaboração própria.

As pesquisas indicavam segundo turno entre Dilma Rousseff e Marina Silva até a última sondagem de setembro. No entanto, a candidata do PSB apresentava tendência de queda nos cinco estudos realizados no mês que antecedeu as eleições. Marina e Aécio entraram em outubro empatados pela margem de erro de 2% (Gráfico 01) e o candidato tucano acabou passando para o segundo turno com uma vantagem superior a 12% sobre a candidata do PSB11.

Nas simulações de segundo turno entre a candidata à reeleição e o tucano, as pesquisas de agosto ao início de outubro indicavam que a petista venceria a disputa. Às vésperas do

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primeiro turno, Aécio Neves chegou a passar na frente, mantendo, entretanto, o empate pela margem de erro da pesquisa. Na semana que antecedeu a votação final, Dilma Rousseff voltou a passar na frente, vencendo na penúltima pesquisa do pleito e empatando na sondagem final (Gráfico 02). Confirmando a tendência demonstrada pelas últimas pesquisas, Dilma Rousseff (PT) venceu a eleição com uma diferença percentual e absoluta pequena, se comparada com os resultados da cinco eleições anteriores.

11 ELEIÇÕES 2014. Resultados para Presidente do Brasil (2º turno). 2014. Disponível em:

<https://www.eleicoes2014.com.br/candidatos-presidente/>. Acesso em: 10 jul. 2018.

12 DATAFOLHA. Intenção de voto para presidente da República : 2º turno - véspera. 2014. Disponível em:

<http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2014/10/25/intencao_de_voto_presidente_vespera_2_turno.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2018.

Gráfico 02 - Intenção de voto 2º Turno - Dilma Rousseff (PT) x Aécio Neves (PSDB)

Fonte: DataFolha. Elaboração própria.

Mesmo tendo reconhecido a derrota ao final da apuração, apenas quatro dias após a reeleição de Dilma Rousseff, o PSDB protocolou no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) um pedido de auditoria da eleição, que foi aceito pelos magistrados. Em novembro e dezembro daquele ano, o Movimento Brasil Livre (MBL) e Vem Pra Rua (VPR), com a participação de Aécio Neves e outros parlamentares da oposição 13, convocaram manifestações nacionais. Na Avenida Paulista, em São Paulo, cerca de 2500 pessoas participaram do protesto em 1° de novembro, algumas delas levavam cartazes com os dizeres como “Impeachment já”, “Fora PT” e “90% do PIB não elegeu Dilma” 14. Além disso, com a auditoria em andamento, o PSDB faz um novo requerimento ao TSE, dessa vez pedindo a cassação da chapa Dilma/Temer e a diplomação de Aécio Neves, que ficou em segundo lugar. A ação, no entanto, só foi apreciada pelo Tribunal em 2017, sendo rejeitada, e a auditoria, que custou cerca de 1 milhão de reais ao partido 15, não encontrou fraudes no processo eleitoral brasileiro. Ainda assim, o segundo mandato de Dilma foi questionado e sofreu forte oposição dos setores econômicos, políticos e sociais que tiveram seus projetos derrotados pela maioria dos votos em 2014.

13 G1. Aécio e parlamentares da oposição convocam para ato de protesto em SP. 2014. Disponível em:

<http://g1.globo.com/politica/noticia/2014/12/aecio-e-oposicionistas-fazem-pela-web-convocacao-para-ato-de-p rotesto.html>. Acesso em: 10 jul. 2018.

14 GALINARI, 2017.

15 G1. PSDB diz que não é possível auditar sistema do TSE e pede voto impresso. 2015. Disponível em: