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ÂMBITOS CÓDIGO PROTAGONISTAS LOCAL DE BUSCA DISCURSO TIPO DE DATA

4. DESENHO METODOLÓGICO

5.2. O primeiro ano do novo mandato

Logo no início de seu segundo mandato, em 2015, a então presidenta sofreu uma importante e decisiva derrota na Câmara dos Deputados. Na eleição especial para o cargo de presidente da Casa, determinante para o governo federal por definir os projetos que vão para discussão no Plenário, o candidato governista Arlindo Chinaglia (PT) foi derrotado por Eduardo Cunha (PMDB). Na ocasião, o peemedebista declarou que não seria oposição, tampouco submisso ao Planalto16. No entanto, pouco mais de cinco meses depois, Cunha anunciou seu rompimento político com o governo, acusando o Planalto de articulação com o então procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para derrubá-lo17.

No mês de março de 2015, Dilma enfrentou volumosos protestos. No dia 8, seu pronunciamento na televisão aberta por ocasião do Dia Internacional da Mulher, pronunciamento da primeira presidenta do Brasil, pouco foi ouvido. Ao invés do pronunciamento em que a chefe do Executivo federal falava à população sobre o momento econômico pelo qual passava o país, o que se ouviu foram panelas batendo em diferentes cidades pelo país, como São Paulo, Rio de Janeiro e Belo Horizonte. Os vídeos com panelas, buzinas e gritos de “Fora Dilma” viralizaram rapidamente nas redes sociais, ganhando destaque nos principais jornais, portais de notícias e telejornais do país.

Além do episódio que ficou conhecido como “panelaço”, naquele ano o governo enfrentou protestos nacionais, articulados pelos movimentos VPR e MBL, de forma recorrente. O maior deles aconteceu no dia 15 de março daquele ano, quando 210 mil 18 pessoas estiveram na Avenida Paulista para protestar “contra a corrupção”, “pelo impeachment de Dilma Rousseff” e “contra o Partido dos Trabalhadores (PT)”, de acordo com o instituto DataFolha 19. No contexto desses protestos, o instituto Ibope divulgou dois estudos que revelavam importantes elementos contextuais. Em abril, 87% da população

16 G1. Eduardo Cunha é eleito presidente da Câmara em primeiro turno. 2015. Disponível em:

<http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/02/eduardo-cunha-e-eleito-presidente-da-camara-dos-deputados.html >. Acesso em: 10 jul. 2018.

17 G1. Eduardo Cunha anuncia rompimento com o governo e diz que é 'oposição' . 2015. Disponível em:

<http://g1.globo.com/politica/noticia/2015/07/eduardo-cunha-anuncia-rompimento-politico-com-o-governo-dil ma.html>. Acesso em: 10 jul. 2018.

18 Os organizadores contabilizaram 2 milhões 400 mil participantes, já a Polícia Militar estimou 1 milhão de

pessoas.

19 DATAFOLHA. Manifestação na avenida Paulista . 2015. Disponível em:

acreditava que o país vivia uma crise econômica e, destes, 34% a atribuíam à corrupção 20. Já em junho, 75% acreditavam que o país estava no rumo errado. Já quando consideravam aquilo que viam, liam e ouviam falar, o número de pessoas que acreditava que o Brasil não estava no caminho certo subia para 82%21.

No momento de instabilidade instaurado desde o início do primeiro ano do governo, alguns episódios se sucederam como agravantes do quadro, como as prisões do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e do ex-ministro do governo Lula José Dirceu, por suposto envolvimento em esquemas de corrupção na Petrobras; os 16 pedidos de impeachment protocolados na Câmara dos Deputados; o déficit de 17,2 bilhões de reais no ano anterior, anunciado em janeiro (e o maior desde que começou a ser feito o registro da série histórica em 199722) ; a entrada da economia em recessão técnica pela queda do Produto Interno Bruto

(PIB) nos dois primeiros trimestres do ano; e a divulgação, em outubro, de que o Índice de Preços ao Consumidor (IPCA) havia chegado ao maior acúmulo no ano desde 2003 23. Além disso, o Planalto ainda enfrentou a prisão do líder do governo do Senado, Delcídio do Amaral (PT), acusado de tentar obstruir as investigações da Lava Jato; e precisou lidar também com a rejeição das contas relativas ao exercício de 2014 pelo Tribunal de Contas da União (TCU) de forma unânime. A importância desses episódios está, especialmente, no fato de que nenhum deles aconteceu sem ser amplamente divulgado pelos grandes veículos de comunicação e aproveitado pelos adversários do governo.

Contudo, as ofensivas contra o governo não se deram sem reação. Durante todo o ano de 2015 aconteceram também manifestações em apoio à presidenta e pela continuidade de seu governo. As maiores mobilizações nesse sentido também ocorreram em maio na cidade de São Paulo, com cerca de 100 mil pessoas no dia 13, de acordo com os organizadores, e 12 mil pela contagem da Polícia Militar. Além disso, no final do ano foram criadas duas grandes frentes de movimentos sociais e intelectuais do campo da esquerda empenhadas na “defesa da

20 IBOPE. Brasil vive crise econômica, segundo 87% da população. 2015. Disponível em:

<http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesquisas/brasil-vive-crise-economica-segundo-87-da-populacao/ >. Acesso em: 10 jul. 2018.

21 IBOPE. Para 75% da população, Brasil está no rumo errado. 2015. Disponível em:

<http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesquisas/para-75-da-populacao-brasil-esta-no-rumo-errado/>. Acesso em: 10 jul. 2018.

22 EL PAÍS. Contas do Governo têm o maior déficit desde 1997. 2015. Disponível em:

<https://brasil.elpais.com/brasil/2015/01/29/economia/1422542868_763665.html>. Acesso em: 10 jul. 2018.

23 IBGE. Sistema Nacional de Índices de Preços ao Consumidor: Séries Históricas. Disponível em:

democracia” e “na luta contra medidas antipopulares”24 25, a Frente Brasil Popular (FBP) e a Frente Povo Sem Medo (FPSM). O governo também se movimentou, na tentativa de conseguir aprovação do Congresso para as suas propostas de enfrentamento à crise econômica, política e social pela qual o país passava. Nesse sentido, ainda em abril, Dilma nomeou seu vice-presidente, Michel Temer (PMDB), para a articulação política do governo. A presidenta também efetuou uma reforma ministerial em outubro, reduzindo o número de ministérios de 39 para 31 e entregando sete ministérios para o partido do vice, entre eles o da Saúde e da Ciência e Tecnologia.

No entanto, os esforços do governo não resultaram como o esperado. O parecer do TCU que rejeitou as contas do governo referentes a 2014 originou o processo de impeachment que foi protocolado pelos juristas Miguel Reale Júnior (PSDB), Janaína Paschoal e Hélio Bicudo na Câmara dos Deputados no dia 15 de outubro de 2015. O processo, que levou ao impeachment de Dilma Rousseff, acusou a presidenta de ter conhecimento de três decretos que não tiveram autorização do Congresso e que teriam impactado a meta fiscal. Além disso, a presidenta também foi acusada de abrir operações de crédito em bancos públicos ao ter atrasado o pagamento de dívidas do governo.

Diante do cenário desfavorável para o governo, o PMDB começa a ensaiar a sua saída do governo e lança, no final do mesmo mês, o programa para o país “Uma Ponte para o Futuro” , onde aponta caminhos diferentes dos que vinham sendo adotados pelo Planalto. No26

documento, o partido afirma que as iniciativas expostas “constituem uma necessidade, e quase um consenso, no país” e que “a inércia e a imobilidade política têm impedido que elas se concretizem”27.

Depois de o PT ter anunciado, no dia 2 de dezembro, que votaria pela admissibilidade do processo por quebra de decoro parlamentar contra Eduardo Cunha (PMDB) na Comissão de Ética da Câmara dos Deputados, o presidente da Casa decide acolher o processo de impeachment contra Dilma Rousseff apresentado cerca de dois meses antes. O primeiro ano

24 FRENTE BRASIL POPULAR. Compromissos da Militância. 2015. Disponível em:

<http://www.frentebrasilpopular.org.br/conteudo/compromissos-da-militancia/>. Acesso em: 10 jul. 2018.

25 CUT. Frente Povo Sem Medo engrossa luta contra o retrocesso. 2015. Disponível em:

<https://www.cut.org.br/noticias/frente-povo-sem-medo-engrossa-luta-contra-o-retrocesso-8b8f>. Acesso em: 10 jul. 2018.

26 Ver apêndice 2.

27 PMDB. Uma Ponte para o Futuro. 2015. Disponível em:

<http://xn--programadeformao-snb5e.org.br/wp-content/uploads/2015/10/Uma-ponte-para-o-futuro.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2018.

termina com a pior reprovação de Dilma: 70% dos entrevistados pelo Ibope achavam o governo ruim ou péssimo. Os setores de atuação pior avaliados eram as políticas e ações de combate ao desemprego, que 87% acreditavam serem ruins/ou péssimas; e juros e impostos, com desaprovação de 91%. Além disso, quase metade da população se mostrava favorável à perda de mandato por um político que seja considerado mau gestor, mesmo sem crimes de corrupção ou responsabilidade; e, entre os que defendiam o impeachment de Dilma Rousseff, 53% era favorável a essa hipótese28 29 .