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ÂMBITOS CÓDIGO PROTAGONISTAS LOCAL DE BUSCA DISCURSO TIPO DE DATA

4. DESENHO METODOLÓGICO

5.5. O dia 12 de maio: afastamento provisório da presidenta da República

Consideramos nesta pesquisa o dia 12 de maio de 2016 como um episódio emblemático do acontecimento impeachment de Dilma Rousseff, pois nele se dá o debate sobre o afastamento provisório da presidenta e consequente mudança de governo. Com a formação de um novo governo que, embora, em tese, fosse interino, carrega um projeto de governo

41 SENADO FEDERAL. Veja a íntegra do discurso de defesa de Dilma no Senado . 2016. Disponível em:

<https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2016/08/29/veja-a-integra-do-discurso-de-defesa-de-dilma-no-s enado>. Acesso em: 10 jul. 2018.

próprio e absolutamente centrado em questões econômicas, reconfigurando também toda a estrutura de governo (SVARTMAN; SILVA, 2016). Os fatos que se desenrolam no dia 12 de maio têm início ainda na manhã do dia anterior, quando, por volta das 10h da manhã, o então presidente do Senado Federal, Renan Calheiros (PMDB), deu início à sessão que decidiria sobre a abertura do processo de impeachment contra Dilma Rousseff e seu consequente afastamento provisório. A sessão se estenderia por mais de 20 horas, período no qual 69 dos 81 senadores discursaram defendendo suas teses acerca do impeachment. Naquele momento, a oposição precisava apenas da maioria simples para que o processo fosse instaurado, como recomendava o relatório da Comissão Especial do Impeachment, elaborado por Antonio Anastasia (PSDB).

Ao contrário do que aconteceu na votação do impeachment na Câmara dos Deputados, a sessão do Senado não foi integralmente transmitida ao vivo por emissoras de televisão aberta. No entanto, telões foram montados na Esplanada dos Ministérios para que manifestantes pudessem acompanhar, já desde o dia 11, a votação. Milhares de pessoas se reuniram no local para acompanhar as discussões e a votação e os grupos favoráveis e contrários ao impeachment foram separados por um largo corredor para evitar que o encontro entre os diferentes grupos causasse tumulto, em um contexto de crescente polarização social (BAQUERO, GONZÁLEZ, 2016).

No início da manhã de 12 de maio, pouco antes das 7h, os 78 senadores presentes concluíram a votação do relatório que recomendava a abertura do processo de impeachment na Casa. Com 55 votos favoráveis e 22 contrários, o Senado decidiu que daria início à investigação sobre crimes de responsabilidade cometidos pela presidenta Dilma Rousseff.

Quadro 02 - voto dos senadores na abertura do processo de impeachment Votaram pela abertura do processo Votaram contra a abertura do

processo Acir Gurgacz (PDT-RO)

Aécio Neves (PSDB-MG)

Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP) Álvaro Dias (PV-PR)

Ana Amélia (PP-RS)

Antonio Anastasia (PSDB-MG) Antonio Carlos Valadares (PSB-SE) Ataídes Oliveira (PSDB-TO) Benedito Lira (PP-AL) Blairo Maggi (PR-MT) Cássio Cunha Lima (PSDB-PB) Ciro Nogueira (PP-PI)

Cristovam Buarque (PPS-DF) Dalírio Beber (PSDB-SC) Dário Berger (PMDB-SC) Davi Alcolumbre (DEM-AP) Edison Lobão (PMDB-MA) Eduardo Amorim (PSC-SE) Eunício Oliveira (PMDB-CE) Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE) Fernando Collor (PTC-AL)

Flexa Ribeiro (PSDB-PA)

Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN) Gladson Cameli (PP-AC)

Hélio José (PMDB-DF) Ivo Cassol (PP-RO) José Agripino (DEM-RN) José Maranhão (PMDB-PB)

José Medeiros (PSD-MT) José Serra (PSDB-SP) Lasier Mar ns (PDT-RS) Lúcia Vânia (PSB-GO) Magno Malta (PR-ES) Marcelo Crivella (PRB-RJ) Maria do Carmo Alves (DEM-SE) Marta Suplicy (PMDB-SP) Omar Aziz (PSD-AM) Paulo Bauer (PMDB-SC) Raimundo Lira (PMDB-PB) Reguffe (Sem par do-DF) Ricardo Ferraço (PSDB-ES) Roberto Rocha (PSB-MA) Romário (PSB-RJ) Romero Jucá (PMDB-RR) Ronaldo Caiado (DEM-GO) Rose de Freitas (PMDB-ES) Sérgio Petecão (PSD-AC) Simone Tebet (PMDB-MS) Tasso Jereissa (PSDB-CE) Valdir Raupp (PMDB-RO) Vicen nho Alves (PR-TO) Waldemir Moka (PMDB-MS) Wellington Fagundes (PR-MT) Wilder Morais (PP-GO) Zezé Perrella (PTB-MG)

Angela Portela (PT-RR) Armando Monteiro (PTB-PE) Donize Nogueira (PT-TO) Elmano Férrer (PTB-PI) Fá ma Bezerra (PT-RN) Gleisi Hoffmann (PT-PR) Humberto Costa (PT-PE) João Alberto Souza (PMDB-MA) João Capiberibe (PSB-AP) Jorge Viana (PT-AC) José Pimentel (PT-CE) Lídice da Mata (PSB-BA) Lindbergh Farias (PT-RJ) O o Alencar (PSD-BA) Paulo Paim (PT-RS) Paulo Rocha (PT-PA)

Randolfe Rodrigues (Rede-AP) Regina Sousa (PT-PI)

Roberto Requião (PMDB-PR) Telmário Mota (PDT-RR) Vanessa Grazzio n (PCdoB-AM) Walter Pinheiro (Sem par do-BA)

Fonte: Senado Federal/Elaboração própria.

Além dos senadores do quadro acima, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), também estava presente, mas se absteve no momento da votação. Como dito, para que Dilma fosse afastada provisoriamente e o processo fosse iniciado bastava que a maioria simples votasse nesse sentido. Já para que, ao final do processo, ela fosse definitivamente destituída do cargo, seria necessário que dois terços dos senadores votassem pelo impeachment. Essa maioria de dois terços foi atingida já na votação do dia 12 de maio.

Sabe-se que, por se tratarem de matérias diferentes (abrir o processo e impichar a presidenta), o fato de os votos necessários para o afastamento definitivo ter sido virtualmente obtido já na votação de abertura do processo, não significava, necessariamente, a garantia de que a presidenta seria derrotada em sua cruzada contra o impeachment. No entanto, de fato, nenhum dos senadores que votou pela abertura do processo votou contra o impeachment (o

que houve, ao contrário, foi uma debandada dos que haviam votado contra a abertura do processo, votando pelo impeachment em 31 de agosto de 2016, quando 61 senadores votaram pela destituição da presidenta).

A decisão do Senado em dar seguimento a um processo de impeachment contra Rousseff implicou no afastamento provisório da presidenta de seu cargo. Dilma foi notificada no Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo Federal, pelo primeiro-secretário da Mesa Diretora do Senado, Vicentinho Alves (PR), ainda durante a manhã. Ainda no Palácio do Planalto e acompanhada de ex-ministros, do ex-presidente Lula e outros aliados, Dilma fez uma declaração à imprensa onde afirmou que o que estava em jogo era “o respeito às urnas, à vontade soberana do povo brasileiro e à Constituição”. No mesmo momento em que fazia a declaração, um pronunciamento gravado previamente foi divulgado nas redes sociais da Presidência da República.

Figura 2 - Dilma Rousseff faz declaração à imprensa

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Ao finalizar sua declaração à imprensa, a presidenta se dirigiu para o lado de fora da sede do governo, onde milhares de manifestantes contrários ao impeachment a aguardavam. Eles, a maioria mulheres, seguravam balões em forma de coração e cartazes onde lia-se: “voltaremos”, “não ao golpe”, etc. Dilma abraçou seus apoiadores, ganhou flores e realizou

um novo discurso em frente ao Palácio. "Hoje é um dia muito triste, mas vocês conseguem fazer com que a tristeza diminua. Eu tenho um momento de alegria com o carinho que vocês passam", disse a presidenta afastada, que também afirmou estar sendo vítima de uma injustiça.

Após notificar Dilma de seu afastamento, o primeiro-secretário da Mesa Diretora do Senado notificou Michel Temer (PMDB) da posse como presidente interino, no Palácio do Jaburu, residência oficial da Vice-presidência. Quando recebeu a notificação, o vice-presidente já estava acompanhado de alguns de seus futuros ministros. Logo após tomar posse interinamente, a equipe de Michel Temer divulgou o novo slogan e logomarca do Governo Federal. O slogan “Ordem e Progresso” é uma referência aos dizeres da bandeira do Brasil e também estava presente na logomarca da gestão.

Ainda no dia do afastamento provisório de Dilma Rousseff, Michel Temer anunciou e empossou seu novo ministério. O ministério de Temer ficou composto por 23 pastas e 11 partidos. A sigla que ficou com mais ministérios foi o PMDB, com 7 pastas, seguido do PSDB (3) e PP (2). PR, PRB, PSD, PTB, DEM, PPS, PV e PSB ficaram com um ministério cada. Quatro ministros empossados não eram filiados a partidos. Michel Temer não realizou um discurso de posse. Seu primeiro discurso oficial foi realizado já na condição de presidente interino durante a cerimônia de posse do novo ministério. Em sua fala, Temer pediu união para aprovar sua agenda “controvertida”, sinalizando algumas das contrarreformas - para usar a expressão de Braga (2017) - que pretendia implementar, na contramão do programa eleito em 2014, pela chapa da qual fazia parte.