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ÂMBITOS CÓDIGO PROTAGONISTAS LOCAL DE BUSCA DISCURSO TIPO DE DATA

4. DESENHO METODOLÓGICO

5.3. O ano do impeachment

O ano de 2016 foi marcado pela tramitação do processo de impeachment, que foi capaz de, diariamente, oferecer novos episódios sobre seu andamento, ou sobre as articulações e estratégias do governo e da oposição. Esse foi, provavelmente, o principal tema dos noticiários políticos, permeando o tecido social e provocando o envolvimento dos mais diversos setores, mais ou menos interessados no resultado do processo. Ademais, além da ação que tramitava na Câmara dos Deputados contra a presidenta, o ano não começou menos conturbado para o Planalto do que havia terminado o anterior.

Já em janeiro, o anúncio de um déficit de R$ 114,98 bilhões, ou 1,94% do PIB, nas contas do governo em 2015 abriu a agenda negativa que compartilharia os noticiários com o processo de impeachment naquele ano. Além disso, em fevereiro, o marqueteiro João Santana foi preso sob acusação de lavagem de dinheiro de corrupção na Petrobras. Santana trabalhou nas campanhas de Lula e Dilma e, por esse motivo, sua detenção foi divulgada em diferentes veículos como a prisão do “marqueteiro do PT”. Em março, o ex-aliado e ex-líder do governo no Senado Delcídio do Amaral firmou acordo de delação premiada com a Procuradoria Geral da República (PGR) onde acusou Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de tentarem interferir nas investigações da operação Lava Jato.

Nesse cenário, no dia 13 de março de 2016 o governo enfrentou as maiores manifestações já registradas na história do país, quando cerca de três milhões 30 31 de pessoas

28 IBOPE. Metade da população é a favor de que político perca mandato por má gestão. 2015. Disponível

em:

<http://www.ibopeinteligencia.com/noticias-e-pesquisas/metade-da-populacao-e-a-favor-de-que-politico-perca- mandato-por-ma-gestao/>. Acesso em: 10 jul. 2018.

29 Apenas três anos antes, em 2012, o governo tinha aprovação de 63% da população. 30

foram às ruas pedir a saída de Dilma, 500 mil apenas na Avenida Paulista 32. Naquele dia, uma pesquisa realizada com os manifestantes revelou que, entre os que que se reuniram em São Paulo, 98% consideravam o governo ruim ou péssimo e 95% eram a favor do impeachment da presidenta. Além disso, 79% declararam que votaram no candidato tucano, Aécio Neves, no segundo turno da eleição de 2014 e apenas 3% haviam votado na candidata petista 33. Os movimentos que organizaram as manifestações desse dia, VPR e MBL, seguiram organizando protestos contra o governo durante todo o período de tramitação do processo, inclusive nos dias de votação do processo de impeachment na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.

Em meio ao desgaste acumulado desde 2014, Dilma Rousseff anunciou Lula como seu novo ministro da Casa Civil. Meses antes, uma pesquisa34 sobre a participação do ex-presidente no governo indicava que 57% dos brasileiros acreditavam que o país estava naquela situação porque Dilma havia adotado uma linha de governo diferente da de Lula, e 37% pensavam que o Brasil estaria um pouco ou muito melhor sob o comando do antecessor de Dilma. Ao mesmo tempo, 62% acreditavam que o ex-presidente tinha influência no Planalto, mas, para 53% dos entrevistados, uma maior participação de Lula no governo seria mais negativa para o país. Nesse contexto, no dia 15 de março de 2016, o juiz de primeira instância responsável pelo processo de Lula na Lava Jato divulgou conversas telefônicas entre Dilma e o ex-presidente onde falavam sobre a posse dele, que ocorreria no dia seguinte.

O conteúdo do áudio foi divulgado já na escalada da edição de 16 de março do Jornal Nacional, da TV Globo, telejornal de maior audiência do horário nobre 35. Nele, a presidenta

em: <https://brasil.elpais.com/brasil/2016/03/13/politica/1457906776_440577.html>. Acesso em: 10 jul. 2018.

31 “ É importante apontar, no entanto, que uma disputa de discursos se instalou a respeito do número de

manifestações realizadas e do registro de participantes presentes nos atos. É importante sublinhar, neste contexto, que o número de apoiadores em manifestações pode ser tomado como um indício de sucesso ou fracasso de grupos que defendem causas de interesse público. A contagem de público nas manifestações promovidas pelo MBL, pelo VPR e pela FBP foi noticiada por diferentes veículos de comunicação. Enquanto algumas mídias contrastavam estimativas medidas pela PM (polícia militar) com os resultados de institutos de pesquisa especializados e com a percepção dos organizadores, outras privilegiavam apenas a divulgação de uma fonte. Apesar disto, a expressão do debate acerca do número de manifestações e de participantes que aderiram aos eventos demonstra a força e a importância desses atos que, influenciados pelo cenário político e social, afetaram o curso do processo de impeachment”. (GALINARI, 2017, p. 83)

32 DATAFOLHA. Manifestação avenida Paulista. 2016. Disponível em:

<http://media.folha.uol.com.br/datafolha/2016/03/14/manifestacao_13_03_2016.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2018.

33 Ibid.

34 IBOPE. Pesquisa de opinião sobre assuntos políticos . 2015. Disponível em:

<http://www.ibopeinteligencia.com/arquivos/antigos/JOB_1398_BRASIL_Relatorio_de_tabelas_ex_presidente _Lula.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2018.

informava ao ministro nomeado que estava lhe enviando o termo de posse para que usasse “se fosse necessário”. O vazamento foi reportado pelo jornal como tendo “indícios fortes de que o objetivo da ida de Lula para o Ministério foi mesmo tirá-lo do alcance do juiz Moro”, já que, como ministro, o processo de Lula deixaria de tramitar nas varas de primeira instância. Em nota, o Planalto explicou que o termo foi enviado pois a posse dos quatro novos ministros recém indicados ocorreria no dia seguinte, mas o ministro-chefe da Casa Civil não sabia ainda se participaria da cerimônia. O governo também repudiou a divulgação da conversa, afirmando que se tratava de uma “afronta aos direitos e garantias da Presidência da República”, e informou que adotaria as medidas judiciais e administrativas cabíveis36.

No entanto, antes que o Planalto pudesse manifestar-se sobre o ocorrido, as ruas do país já estavam, novamente, em meio a manifestações contra o governo e contra a nomeação de Lula. Essas manifestações ocorreram em, ao menos, 17 estados e no Distrito Federal 37. No dia 17, o ex-presidente chega a tomar posse como ministro, mas tem sua nomeação suspensa pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes horas mais tarde 38. Esse foi um dos momentos mais delicados pelos quais o governo passou desde a reeleição de Dilma. No entanto, no dia 18 de março, foram os movimentos e manifestantes pró-governo e/ou contrários ao impeachment que tomaram as ruas e fizeram a maior manifestação pela democracia desde o início do processo de impeachment. Na ocasião, 275 mil pessoas, na conta da Polícia Militar, e 1,3 milhão, de acordo com os organizadores, protestaram em 55 cidades de todos os estados e no Distrito Federal. A maior manifestação ocorreu também na Avenida Paulista onde, de acordo com o DataFolha, 95 mil pessoas estiveram presentes. Entre os manifestantes de São Paulo, 46% avaliavam o governo como ótimo ou bom e 95% eram contrários ao impeachment de Dilma Rousseff. Quanto ao voto no segundo turno em 2014, 90% disseram ter votado na então presidenta, e 2% em Aécio Neves. Além disso, 88% acreditavam que Lula havia sido o melhor presidente do Brasil39.

<https://www.kantaribopemedia.com/wp-content/uploads/2016/03/Report_64.pdf>. Acesso em: 10 jul. 2018.

36 ÉPOCA. Planalto repudia divulgação da conversa entre Lula e Dilma. 2016. Disponível em:

<https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/03/planalto-repudia-gravacao-de-conversa-entre-lula-e-dilma.html >. Acesso em: 10 jul. 2018.

37 ÉPOCA. Áudios complicam Dilma e Lula. 2016. Disponível em:

<https://epoca.globo.com/tempo/noticia/2016/03/audios-complicam-dilma-e-lula-acompanhe.html>. Acesso em: 10 jul. 2018.

38 Com a permanência da suspensão até o afastamento provisório de Dilma Rousseff, Lula não chegou a exercer

o cargo de ministro-chefe da Casa Civil.