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CAPÍTULO 3 CAMINHOS POR ONDE ANDAMOS: NOSSA TRAJETÓRIA DE

3.2 A Trilha Metodológica: os caminhos escolhidos e os rumos trilhados

É comum no capítulo destinado à metodologia colocarmos, entre outras coisas, a opção metodológica, a teoria que norteia o trabalho e o objeto já lapidado. Nessa pesquisa, escolhemos fazer o movimento anterior. Relatar um pouco os percalços nesse transcorrer, desde a elaboração do primeiro esboço do projeto até chegarmos ao “término” desse trabalho. Sabemos de antemão que é quase impossível recuperar todos os momentos vividos. Muitas coisas se perdem ao longo da estrada percorrida nos quatro anos de um curso de doutorado. Contudo, é importante salientar que vale a pena discorrer sobre alguns aspectos vividos e pensados. Os novos pesquisadores poderão, de posse do trabalho, encontrar algum alento.

Até chegarmos à delimitação do objeto que ora apresentamos - a educação das relações étnico-raciais nas práticas curriculares cotidianas em uma escola da Rede Municipal de Ensino do Recife – foi vivido um processo intenso de reformulação e de andanças.

No momento da seleção do doutorado, nossa preocupação estava relacionada à questão curricular no ensino de história e à construção da identidade dos docentes e discentes. Nesse momento da pesquisa, elaboramos como objetivos de trabalho os seguintes: 1) compreender a construção das identidades à luz dos estudos culturais e da psicologia social; 2) apreender dos conteúdos das falas dos docentes e discentes as manifestações identitárias que formam os sujeitos estudados; 3) descrever como os educadores vêm trabalhando as diferenças no cotidiano escolar; 4) analisar se o currículo formal de História expresso através da proposta curricular da Rede Municipal do Recife é influenciado pelas teorias críticas e pós-criticas do currículo e como apresenta as discussões em relação ao multiculturalismo e ou interculturalismo.

No decorrer da leitura, direcionamos o olhar para a questão da diferença em vez da identidade. A partir de outros estudos, entendemos que não poderíamos estudar todas as diferenças e escolhemos fazer outro recorte.

Dessa vez, procuramos entender a questão das relações étnico-raciais através do debate sobre a diferença. A nossa formulação na qualificação dizia respeito “às práticas curriculares e às políticas de ações afirmativas face aos estudantes considerados diferentes no cotidiano escolar da Rede municipal do Recife”. O nosso olhar voltava-se para como essa diferença era percebida pelos docentes e de que forma as práticas curriculares estavam preocupadas com as questões étnico-raciais. Mediante a amplitude do trabalho, fomos orientados na qualificação a delimitar melhor o nosso objeto de pesquisa. Sendo assim, nossa pergunta foi delineada da seguinte forma: de que forma as práticas curriculares cotidianas dos educadores e estudantes da Rede Municipal do Recife têm incorporado questões relacionadas com as relações étnico-raciais, as políticas de ações afirmativas e o multiculturalismo mediante os desafios e tensões vividos no cotidiano escolar? Por fim, o nosso problema de pesquisa tomou a subsequente configuração: de que forma as práticas curriculares em uma escola da Rede Municipal de Ensino do Recife estariam vivenciando a educação das relações étnico-raciais?

Outro dilema que nos acompanhou dizia respeito à metodologia. Que caminhos trilhar mediante a problemática levantada? Mais uma vez, a fundamentação teórica foi o alicerce para guiar nossas escolhas. Por outro lado, a escolha metodológica num trabalho dessa natureza exigia novos postulados. Como afirma Costa (2007, p. 18),

A fragilidade intelectual e emocional que nos acomete quando temos que enfrentar as metodologias, em nossas investigações, é fruto do endeusamento desse tipo de pensamento a que denominamos ciência e que está impregnado de “parâmetros” que enquadram a todos, homogeneízam tudo, definindo o certo e o errado, o bom e o mau, o falso e o verdadeiro etc. Quando ficamos paralisados/as ao tomar decisões metodológicas, devemos ter claro que o problema certamente não é nosso despreparo na utilização de instrumentos técnicas ou métodos, mas sim a incapacidade ou inadequação dos métodos, supostamente disponíveis para dar conta de formas emergentes de Problematização. A episteme moderna engendrou lentes e luzes tão ardilosamente dispostas que apenas podemos vislumbrar algo se usarmos um determinado tipo de óculos. Tudo o mais são outros que mal e mal se movem na obscuridade.

Nesse turbilhão de possibilidades, o caminho precisava ser vivido e muitas dúvidas estiveram presentes do início ao fim da pesquisa. Por esse pequeno relato é

fácil perceber o quanto um trabalho de pesquisa exige investimento e como o processo de lapidação da produção vai se dando aos poucos, através de um processo que comporta frequentes idas e vindas. É claro que cada investigação apresenta suas próprias características e que, no nosso caso, estávamos diante de um objeto de estudo considerado complexo seja pela configuração social que assume, seja pelas escolhas teórico-metodológicas engendradas. Isso porque entendemos, como Costa (2007), que para cada novo conhecimento a ser produzido faz-se necessário procurar novos caminhos, abrir novos ferrolhos e buscar novas portas e janelas.

Assim, além da dificuldade de delimitação do objeto, enfrentamos o problema de filiação a determinadas perspectivas filosóficas que de certa forma rompem com a vertente marxista. A produção do mestrado embora também estivesse ligada à questão curricular estava vinculada à teoria crítica do currículo. Daí se deduz o quanto foi necessário irmos à busca de novos horizontes que nos oferecessem as ferramentas necessárias para encontrar a resposta à questão central dessa investigação, qual seja: de que forma as práticas curriculares em uma escola da Rede Municipal de Ensino do Recife estariam vivenciando a educação das relações étnico-raciais?

Ademais, acreditamos que se queremos compreender o mundo na contemporaneidade é preciso utilizar outras lentes que ampliem a nossa visão para o que ainda não foi visto ou pensado. É com esse intuito que iremos, na próxima seção, discutir esses novos horizontes.

3.3 O Pós-Estruturalismo e os Estudos Culturais: conexão e contexto da