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As lutas dos/as negros/as na sociedade brasileira: desafios e tensões nas

CAPÍTULO 2 O NEGRO NA SOCIEDADE BRASILEIRA: HISTÓRIAS, LUTAS E

2.2 As lutas dos/as negros/as na sociedade brasileira: desafios e tensões nas

É comum, quando nos referimos aos primórdios da luta dos negros e das negras na sociedade brasileira, no período mais recente (século XX), fazermos referência apenas à Frente Negra Brasileira iniciada em 1931 e ao Teatro Experimental do Negro, fundado por Abdias do Nascimento na década de 1940, ou ainda ao Movimento Negro Unificado da década de 1970. Contudo, ao investigarmos a literatura referente aos estudos dos negros e aos documentos referentes aos períodos citados, encontramos uma gama de ações que vão desembocar na luta contra o preconceito racial em nosso país. Em outras palavras, os afro- descendentes no nosso país historicamente estiveram buscando saídas para a

construção de relações étnico-raciais mais equitativas e livres das amarras do preconceito.

Ao longo da nossa história, os/as negros/as, embora estivessem em condições de desvantagem social, sempre buscaram soluções para os problemas que enfrentavam no cotidiano de suas vidas. A luta por liberdade e por melhores condições de vida foram pautas de suas reivindicações em diferentes espaços e de diferentes maneiras.

Desde os períodos do Brasil Colônia e Império, os quilombos apareceram como lugares de resistências e de lutas contra a dominação dos brancos portugueses. Nesse sentido, é importante dizer que os quilombos no Brasil precisam ser estudados dentro de um conjunto de lutas vivenciadas pelos afro-descendentes no sentido de manter sua liberdade e sua cultura. As formas de resistências utilizadas se processaram de diversas maneiras, inclusive por meio da religião.

Leite (2008) esclarece a permanência ao longo da História do Brasil dos quilombos. Os quilombos aparecem como os primeiros focos de resistências dos africanos e afro-brasileiros em relação ao escravismo colonial. Reaparecem nos período da República em 1930, com a Frente Negra Brasileira, e retornam à cena política nos anos setenta do século XX e no século XXI.

Por sua vez, desde o século XIX, encontramos em diversas partes do país associações que procuravam expor as condições de desigualdades em que se encontravam os negros em nossa sociedade. Camargo (2005) salienta no seu trabalho que, após a abolição da escravatura em 1888, as associações culturais e as irmandades lutavam por escolas para alfabetizar a comunidade negra e promover a mobilidade social desse grupo. Enfim, nas primeiras décadas após a abolição, os movimentos dos negros organizavam-se principalmente em clubes, associações recreativas e agremiações, e tinham como objetivos promover a convivência e as trocas entre os pares.

Dessa forma, com base em Camargo (2005), podemos entender por movimento negro o conjunto de entidades que, de uma forma ou de outra, lutaram ou lutam por melhores condições de vida para a população negra, além de desenvolverem estratégias de ocupação de espaços, reivindicarem e denunciarem a exploração e lutarem por uma sociedade mais justa e equitativa.

É importante dizer que, antes da criação da Frente Negra Brasileira, tivemos no país a denominada Imprensa Negra. Estes jornais, além de terem um caráter

recreativo ou beneficente, se constituíam como espaços de luta contra a discriminação e contra a desigualdade social. Até 1924, tivemos pelo menos sete jornais que tinham a pretensão de despertar no/a negro/a certa unidade. Alguns destes jornais, conforme aponta Andrade (2007), podem ser sintetizados no quadro 3, abaixo:

Quadro 3 – Imprensa Negra – 1 IMPRENSA NEGRA BRASILEIRA 1

Jornal Ano de fundação

Treze de Maio 1888 A Pátria 1889 O Exemplo 1892 A Redenção 1899 O Baluarte 1903 O Propugnador 1907 O Patrocínio 1913 Fonte: Andrade (2007).

Em 1924, é fundado o Clarim por José Correia Leite e Jaime de Aguiar. O referido jornal tinha como proposta a criação de um partido que representasse os interesses da classe de cor. Contudo, essa ideia não prosperou diante da sociedade da época. Outros jornais foram sendo produzidos e esclarecendo a população a respeito do valor do/a negro/a em nossa sociedade e da necessidade de construir outras relações sociais. O quadro 4, sistematizado com base em Camargo (2005), mostra outros jornais e seus respectivos anos de fundação.

Quadro 4 – Imprensa Negra 2 IMPRENSA NEGRA BRASILEIRA 2

Jornal Ano de fundação

O Melinke 1916 O Bandeirante 1918 O Alfinete 1918 O Liberdade 1919 O Kosmo 1924 O Elite 1924 O Getulino 1924 O Clarim 1924 Fonte: Camargo (2005).

Em 1924, tivemos pelo menos quatro jornais que demonstravam preocupação com o papel do negro na sociedade brasileira. Esse fato mostra quanto o/a negro/a vem lutando pelos seus direitos e o quanto a nossa sociedade vem resistindo à mudança.

Para Santos (2007, p. 13), “os negros, num esforço enorme construíram muitas associações recreativas e uma imprensa negra ativa constituída de jornais que circulavam de São Paulo ao interior”. Enfim, em quase todo o Brasil havia a imprensa negra. Essa imprensa foi importante porque contribuiu para a autoafirmação da comunidade negra recém saída da escravidão.

Segundo Alberti e Pereira (2007, p. 90), O Clarim foi dirigido por Henrique Cunha (1908-2006) e foi fundado em São Paulo, em 1924. Henrique Cunha integrou também a Frente Negra Brasileira e o Clube Negro de Cultura Social fundado em 1932 e foi um dos fundadores da Associação Cultural do Negro em 1956. Seu filho Henrique Cunha Júnior foi fundador e primeiro presidente (2002-2004) da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros e, atualmente, é professor titular da Universidade Federal do Ceará.

Por sua vez, o jornal O Quilombo foi criado por Abdias do Nascimento, no Rio de Janeiro, e circulou entre 1948 e 1950 (ANDRADE, 2007), sendo relançado em forma de fascículo (livro) no final do século XX.

Esses registros tornam evidente a luta do/a negro/a na nossa sociedade e o seu papel na discussão da problemática em questão. Em plena década de 1940, verificamos uma movimentação da sociedade sobre esse debate e, certamente, toda essa discussão, a exemplo do que se observa ainda hoje, encontrava resistências de diferentes grupos que procuravam negar a discriminação racial a que os negros e as negras estavam submetidos em nosso país.

No quadro 5, apresentamos ainda outros jornais que debatiam o problema do negro na nossa sociedade.

Quadro 5 – Imprensa Negra 3 IMPRENSA NEGRA BRASILEIRA 3

Jornais Localidade Anos

Jornal da Bahia Bahia 1962-1980-1983

Jornal O Globo São Paulo 1978

Jornal Correio da Bahia Bahia 1980-1982

Tribuna da Bahia Bahia 1983

A Tarde Bahia 1989

Fonte: CEAO

É importante verificarmos que nos conteúdos desses jornais, os/as negros/as conclamavam novas relações e novas oportunidades para todos e todas. Salientamos que, embora esses jornais estivessem preocupados principalmente com a integração do afro-descendente ao mundo do homem branco e europeu, não podemos esquecer o papel desempenhado por esses instrumentos para dar visibilidade ao/à negro/a na nossa sociedade.

Tudo isso nos mostra o caráter político das lutas dos/das negros/as em nosso país, bem como quantos movimentos foram necessários para chegarmos à elaboração e à promulgação da Lei nº 10.639/2003. Quando analisamos a referida lei hoje, nem imaginamos todos os percalços vividos para a obtenção de um instrumento legal que torna obrigatória a inserção do ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira nas escolas brasileiras de ensino fundamental e médio, sejam elas oficiais ou particulares. Diante disso, indagamos: até que ponto nós, professores da Educação Básica e do Ensino Superior, conhecemos todo esse movimento dos afro- descendentes? Acreditamos que poucos estudantes e professores brasileiros tiveram acesso a essas informações.

Pelo que foi mencionado acima, fica claro para nós a luta do negro pela ocupação de melhores espaços e por seu conhecimento como sujeito de direito na nossa sociedade. As organizações de negros/as no Brasil constituíram movimentos em busca de voz e de vez para os afro-brasileiros, em cuja nação a cor e a identidade branca sempre foram a referência para tudo que é positivo no país.

É interessante dizer que as tensões raciais no Brasil sempre fizeram parte da nossa história e que os diversos movimentos negros/as no Brasil tiveram muitas facetas e trilharam muitos caminhos. Em 1930, por exemplo, com o movimento de

separação criado pelos imigrantes europeus, foi elaborado certo discurso separatista. Dentro desse contexto “os brasileiros de variadas mestiçagens sentiam- se ameaçados de exclusão em seu próprio país” (GUIMARÃES, 2006, p. 87).

Como já foi dito anteriormente, nesse período, foi criada a Frente Negra Brasileira (FNB) que apesar de abrigar uma dissidência socialista, contraditoriamente, era formada por uma maioria de pessoas da direita política do país. O ideal desse grupo buscava firmar o/a negro/a na sociedade brasileira e combater os estereótipos sofridos pelos negros na nossa sociedade (GUIMARÃES, 2006).

A FNB foi primeiramente fundada em São Paulo para depois espalhar-se por outras partes do Brasil. Era dirigida por um conselho com sede em São Paulo, mas com delegados em outros estados brasileiros e fez circular em 1933 o Jornal a Voz da Raça com o intuito de alcançar a massa popular.

De acordo com Barcelar (1996), a Frente Negra de Salvador, apesar de ter história diferente da de São Paulo, buscava alternativas para promover a ascensão social do negro tendo como meta sua educação. No plano educacional, inicialmente foram criados cursos noturnos de alfabetização “mas também abrem-se inscrições para turmas primárias” (p. 76). O dinheiro para compra de materiais e mobílias advinha, principalmente, dos fundos provenientes de atividades recreativas e culturais.

A FNB tanto em São Paulo como na Bahia não procurava ir contra a ordem vigente. O objetivo era a integração do negro à sociedade brasileira através de conquistas de oportunidades e garantias de direitos sociais. Talvez isso explique o porquê de a maioria dos seus participantes terem vinculação com os partidos da direita (BARCELAR, 1996).

Barcelar (1996) chama atenção sobre as condições econômicas, políticas e sociais da Bahia que diferem das de São Paulo, com maior número de imigrantes e desenvolvimento econômico. Assim, o autor afirma que, “ao contrário de São Paulo, a Frente Negra de Salvador é criada por um operário, dirigida por pretos e mestiços de condição bastante modesta e tem a participação exclusiva, ainda que pequena, da classe trabalhadora” (BARCELAR, 1996, p. 80).

De modo geral, podemos afirmar que o mito de democracia racial vigente na nossa sociedade era tido como inquestionável, e que, portanto, para a maioria da população não havia motivo para que as pessoas se agrupassem em função de sua

cor. Podemos afirmar ainda que a questão da miscigenação da sociedade brasileira era aceita por tal associação. A FNB veio a se tornar partido político, em 1936, contudo, teve suas atividades encerradas em 1937, quando a ditadura do Estado Novo pôs fim à organização. Apesar das diferenças ideológicas dos diferentes membros, a FNB foi uma das maiores expressões de organização nas primeiras décadas do século XX do negro na nossa sociedade. De acordo com Andrade (2007, p. 34), a FNB difere do movimento de períodos anteriores, pois “agrega um posicionamento político mais explícito”.

De acordo com Nascimento (2008), o propósito da Frente Negra Brasileira era organizar seminários, desfiles, conferências e atos públicos com objetivo de protestar contra a discriminação racial no Brasil. A FNB tinha mais de vinte núcleos espalhados pelo interior do Estado de São Paulo e seu apelo se disseminou pelos Estados de Pernambuco, Bahia, Sergipe, Rio Grande do Sul e Espírito Santo. Nascimento (2008) enfatiza ainda que as mulheres tinham um papel fundamental na FNB. Eram participantes ativas na luta em favor do negro, “de forma que na Frente a maior parte eram mulheres” (p. 106).

Antes mesmo de a FNB ser colocada na ilegalidade, outros movimentos foram surgindo como o Movimento Contra Preconceito Racial no Rio de Janeiro, a Associação dos Brasileiros de Cor em São Paulo, em 1938, e a União Nacional de Homens de Cor, também em São Paulo e, em Campinas, a Liga Humanitária de Cor (CAMARGO, 2005). Todos esses movimentos tinham o caráter de mostrar a importância e a luta do negro para a sociedade brasileira. Não podemos negar também que os movimentos negros brasileiros em diversos momentos estiveram associados a movimentos sociais de caráter mais amplo, buscaram a conquista da cidadania e, portanto, o acesso dos afro-descendentes aos bens culturais que ao longo do tempo lhes foram negados.

Podemos apontar ainda que houve dissidência na Frente, a exemplo da criação da Frente Negra Socialista, fundada em 1933. Outro grupo denominado o “Clarim da Alvorada liderado por José Correia Leite fundou o clube Negro de Cultura Social” (NASCIMENTO, 2008, p. 106).

Constatamos por meio da literatura, como já foi dito anteriormente, que em 1944 foi criado no Rio de Janeiro o TEN - Teatro Experimental do Negro - fundado

por Abdias do Nascimento28

e que pretendia uma articulação profunda entre a ação sócio-cultural e a questão política. A educação era tomada como prioridade entre as propostas presentes no programa. Entre outras coisas, o TEN, em 1945, organizou a Convenção Nacional do Negro e a Constituinte de 1946. A Convenção Nacional do Negro, que aconteceu primeiramente em São Paulo e depois no Rio de Janeiro, procurou reunir diversas organizações do negro. No fim da convenção, o TEN votou e lançou um “Manifesto à nação brasileira”. O manifesto conclamava, entre outras questões, para os seguintes pontos: a) a necessidade de a Carta Magna do nosso país reconhecer a origem étnica do povo brasileiro; b) o imperativo de o preconceito de cor e de raça se tornar matéria de lei e ser considerado crime de lesa–pátria; c) a urgência da adoção de medidas governamentais visando à elevação do nível econômico de todos os brasileiros (NASCIMENTO, 2008). Algumas propostas do Manifesto têm sido conquistadas pela população negra brasileira recentemente, a exemplo, temos a Lei nº 10.639/2003. Em 1945, o Manifesto foi enviado a todos os partidos políticos e a Convenção recebeu cartas de apoio de várias entidades da época.

Domingues (2006) esclarece que o TEN não se restringiu exclusivamente a desenvolver atividades culturais. Em 1948, funda o jornal Quilombo, que procurava divulgar as ideias do grupo e denunciar o preconceito contra o negro no Brasil. O jornal ainda mantinha diálogo com personalidades africanas e afro-americanas. Nos anos de 1950, o TEN “articulou a candidatura de Abdias do Nascimento para as eleições municipais no Rio de Janeiro”, como afirma Domingues (2006, p. 141), o que foi suficiente para provocar reações da imprensa da época. Nesse período, o TEN adquiriu sede própria, fundou o Museu do Negro e realizou concurso de beleza “Rainha das Mulatas” e da “Boneca de Pixe”.

Já nos anos 1950/60, tivemos nesse período a Associação Cultural do Negro, fundada em São Paulo em 1956. Entre os representantes dessa Associação , tivemos como líderes José de Assis Barbosa, José Correia Leite, entre outros. “Henrique Antunes Cunha presidiu, entre 1963 e 1964, essa Associação, cujo

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Abdias do Nascimento, ícone brasileiro na luta pela igualdade racial e pelos direitos humanos, nasceu em Franca (SP) no dia 14 de março de 1914. Além de político ativista, destacou-se como dramaturgo, poeta, escritor e artista plástico. Em 1944, fundou o Teatro Experimental do Negro. Militante do movimento negro, foi o organizador do primeiro Congresso do Negro Brasileiro, em 1950. As contribuições de Nascimento com o TEN visavam à organização de ações com significação cultural, valor artístico e função social, de modo a promover a recuperação da identidade espiritual e cultural dos negros perdida em seu passado.

principal legado tem sido as obras literárias de seus Cadernos de Cultura”, como afirma Nascimento (2008).

Decorrente do exposto, vale ressaltar, ainda de acordo com Nascimento (2008), que o TEN fazia graves críticas às tradicionais abordagens científicas sobre o negro. Ele continuava sendo visto como exótico ou como espetáculo. Havia também muitas discussões entre pelo menos duas correntes dentro do TEN: a de dissidência teórica marxista, que compreendia a luta de classes como a legítima forma de organização e, por isso, de acordo com esse grupo o/a negro/a não teria como legítimas as reivindicações políticas ou sociais; a outra corrente, liderada por Guerreiro Ramos, fazia uma crítica original e profunda ao enfoque central na classe social como também a pretensa objetividade científica como postura ideológica em si mesma (NASCIMENTO, 2008).

Havia, portanto, um intenso debate no Brasil em relação às questões étnico- raciais. As produções realizadas em relação a essa temática no Brasil, muitas vezes, desconsideravam as lutas e as produções elaboradas pelos movimentos negros. Em 1964, quando os militares tomaram o poder, muitos países africanos estavam na luta pela sua libertação. Internamente no Brasil apesar do clima de repressão, o TEN organizou cursos de Teatro ministrados no auditório do Teatro de Belas Artes no Rio de Janeiro, além do curso de Arte Negra, em 1968, na Faculdade de Direito de São Paulo, com um clima tenso e clandestino, pois suas atividades se realizavam às escondidas em certos espaços da instituição. Em 1968, o dirigente principal do TEN, Abdias do Nascimento, foi exilado e passou a morar nos Estados Unidos da América semanas antes da promulgação do Ato Institucional nº 5 (AI-5) (NASCIMENTO, 2008).

No âmbito internacional, havia também o movimento poético Negritude, criado por poetas africanos e antilhanos. Nascimento (2008, p. 149) esclarece que, no contexto brasileiro, “negritude representava toda a identidade de descendentes africanos, com sua origem, sobretudo a ligação dessa identidade com o compromisso de luta a favor do negro brasileiro discriminado e dos povos africanos e colonizados em todo mundo”. Assim, conforme a autora, havia também no âmbito internacional o movimento pelos direitos civis liderado por Martin Luther King e a organização denominada as Panteras Negras, nos Estados Unidos. Embora os negros brasileiros não necessitassem importar teorias e ideologias, estes não estavam alheios ao que estava acontecendo no mundo.

Nos anos 1970, enquanto a vanguarda de esquerda excluía o debate sobre a questão racial, surgiram no Brasil muitas organizações negras em diferentes espaços. Entre outros grupos, citamos, com base em Nascimento (2008), o Grupo Palmares de Porto Alegre; o Instituto de Pesquisa da Cultura Negra (IPCN); o Grêmio Recreativo de Arte Negra; o Grupo Afro-Americano do Jornal Versus, o Centro de Estudos Afro-Brasileiros de São Paulo e o Grupo Teatro Evolução em Campinas. É importante frisar que todas essas organizações não correspondem à totalidade dos movimentos que discutiam e estavam preocupados com a questão do negro na nossa sociedade. Mesmo em plena ditadura e com a repressão que o país vivia, as mobilizações da população negra eram efetivas em vários estados brasileiros.

Já, em 1978, em São Paulo, foi fundado o Movimento Unificado Contra Discriminação Racial (MUCDR), agregando diversas entidades negras de vários estados brasileiros (NASCIMENTO, 2008). O aparecimento do movimento, entretanto, não foi assim tão simples. Além de todo movimento internacional, citado anteriormente, podemos afirmar que o embrião do Movimento Negro Unificado foi a organização marxista que nesse momento predominava no movimento. Havia, portanto, um grupo de militantes negros que compreendia que a luta anti-racista tinha que ser combinada com a questão de classe social. Segundo Domingues (2007), a política que conjugava raça e classe atraiu aqueles ativistas que cumpriram um papel decisivo na fundação do Movimento Unificado. Domingues (2007) salienta que, na Primeira Assembléia Nacional de Organização e Estruturação da Entidade, foi adicionada ao nome do movimento a palavra negro, passando o mesmo a se chamar Movimento Negro Unificado Contra Discriminação Racial (MNUCDR). No Primeiro Congresso do Movimento Negro Contra Discriminação Racial, estabeleceu-se que seria apenas Movimento Negro Unificado.

Em Pernambuco, por exemplo, antes do MNU havia toda a participação de ativistas da extinta Frente Negra Pernambucana e do Centro de Cultura Afro- brasileiro, como Vicente de Lima, Solano Trindade entre outros. O Centro de Cultura Afro-Brasileiro (CCAB), dirigido por Vicente Lima, tinha como objetivo realizar estudos sobre as manifestações culturais negras de Pernambuco, além de se destacar o papel político que exercia. Solano Trindade foi um dos fundadores da Frente Negra Pernambucana e contribuiu para a criação do Teatro Experimental do

Negro com Abdias do Nascimento e, posteriormente, junto com Edson Carneiro, funda o Teatro Popular Brasileiro (LIMA, 2009).29

Para Lima (2009, p. 169), houve também a criação do Centro de Cultura e Emancipação da Raça Negra (CECERNE). Este “teve uma vida relativamente curta, não mais do que uns poucos anos, mas ainda assim foi o suficiente para ser considerado ainda hoje por alguns militantes antigos como o precursor do movimento negro em Pernambuco”.

O desejo do Movimento Negro Unificado era aglutinar todos os grupos negros que lutavam por um país com equidade, na distribuição dos direitos sociais, livre da discriminação racial. Desenvolveu-se, assim, a proposta de unificar a luta de todos os grupos anti-racistas do país.

Interessante dizer que nesse período reapareceu a imprensa negra. D entre os jornais da época destacamos SINB (1977), Africus (1982), Nizinga (1986), no Rio de Janeiro; O Saci (1978), Abertura (1978), em São Paulo; Negô, em Salvador (1981); Tição (1977), no Rio Grande do Sul (DOMINGUES, 2007).

Diante desse contexto é mister afirmar que o debate sobre essa problemática