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6 O EXERCÍCIO DA COMPETÊNCIA ADMINISTRATIVA AMBIENTAL

6.2 Regime Jurídico de Direito Ambiental

6.2.1 A Tutela Jurídica Ambiental

O direito ambiental normatiza a conduta dos seres humanos que se refletem em modificações ao meio ambiente em sua forma mais completa, ou seja, abrangendo a sua concepção natural assim como a psico-social-cultural. Quer-se dizer com isso, que a conduta humana em torno do meio ambiente, juridicamente considerada, é o fundamento fático para as normas de direito ambiental, que tem como objetivo principal, tutelar, proteger o meio ambiente.

O fundamento desta tutela é importante para que se embase e limite a atuação da Administração Pública na gestão do bem ambiental. Este conteúdo axiológico encontra-se juridicizado na forma de princípios, ditos ambientais. A composição de um Regime Jurídico se dá a partir de sua composição normativa, ou seja, de princípios e regras. Sucintamente se fará a exposição de alguns princípios que estão diretamente relacionados com a tutela administrativa do bem ambiental.

6.2.1.1 Princípio da Natureza Pública da Proteção Ambiental.

Segundo concepção corrente, é vedado qualquer tipo de apropriação privada, direita ou indireta, do acesso ao meio ambiente, seja pelo Estado quanto por qualquer pessoa. Sendo O discurso de que falo, conquanto abrigue proposições contraditórias e lacunas, mesmo assim vem carregado de uma porção de racionalidade, que entendemos suficiente para outorgar-lhe foros de sistema, não lógico, mas empírico, precisamente pelo comprometimento que mantém com o tecido social, por ele ordenado de maneira prescritiva.” CARVALHO, Paulo de Barros. O direito positivo como um sistema homogêneo de enunciados deônticos. In Revista de Direito Tributário. São Paulo: Revista dos tribunais, 12 (45)jul/set 1988. (p.32) 169 BOBBIO, Norberto. Teoria do Ordenamento Jurídico. 10. Ed. Brasília: UNB, 1999. (p.161)

assim, qualquer realização privada ligada ao meio ambiente deve ser intrinsecamente ligada a sua realização social.

A conseqüência de tal forma de pensar é a constatação lógica que o Direito Ambiental é um ramo do Direito Público, sendo vinculado normativamente aos princípios maiores que regem o mesmo, a saber: Primazia do Interesse Público sobre o Privado e Indisponibilidade do Interesse Público.

A concepção de publicizar a proteção ambiental não significa, obviamente, que este seja um trabalho a ser exercido apenas pelo Estado. Isso é um engano. O direito tanto regulará o controle de atividades nocivas ao meio ambiente, a ter um poder de controle exercido

diretamente pelo Estado, como também gera um sistema de “incentivos e freios” a ser

exercido pelos entes privados em suas esferas. A todos é incumbida à missão de proteção ao meio ambiente, exatamente por isso, possui um caráter público.

A despeito disso, convém lembrar que a todo direito previsto na constituição existe uma vinculação necessária aos órgãos que compõem a esfera do poder. Sendo assim, cabe ao Poder Público tomar as medidas necessárias à manutenção-preservação do recurso natural, através de múltiplas ações. Tais medidas consistirão, basicamente, em: a) fiscalização e controle (preventivo e repressivo) de atividades que se utilizam de recursos naturais; b) exercício do Poder de Polícia Administrativo, no intuito de coibir práticas ilegais; c) Estabelecimento de políticas ambientais no intuito de “ajustar” a conduta dos agentes poluidores, e informar, conscientizar e educar a população, como um todo, da parcela de responsabilidade de cada um.

6.2.1.2 Princípio da Participação Comunitária

Teve origem na Declaração do Rio 1992, que em seu Princípio nº 10 afirma: “A melhor forma de tratar as questões ambientais é assegurar a participação, do nível apropriado,

Esta previsão internacional possui vinculação normativa com o “Princípio Democrático”, na qual a Gestão exercida pelo Estado deve estar o mais próxima possível da

participação do povo, principal interessado na boa consecução de seus objetivos. Dentro desta seara, no que tange a resolução dos problemas do ambiente, deve ser dada especial ênfase à cooperação entre ambos os entes, no sentido viabilizar: a) criação de meios jurídicos de participação dos diferentes grupos na formulação e execução da política ambiental. b) a criação de uma consciência de participação na gestão de recursos naturais. c) realização de audiências públicas nos processos de licenciamento ambiental que demandem estudos prévios de impacto, dentre tantos outros institutos instrumentalizadores da proteção ambiental.

Conforme já se comentou, trata-se de um supra princípio do Estado de Direito, visto que pressupõe o Princípio da Publicidade e o Princípio Democrático. A população tem o direito à informação sobre os atos desempenhados pela Administração Pública no que tange a gestão ambiental, de modo a fundamentar uma participação ativa e, principalmente, consciente.

6.2.1.3 Princípio do Poluidor Pagador

Segundo a Declaração do Rio, 1992, em seu Princípio 16:

As autoridades nacionais devem procurar promover a internalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, tendo em vista a abordagem segundo a qual o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo da poluição, com a devida atenção ao interesse público.

A produção econômico-industrial produz resíduos, que em alguns momento podem ser previstos e outros não. Ao que se chama resíduo, refere-se às externalidades econômicas, ou mesmo desoconomias que são elementos que escapam ao âmbito de decisão de um agente econômico alcançando a terceiros que não tem participação sobre esta. Quando produzem efeitos benéficos a estes terceiros, dize-se que são positivas, quando contrário, são negativas.

No que tange a questão ambiental, existe na sociedade moderna a recepção por parte

da sociedade das “externalidades negativas”, que se traduzem através de efeitos nefastos ao

meio ambiente, causados pela atividade econômico-industrial, ocasionando prejuízo a todos.

Neste sentido, a sociedade acaba por, contra sua vontade, arcar “solidariamente” deste

prejuízo com o agente que o causou. Ela arca com o ônus, enquanto a empresa fica com as vantagens decorrentes de sua atividade, numa proporção que comumente se traduz no jargão:

“Privatização dos lucros e socialização dos custos”. Nestes casos, o Estado terá a função de

impor ao agente econômico gerador das externalidades, a internalização dos custos externos, de modo que este venha a ser computado em sua gestão financeira.

A primeira vista pode-se cometer o erro de interpretar tal princípio, pensando que aquele que polui deve pagar uma quantia por isso. Não se trata disso. Não se tolera a poluição mediante um preço, nem se limita a compensar os danos causados, mas deve-se investir, financeiramente, em evitar o dano ao meio ambiente, calculando ao máximo a incidência de externalidades negativas.

O Princípio do Poluidor-Pagador está vinculado normativamente ao art. 225, § 3º da Constituição Federal e art. 4 e 14 da Lei 6.938/81. Neste sentido, numa concepção técnico- operacional, o princípio articula aos agentes econômicos (incluindo o Estado): a) um conjunto de ações voltadas à prevenção do dano, a encargo do empreendedor. Ex. Adoção de tecnologias limpas, reuso da água, emprego devido dos resíduos líquidos e sólidos provenientes da prática em aterros adequados; b) responsabilização administrativa, penal e civil pela eventual ocorrência de dano.

6.2.1.4 Princípio da Prevenção

A Etimologia da palavra Prevenção remete a pré = antes, cavere = cuidado, um caráter genérico de cuidar no intuito de antecipar algum prejuízo; no âmbito em enfoque significa a

antecipação de ações em prol de cuidar de algum bem ambiental. Devem-se tomar todas as medidas possíveis, no intuito de evitar o nascimento de atentados ao meio ambiente. Contudo, seguimos a linha de que o princípio da Prevenção é um supra-princípio, a partir do qual, decorrem dois subprincípios: da irreparabilidade do dano ambiental e da precação.

Parte-se do pressuposto que o dano ambiental, em regra, é irreparável. Sendo a irreparabilidade a regra, deve-se agir de forma a prevenir qualquer possibilidade de dano gerado ao meio ambiente, visto que na maioria das vezes é impossível repará-lo de modo a retornar ao status anterior. O meio ambiente pode, em inúmeras ocasiões, ser compensado, mas dificilmente será reparado. Uma vez gerado o dano, é quase impossível revertê-lo. Exatamente pela drasticidade deste fato, comprovado pela experiência prática, que toda medida a ser efetivada em prol da preservação ambiental, deve ter um caráter antecipador do dano.

O administrador trabalhará na “margem do risco”, ou seja, sempre em torno da

existência do risco, no sentido de prever, reverter e em último caso, sanear. A área em que se

encontra entre o risco e o dano efetivo é uma verdadeira “zona morta”, no sentido que sob ela não pesará mais nenhuma medida antecipatória, mas verdadeiramente “defensiva”, no sentido

de atingir com maior coercibilidade o agente causador do dano previsto. Sendo assim, podemos dizer que o Princípio da Prevenção atua sobre o risco do dano.

Um dos maiores instrumentos dentro da preservação ambiental, a saber: Estudo de Impacto Ambiental (art. 225, § 1º, IV, CF), está fundamentado no Princípio da Prevenção e da Irreparabilidade do Dano Ambiental.

Tudo que comporta riscos, em algum aspecto escapa a previsibilidade humana. A idéia do risco, já nos remete intuitivamente a uma situação que foge ao controle. Durante a ECO 92, discutiu-se sobre as vicissitudes que comportam o risco ambiental, de modo que em alguns momento, o próprio Princípio da Prevenção não lhe dá conta, justamente pela

constatação de que alguns riscos não são previsíveis. Entra-se, portanto, no âmbito de incidência do Princípio da Precaução.

Segundo princípio, a ausência de certeza científica não deve servir de pretexto para procrastinar a adoção de medidas efetivas visando evitar a degradação ambiental. Em caso de qualquer dúvida quanto ao um risco gerador de dano ambiental ou não, deter-se-a a intervenção sobre o meio ambiente. Conseqüentemente, gera-se um ônus ao empreendedor que fará uso dos recursos naturais, de modo que este estará obrigado a comprovar que sua atividade não lesionará ao ambiente.

Uma das grandes características da sociedade de risco atual é a constatação de que o conhecimento científico é insuficiente para prever ou medir o impacto de um dano ambiental, sendo assim, na dúvida, aplica-se o Princípio da Precaução.