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Competência Comum entre os Entes Federativos

3 REPARTIÇÃO DE COMPETÊNCIAS NA CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE

3.2 A Repartição de Competências na Constituição Federal de

3.2.3 Competência Comum entre os Entes Federativos

A competência comum é fruto do partilhamento, entre os entes federativos, de poderes para efetivar as diretrizes dispostas na Constituição. A “partilha federativa” foi fruto de uma quebra com a idéia de um federalismo centralizador e cheio de vestígios unitários, criando a idéia inicial da existência de poderes exclusivos e poderes concorrentes.

101 SILVA, Jose Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo: Malheiros, 1995. (p.598)

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Conforme o entendimento feito por FARIAS: “possui, o Distrito Federal, competência ambiental residual e expressa (mediatamente identificada, no que couber, com as dos Estados-membros e Municípios por força do disposto no art. 32§1º da C.F.) bem como, imediatamente, comum, concorrente e suplementar”. FARIAS, Paulo José Leite. Competência Federativa e Proteção Ambiental. Porto Alegre: Sergio Antonio Fabris. 1999. (p. 303)

A criação da Emenda X da Constituição Americana, que veio melhor explicitar o art.

1, seção 8, que versa sobre os Poderes do Congresso, declarou que “Os Poderes não delegados

aos Estados Unidos pela Constituição, nem por ela negado aos Estados, são reservados aos Estados ou ao Povo.” Este adendo a Constituição Americana, verdadeiramente reformando seu Federalismo, voltou a atenção para a necessidade de se explorar o campo comum de atuação entre os entes, contudo, sem maiores aprofundamentos.

Foi a partir da Constituição de Weimar, em 1919, que se inovou o modelo federalista, associando-o a proteção de direitos sociais, assim como quebrando a tradição de uma repartição dualista de competências, conforme nos EUA, introduzindo uma repartição mista da legislação concorrente, a partir da ampliação da atividade legislativa dos Estados- membros.103

O Brasil, ao adotar o Federalismo em 1891, seguiu o modelo americano, assim como alemão, enumerando no art. 33 as competências privativas e no art. 34, as não privativas. Desta forma, introduziu-se no constitucionalismo brasileiro o debate sobre as questões de competências segundo o corte vertical e segundo corte horizontal. Este debate seguiu-se ao longo das próximas constituições ora restringindo o âmbito de atuação conjunta, ora ampliando, centralizando o poder político em torno da União ou, descentralizando-o em prol das outras unidades federativas.

A partir da Constituição de 1988, chegou-se ao quadro de que somente ás competências político-materiais são exercíveis de forma comum104. Tais competências serão

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“A competência comum é fruto do constitucionalismo alemão. De fato, as relações entre os entes da federação fulcrada na cooperação é mais adequada à instrumentalização de políticas públicas em prol do desenvolvimento da federação do que se optar pelo federalismo das regiões ou reorganização territoriais.” SILVEIRA, Patrícia de Azevedo. Competência Ambiental. Curitiba: Juruá. 2006. (p. 78)

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Segundo a Constituição Federal, a repartição de competências materiais comuns a todos os entes, em matéria ambiental, são: Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:III - proteger os documentos, as obras e outros bens de valor histórico, artístico e cultural, os monumentos, as paisagens naturais notáveis e os sítios arqueológicos; IV - impedir a evasão, a destruição e a descaracterização de obras de arte e de outros bens de valor histórico, artístico ou cultural; VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora; VIII - fomentar a produção agropecuária e organizar o abastecimento alimentar; XI - registrar, acompanhar e fiscalizar as concessões de

exercidas por todos os entes federativos, sem qualquer relação de supremacia de um quanto ao outro. São materiais, conforme já mencionado, visto que não são expressamente legislativas, apesar de guardarem em si, implicitamente, a realização de atos normativos.

Interessante frisar que, a competência material comum é exercida em territórios diversos, por todos os entes federativos, e que em algumas vezes, o critério territorial para determinação do ente federativo a abarcar dada questão ambiental, não é suficiente, visto a ampla gama de competências que leva em consideração a peculiaridade de certos bens. Sendo assim, exemplificando, existem matérias que, independente do interesse local ou a repercução na esfera estatal, dada a característica do bem a ser tutelado, e sua previsão na Constituição, a competência será de matéria privativa da União. A grande pergunta que resta saber é: como fica a atuação de um ente sobre um bem de domínio de outro?

Segundo FREITAS105, “em face da competência comum, pouco importa quem seja o detentor do domínio do bem ou o ente que legislou a respeito. Todos podem atuar na

preservação das árvores, da fauna e da flora.” Assevera-se, portanto, que se tratando de meio

ambiente, bem difuso, ninguém pode alegar titularidade sobre ele. O que ocorre é a primazia sobre a decisão de questões relativas a este, que estará dividida, contudo, sua preservação é de competência de todos.

A competência comum é, sem dúvida, aquela que melhor privilegia uma atuação cooperativa por parte dos entes federativos. Esta cooperação possibilita a maior aproximação administrativa entre os entes, possibilitando o desenvolvimento conjunto e a solução de problemas que isoladamente, um ente não seria capaz de transpor. No que cabe a este direitos de pesquisa e exploração de recursos hídricos e minerais em seus territórios; Parágrafo único. Leis complementares fixarão normas para a cooperação entre a União e os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 53, de 2006)

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Palestra proferida no Congresso Internacional do Meio Ambiente em São Paulo, 1998. Apud. Ubiracy Araújo. Repartição Constitucional de competências ambientais. In Direito e o Desenvolvimento sustentável: Curso de Direito Ambiental. Aurélio Virgílio Veiga Rios [org.]. São Paulo: Peirópolis; Brasília, DF: IEB, 2005. (p.128)

trabalho, em se tratando matéria ambiental, esta cooperação é questão de sucesso ou fracasso. Atingir os ideais previstos constitucionalmente para a preservação ambiental e a sua compatibilização com o crescimento econômico, necessita de uma atuação sistemática, que integra em si atividades oriundas de todos os entes federativos.

Finalizando o rol de competências comuns, a Constituição Federal em seu art. 23, parágrafo único, determinou que será realizado via lei complementar, as normas de

cooperação entre os entes federativos, “tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do

bem-estar em âmbito nacional”. Entretanto, parece metódico em demasia, o engessamento das competências materiais a uma lei complementar, em prol de viabilizar o federalismo cooperativo. Talvez, mantendo-se a dinâmica fundada em termos mais gerais, fugindo ao casuísmo normativo, seja desnecessária tal lei, visto que a atuação administrativa deve estar comprometida com finalidades e propósitos, enquanto que os meios devem adequar-se a estes, da melhor forma possível, coisa que através de princípios se obteria melhor resultado.