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5 COMPETÊNCIA AMBIENTAL E SUAS ESPECIFICIDADES

5.1 Competência Ambiental na Constituinte de

A questão sobre o tratamento a ser dado ao meio ambiente na Constituição foi um tema bastante discutido e cheio de sugestões pela Assembléia Constituinte. Talvez, a única questão pacífica foi o reconhecimento da fundamentalidade da proteção ambiental assim como a sua incumbência para toda a sociedade. Infelizmente, observando atentamente as regras sobre divisão de competências em matéria ambiental, o constituinte originário não deu à mesma atenção a operacionalização desta proteção.

De uma proteção implícita, como o era anteriormente, passamos a uma proteção explícita, restou saber se ela é eficaz. São muitos os avanços tecnológicos do homem na atualidade e a utilização dos recursos naturais se expandiu para campos inimagináveis: biotecnologia, genética dos alimentos, pré-sal etc, o direito não tem como acompanhar tamanho dinamismo se não possuir uma estrutura versátil, flexível para tal. A forma e os

137Segundo FREITAS, MENDES e OLIVEIRA, “a conseqüência lógica da mencionada visão sistêmica e da transversalidade da problemática ambiental, é que se deve pensar o enfrentamento da mesma por viés também sistêmico. Via de conseqüência, no âmbito do direito, o meio ambiente, passa então a ser uma preocupação global, em que os diversos atores sociais devem assumir responsabilidades por sua preservação, porque na vida prática, o meio ambiente sofre influências de qualquer ação humana.” FREITAS, Odair José; MENDES, Paulo Sergio Abreu; OLIVEIRA, Raul José de Galaad. Princípio da ubiqüidade, meio ambiente e políticas públicas. In Biblioteca Virtual da UNIFAP, disponível em: www.unifap.br/ppgdapp/biblioteca/Ubiquidade.doc. Acessado em 02 de jun. 2010

agentes que promoverão a proteção ambiental não podem estar engessados numa estrutura jurídica, que não poderá atuar conforme as necessidades concretas.

É indubitável o aprimoramento da máquina administrativa e conseqüente melhoria do sistema de gestão ambiental, contudo, ainda não se modificou os sistema de atuação na realização das tarefas. Ainda são freqüentes os conflitos envolvendo os órgãos municipais, estaduais com a União, em matéria de meio ambiente, demonstrando que os princípios do federalismo cooperativo estão bem distantes de se tornarem realidade.

No âmbito da produção de leis, ou seja, sob a competência legislativa, não é possível, taxativamente, eleger bens privativos a um ente federado. Isso se deve ao fato que resta envolvido interesses difusos, particularmente, que envolve a tutela ambiental. Significa dizer que as questões relativas ao meio ambiente não ficam restritas a limites territoriais ou administrativos, mas na maioria das vezes, são de abrangência indeterminada. Dessa forma, para que se promova a proteção, faz-se necessária a transgressão dos limites jurídico- abstratos, em prol de um que melhor efetive tal tutela. Para que isso ocorra, é necessária uma estrutura especificamente traçada, atendendo as inúmeras vicissitudes do exercício de tal função.

Exatamente por isso, consideramos baixo o grau de operacionalidade dado pelo constituinte quanto à tutela ambiental. Percebe-se na constituição, por exemplo, um rol enorme, elencando os bens que compõem patrimônio da União, sendo que não raras vezes, um desses possui peculiar importância a outro ente federativo, ou então, dele sofre alguma influência. Conforme diz o jargão popular: “Cavalo que possui dois donos, ou morre de sede

ou de fome.” 138

138Conforme SILVEIRA, “observe-se também, que o imenso rol de bens ambientais está adstrito não raro a mais de um órgão ou departamento do Poder Público que não guardam sintonia (...) Põem-nos diante da seguinte perspectiva: “Quem pode legalmente fazer?” e “Quem faria melhor?”SILVEIRA, Patrícia Azevedo. Competência Ambiental. Curitiba: Juruá, 2006. (p. 135)

Sintonia deve ser o nome qual reger-se-ão os entes federativos em matéria de meio ambiente. A gestão sistêmica já é uma realidade na gestão dos recursos hídricos, e pressupõe uma ação conjunta previamente combinada por parte dos órgãos públicos. Trata-se de uma gestão orientada para duas finalidades: a eficiência da prestação do serviço pelo Estado e a promoção da democracia participativa, que em adquire uma conotação pedagógica-educativa, visto que convoca o povo a participar do processo que é de seu interesse.

Tal modo de gestão, obviamente encontrará inúmeros problemas oriundos das diversidades regionais e a desigualdade sócio-econômica que reveste os municípios (principalmente) e os Estados. Não é tarefa fácil, retira-los de suas áreas e uni-los sob um pretexto de interesse de todos; falta consciência a democracia brasileira. Contudo, é a única saída para se tratar das questões ambientais.

Todos as entidades federativas que estão envolvidos na política ambiental, cada um dentro de sua competência, mesmo não havendo qualquer relação de subordinação, freqüentemente incorrem no inconveniente da superposição de órgãos desempenhando a mesma atividade, onerando cada vez mais o contribuinte, com resultados insatisfatórios. Tendo em vista a existência da Política Nacional do Meio Ambiente, assim como de legislação que unifica o exercício da gestão ambiental em todos os níveis, não existe motivo para uma atuação isolada. Trata-se de um vício federativo histórico que precisa ser apagado da memória brasileira.

Outro ponto de fundamental importância é a necessidade de uma mitigação do conceito de competência privativa e exclusiva. Sendo a matéria ambiental do interesse de todos, como um bem difuso, também não é de ninguém em particular. Não se pode particularizar a proteção ambiental e encarregar um só ente, dotado de competência exclusiva sobre ela. Em verdade, não interessa quem efetiva proteção, conquanto ela seja feita com

eficiência. Segundo SILVEIRA139, “a via que nos parece mais adequada é a da flexibilização e não a da rígida separação prévia. Na realidade, e matéria ambiental esse tipo de divisão não funciona: a proteção do meio ambiente pertence a todos os entes da federação.”

Tal postura leva inevitavelmente a repartição das competências tendo em vista outro referencial. A princípio poder-se-ia pensar na “desobstrução” normativa, a partir da criação de normas mais coerentes com a realidade, contudo, talvez não exista necessidade disso. Já é do conhecimento de todos, que não se pode promover uma interpretação gramatical, ou mesmo, adotar-mos o modelo conceitual topológico que nos é apresentado pelo legislador; o bem ambiental precisa ser abordado de forma diferenciada140.

A norma constitucional precisa ser abordada de forma sistemática, aliando princípios e regras entre si para a construção de um entendimento normativo. O que se deve fazer é justamente abordar a questão da repartição de competências a partir do art. 225, assim como os princípios regentes do Direito Ambiental, e sobre isso aprofundaremos mais tarde, quando da resolução de conflitos de competência ambiental.