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3 PRÁXIS DOCENTE NA RELAÇÃO INSTITUIÇÕES DE

3.1 Abordagem da pós-modernidade: aspectos conceituais e

De acordo com Kurtz (1999), os últimos anos foram marcados por um volume espantoso de literatura que abordou a categoria tempo. “O tempo se tornou uma estrela da mídia”, destaca o autor. Kurtz afirma ainda que não é somente a teoria científica de Stephen Hawking a respeito do tempo - vista pelo viés da Física - que desperta interesse. Mas, sobretudo, desperta a atenção os componentes cultural e social do conceito tempo.

Alevato (2015) ancorada nas proposições de Kurtz (1999) declara que tempo e espaço são dois eixos fundamentais para referenciar o ser humano e que ambos foram revolucionados pelo cenário tecnológico contemporâneo:

O simultâneo, o virtual, o intangível, o efêmero, a complexidade, a multirreferencialidade, entre outros, são conceitos bem mais típicos do movimento atual que a sequência, a linearidade, o ordenamento, a tradição, a perspectiva cumulativa e previsível que caracterizavam tais referências – tempo e espaço – décadas atrás (ALEVATO, 2015, p. 221).

Toda essa evolução e mudança de paradigmas resultaram no aplainamento do mundo, segundo Friedan (2007). Essa conclusão lhe sobreveio em uma viagem à Índia em que ele buscava “componentes lógicos, inteligência, algoritmos complexos, trabalho intelectual, call centers, protocolos de transmissão, as últimas novidades da engenharia óptica” (FRIEDMAN, 2007, p. 14). Em uma de suas reuniões na Infosys, “[...] uma das pérolas do mundo da tecnologia da informação indiana”24, em que o diretor executivo da empresa lhe explicava como a terceirização havia alavancado o investimento maciço em tecnologia no mundo atual. Milhões de dólares foram investidos na instalação de conectividade e banda larga para que se tornasse possível a conectividade com o mundo inteiro. Por volta dos anos 2000, foi engendrada uma plataforma por meio da qual trabalho e capital intelectual podiam ser interconectados de qualquer parte do globo. Segundo Friedman (2007), a convergência tornou-se viável e mundo ficou plano. O autor afirma que

Quando se começa a pensar no mundo como sendo plano, ou pelo menos se achatando, um monte de coisas passa a fazer um sentido que não fazia antes. Contudo, a minha animação também tinha um motivo pessoal, pois esse achatamento quer dizer que estamos interligando

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todos os centros de conhecimento do planeta e costurando uma única rede global, o que (se a política e o terrorismo não atrapalharem) pode precipitar uma era notável de prosperidade, inovação e colaboração entre empresas, comunidades e indivíduos (FRIEDMAN, 2007, p. 18,19).

Era um patamar inédito para globalização, que segundo esse autor, havia começado justamente com a viagem de Colombo às Índias. O quadro que elaboramos segue esses processos explicitados por Friedman e sumariza o processo de globalização. Quadro 1- Sumarização dos processos de Globalização

Conceito Período Caracterização Força motriz

Globalização 1.0

Até por volta de 1.800.

Redução do mundo de grande para médio e se caracterizou basicamente pelo envolvimento de países e músculos.

A principal força dinâmica por trás do processo de integração global foi a potência muscular (a quantidade de força física e de cavalos a vapor) que o país possuía e como a empregava. Globalização

2.0

De 1800 a 200025

Redução do mundo de médio para pequeno. Nesse período as multinacionais, que se expandiram em busca de mão- de-obra – movimento impulsionado pela sociedade, por ações holandesas e inglesas e pela Revolução Industrial.

O principal agente de mudança por trás dessa etapa foram as inovações de hardware (dos bancos a vapor e ferrovias, telefones e mainframes) Globalização 3.0 A partir dos anos 2000.

Reduzindo o mundo de pequeno para minúsculo e aplainando o terreno.

A força dinâmica vigente nessa etapa é a recém- descoberta de colaboração dos indivíduos em nível mundial.

Fonte: elaborado pela autora baseado em Friedam (2007, p. 20-23)

Friedman (2007) discorre sobre os processos de globalização, que ocorreram em três grandes eras. Tendo seu início com a partida de Colombo que inaugurou o comércio entre o velho e o mundo novo, por volta de 1492 até atingir o patamar da convergência a partir dos anos 2000, pela qual os indivíduos acendem ao papel de colaboradores entre si. Na globalização 3.0 estabeleceu-se a oportunidade de empresas (de grande e também de pequeno porte), além dos indivíduos também, agirem em âmbito global.

Em meio às globalizações temos a chegada do tempo pós-moderno. Nessa perspectiva, tomando como pressuposto que “ao tentar compreender uma realidade, faz-

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se necessária a busca de definições como ponto de partida” (SILVA, NOGUEIRA, BARROS, 2007, p. 26), mesmo não havendo um consenso entre os estudiosos da área do que seja a pós-modernidade, passamos a apresentar um breve apanhado conceitual acerca desse período histórico que sinteticamente pode ser entendido como um movimento sociocultural que se firmou em meados do século XX.

Ao referir-se a esse período, Santos (2002, p. 7,8) afirma que o

Pós-modernismo é o nome aplicado às mudanças ocorridas nas ciências, nas artes e nas sociedades avançadas desde 1950, quando, por convenção, se encerra o modernismo (1900-1950). Ele nasce com a arquitetura e a computação nos anos 60. Cresce ao entrar pela filosofia, durante os anos 70, como crítica da cultura ocidental. E amadurece hoje, alastrando-se na moda, no cinema, na música e no cotidiano programado pela tecnociência (ciência + tecnologia invadindo o cotidiano com desde alimentos processados até microcomputadores) sem que ninguém saiba se é decadência ou renascimento cultural.

Já Umberto Eco afirma que o termo pós-modernismo infelizmente, é “um termo bom à tout faire” (ECO, 1989, p. 55 – grifo do autor). O autor julga que “o pós- moderno não é uma tendência que possa ser delimitada cronologicamente, mas uma categoria espiritual, melhor dizendo, um Kunstwollen, um modo de operar” (ECO, 1989, p. 55 – grifo do autor). Seguindo os passos de Umberto Eco, podemos dizer que ser pós-moderno é estar apto ao vanguardismo. Segundo o autor, a vanguarda, por meio de sua metalinguagem, sempre procura ajustar contas com o passado de modo a não destruí-lo porque sua destruição levaria ao silêncio. Desse modo, a vanguarda histórica ao prestar contas como o passado o faz de modo a revisitá-lo de maneira irônica e não inocente.

Revisitar o passado, quebrar paradigmas ou simplesmente manter um dinamismo constante de mudanças, parecem ser a ideia mais prototípica de avanço temporal. Uma tradição que a cultura ocidental herdou dos gregos segundo (KENSKI, 2013). Sendo assim, quer seja nomeada como modernidade tardia (CHOULIARAKI e FAIRCLOUGH, 1999), ou mesmo tempo líquido (BAUMAN, 2001) esse é um tempo que se caracteriza pela aceleração, a ponto de “a expectativa pessoal e social estar voltada para a inovação, o inesperado, que chega cada vez mais rápido” (KENSKI, 2013, p. 32). Por isso, o novo é mais privilegiado, ou seja, o que está por vir. Vivemos

uma época em que “o futuro confunde-se cada vez mais com o presente, e navegamos em diferentes temporalidades, todas em movimento” (KENSKI, 2013, p. 32).

Quando Bauman (2001) fala de liquidez, ele caracteriza esse momento histórico, a saber, a era da liquefação ou a modernidade líquida. A metáfora é usada para caracterizar o estado de instabilidade atual e se justifica porque as moléculas dos líquidos são mantidas num arranjo ordenado que atinge apenas poucos diâmetros moleculares, enquanto os sólidos necessitam de uma espécie de liga para unir seus átomos e seus arranjos estruturais. É essa liga, que os gases não têm, que caracteriza a estabilidade dos sólidos. Os fluidos se movem facilmente, [...] diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos – contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu caminho (BAUMAN, 2001, p.8).

A agilidade passa a ser uma palavra de ordem nesse mundo líquido, que escorregar, flui, vaza... Por isso o ser humano deve ser ágil na corrida rumo à atualização. Principalmente se estiver disposto a acompanhar as inovações tecnológicas, que se apresentam sempre com validade temporal irrisória. Nesse cenário mutante, a “era de inovações em que vivemos”, o “mundo se desfaz e renasce a cada minuto” (SAYAD, 2011, p. 38).

Para manter o status de moderno, ao indivíduo é revelado que ele pode ir sempre além das suas expectativas. Ele deve, portanto, descobrir que é “capaz de fazer e esticar essa capacidade ao máximo” (BAUMAN, 2001. p.74 – grifo nosso).Vivemos, pois, em um mundo cheio de oportunidades. Poucas coisas são pré-determinadas ou irrevogáveis:

Poucas derrotas são definitivas, pouquíssimos contratempos, irrevessíveis; mas nenhuma vitória é tampouco final. Para que as possibilidades continuem infinitas, nenhuma deve ser capaz de petrificar-se em realidade para sempre. Melhor que permaneçam líquidas e fluidas e “tenham data de validade”, caso contrário poderiam excluir as oportunidades remanescentes e abortar o embrião da próxima aventura (BAUMAN, 2001, p. 74 – grifo do autor).

Sendo assim, nessa “era da criatividade”, em que “a sociedade sofre tão intensamente o impacto das mudanças rápidas do mundo” (SAYAD, 2011, p. 74), o mundo líquido tem imposto aos sujeitos certo estado de permanente construção. A experiência de maior acesso à informação possibilita diversas oportunidades de reinvenções, em que o sujeito imerso em questões do cotidiano é levado a repensar a si mesmo e a sociedade na qual está inserido.

Após tratarmos sobre esse breve panorâmica histórico, buscamos na subseção seguinte traçar a correlação dos adventos relatados anteriormente com a constituição do ambiente educacional, sobretudo da escola de ensino básico, que se materializa a partir do simbolismo do grupo social (ALEVATO, 2015, p. 225) que a compõe. Discorremos, ainda, sobre o processo de modernização tecnológica que abrange essas instituições ao longo dos anos na perspectiva de que a educação, como uma invenção social, também está em constante processo de reinvenção (BRUNER, 2014).