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ABORDAGEM ECOLÓGICA DE SUPERVISÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Área Temática: Supervisão e Desenvolvimento Profissional

ABORDAGEM ECOLÓGICA DE SUPERVISÃO E DESENVOLVIMENTO PROFISSIONAL

Rua, M.

Universidade de Aveiro - Escola Superior de Saúde mrua@ua.pt

RESUMO

Supervisionar os processos de desenvolvimento profissional, que pressupõe o desenvolvimento de competências cada vez mais complexas, para responder às necessidades e exigências de cada situação é, por si só, um desafio que se coloca aos enfermeiros na sua prática diária. Neste trabalho definimos como objetivo: Compreender o processo de desenvolvimento profissional, à luz de uma perspetiva ecológica. Optámos assim pela realização de um ensaio sobre uma visão ecológica do processo de desenvolvimento profissional tendo subjacente os trabalhos de Alarcão e Tavares (1987, 2003), Alarcão (1996), Bronfenbrenner e Morris (1998), Ordem dos Enfermeiros (2010) e Rua (2011). Em jeito de conclusão podemos afirmar que enquanto ser humano (em desenvolvimento), o enfermeiro processa o seu desenvolvimento profissional em inter-relação constante com o meio que o rodeia e, muito em particular, com o microssistema onde decorre a sua prática profissional. A supervisão deste processo pressupõe desde logo um inter-relacionamento supervisor- enfermeiro e naturalmente ao estabelecimento de díades promotoras de transições ecológicas (Bronfenbrenner & Morris, 1998). Pressupõe-se assim a necessidade de estabelecer e manter um bom clima afetivo-relacional, exigente e estimulante; Criar condições de trabalho ou interação que possibilitem o desenvolvimento humano e profissional; Promover o espírito de reflexão e autoconhecimento, inovação e colaboração. Neste âmbito entendemos que neste processo de desenvolvimento estão implicados os quatro elementos fundamentais do modelo bioecológico, Pessoa, Processo, Contexto e Tempo.

Palavras-Chave: supervisão clínica; desenvolvimento profissional; enfermagem; modelo bioecológico.

ABSTRACT

Supervising the process of professional development, which requires the development of increasingly complex skills, to meet the needs and requirements of each situation is, in itself, a challenge for nurses in their daily practice. In this paper we defined as the objective - to understand the process of professional development, in the light of an ecological perspective. So we opted for conducting an essay on an ecological vision of the professional

development process and the underlying work of Alarcão and Tavares (1987, 2003), Alarcão (1996), Bronfenbrenner and Morris (1998), Order of Nurses (2010) and Rua (2011). In conclusion, we can say that as a human being (in development), nurses handle their professional development in a constant interrelation with its environment and, in particular, with the microsystem where their team practices. The supervision of this process immediately assumes an interrelationship between supervisor and nurse and, of course, the establishment of dyads promoting ecological transitions (Bronfenbrenner & Morris, 1998). The assumption is thus the need to establish and maintain a good mood affective-relational, that is both demanding and stimulating; Create working conditions and interactions that allow the human and professional development; promote the spirit of reflection and self-knowledge, innovation and collaboration. In this context we believe that this development process is implicated four fundamental elements of the bioecological model, Person, Context, Process and Time.

Keywords: clinical supervision; professional development; nursing; bioecological model.

INTRODUÇÃO

Compreender o processo de desenvolvimento profissional integrado em contextos cada vez mais complexos, que procuram responder às necessidades e às exigências de cada situação é, por si só, um desafio pois que, não podemos desligar o mesmo da complexidade do fenómeno de desenvolvimento humano nem da rede ecológica que sustenta a interação pessoa/ambiente. É assim essencial entender a interligação entre a supervisão e desenvolvimento profissional e neste propósito definimos como objetivos deste ensaio - compreender o processo de supervisão e de desenvolvimento profissional à luz de uma perspetiva bioecológica.

É hoje consensual que são diversos os conceitos, os modelos e as práticas de supervisão clinica em enfermagem e, estes são decorrentes das diversas culturas organizacionais que, por sua vez, à luz da perspetiva bioecológica estão condicionadas pelas pessoas, pelos processos, pelos contextos e pelo tempo. Na perspetiva da Ordem dos Enfermeiros (2010, p. 5) “O processo de supervisão, período de prática acompanhada de forma contínua, visa a autonomização gradual do supervisado, em contexto profissional, centrado na prática clínica, nos processos de tomada de decisão. A acção, a reflexão e a colaboração são eixos centrais deste modelo de supervisão clinica.” A supervisão é assim entendida como um processo promotor do desenvolvimento profissional do enfermeiro supervisionado, acrescentando-se ainda que o supervisor detém um papel importante no processo e imputando-lhe a capacidade de ajustar a sua atitude e estilo de supervisivo a situações diferentes, “sejam elas diferentes supervisados, ou diferentes momentos no processo de desenvolvimento de um mesmo supervisado.” (Ordem dos Enfermeiros, 2010, p. 6)

Consonante com esta visão, para Butterworth e Faugier (1992) a supervisão clínica “as an enabling process, providing opportunities for personal and professional growth” os autores posteriormente (1994), acrescentam que “clinical supervision is an exchange between practicing professionals about their practice that enables the development of professional skills.” (Cutcliffe, Butterworth, & Proctor, 2001, p. 12)

Olhando o enfermeiro enquanto pessoa podemos afirmar que este processa o seu desenvolvimento profissional em inter-relação constante com o meio que o rodeia (microsistema/serviço) onde a integração na prática profissional se vai desenvolvendo num crescendo de complexidade, em diferentes microsistemas e em interação com diversos atores.

No sentido de refletir sobre a forma como ocorre este desenvolvimento apoiamos a nossa reflexão na perspetiva bioecológica de desenvolvimento humano, de Bronfenbrenner e Morris (1998) que pressupõe que cada pessoa se desenvolve na interação com o contexto onde atua (microsistema) e que, por sua vez, é influenciado por um sistema de relações e inter-relações (exosistema), por elementos presentes em contextos mais distantes, meso e

macrosistema, sendo ainda o processo e o tempo elementos essenciais a esse desenvolvimento.

Para uma melhor compreensão do processo de supervisão Vs

desenvolvimento profissional, à luz deste modelo, acresce especificar relativamente a cada um dos elementos enunciados que: quanto à pessoa (enfermeiro supervisionado e supervisor) devemos considerar as suas caraterísticas determinadas bio-psicologicamente e as construídas em inter- relação com o meio. Nesta ótica é realçada a importância das características do indivíduo, tais como as suas convicções, o seu nível de atividade, o seu temperamento, os seus objetivos e motivações. Os autores assim três tipos de características da pessoa que influenciam e moldam o curso do seu desenvolvimento: Disposições, Recursos bioecológicos e Características de demanda.

As disposições são características que podem colocar os processos proximais em movimento e sustentam a sua operação. Estas podem ser desenvolvimentalmente geradoras, se atuam no sentido de promover a curiosidade, a tendência para se envolver em atividades individuais ou com terceiros; ou desenvolvimentalmente disruptivas se influenciam negativamente a ocorrência dos processos proximais.

Os recursos bioecológicos constituem-se como elementos que influenciam a

capacidade do organismo se envolver em processos proximais e são identificados como circunstâncias que limitam/inibem a integridade funcional do organismo, tais como, baixo peso no nascer, deficiência física ou mental; e capacidades, conhecimentos e experiências.

As características de demanda são atributos pessoais que, convidam ou desencorajam, reações do contexto social e que vão desde a aparência física atrativa/não atrativa, a hiperatividade versus passividade, até características como idade, género ou etnia. Estas podem ser interpretadas como um potencial que a pessoa tem para receber atenção e afeto, ou despertar sentimentos negativos nas pessoas que fazem parte do seu contexto social. Relativamente ao processo este é evidenciado como o principal mecanismo responsável pelo desenvolvimento e é referido como processo de interação

recíproca, progressivamente mais complexa, de um ser humano ativo, bio psicologicamente em interação com as pessoas, objetos e símbolos, presentes no seu ambiente imediato. Para que esta interação seja efetiva, que ocorrer numa base regular e em períodos prolongados de tempo. Estas formas de interação no ambiente imediato são designadas por processos proximais

(proximal process), que podem produzir, na pessoa, dois tipos de efeitos:

competência e disfunção.

No que se refere aos contextos (micro, meso, exo e macrosistema), os mesmos, são compreendidos como, os ambientes mais imediatos (microsistema), nos quais a pessoa vive e interage, ou os mais remotos (exo e macrosistema), em que a pessoa nunca esteve, mas que se relacionam e têm o poder de influenciar o curso do seu desenvolvimento.

O tempo surge subdividido em três níveis e que os autores denominaram de Microtempo [continuidade versus descontinuidade dos processos proximais (PP)], Mesotempo (periodicidade dos PP) e Macrotempo (tempo em que se vive, os contextos macrossociais).

No âmbito da supervisão Vs desenvolvimento profissional em enfermagem identificamos como atores principais o enfermeiro (supervisionado) e o supervisor. Os papéis desempenhados relacionam-se assim com os modelos de supervisão instituídos; estes, por sua vez, estão relacionados com a filosofia de cuidados de cada instituição/serviço. Neste contexto há a considerar fatores inerentes ao próprio processo de desenvolvimento e que de alguma forma devem ser referenciados nomeadamente, os aspetos relacionados com a pessoa, com as suas disposições e consequentemente com a auto implicação no processo que, na perspetiva de (Alarcão, 1996) é importante na medida em que são atos que ninguém poderá fazer na vez de ninguém mas que, dificilmente alguém poderá fazer sozinho. Transposta para o processo supervisivo, esta perspetiva leva-nos a entender a importância dos diferentes papéis e das relações interpessoais que se estabelecem desde o início entre supervisor e enfermeiro supervisionado e que determinam as condições do seu desenvolvimento profissional.

Situando-nos no âmbito da supervisão clinica, podemos afirmar que nos domínios específicos da enfermagem, que pressupõem competências e

responsabilidades específicas, emergem para o supervisor vários desafios, que consideramos essenciais: a preparação para a tarefa e as condições para a

realização da tarefa (processo). Declaramos assim que supervisores e

supervisionados necessitam de condições apropriadas para se desenvolverem. Supervisores competentes estão mais capacitados para ajudar a desenvolver o sentido da profissionalidade. Por sua vez, os enfermeiros sujeitos a supervisão, vivenciando este processo de ajuda, adquirem mais rapidamente a autoconfiança, fator que favorece o desenvolvimento de competências e consequentemente agilizando o seu desenvolvimento profissional. As condições para a realização da tarefa (contexto) são igualmente importantes pois pressupõem, a existência de recursos necessários ao desenvolvimento de atividades promotoras do desenvolvimento profissional. Acresce ainda referir a importância de existir nos serviços uma da atmosfera afectivo-relacional envolvente favorável e uma cultura positiva, de entreajuda, recíproca, aberta, espontânea, autêntica, cordial, empática, solidária e responsável entre o supervisor e supervisando e entre estes e os restantes elementos da equipa. A interligação de todos os elementos, constantes num contexto em que se operacionaliza a supervisão é, por demais, evidente e complexa, o que a torna o processo de reflexão sobre a supervisão igualmente complexo. Contudo, importa ainda aqui referenciar estratégias de supervisão a serem utilizadas, que se tornem promotoras do desenvolvimento profissional.

CONCLUSÕES

Para além dos aspetos evidenciados queremos concluir que neste processo de supervisão clinica em enfermagem, as diferentes perspetivas convergem para uma mesma matriz, ou seja para o reconhecimento da complexidade do processo, porquanto o mesmo é vivenciado por diversos atores, cujo processo de desenvolvimento (também ele complexo) se mantém subjacente e transporta para os contextos (igualmente complexos e imprevisíveis), a lógica de cada um dos atores, numa permanente dialética, assimetria e reciprocidade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Alarcão, I. (1996). Reflexão Crítica Sobre o Pensamento de D. Schön e os Programas de Formação de Professores. In I. Alarcão (Ed.), Formação

Reflexiva de Professores. Estratégias de supervisão. Porto: Porto Editora.

Bronfenbrenner, U., & Morris, P. (1998). The Ecology of Developmental Process. In W. Damon & R. Lerner (Eds.), Hand Book of Psycology:

theorical models of human development (5th ed., Vol. Volume 1, pp. 993- 1028). New York: John Wiley & Sons.

Cutcliffe, J., Butterworth, T., & Proctor, B. (2001). Fundamental Themes in

Clinical Supervision. London: Routledge Edition.

Ordem dos Enfermeiros (2010). Modelo de Desenvolvimento Profissional.

Fundamentos, processos e instrumentos para a operacionalização do Sistema de certificação de competências. Lisboa: Ordem dos Enfermeiros.

Rua, M. (2011). De Aluno a Enfermeiro. Desenvolvimento de competências em

DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS DOS ENFERMEIROS RECÉM

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