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SUPERVISÃO DE ENFERMAGEM – ATUAÇÃO INSTITUCIONAL E DESAFIOS DO TRABALHO

Área Temática: Supervisão, Modelos e Práticas

SUPERVISÃO DE ENFERMAGEM – ATUAÇÃO INSTITUCIONAL E DESAFIOS DO TRABALHO

Liberali, J.J.1; Dall’Agnol, C.M.C.M.2

1,2

Universidade Federal do Rio Grande do Sul Programa de Pós-Graduação em Enfermagem

1

RESUMO

A supervisão vem se caracterizando como uma ferramenta importante na organização do trabalho em saúde e enfermagem, com potencial para aprimorar a qualidade da assistência através da orientação contínua do pessoal e do desenvolvimento de competências das equipes. O Hospital de Clínicas de Porto Alegre, RS, Brasil, é universitário de grande porte, quaternário, que dispõe de 795 leitos e 5546 funcionários. Para gerir a vida organizacional no turno da noite, finais de semana, e em turno integral nos feriados, o hospital conta com um grupo de 09 enfermeiras em cargo de supervisão, o qual remete a atividades gerenciais de amplitude institucional, em sistema de revezamento de plantões. Tal posição inclui a representação da administração central e instâncias superiores do staff de vários serviços. Neste cenário, foi desenvolvido estudo, com o objetivo de investigar quais os desafios enfrentados pelas supervisoras no desempenho do cargo. A pesquisa tem abordagem qualitativa, do tipo estudo de caso. Por meio das Técnicas de Observação e de Grupos Focais, a colheita de dados incluiu a participação voluntária de 09 sujeitos, no âmbito da supervisão, gerando informações que foram submetidas à análise do tipo temática. Os resultados dos debates apontam vários desafios relacionados ao cargo, conferindo destaque para os seguintes aspetos: múltiplas atribuições; ampliação do campo de atuação e da responsabilidade institucional para além da área de enfermagem, ao assumir a representação da administração central e instâncias superiores do staff de vários serviços; e necessidade de tomadas de decisão macro gerenciais imediatas. Depreende-se do estudo que as competências e ações das supervisoras são bastante subsidiadas pelos conhecimentos de enfermagem, considerados pelas participantes como um diferencial positivo, tanto no diagnóstico e na resolução de situações-problema, quanto na esfera política das estratégias de gestão organizacional.

Palavras-chave: supervisão de enfermagem, grupos focais, administração hospitalar, enfermagem.

ABSTRACT

Supervision has been characterized lately as a major tool in organizing health care and nursing work, with a potential to improve the quality of care by

continuous supervision of staff and the development of team competencies. Hospital de Clínicas in Porto Alegre, RS, Brazil, is a large quaternary care university hospital, with 795 beds and a staff of 5546. The hospital has a group of 09 nurses in a strategic supervisory position to manage the organization life during the night shift, on weekends and round the clock on holidays. This means institution-wide managerial activities, in a system of shifting periods on duty. The position includes representing the central administration and higher levels of the staff in various services. In this scenario case study type research was performed taking a qualitative approach, aiming at investigating the challenges faced by the supervisors to do their job. Using the Observation Techniques and Focus Groups, data collection included the voluntary participation of 9 subjects within supervision. generating information that was submitted to thematic type analysis. The results of the debates point to several challenges involved in the position, highlighting the following aspects: multiple attributions; expansion of the field of work and of institutional responsibility beyond nursing, on taking on the representation of central administration and upper staff levels in several services, and the need for taking immediate macromanagerial decisions. From the study it is inferred that the competencies and actions of the supervisors are given a lot of subsidies by the nursing knowledge, which is considered by the participants as a positive differential, both in diagnosis and in solving problem-situations, as well as in the political sphere of the organizational management strategies.

Keywords: nursing supervision; focus groups; hospital administration; nursing.

INTRODUÇÃO

As transformações económicas, sociais e tecnológicas, decorrentes da globalização e o consequente aumento da competitividade, têm impulsionado as organizações, entre elas os hospitais, a adotarem novas formas de gestão e a buscarem a qualidade e a excelência em seus serviços. Nesse contexto, a supervisão vem se caracterizando como uma ferramenta importante na organização do trabalho em saúde e enfermagem, com potencial para aprimorar a qualidade da assistência através da orientação contínua do pessoal e do desenvolvimento de competências das equipes profissionais

(Carvalho & Chaves, 2010). Trata-se, portanto, de uma importante estratégia de gestão dos serviços de saúde, que auxilia tanto na potencialização de competências e habilidades individuais dos trabalhadores, quanto na organização e coordenação das equipes, com repercussões mediatas e imediatas para o cuidado ao paciente e para a organização como um todo. À medida que interage com as equipes, agregando esforços para que as necessidades individuais e grupais sejam atendidas, o supervisor atua como um orientador e facilitador no ambiente de trabalho, tonando-se corresponsável pela prestação e manutenção de um serviço de qualidade (Liberali & Dall’Agnol, 2008). Além disso, cabe a ele afiançar que os processos de trabalho no hospital ocorram em condições ideais para garantir os padrões adequados de trabalho e de qualidade assistencial, atuando em consonância com o preconizado pela missão institucional da organização (Liberali & Dall’Agnol, 2008).

Nesse sentido, e com o intuito de garantir que os diversos setores e serviços tenham apoio gerencial durante o turno da noite, final de semana e feriados, o Hospital de Clínicas de Porto Alegre conta com um grupo de 09 enfermeiras em cargo estratégico de supervisão, que atuam nos turnos mencionados. Embora nominado como cargo de supervisor de enfermagem, a competência legal do mesmo remete a atividades gerenciais de amplitude institucional, incluindo a representação da administração central e instâncias superiores do

staff de vários serviços.

Nesse hospital, a seleção das supervisoras é feita por meio de processo interno e é restrita ao quadro funcional da enfermagem. Para candidatar-se ao cargo, as enfermeiras devem possuir, entre outros pré-requisitos, experiência prévia administrativa de, no mínimo, dois anos na função de chefia. Além de representar o staff gerencial durante a jornada de trabalho, a função supervisora agrega, também, o contato direto com as diversas equipes profissionais, a orientação e organização do pessoal de enfermagem e a participação na tomada de decisão gerencial, em consonância com as políticas de gestão institucionais, definidas através do planeamento estratégico do Hospital.

OBJETIVOS

Diante da complexidade e amplitude do papel da supervisora em um cenário tão dinâmico e diversificado como o HCPA, foi desenvolvido estudo que teve como objetivo investigar quais os desafios enfrentados pelas supervisoras no desempenho do cargo. Pressupõe-se que a pesquisa, além de propiciar uma reflexão sobre o quotidiano de trabalho das supervisoras, possa contribuir para dar visibilidade ao trabalho gerencial da enfermeira no contexto macro institucional dos hospitais e à supervisão enquanto instrumento estratégico de gestão.

METODOLOGIA

Mediante abordagem qualitativa, desenvolveu-se um estudo de caso (Yin, 2005), o qual se caracteriza como um estudo profundo e exaustivo, que tem como intuito apreender uma dada situação e descrever, compreender e interpretar criativamente a totalidade e complexidade de um caso concreto (Yin, 2005).

O cenário da pesquisa foi o Serviço de Enfermagem do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), RS, Brasil. Trata-se de um hospital universitário de grande porte, quaternário, dispõe de 795 leitos e 5546 funcionários e. A coleta de dados ocorreu por meio das Técnicas de Observação (Richardson, 1999) e de Grupos Focais (Dall’Agnol & Ciampone, 1999), entre os meses de janeiro e maio de 2012, e incluiu a participação voluntária de 09 sujeitos no âmbito da supervisão do HCPA. As informações colhidas foram submetidas à análise do tipo temática (Minayo, 2007), que prevê os seguintes desdobramentos: pré- análise, exploração do material, tratamento dos resultados obtidos e interpretação.

Quanto aos aspetos éticos, a pesquisa contemplou os preceitos da Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde (CNS) (Ministério da Saúde, 1996), obtendo parecer favorável do Comité de Ética do HCPA, sob o nº 110496. A colheita de informações teve início somente após assinatura individual do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, tendo-se assegurado aos participantes o caráter confidencial das informações e a isenção de influências

hierárquicas que pudessem influenciar no seu vínculo empregatício na instituição.

APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS

A análise dos debates do grupo focal apontou vários desafios relacionados ao cargo de supervisor de enfermagem, entre os quais foi conferido destaque para os seguintes aspectos: ampliação do campo de atuação e da responsabilidade institucional para além da área de enfermagem, ao assumir a representação da administração central e instâncias superiores do staff de vários serviços; necessidade de tomadas de decisão imediatas, de âmbito macro gerenciais; e múltiplas atribuições relacionadas à dinâmica organizacional e vinculadas a diversos setores e serviços, entre eles as áreas médica, de enfermagem, administrativa e de serviço social.

DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Um dos principais desafios manifestados pelas supervisoras diz respeito à ampliação do campo de atuação e da responsabilidade institucional ao exercer as funções inerentes à supervisão. Ao ingressar no cargo, as enfermeiras necessitam adaptar-se a um novo processo de trabalho, voltado exclusivamente para a gerência, além disso, devem mobilizar habilidades, competências e conhecimentos, desenvolver uma visão sistémica do hospital e interagir com todo o ambiente organizacional.

Ao se envolverem com questões gerenciais, que remetem à representação institucional, os enfermeiros ampliam sua responsabilidade com o hospital (Brito, Lara, Soares, Alves, & Melo, 2008). Tornam-se, também, corresponsáveis pelo alcance das metas estabelecidas pela instituição, ao mobilizar esforços junto às diversas equipes profissionais, com intuito de atender as demandas diárias e garantir a excelência dos serviços prestados. Além do compromisso de representar a administração central do hospital, o trabalho das supervisoras concentra, ainda, ações específicas de supervisão de enfermagem, desenvolvidas junto às equipes ou em prol das mesmas. Além

disso, intermedeiam conflitos das diversas equipes multiprofissionais, atuam na administração e no gerenciamento de recursos materiais, recebem e dão os devidos encaminhamentos às questões de origem jurídico-assistenciais (que determinam o atendimento e/ou internação de pacientes), entre outras demandas.

A multiplicidade de atividades desenvolvidas durante a jornada de trabalho engloba, ainda, situações imprevisíveis e inusitadas, que requerem criatividade, habilidades relacionais, capacidade diagnóstica e tomada de decisão macro gerencial imediata. Nesse sentido, foi debatido no grupo focal acerca da importância dos conhecimentos de enfermagem para subsidiar tanto a avaliação como a resolução de situações, mesmo àquelas que parecem de cunho estritamente administrativo.

Os conhecimentos administrativos e gerenciais do enfermeiro estão relacionados à sua formação académica e ao seu tradicional envolvimento com a coordenação das equipes e com questões burocráticas da assistência, o que vem sendo destacado em estudos da área (Brito et al., 2008; Xavier-Gomes & Barbosa, 2012). Esses conhecimentos têm possibilitado, cada vez mais, o envolvimento de enfermeiros em cargos gerenciais nos hospitais, responsabilizando-se pelos recursos institucionais, que abrangem a gestão de pessoas e de recursos físicos, materiais, financeiros e tecnológicos (Brito, Spagnol, Martin, & Alves, 2005).

CONCLUSÕES

Depreende-se do estudo que as competências e ações das supervisoras são bastante subsidiadas pelos conhecimentos de enfermagem, considerados pelas participantes como um diferencial positivo, tanto no diagnóstico e na resolução de situações-problema, quanto na esfera política das estratégias de gestão organizacional. A supervisão configura-se como uma estratégia importante para gerir a vida organizacional da instituição, campo de estudo, nos períodos de descanso do staff gerencial. Além disso, apresenta-se como um espaço de atuação interessante para os enfermeiros, possibilitando o

repensar de práticas, a mobilização de competências e de habilidades e visibilidade profissional.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Brito, M.J.M., Spagnol, C.A., Martin H.S., & Alves, M. (2005) A Enfermeira no contexto das práticas de gestão: desafios e perspectivas em um hospital de Belo Horizonte, Minas Gerais, Brasil. Enfermería Global, 7, 1-14.

Brito, M.J.M., Lara, M.O., Soares, E.G., Alves, M., & Melo, M.C.O. (2008) Traços identitários da enfermeira-gerente em hospitais privados de Belo Horizonte,Brasil. Revista Saúde e Sociedade, 17(2), 45-57.

Carvalho, J.F.S., & Chaves, L.D.P. (2010) Supervisão de enfermagem no uso de equipamento de proteção individual em um hospital geral. Cogitare

Enfermagem, 15(3), 513-20.

Dall’Agnol, C.M., & Ciampone, M.H.T. (1999). Grupos focais como estratégia metodológica em pesquisa na enfermagem. Revista Gaúcha de

Enfermagem, 20(1), 5-25.

Liberali, J., & Dall’Agnol, C.M. (2008) Supervisão de enfermagem: um instrumento de gestão. Revista Gaúcha de Enfermagem, 29(2), 276-82. Minayo, M.C.S. (2007). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em

saúde (10a ed). São Paulo: Hucitec.

Ministério da Saúde (BR), Conselho Nacional de Saúde, Comitê Nacional de Ética em Pesquisa em Seres Humanos (1996). Resolução 196, de 10 de

outubro de 1996: diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisa envolvendo seres humanos. Recuperado em 23 agosto, 2012, de

http://conselho.saude.gov.br/comissao/conep/resolucao.html.

Richardson, R.J. (1999). Observação. In: R.J. Richardson (Ed.). Pesquisa

social: métodos e técnicas (pp. 259-264). São Paulo: Atlas.

Yin, R.K. (2005). Estudo de caso: planejamento e métodos (3a ed). Porto Alegre: Bookman.

Xavier-Gomes, L.M., & Barbosa T.L.A. (2012) Trabalho das enfermeiras- gerentes e a sua formação profissional. Trab. Educ. Saúde, 9(3), 449-459.

CONSTRUÇÃO DE INVENTÁRIO DE CONCEÇÕES DE ESTUDANTES DE

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